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2. CAPÍTULO II – A COOPERAÇÃO ENTRE EMPRESAS

2.1 CONCEITOS E TIPOLOGIAS DE RELAÇÕES INTERORGANIZACIONAIS

Este capítulo aborda aspectos relacionados à cooperação entre empresas, os quais são importantes para a compreensão do fenômeno em estudo. Apresentam-se, primeiramente, algumas tipologias de relações interorganizacionais e, em seguida, as características de redes horizontais, foco de estudo deste trabalho. Com isso, pretende-se situar o leitor em relação ao tema cooperação interorganizacional e gerar elementos que contribuam para a caracterização das redes que serão analisadas neste trabalho.

As origens econômicas da pesquisa em redes são também apresentadas e discutidas neste capítulo, devido à sua relação com o desenvolvimento e a continuidade de redes. O capítulo termina com a apresentação e discussão das relações interorganizacionais como estratégias para as empresas gerenciarem suas necessidades de recursos. Esse tópico do capítulo é embasado pelos argumentos de escritores da Teoria da Dependência de Recursos, envolvendo abordagens como a incerteza ambiental e a interdependência entre as empresas.

2.1 CONCEITOS E TIPOLOGIAS DE RELAÇÕES INTERORGANIZACIONAIS

No estudo de relações entre empresas, deve-se considerar que, assim como os indivíduos podem se beneficiar do capital social decorrente de suas relações sociais (COLEMAN, 1988), as organizações também podem se beneficiar das relações que estabelecem com outras organizações (GALASKIEWICZ, 1985). Dessa possibilidade de obtenção de ganhos e benefícios é que as empresas colaboram umas com as outras e surge a cooperação interorganizacional. Além disso, de modo mais enfático, Parmigiani e Rivera- Santos (2011, pg. 1109) mencionam que “nenhuma organização é uma ilha, todos precisam de relacionamentos com outras organizações para sobreviver e crescer.” Eles explicam que as relações interorganizacionais (RIOs) existem sob uma variedade de formas, tais como alianças, joint ventures, acordos de fornecimento, licenciamento, co branding, franquias, parcerias intersetoriais, redes, associações e consórcios. A diversidade de tipos e formas pertinentes ao estudo das relações interorganizacionais ressalta seu caráter interdisciplinar e complexo (OLIVEIRA, REZENDE e CARVALHO, 2011).

A cooperação interorganizacional, de forma genérica, refere-se a todas as formas de relações entre duas ou mais empresas com vistas à colaboração, resultando em diferentes tipos de arranjos. Alinhado com isso, está a possibilidade dos participantes obterem diferentes

benefícios que os tornam mais competitivos no mercado em que atuam. Wood e Gray (1991) definem a colaboração entre empresas como aquela que ocorre quando um grupo de atores autônomos envolvidos em um determinado problema ou oportunidade se envolve em um processo interativo, usando regras compartilhadas, normas e estruturas, para agir ou decidir sobre questões relacionadas com o respectivo problema ou oportunidade. Auster (1990) define as relações colaborativas como aquelas formadas por duas ou mais empresas que transferem, trocam, desenvolvem ou produzem, conjuntamente, tecnologias, matérias-primas, produtos ou informações.

A prática da cooperação entre empresas e sua importância para o ambiente em que se inserem não é um fenômeno novo na pesquisa da Teoria Organizacional. Pode-se dizer que o que é mais recente são os esforços para estudar empiricamente os vários aspectos dos estudos organizacionais nessas relações entre empresas, com vistas a uma melhor compreensão de como geri-las. Parte deste desafio em estudar RIOs (Relações Interorganiacionais) está no fato de que elas aparecem em muitas formas. Uma distinção feita entre algumas dessas RIOs, e que serve para o objetivo deste tópico de apresentar e classificar algumas de suas diferentes formas, encontra-se no artigo de Barringer and Harrison (2000). Estes autores apresentam uma distinção entre as formas mais comumente encontradas de RIOs e utilizadas por empresas. Essas formas por eles apresentadas estão sumarizadas na Tabela 1.

Tabela 1 – Formas de relações interorganizacionais.

(Continua...) Tipo de relação

interorganizacional

Descrição

Joint Venture Uma entidade que é criada quando duas ou mais empresas reúnem uma parte de seus recursos para criar uma organização de propriedade conjunta separada. São entidades, tradicionalmente, usadas para entrar em mercados estrangeiros ou em áreas que são secundárias às principais atividades da empresa. A empresa que pretende ter acesso ao mercado externo possui o produto, as capacidades de marketing e de recursos financeiros. A empresa local, normalmente, fornece legitimidade local, conhecimento de mercado e contatos.

