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3. CAPÍTULO III – A EVOLUÇÃO DE REDES INTERORGANIZACIONAIS

3.3 SÍNTESE E CONTRIBUIÇÕES DO CAPÍTULO

Existem várias decisões iniciais, atividades e procedimentos necessários ao estabelecimento e desenvolvimento de uma rede. Popp et al. (2013) descrevem que se deve considerar desde elementos precursores à formação da rede, equilibrando isso com o desenvolvimento de estruturas e processos, e definir atividades para a colaboração e a construção de consenso entre os participantes. O cuidado na construção, planejamento e concepção das atividades iniciais de uma rede acabará por influenciar o seu desenvolvimento contínuo. Adicionam-se a isso as possíveis mudanças que podem ocorrer com a evolução das redes interorganizacionais quanto à forma de organização e governança da rede, as interações entre os integrantes, a liderança, a tomada de decisões e a relação de dependência de empresas com a rede, conforme discutido nos tópicos anteriores.

O modo de governança geralmente adotado pela rede no início, no momento da sua formação, consiste em uma estrutura auto-organizada, com um grupo de empresas líderes coordenando as atividades. Nesse sistema, embora haja uma estrutura administrativa formal para coordenar a rede, há a interação e participação efetiva das empresas parceiras nas

decisões a serem tomadas dentro da rede, sendo comum a realização de reuniões e assembleias para tal finalidade. Normalmente, nesse momento e nesse tipo de governança, a rede ainda não possui um número significativo de integrantes e a efetividade desse modelo de governança depende, assim, em grande parte, do envolvimento e comprometimento das organizações parceiras.

Há uma relação de dependência assimétrica da rede existente na fase de formação. A rede é dependente de seus integrantes para sua continuidade, pois, caso uma ou mais empresas parceiras desistam dessa cooperação, a estrutura da rede fica enfraquecida e sua continuidade torna-se muito instável e propensa ao término da colaboração. Além disso, as empresas veem na rede uma possibilidade de suprir suas necessidades e tornarem-se mais competitivas.

Com a efetivação das primeiras atividades conjuntas, ocorre o aumento dos integrantes e a necessidade de novas atividades para manter as empresas vinculadas à rede. Diante disso, alguns membros (principalmente o grupo de empresas líderes) passam, gradativamente, a buscar outra forma de coordenar e organizar as atividades desenvolvidas no grupo. Eles percebem a necessidade de desenvolver a rede e de uma estrutura de gestão mais centralizada e formalizada. É, geralmente, contratado um ente administrativo que auxilia o grupo de empresas líderes no desenvolvimento e planejamento das ações e atividades a serem realizadas. A governança de uma rede nesse modelo tende a ser mais eficiente, especialmente quando comparada com o modelo de governança compartilhada, que se pode tornar extremamente complexa quando o número de participantes aumenta. Nesse tipo de estrutura, todos os membros, ao mesmo tempo em que mantêm seus objetivos individuais, compartilham algum objetivo comum (caso contrário, o significado da rede deixaria de existir). É em virtude desses objetivos que os gestores da rede atuam e organizam as atividades. Os demais integrantes também aceitam que esse grupo líder e o ente administrativo passem a gerenciar e organizar algumas de suas atividades, desde que obtenham um ganho (benefício) em contrapartida.

Com o crescimento e desenvolvimento da rede e o aumento da complexidade de sua gestão, é característico, em muitas redes, que elas assumam um formato de OAR, que passa a assumir uma posição central na governança e na gestão da rede. Nesse caso, a OAR passa a especializar e profissionalizar suas atividades e tornar mais específicos os recursos utilizados e fornecidos para as empresas parceiras.

Começam a ser utilizados critérios de seleção dos participantes, oferta de novos produtos e serviços e são estimulados a inovação e o uso de novas tecnologias. Novos

processos de gestão são compartilhados e disponibilizados aos integrantes, e certo padrão é utilizado na execução das atividades com vistas à legitimidade. Este conjunto de práticas adotadas pela gestão da rede torna as ações e iniciativas desempenhadas únicas e específicas.

Analisando-se especificamente a relação de interdependência empresas-rede durante as fases de evolução de redes de empresas, pode-se notar uma gradual mudança nesse aspecto. No início das atividades colaborativas, a união e o comprometimento das empresas integrantes sustentam um grupo maior (a rede) para a efetivação das ações e propostas iniciais, caracterizando a interdependência entre as partes. Com o desenvolvimento da rede e o aprimoramento e especialização das atividades conjuntas realizadas e proporcionadas por ela, a maioria das empresas visualizam-na como veículo para suprirem suas necessidades de recursos e tornam-se dependentes da rede. A representação gráfica da evolução de redes e da relação de interdependência e dependência entre as empresas e a rede, apresentada na Figura 5, procura mostrar essa mudança.

Figura 5 – Evolução e estruturação de uma rede de empresas

Fonte: elaborado pelo autor

Neste capítulo, apresentaram-se e discutiram-se características básicas de três fases da evolução de redes horizontais de empresas definidas para realização deste trabalho. A contribuição deste capítulo remete sumariamente à definição e caracterização dessas três fases, pela discussão de elementos-chaves apresentados e referendados na literatura sobre o assunto e pela análise da relação de interdependência entre as empresas e a rede. A Tabela 4 sintetiza as principais características de cada uma dessas fases de evolução das redes.

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Tabela 4 – Aspectos chaves da evolução de redes

Fase de evolução da rede Modo de governança Liderança Tomada de decisões Gestão das atividades Estrutura das relações Relação de (inter) dependência

Formação da rede Rede

autogerenciada Centrada nas empresas Descentralizada Sustentada em mecanismos sociais Incipiente e dispersa - há ligações de laços fortes e fracos iniciais

Predomínio da dependência da rede

Desenvolvimento da rede

Grupo de empresas líderes com o apoio do ente administrativo Dividida entre as empresas líderes e o ente administrativo Relativamente centralizada Centrada nas empresas líderes e no ente administrativo Definição de laços fortes e fracos pelo estabelecimento de relações de confiança Gradual inversão na relação de interdependência Profissionalização

da rede OAR Centrada na OAR

Centralizada e

Hierárquica Centrada na OAR

Manutenção de laços fortes e fracos e relações informais Predomínio da dependência das empresas integrantes

Fonte: Elaborado pelo autor

A seguir, com base na dinâmica da cooperação de empresas em redes e nas fases de evolução propostas nesse trabalho, são descritos e detalhados pontos de análise da relação de interdependência e dependência entre as empresas parceiras e a rede.