• Nenhum resultado encontrado

A evolução do processo de integração econômica: o Tratado de

CAPÍTULO 4. A FORMAÇÃO DE UM ESPAÇO COOPERATIVO BRASIGUAIO

4.2 DEMOCRACIA E RELAÇÕES EXTERIORES – MERCOSUL, BRASIL E

4.2.1 A evolução do processo de integração econômica: o Tratado de

O tratado internacional econômico de Itaipu realizado entre Brasil e Paraguai, representados por suas holdings do setor elétrico Eletrobrás (Centrais Elétricas Brasileiras S.A) e Ande (Administración Nacional de Eletricidad) regem a maior

hidrelétrica do mundo, porém, o fato de os recursos hídricos do rio Paraná pertencerem em condomínio aos dois países, se fez necessária a criação, através de um regime jurídico de direito internacional especial, da Binacional Itaipu, qual regime iniciou-se anteriormente, como apresentado, no presente trabalho no Capitulo 2, que discorreu acerca dos tratados limites e seu histórico.

De acordo com o levantamento histórico, feito anteriormente, tanto quanto aos tratados limites, quanto ao processo de integração econômica, temos hoje orgulho de apresentarmos uma forma de coexistência pública de dois Estados em uma binacional.

Estados estes que não se cansam de aparar arestas de pensamentos e anseios divergentes em prol do desenvolvimento social e econômico integracionista, movimento este, conforme já discutido em capítulos anteriores, que rege a sobrevivência global de uma nação, qual não se sustenta mais em seu território, não mais no século atual.

A criação de Itaipu, assim como sua atual existência, teve também, suas dificuldades políticas, quais pertenciam a ambos países, uma era em relação a divergência de fronteira141:

Acima de Guaíra, ao lado do Mato Grosso do Sul, havia uma faixa de terra que era disputada tanto pelo Brasil como pelo Paraguai, disputa esta proveniente da Guerra do Paraguai. Logo que terminou a guerra, os países procuraram se ajustar em termos de fronteira e foi criada uma Comissão para providenciar sua regularização, porém, nunca se chegou a bom termo

141 CARNEIRO, Cynthia Soares. O direito da integração regional. Belo Horizonte: Del Rey, 2007, p. 22.

e havia uma pendência séria naquela área entre os dois Estados, por causa do aproveitamento das Sete Quedas.

O Brasil entendia que o Paraguai deveria ter seu domínio até as primeiras quedas de Sete Quedas, e o Paraguai entendia que esse domínio vinha um pouco abaixo das últimas quedas das Sete Quedas. Entretanto, qualquer aproveitamento de Sete Quedas só poderia ser realizado através de uma operação conjunta Brasil-Paraguai.

Para agravar essa situação, um ilustre engenheiro brasileiro fez um levantamento desse aproveitamento na região e entendeu que era possível fazê-lo só através do território brasileiro. Esse anteprojeto causou no Paraguai a maior repercussão, as bandeiras brasileiras foram queimadas em Assunção, o brasileiro era ofendido nas ruas, criou-se um clima de pré- guerra, com invasões naquela área conturbada; o exército brasileiro quis tomar posse da área e a própria Receita Federal lá construiu um posto fiscal, e os dois países entraram numa ante véspera de uma possível guerra.

E a solução para esse problema, adveio através da constituição da Entidade Binacional. Os países se entenderam e chegaram a um acordo de que as divergências não poderiam ser resolvidas através de uma disputa mais forte. Se existe a possibilidade de aproveitamento, por ambos e tendo o Paraguai direitos, mesmo não sendo sustentável a sua colaboração, este poderia trabalhar em conjunto, e depois, de certo tempo, contribuir com o Brasil na venda de energia a um preço proporcional ao investimento grandioso que o Brasil estava dispondo.

Essa foi a razão da criação da Entidade Binacional, que proporcionou aos dois países a oportunidade de construir a maior Usina Hidrelétrica até hoje existente.

Localização da Usina Hidrelétrica de Itaipu142.

142 CARNEIRO, Cynthia Soares. O direito da integração regional. Belo Horizonte: Del Rey, 2007, p. 93.

A assinatura do Tratado de Itaipu, em 1973, abriu caminho para a construção da barragem e da Hidrelétrica de Itaipu e a consequente criação de um lago artificial com área aproximada de 1.400 Km², pouco ao norte da região de Foz do Iguaçu.

