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7. CAPÍTULO VII – CONSIDERAÇÕES FINAIS DA PESQUISA

7.1 RESPOSTAS AO PROBLEMA E OBJETIVOS DA PESQUISA

A questão problema e objetivo geral deste trabalho estão alinhados no sentido de verificar como se desenvolve a relação de interdependência rede-empresa e empresa-rede ao longo da evolução das redes interorganizacionais. A partir dos resultados desta pesquisa, puderam-se obter algumas constatações sobre este objetivo e os objetivos específicos.

 Primeiramente, destaca-se que pode-se identificar redes que apresentaram as principais características de cada uma das fases de evolução descritas no capítulo III deste trabalho. Apesar de cada rede estudada possuir suas peculiaridades e características específicas quanto ao mercado em que atuam, elas apresentaram similaridades quanto aos principais aspectos que foram utilizados para definir a fase de evolução em que essas redes se encontravam, como o modo de governança, a tomada de decisões, a liderança e a estrutura das relações. Isso permitiu o desenvolvimento da pesquisa em diferentes fases de evolução das redes e o alcance do objetivo geral da pesquisa.

 Segundo, pode-se confirmar, no campo empírico, a dependência das redes estudadas na fase de Formação quanto ao comprometimento, à confiança entre os integrantes, à congruência de metas e objetivos e à imersão deles na rede. Estes elementos são necessários na fase de evolução das redes, principalmente, pela forma de governança utilizada por elas e pelo número de integrantes que elas possuem nessa fase inicial. Esses fatores agem como mecanismos de governança utilizados na rede para o desenvolvimento de atividades conjuntas e demais ações nela estabelecidas. Provan e Kenis (2007) já especificavam fatores como a confiança e o comprometimento como essenciais para a efetividade das atividades

propostas, especialmente, nesse estilo de governança compartilhada.

Importante destacar que os presidentes das redes entrevistados nessa fase de Formação não se manifestaram quanto à confiança dos integrantes em relação à rede. Para eles, a rede, naquele momento, são os próprios integrantes, mesmo que tenha sido juridicamente estabelecida uma organização separada para identificá-la. Por isso, a confiança entre os integrantes é o fator essencial nessa fase de evolução.

 Quanto a esses fatores da dependência das redes, verificou-se, também, que a dependência da rede diminui a partir do momento que ela começa a se estruturar, obter novos integrantes, passando a usar formas de governança mais formais. Notou-se que, à medida que as redes evoluem, tornam-se maiores em número de integrantes e utilizam formas de governança mais formais (como OARs), que são prováveis de se tornarem mais eficazes do que as redes com governança compartilhada (PROVAN E KENIS, 2007). Da mesma forma, verificou-se que essas redes diminuem sua dependência em relação aos integrantes quanto aos fatores pesquisados: comprometimento, confiança, congruência quanto a metas e objetivos e imersão dos integrantes na rede. Verificou-se, a partir da fase de Desenvolvimento, que as redes já possuíam um modo de governança mais hierarquizado, estipulando funções para os membros da diretoria e dando liberdade a eles para a tomada de decisão quanto às questões rotineiras. A contratação de um “ente” administrativo também auxiliou na efetividade da gestão da rede e melhoria dessa forma de governança. Nas redes estudadas na fase de Profissionalização, isso ficou bem claro. As redes estudadas naquela fase permitiram a constatação de que sua sobrevivência não seria ameaçada no caso da saída de um integrante, ou até, um pequeno grupo de empresas.

 Analisando os fatores estudados como geradores da dependência das empresas, constatou-se que estes não são desenvolvidos e organizados nas redes na fase de Formação ao ponto de gerar a dependência das empresas integrantes. Essas redes, conforme destacado no capítulo dos resultados da pesquisa, necessitam de certo tempo para estruturação de suas ações e organização de suas atividades e de seu sistema de governança.

 Comparativamente, as empresas pertencentes às redes da fase de Profissionalização estavam em uma situação diferente. Estas estavam dependentes da rede em que estavam inseridas devido à efetividade da rede em gerar os fatores estudados nesta tese e torná-las competitivas no mercado em que atuavam. Na teoria, dado o fato de as organizações transacionarem umas com as outras para obterem os recursos de que necessitam, aquele que detêm o controle sobre estes recursos passa a exercer papel-chave na relação, pois ele fornece poder sobre a outra organização, que se torna dependente (PFEFFER E SALANCIK, 1978). Em outras palavras, uma organização pode ser influenciada por outra (nesse caso, a rede) que detenha o controle substancial ou exclusivo sobre os recursos críticos para a sobrevivência dessa organização.

Na prática, isso ficou claro por meio da pesquisa empírica realizada. À medida que as redes proporcionavam diferenciais competitivos aos seus integrantes, por meio de fatores como o poder de barganha, a aprendizagem, as inovações e especialização das atividades e a legitimidade organizacional, os integrantes se tornam dependentes da rede em que estão inseridos. Essa resposta aos recursos de que os integrantes das redes necessitam é que acaba gerando uma inversão na relação de dependência das empresas. Estas, ao entrarem na rede, buscam apenas oportunidades de melhoria de seus negócios a partir dos benefícios gerados pela rede. Mas, a partir do momento em que a rede começa a melhorar sua organização e estrutura gerencial e passa a gerar recursos estratégicos únicos às empresas integrantes, estas vão se tornando cada vez mais dependentes da rede em que estão inseridas. De maneira geral, os recursos de que elas necessitam não são encontrados fora da rede.

Por fim, estipulou-se um framework analítico final dos fatores influenciadores da relação de interdependência entre redes e empresas com as proposições elaboradas (desdobradas) a partir dos resultados dessa pesquisa. A Figura 9 apresenta o framework analítico final.

Figura 9 – Framework analítico final

Fonte: elaborado pelo autor

Estes resultados delineados contribuem para uma abordagem mais abrangente dos mecanismos e fatores que influenciam a compreensão do processo de evolução das redes, que se solidificam e atuam como uma empresa individual separada das organizações integrantes na medida em que evoluem. Essa tendência verificada neste trabalho leva ao entendimento de que as redes podem se tornar organizações que, assim como as demais, necessitam de investimentos nas principais áreas da administração, como finanças, marketing, gestão de pessoas e materiais. Da mesma forma, os achados desta tese contribuem não só para o avanço do conhecimento teórico sobre o fenômeno das redes e sua dinâmica de evolução e competitividade aos ambientes competitivos em que atuam, mas também como uma resposta às dificuldades de crescimento e desenvolvimento das redes. Nesse sentido, são delineados, na próxima subseção, as contribuições teóricas e práticas que se acredita serem pertinentes ao campo de estudo das redes interorganizacionais.