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6. CAPÍTULO VI – RESULTADOS DA PESQUISA

6.1 A FORMAÇÃO DE REDES DE EMPRESAS

6.2.4 Análise geral da relação de interdependência – Fase II

Para terminar esta parte da apresentação dos resultados, aborda-se, diretamente, a questão da dependência da rede em relação a seus integrantes. Os presidentes entrevistados foram arguidos sobre como eles veem, de forma geral, a questão da dependência da rede com as empresas integrantes. Eles também foram questionados sobre os problemas gerados pela saída de algum integrante da rede. A seguir, colocam-se alguns trechos das suas falas.

Olha, a princípio, se um ou outro integrante sair, isso não traria grandes resultados negativos para a rede. A não ser que uma grande parte da rede saísse. Porque a gente não depende de um ou dois integrantes (Pres D 1).

Olha, pra nós, agora, só gera um impacto financeiro. Porque o que a gente faz: a gente tem um custo fixo que é rateado entre as empresas. Daí, no momento que sai um, aumenta o percentual para as restantes. O impacto que gera é no financeiro. Só isso (Pres D 2).

Não teria problema nenhum. Até pelo que te falei, existem outras empresas que veem nosso trabalho e querem entrar. E, hoje, assim, nós estávamos há pouco tempo atrás em 21 empresas na rede, mas dois saíram há pouco e não houve nada (Pres D 3).

Olha, um dos problemas gerados é que, sempre que sai um, é menos um no grupo, e acaba desagregando nesse sentido. Afeta também a questão financeira, porque nós trabalhamos muito o lado político da rede também, junto às entidades. Pra ti ter uma ideia, nós temos uma cadeira na Câmara Setorial Gaúcha do Arroz, e uma cadeira na Câmara Setorial Nacional do Arroz, então, nas políticas públicas discutidas lá em Brasília, a gente está lá pela rede. Então, isso tem um custo, nós temos um orçamento, e sempre quando sai um, é uma mensalidade a menos para a rede. Mas eu digo que nem tanto isso, porque a gente consegue se virar daí. O que mais abala a saída de um, é a perda de um colega. Como te falei, o clima entre nós é muito bom, é um clima de amizade, de troca de informação, e daí, a saída de um integrante, é um baque para nós. Mas, enfim, a rede não vai acabar por causa disso daí. Eu te diria, assim, que teria que reduzir pra metade o número de integrantes pra gente sofrer pela saída (Pres D 4).

Esses relatos mostram uma situação diferente da verificada na análise da fase anterior. A partir deles, pode-se constatar que a saída de um ou outro integrante da rede não geraria problemas para sua evolução. Certamente, ela fica enfraquecida, pois, para algumas atividades conjuntas, quanto maior for o número de integrantes e a participação deles, mais efetividade a rede consegue na realização dessa atividade. A riqueza e a quantidade de troca de informações entre os integrantes também é afetada. Alguns potenciais benefícios que a rede pode gerar a seus integrantes podem ser afetados pela saída de algum integrante. Mas, pelo relato dos presidentes entrevistados, isso não abalaria significativamente a continuidade e o desenvolvimento da rede.

A rede, nessa fase de sua evolução, já possui seus propósitos e objetivos definidos e possui um maior número de integrantes, o que lhe dá certa estabilidade. Isso reduz a

dependência da rede em relação a todos os seus integrantes. A análise dos fatores influenciadores da dependência da rede, estudados nesta tese, também mostra isso.

Ressalta-se, no entanto, que essa redução da dependência da rede em relação a seus integrantes não diminui a importância dos fatores estudados para a rede. Em suma, importância e dependência são coisas diferentes, e a confiança entre os integrantes, o comprometimento, a congruência quanto a metas e objetivos e a imersão dos integrantes continuam sendo importantes para a rede.

Por outro lado, as entrevistas com os integrantes mostram que eles já assimilam alguns benefícios de sua atuação em rede. Todos os fatores analisados do framework proposto nesta tese mostram isso. No entanto, a questão de quanto eles são dependentes da rede por causa desses fatores, aparentemente, não existe. Por mais que eles já assimilassem e exaltassem os benefícios mencionados até aqui, eles não falaram que eram dependentes da rede por isso.

Nesse sentido, para fechar esta seção de análise, destacam-se, a seguir, alguns trechos das falas dos entrevistados quando eles foram questionados sobre em que medida eles se consideravam dependentes da rede em que estavam inseridos. Suas falas remetem à interpretação de uma dependência relativa, em relação a alguns fatores isolados que as redes proporcionam a eles. São aspectos e recursos cuja obtenção é facilitada por sua participação na rede. Seguem alguns relatos.