O artigo VII desse Tratado estabelece que “as instalações destinadas à produção de energia elétrica e obras auxiliares não produzirão variação alguma nos limites entre os dois países, estabelecidos nos Tratados vigentes”. Ficando, assim, preservados os limites definidos pelo Tratado de 1872. Ao ser formado, em 1982 o Lago da Usina Hidrelétrica de Itaipu favoreceu os municípios ribeirinhos, com alternativas para pesca e o turismo na região.

Lago Artificial de Itaipu.143

Nos últimos vinte anos, a Comissão Mista tem realizado sistemáticas inspeções nos marcos anteriormente construídos, assim como na chamada faixa

non-aedificande, a largura de 50 metros quadrados (m²), sendo que cada país ficou

com 25 m², que acompanha toda a fronteira seca, e tem procedido aos trabalhos de

143 CARNEIRO, Cynthia Soares. O direito da integração regional. Belo Horizonte: Del Rey, 2007, p. 93. O lago artificial é um dos maiores do mundo, com 29 milhões de metros cúbicos e 200 quilômetros de extensão em linha reta. Considerando-se as baías enseadas e reentrâncias, a extensão chega a 1.400 quilômetros. A formação do lago não mudou apenas o aspecto geográfico da região. A agricultura, base da economia regional, começa a ceder lugar à atividade turística. Várias praias artificiais foram criadas ao longo das margens do lago. As de Foz do Iguaçu, Santa Terezinha de Itaipu, São Miguel do Iguaçu e Santa Helena são bem estruturadas e também excelentes opções de lazer. Essas prainhas servem de base para a realização de diversas competições e esportes náuticos. A grande extensão e largura do Lago de Itaipu favorecem a realização de provas regionais de vela, jet-ski, lancha e outros esportes aquáticos.

reconstrução de marcos que se fizeram necessários, assim como as reparações viáveis ao longo dos anos.

A partir de 1990, concomitantemente com os trabalhos de inspeção e de reparação/reconstrução de marcos, tem-se procedido à re-determinação das coordenadas geográficas dos mesmos, com base em pontos determinados por rastreamento de satélites geodésicos, tanto em relação ao divisor de águas das serras de Amambaí e Maracaju, como no que diz respeito aos 825 marcos secundários existentes estão intervisíveis, correspondendo a um intervalo médio de pouco mais de 500 metros entre marcos sucessivos.144

4.2.2 Os aspectos históricos e jurídicos do Tratado de Itaipu

A aproximação, iniciada em junho de 1966, quando da assinatura da Ata de Iguaçu, pelo Ministro das Relações Exteriores do Brasil, Juracy Magalhães, e do Paraguai, Sapena Pastor, até 05 de maio de 1994, quando a primeira unidade geradora começou a produzir, foram feitas mediante intensas negociações no setor diplomático, jurídico, comercial e pró-sociedade brasileira e paraguaia.

No transcurso destes 28 (vinte e oito) anos foi dada à natureza, ao homem e aos Estados envolvidos sempre enorme atenção, ou seja, segundo consta da pesquisa Itaipu é advém de um regime jurídico de direito internacional especial e inovador no setor energético mundial.

O Brasil e o Paraguai, representados por suas holdings do setor elétrico,

Eletrobrás (Centrais Elétricas Brasileiras S.A.) e Ande (Administración Nacional de Eletricidad), têm absoluta igualdade de direitos e obrigações, pelo menos é o que se

presume em cláusulas contratuais aceitadas na época.145

Este modelo jurídico diferenciado teve como principal causa o fato de que os recursos hídricos do Rio Paraná, aproveitados para a geração de energia, pertencem em condomínio aos dois países. Embora o Paraguai não vá necessitar ainda por algum tempo de sua metade da energia produzida, o Brasil adquire-a para

144 CARNEIRO, Cynthia Soares. O direito da integração regional. Belo Horizonte: Del Rey, 2007, p. 93.

consumo próprio. A construção da Usina mostrou-se essencial ao abastecimento elétrico e ao desenvolvimento dos dois países.146

Por ser um modelo jurídico diferenciado e inovador tanto no âmbito do Direito brasileiro, como paraguaio e como dos tratados internacionais, vale salientar a sua visibilidade perante a Constituição Federal de 1988, já que o tratado foi pensado e ratificado não em seus moldes, assim, segundo o doutrinador e ex-ministro Eros

Grau, em palestra proferida no 6º Congresso Sul-americano de Direito

Administrativo, realizado, em Foz do Iguaçu, em outubro de 2004, qual reuniu cerca

de 500 pessoas, entre advogados, estudantes, promotores, juízes,

desembargadores e ministros, além de associações e institutos ligados à área jurídica do País e da América do Sul.