Redes Configuração com uma empresa local central na organização das interdependências de um complexo conjunto de empresas. Também descritas pelos autores como constelações de empresas que se organizam por meio do estabelecimento de políticas sociais, em vez de obrigatórias, e contratos. O resultado é um grupo de empresas em que cada uma concentra-se em suas atividades específicas, mas direciona esforços para gerar um produto, serviço ou tecnologia nova em conjunto.

(Conclusão) Tipo de relação

interorganizacional

Descrição

Consórcios Joint ventures especializadas abrangendo muitos arranjos diferentes. Os

consórcios são, muitas vezes, o agrupamento de empresas orientadas para a resolução de problema de desenvolvimento e tecnologia, como os consórcios de R&D. São formados, principalmente, porque seria muito caro para a maioria dos membros individuais realizar a atividade por conta própria.

Alianças Um acordo entre duas ou mais empresas que estabelecem uma relação de troca, mas que não têm nenhuma propriedade conjunta envolvida. Tendem a ser informais, sem a formação de uma nova entidade como em uma joint venture e sem autoridade administrativa central (como num consórcio ou numa rede). Trade Association Organizações sem fins lucrativos (normalmente) que são formadas por

empresas do mesmo setor para coletar e divulgar informações de comércio, oferecer assessoria jurídica e técnica, fornecer treinamentos relacionados com a indústria e fornecer uma plataforma para fazer lobby coletivo.

Fonte: Barringer e Harrinson (2000, p. 383)

Focando, exclusivamente, em tipologias de redes, algumas classificações que podem ser utilizadas são as encontradas no trabalho de Olave e Amato Neto (2005). Esses autores, por meio de uma pesquisa na bibliografia sobre o tema, congregaram em seu trabalho diferentes dimensões de tipos de redes, levando em consideração as classificações utilizadas por outros escritores sobre o assunto.

A Tabela 2 mostra essas diferentes classificações de rede e os seus respectivos autores.

Tabela 2 – Classificações e tipologias de redes de empresas

(Continua...)

AUTORES CLASSIFICAÇÕES E TIPOLOGIAS DE REDES

Grandori e Soda (1995) Redes sociais: simétricas e assimétricas. Redes burocráticas: simétricas e assimétricas. Redes proprietárias: simétricas e assimétricas.

Casarotto e Pires (1998) Redes top-down: subcontratação, terceirização, parcerias. Redes flexíveis: consórcios.

Wood Jr. e Zuffo (1998) Estrutura modular: cadeia de valor e terceirização das atividades de suporte. Estrutura virtual: liga temporariamente rede de fornecedores.

(Conclusão.)

AUTORES CLASSIFICAÇÕES E TIPOLOGIAS DE REDES

Corrêa (1999) e Verri (2000)

Rede estratégica: desenvolve-se a partir de uma empresa que controla todas as atividades.

Rede linear: cadeia de valor (participantes são elos).

Rede dinâmica: relacionamento intenso e variável das empresas entre si. Porter (1998) Cluster: concentração setorial e geográfica de empresas. Caracterizado pelo

ganho de eficiência coletiva. Bremer (1996) e Goldman,

Nagel e Preiss (1995)

Empresa virtual: pontos de vista institucional e funcional.

Institucional: combinação das melhores competências essenciais de empresas legalmente independentes.

Funcional: concentração em competências essenciais coordenadas através de uma base de tecnologia de informação.

Fonte: Olave e Amato Neto (2005, p.82)

Outra tipologia frequentemente utilizada é a que classifica as redes em verticais e horizontais. Gulati e Gargiulo (1999) mencionam que a formação de uma rede interorganizacional se dá pelas diversas configurações verticais ou horizontais desenvolvidas pelas empresas que formam relacionamentos. De acordo com Lazzarini (2008), os laços verticais (também referendados ou conhecidos como cadeia de suprimentos - supply chain), tratam-se de relações entre empresas de diferentes setores da cadeia interligados entre si sequencialmente, como, por exemplo, produtores, atacadistas, varejistas e consumidores finais. Agrell, Lindroth e Norman (2004) definem a cadeia de suprimentos como uma relação na qual duas ou mais organizações trabalham uma com a outra em algum grau de interdependência, envolvendo organizações a montante (ou seja, a oferta) e a jusante (ou seja, a distribuição) até o produto chegar para o consumidor final.

Por sua vez, as relações horizontais ocorrem entre empresas do mesmo setor que cooperam entre si para tentar diminuir suas deficiências em termos de recursos e/ou na obtenção de benefícios conjuntos para se tornarem mais competitivas. Nesta tese, ressalta-se que o foco de estudo são as redes de nível horizontal, não excluindo a possibilidade de extensão dos resultados para outros tipos de redes ou relações entre empresas. As redes interorganizacionais de nível horizontal serão abordadas, definidas e caracterizadas no próximo tópico deste trabalho.