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6. CAPÍTULO VI – RESULTADOS DA PESQUISA

6.3 A PROFISSIONALIZAÇÃO DAS REDES DE EMPRESAS: FASE III

6.3.4 Análise da interdependência rede-empresa-rede: Fase III

Os fatores estudados e explorados na pesquisa empírica junto aos presidentes dessas redes mostram que a rede não é mais dependente de um ou outro integrante individualmente. Nos relatos deles, pode-se perceber que o não comprometimento, a não confiança entre os integrantes, a não congruência de metas e objetivos e a falta de sentimento de pertença à rede é superada pelas ações e atividades que a rede exerce para beneficiar os seus integrantes, que possuem a necessidade de um determinado recurso.

É claro que esses fatores estudados até o momento não deixam de ser importantes para essas redes, tanto que, em alguns relatos, pode-se perceber isso. Mas o fato é que a dependência da rede em relação a alguns integrantes deixa de existir em virtude da estrutura de governança que ela possui e da forma de ela gerenciar e solucionar as principais necessidades dos seus integrantes. Obviamente que a rede ainda depende do grupo como um todo, pois ele é a razão de ela existir.

Em relação aos integrantes dessas redes, eles foram questionados sobre o nível de dependência que eles consideravam ter para com a rede em que estavam inseridos. As respostas, por mais diferentes que fossem, indicaram um elemento em comum: a dependência deles em relação à rede. A seguir, colocam-se alguns relatos que representam a opinião de todos os entrevistados.

Olha, agora, falando contigo, comecei a pensar em tudo que a rede me proporciona, e tem muita coisa. O cara tem um setor de compra, um jurídico, um setor contábil, um programa que você pode optar para gerenciar todo teu estoque, teu financeiro, a rastreabilidade dos teus medicamentos, o processo de marketing, as campanhas de natal, ano novo, dia das crianças, dia das mães. Tudo isso aí vem pronto. São várias coisas acontecendo aos poucos que, hoje, o associado nem se dá por conta que tem tudo isso aí. O cara entra e vai ganhando as coisas e, em um ano, ele vai pensar que parece que não é nada. Mas, sai dela pra ver, pra tu ver como é tudo pior sozinho. Porque eu vejo, assim, o ser humano se acomoda muito fácil. Ele vai se acomodando, acomodando e nem percebe que tem um monte de gente trabalhando por ti, fazendo tudo isso aí em teu prol. Então, sai da rede e vai fazer isso aí tudo sozinho pra ti ver. O cara não consegue, e muitas empresas não conseguiriam sobreviver (Int P 1).

Pra ti ter uma noção, só o desconto que os lojistas conseguem com as negociações, eles cobrem todos os custos que eles têm com mensalidades da rede e ainda sobra dinheiro. Aqueles que realmente querem fazer suas lojas crescerem, eu vejo hoje que são dependentes. Tem lojista que entrou na rede com uma loja e hoje já tem três lojas.

Tem lojista que tem cinco lojas e não trabalhava com as principais marcas. Com a rede, ele passou a trabalhar. Então, a rede abriu pra todos, essas marcas que muitos não conseguiam; a rede proporcionou um crescimento fantástico. [...] Vejo tantas pequenas lojas fechando, sem alternativa. Pra mim, a alternativa pra pequenos lojistas, principalmente, é se unir dentro de uma rede. Só tem a ganhar, porque o desafio do varejo é cada vez maior. O comércio eletrônico não tem volta. A tendência é que só aumente. Então, uma forma dos pequenos e médios sobreviverem é justamente se unirem em redes de cooperação (Int P 6).

Eu tenho certeza, e falo também por alguns colegas que eu vejo que têm estruturas parecidas com a minha, posso dizer que sou totalmente dependente da rede. Pra mim ter o negócio que eu tenho e tocar do jeito que eu toco, com esse jeito de compra, esse movimento, eu sou dependente da rede (Int P 2).

O cara acaba se tonando dependente. São pequenas coisas que formam essa dependência (Int P 7).

Esses relatos permitem identificar que existe a dependência dos integrantes em relação à rede, e que é todo o conjunto de fatores que os torna dependentes. Em outras palavras, não é somente o fato de as empresas conseguirem maior poder de barganha com seus fornecedores, ou a especialização das atividades que as tornam dependentes da rede. São todos os fatores explorados neste trabalho que estão conjuntamente envolvidos na geração dessa relação de dependência empresa – rede.

Em diversos momentos da realização das entrevistas, e inclusive em alguns relatos anteriormente expostos, pode-se perceber que os integrantes ressaltam um fator como complemento do outro. Alguns fatores impactam de forma mais plausível nos resultados das empresas, como o poder de barganha; outros não, como a aprendizagem obtida na rede. No entanto, todos os fatores, direta ou indiretamente, acabam impactando na gestão e realização das atividades envolvidas nos negócios das empresas, e é isso que as torna dependentes da rede. Para ilustrar a diferença e a mudança da relação de interdependência investigada nesse trabalho, elaborou-se a Figura 8. Nela, está representado o “comportamento” da relação de interdependência das redes e das empresas integrantes ao longo das fases de evolução das redes estudadas.

Figura 8 – Relação de interdependência rede - empresa

Fonte: elaborado pelo autor

O que se pretende representar com a Figura 8 é exatamente o que pode ser visto no decorrer da apresentação dos resultados, ou seja, a inversão na relação de interdependência entre as redes e as empresas integrantes.

Especificamente, na fase de Formação das redes, verificou-se a alta dependência das redes com as empresas devido aos fatores estudados (o comprometimento, a confiança entre os integrantes, a congruência de metas e objetivos e a imersão dos integrantes). Esses fatores estão intimamente ligados entre si, principalmente na fase de Formação da rede, pois quanto maior for o alinhamento dos integrantes quanto a metas e objetivos da rede, maior tende a ser o comprometimento deles, gerando maior confiança e, consequentemente, a tendência a serem mais imersos na rede, ou seja, mais as relações sociais dos integrantes tendem a direcionar os ganhos econômicos dos integrantes.

A fase de Desenvolvimento é caracterizada pela maior igualdade no balanceamento entre a relação de interdependência das duas partes estudadas nesta tese. As empresas passam a se tornar gradualmente mais dependentes da rede pelos retornos gerados a partir da efetivação das primeiras atividades conjuntas. Elas passam a pensar mais nos malefícios gerados aos seus negócios devido à saída ou extinção da rede. As redes, por outro lado, passam a se tornar

gradualmente mais independentes dos integrantes individualmente, principalmente devido ao crescimento em número de integrantes e sua melhor organização gerencial.

Por fim, na fase de Profissionalização, pode-se verificar a mínima dependência da rede em relação aos seus integrantes individualmente, devido a sua estrutura de governança e estrutura organizacional. As empresas, por outro lado, passaram a se tornar muito dependentes da rede para a realização de suas atividades, desde as mais básicas. Isso se deve à grande quantidade de recursos organizacionais e estratégicos proporcionados pela rede em todas as áreas gerenciais das empresas, como comerciais, gestão de materiais, aperfeiçoamento de pessoal e marketing.