O então presidente do Supremo Tribunal Federal, Nelson Jobim, ano 2004, encerrou o congresso, no dia 29 de outubro de 2004, falando sobre "Os tratados internacionais na visão da jurisprudência brasileira", em conferência que foi presidida pelo então diretor jurídico de Itaipu, João Bonifácio Cabral.

O reconhecimento da legitimidade do Tratado de Itaipu é fundamental para que o Brasil firme acordos semelhantes com outros países. É com base na natureza jurídica do Tratado de Itaipu - único do gênero no mundo, por exemplo - que o Brasil está em entendimento para firmar outros acordos internacionais, entre eles a exploração da Base Espacial de Alcântara, no Maranhão, em conjunto com a Ucrânia.

A entidade binacional, denominada Itaipu, criada diretamente pelo Tratado entre Brasil e Paraguai, de 26 de abril de 1973, constitui uma empresa juridicamente internacional. Isso significa que a empresa é publica, mas de caráter internacional, ou seja regida por normas e regulamentos específicos, de acordo com um entendimento mútuo entre os dois países.

O acordo foi firmado para a exploração dos recursos hidráulicos do Rio Paraná, na fronteira entre Brasil e Paraguai, antes da promulgação da Constituição de 1988. Com a nova Constituição, o Tratado de Itaipu, que tem uma natureza jurídica específica, foi automaticamente incorporado às suas normas e leis com o consentimento do Congresso Brasileiro.

Assim, Itaipu não pode ser juridicamente tratada como uma empresa pública. A legislação dos dois países (Brasil e Paraguai) não se aplica em Itaipu, unilateralmente, mas sim as normas previstas no Tratado, como é o caso da NGL (Normas Gerais de Licitação) e sua fiscalização que obedece controles especiais.147

146 CARNEIRO, Cynthia Soares. O direito da integração regional. Belo Horizonte: Del Rey, 2007, p. 99.

147 6º CONGRESSO SUL-AMERICANO DE DIREITO ADMINISTRATIVO, de 27 a 29 de outubro de 2004, Foz do Iguaçu, Brasil. O evento contou com o apoio da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e de Itaipu.

Segundo Eros Grau148, “O Tratado de Itaipu é constitucional. A natureza

jurídica do Tratado é compatível com à Constituição”.

Tal declaração contribuiu, de certa forma, para os novas expectativas do Brasil, ou seja, surgiram novas possibilidades, visibilidades econômica, comercial, política e diplomáticas, conforme foi extraído da interpretação de cláusulas contratuais, do presente tratado149:

Estabeleceram que para os efeitos do Tratado de Itaipu, deve-se entender por: Brasil, a República Federativa do Brasil; Paraguai, a República do Paraguai; Comissão, a Comissão Mista Técnica Brasileiro-Paraguaia, constituída em 12 de fevereiro de 1967; d) Eletrobrás, a Centrais Elétricas Brasileiras S.A., ou o ente jurídico que a suceda; Ande, a Administración Nacional de Eletricidade, do Paraguai, ou o ente jurídico que a suceda e ITAIPU, a entidade binacional criada pelo presente Tratado.

Os dois Estados criaram, em igualdade de direitos e obrigações, uma entidade binacional denominada Itaipu, com a finalidade de realizar o aproveitamento hidrelétrico do Rio Paraná.

A Itaipu foi constituída pela Eletrobrás e pela Ande, com igual participação no capital, e regula -se pelas normas estabelecidas no Tratado, no Estatuto que constitui o Anexo “A” e nos demais Anexos que poderão ser modificados de comum acordo pelos dois Governos.

A Binacional “Itaipu” tem sua sede em Brasília, Capital da República Federativa do Brasil, e em Assunção, Capital da República do Paraguai. Esta empresa binacional é administrada por um Conselho de Administração e uma Diretoria Executiva integrada por igual número de nacionais de ambos países, e as atas, resoluções, relatórios ou outros documentos oficiais dos órgãos de administração são redigidos nos dois idiomas português e espanhol.

A partir da criação da empresa, os dois governos outorgaram concessão à Binacional “Itaipu” para realizar, durante a vigência do Tratado, o aproveitamento hidrelétrico do trecho do Rio Paraná que vai desde e inclusive o Salto de Sete Quedas, hoje inexistente até a Foz do Rio Iguaçu. Fazem parte do presente tratado, o Estatuto da entidade binacional denominada “Itaipu” (Anexo A), a descrição geral das instalações destinadas à produção de energia elétrica e das obras auxiliares, com as eventuais modificações que se façam necessárias (Anexo B) e as bases financeiras e de prestação dos serviços de eletricidade (Anexo C).