Olha, eu acho que sou parcialmente dependente da rede, e eu volto a frisar a questão da informação. Isso aí é algo fundamental para nós. Outra coisa, a questão de mercado, digamos assim, nós somos bem dependentes, porque nós trocamos informações todas as semanas no mínimo. Então, há uma certa dependência, apesar de a gente ter cada um seu ponto de venda. O mercado é uma coisa mutante e interligada. Então, quando vê, o teu vendedor não conseguiu captar um negócio, mas um vendedor de uma empresa aqui da rede já captou. Então, saliento novamente, a informação é uma coisa básica para nosso ramo de atividade e existe certa dependência com a rede para saber delas. É por meio delas que nós conseguimos saber de todos os segmentos da nossa indústria (Int D 5).

É, de maneira geral, eu acho que tem uma porcentagem a gente é dependente da rede sim. E a dependência nossa gira mais em torno disso que te falei, dos cursos que a gente proporciona, da troca de informações, que seriam coisa que a gente teria dificuldade em conseguir sozinho no mercado. O conhecimento que a gente adquire na rede é algo que a gente precisa, porque, às vezes, tu pega um carro mais moderno, que é um quebra-cabeça pra gente. Daí, a gente vê com um outro colega da rede, que, se ele sabe, ele passa a informação pra gente. Então, disso aí, é algo que a gente é

dependente da rede. Se não tivesse a rede, eu nem sei onde eu ia procurar isso (Int D 2).

Então, assim, sobre isso que tu me perguntou da dependência, eu me considero parcialmente dependente da rede. Nós não temos nossas atividades totalmente dependentes da rede. E cada empresa também gerencia suas atividades e negócios da maneira que achar melhor. E a rede dá esse apoio na parte de compras e na parte de troca de informações, cursos que são essenciais para nós. Mas a maneira que cada empresa se organiza, a parte de gestão, cada uma gerencia da maneira que achar melhor. Então, a gente tem uma dependência com a rede em relação a alguns determinados aspectos. Agora outros não. A gente tem aquelas coisas que a gente pode fazer e faz em conjunto e tem aquelas coisas que cada um faz individualmente (Int D 6).

E eu tenho consciência de que isso é real. Se a rede, por exemplo, terminasse, eu conseguiria manter meus negócios fora da rede, mas eu teria muitas dificuldades. A rede me ajuda a absorver essas dificuldades. E não só pelo poder de barganha, mas por tudo que ela nos traz, porque uma coisa leva a outra (Int D 7).

Olha, essa dependência da rede eu até acredito que a gente tenha um pouco. Porque, na verdade, é outra empresa que nós temos. E a gente é dependente, porque assim ó, principalmente hoje, menos clientes vem nas imobiliárias. Porque o cliente entra no site, ele pesquisa, tem vezes que ele sabe mais dos imóveis que a gente mesmo. E a rede, ela no proporciona outros clientes. Lá os clientes vão e entram. [...] A gente é dependente da rede também por esses cursos que ela nos proporciona. São cursos que eu não conseguiria fazer sozinha. Então, o que eu te digo, o grupo, a nossa união é que faz a gente se tornar dependente. (Int D 8).

Olha, a rede é algo que soma muito para nossa empresa. Muito do que eu consigo é por estar na rede, mas eu conseguiria trabalhar sem ela. Se a rede terminasse, eu sobreviveria no mercado, com mais dificuldades, mas sobreviveria (Int D 4).

Esses relatos mostram que a percepção de dependência das empresas com as redes nessa fase de evolução é relativa. Eles deixam claro que a rede lhes proporciona certos benefícios que são essenciais para a maior competitividade de suas empresas. Mas, isso não significa exatamente que eles sejam dependentes da rede. Muitos entrevistados, inclusive, destacam que, caso eles não pertencessem à rede, suas empresas individuais não deixariam de existir no mercado. Eles teriam mais dificuldades em conseguir os benefícios que eles obtêm na rede, teriam mais dificuldades para sobreviver no mercado, mas não necessariamente terminariam

suas atividades individuais.

Assim, implicitamente, percebe-se que as atividades individuais exercidas pelos integrantes não dependem totalmente da rede. Esta é um mecanismo que os ajuda na execução dessas certas atividades. Mas eles conseguiriam desenvolver suas atividades sem estarem inseridos e obtendo esses benefícios da rede.

Por fim, deve-se ressaltar, no entanto, que há diferenças na percepção de dependência desses integrantes com os integrantes entrevistados na fase anterior. Aqui, percebe-se notoriamente, que as redes já desenvolvem certas atividades que facilitam bastante a atuação individual das empresas membros da rede. Os relatos dos entrevistados, inclusive deixam clara essa noção. Alguns deles falam que são ‘parcialmente dependentes da rede’ ou que são ‘um pouco’ dependentes da rede, exatamente por essas ações ligadas aos fatores aqui explorados.

Essa “parcial dependência” é também diferente de um integrante para o outro. As necessidades de cada um deles também não são totalmente iguais, e a rede também não desenvolveu ações únicas e diferenciais que eles encontrariam somente dentro da rede e que os tornassem totalmente dependentes. Mas, fica aqui a ideia de que a evolução da rede está, sim, relacionada com uma maior “dependência” dos integrantes para com ela.