[...] Os recursos para a integralização do capital da Itaipu foram supridos, à Eletrobrás e à Ande, respectivamente pelo Tesouro brasileiro e paraguaio e por outros organismos financiadores indicados pelos dois governos.

Os recursos complementares, necessários aos estudos, construção e operação da central elétrica e das obras e instalações auxiliares, foram supridos mediante operações de crédito, as quais possuem garantia das Altas Partes Contratantes, assegurando, da mesma forma, a conversão

148 6º CONGRESSO SUL-AMERICANO DE DIREITO ADMINISTRATIVO, de 27 a 29 de outubro de 2004, Foz do Iguaçu, Brasil. O evento contou com o apoio da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e de Itaipu.

149 REVISTA VIRTUAL DIREITO BRASIL – Volume 2 – nº 2 – 2008, Direito Brasil Publicações, p. 13- 15.

cambial necessária ao pagamento das obrigações assumidas pela Binacional.

Na medida do possível e em condições comparáveis, a mão-de-obra especializada ou não, os equipamentos e materiais, disponíveis dos dois países, foram e são utilizados de forma equitativa. As Partes adotaram todas as medidas necessárias para que os empregados fossem de ambas as nacionalidades, indistintamente, em trabalhos efetuados no território de uma ou de outra parte. Os dois Estados adotaram algumas normas específicas, tais como:

a) não aplicar impostos, taxas e empréstimos compulsórios, de qualquer natureza, à Itaipu e aos serviços de eletricidade por ela prestado;

b) não aplicar impostos, taxas e empréstimos compulsórios, de qualquer natureza, sobre os materiais e equipamentos que a Itaipu adquiriu ou ainda adquire em qualquer dos dois países ou importe de um terceiro país, para utilizá-lo nos trabalhos da construção da central elétrica, seus acessórios e obras complementares, ou para incorporá-los à central elétrica, seus acessórios e obras complementares.

c) da mesma forma que não aplicarão impostos, taxas e empréstimos compulsórios, de qualquer natureza, sobre as operações relativas a esses materiais e equipamentos nos quais a Itaipu foi ou ainda é parte; d) não aplicar impostos, taxas e empréstimo compulsório, de qualquer

natureza, sobre os lucros da empresa e sobre os pagamentos e remessas por ela efetuados a qualquer pessoa física ou jurídica, sempre que os pagamentos de tais impostos, taxas e contribuições de melhorias forem de responsabilidade legal da Itaipu;

e) não colocar nenhum entrave e não aplicar nenhuma imposição fiscal ao movimento de fundos da Itaipu que resultar de execução do Tratado; f) não aplicar restrições de qualquer natureza ao trânsito ou depósito dos

materiais e equipamentos adquiridos em qualquer dos dois países ou de um terceiro;

g) admitir nos territórios dos dois países os materiais e equipamentos necessários à empresa.

Foi estabelecido, também, que a energia produzida pelo aproveitamento hidrelétrico do Rio Paraná seria dividida em partes iguais entre os dois países, sendo reconhecido a cada um deles o direito de aquisição, pela Eletrobrás e pela Ande ou por intermédio das empresas ou entidades brasileiras ou paraguaias indicadas por esta, assim como por aquela, da energia que não for utilizada pelo outro país para seu próprio consumo. A empresa Binacional “Itaipu” deverá pagar “royalties” em razão da utilização do potencial hidráulico, incluindo no seu custo de serviço, o montante necessário ao pagamento de rendimentos sobre o capital, inclusive o montante necessário para remunerar ao Estado que ceder energia à outra parte.

Os “royalties” serão pagos através de dólares dos Estados Unidos da América, referente ao seu padrão de peso e título em ouro, na época, sendo previsto também que este valor poderá ser substituído no caso em que a mencionada moeda deixar de ter referida sua paridade oficial em relação ao ouro.

As áreas necessárias à instalação do aproveitamento hidrelétrico, obras auxiliares e sua exploração foram declaradas de utilidade pública, bem como a prática de todos os atos administrativos ou judicias tendentes a desapropriar terrenos e suas benfeitorias ou a construir servidão sobre os mesmos.

A delimitação dessas áreas está a cargo da Itaipu, “ad referendum” das

Altas Partes Contratantes, e são de responsabilidade da mesma o pagamento das desapropriações das áreas delimitadas. Sendo permitido nestas áreas o livre trânsito de pessoas que estejam prestando serviço à empresa, assim como os bens destinados a ela própria ou às pessoas físicas ou jurídicas por ela contratada.

Os dois países adotaram também, através de protocolos adicionais ou de atos unilaterais, medidas necessárias ao cumprimento do Tratado, especialmente no que diz respeito a aspectos:

a) diplomáticos ou consulares; b) administrativos e financeiros; c) de trabalho e previdência social;

d) fiscais e aduaneiros; e) de trânsito através da fronteira internacional; f) urbanos e habitacionais;

g) de polícia e de segurança;

h) de controle do acesso às áreas de limitação de utilidade pública.

O foro, relativamente às pessoas físicas ou jurídicas domiciliadas ou com sede no Brasil ou no Paraguai, será, respectivamente, o de Brasília e o de Assunção. Para tanto, cada um dos dois países aplicará sua própria legislação, tendo em conta as disposições do presente Tratado e seus anexos.150

Atualmente, com o novo acordo assinado entre os dois países, mas ainda não aprovado pelo Senado brasileiro, os impasses entre Brasil e Paraguai sobre a energia gerada pela hidrelétrica de Itaipu, foram acordados, com auxílio direto do Itamaraty, o que evidência que mesmo com tanto rigor e cuidado, a evolução política não poupou as questões hora suscitadas neste tópico, o que trás a tona a correlação constante da política nas relações jurídicas internacionais, exigindo, assim, a atuação constante da diplomacia dos entes envolvidos.151

Tais atitudes, sempre verificadas mediante interesses econômicos e de supremacia Estatal, desvirtuam os critérios apontados para com a segurança jurídica dos tratados, como por exemplo, as Cláusulas dispostas acerca da aceitação jurídica do tratado de Itaipu, estas que, nas mudanças dos planos de governo e estratégias políticas econômicas atuais, vieram a conturbar a validade das mesmas,

150 BRASIL. Lei no 9.984, de 17 de julho de 2000. Artigo 29,"§ 3o A Usina de Itaipu distribuirá, mensalmente, respeitados os percentuais definidos no caput deste artigo, sem prejuízo das

parcelas devidas aos órgãos da administração direta da União, aos Estados e aos Municípios por ela diretamente afetados, oitenta e cinco por cento dos royalties devidos por Itaipu Binacional ao

Brasil, previstos no Anexo C, item III do Tratado de Itaipu, assinado em 26 de março de 1973, entre a República Federativa do Brasil e a República do Paraguai, bem como nos documentos interpretativos subsequentes, e quinze por cento aos Estados e Municípios afetados por reservatórios a montante da Usina de Itaipu, que contribuem para o incremento de energia nela produzida." (NR)

151 ANEXO II - Clarissa Pont, Itaipu: Paraguai quer usar recursos para desenvolver o país, 03/08/2009. Carta Maior. Disponível em: <www.cartamaior.com.br>. Acesso em 27 set. 2011.

já que o avanço do Brasil na política e economia da America do Sul, assim como sua ascensão como potência emergente, não apenas do cone sul, veio a despertar um desagravo nas questões bilatérias, com o Paraguai, qual passou a sentir-se em desvantagem152:

Itaipu Binacional foi criada em 1973, e foi inovadora em termos de gestão econômica, fugindo ao regime tarifário tradicional brasileiro e estabelecendo um regime de fluxo de caixa. Na medida em que a questão era construir e operar uma única usina, o objetivo da gestão econômica do empreendimento era equilibrar receitas e desembolsos. Entre esses últimos, os mais importantes eram, e continuam sendo, aqueles relacionados ao pagamento dos encargos financeiros e da amortização dos empréstimos contraídos para a construção da usina. Hoje, representam, aproximadamente, 75 % do faturamento da usina. Assim, a tarifa de Itaipu foi determinada como sendo aquela que equilibrava no tempo os fluxos das receitas e dos desembolsos. Ficando, assim, sempre à margem do regime tarifário aplicado às demais centrais elétricas brasileiras.

[...] diante disso tudo, as reivindicações do Paraguai têm uma força muito menor do que já tiveram no passado. Face a isto, não cabem preocupações desmedidas e arroubos nacionalistas frente às demandas de nossos vizinhos paraguaios. No atual contexto, a configuração é extremamente