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CAPÍTULO 2: TRATADOS

2.1 TRATADOS INTERNACIONAIS

2.1.4 Tratado de Santo Ildefonso e suas aplicações diplomáticas e

Para resolver estas questões Portugal e Espanha concluíram em Santo Ildefonso, a 1º de outubro de 1777 um Tratado Preliminar de Limites de 1777, que trazia como preâmbulo a intenção de servir “de base e fundamento ao Tratado definitivo de Limites”.65

Este foi um período importante da política metropolitana porque se consolidou, na vontade das monarquias ibéricas, a necessidade de configuração e harmonização das fronteiras no domínios coloniais. As Instruções ditadas pelo Rei de Portugal, através dos órgãos administrativos coloniais, como o Conselho Ultramarino, imprimiram o caráter da política oficial e, sobretudo, a forma como foi

64 PARANHOS, José Maria da Silva, Barão do Rio Branco. Esboço da História do Brasil. Trad. De Sérgio F. G. Bath. Paris: F.J.de Santa-Anna Nery; 1889; Brasília: MRE-FUNAG, 1912, p. 73. (Coletânea de artigos sobre o Brasil organizada pelo Comitê Franco-Brasileiro para a Exposição Universal de Paris).

65 PEREIRA, Renato Barboza Rodrigues. “O barão do Rio Branco e o Traçado das Fronteiras do Brasil”. Revista Brasileira de Geografia. Rio de Janeiro: CNG, abr./jun de 1945, p. 187.

orientada a questão do povoamento da Capitania de Mato Grosso, depois de definido o Tratado de Limites de 1750.

A documentação oficial evidencia as preocupações básicas da Metrópole Portuguesa com a neutralização da ação jesuítica no extremo oeste da Colônia e a implementação de uma política capaz de conciliar os interesses ibéricos.

No período imperial, o Brasil celebrou Tratado com o Paraguai em 08 de outubro de 1844, por meio do qual foi adotado, como limite de fronteira, a linha estipulada pelo tratado de Santo Ildefonso (1777), este Tratado não chegou a ser ratificado, e sempre foi renegado com fundamento para a determinação das fronteiras brasileiras, com os demais vizinhos66:

[...] las altas partes contratantes se comprometem tambiem a nombar comissários que examinen y reconozcan los limites indicados ore l Tratado de San Ildefonso de 1 de octubre de 1777 para que se establezcan los limites definidos e ambos países.

Tais negociações foram realizadas em 1865, entre José Maria da Silva Paranhos, mais tarde conhecido como o famoso Visconde do Rio Branco, e o representante paraguaio José Berges, para poderem, tais nações, alcançarem termos de equidade aceitáveis por ambos, mas tais negociações não foram adiante, devido a decretação da guerra em 1º de maio de 186567:

[...] La cueston entre Brasil y Paraguay, por el contrario, oferece alguna característica particular [...] ocurría que em vários sectores del limite, la posesion favorecia al Paraguay. Em última instancia, este país se rehusó a aceptar la línea reclamada por el Império pues esta iba más ala de la que surgia de la posesion efectiva. Los representantes de ambos estados no pudieron llegar a um acuerdo y, por último, suscribieron uma convención el 6 de abril de 1856, em la que acordaron que no el término, de seis años designarían plenipotenciários para que ajusten definitivamente os limites. Em l artículo 2 esse conveniolas partes estipularón también que mientras no se celebrara el acuerdo definitivo de limites, respetarían y harían respetar el uti possidetis actual.

Na data, acima já mencionada (1º de maio de 1865) Brasil, Argentina e Uruguai ratificaram o Tratado da Tríplice Aliança e iniciou-se a guerra contra o Paraguai, o pais foi derrotado na guerra e logo depois desta, o Paraguai assina, em

66 J.ANDRASSY.

Les relations internationales do voisinage, RCADI,1951,t. 79, p. 73-182. - Artigo 35

do Tratado de 8 de outubro de 1844. 67 BARBERIS, Julio A.

La concepcíon brasiliña del uti possidetis, in Dimensão internacional do direito:

parceria com a Argentina, Brasil e Uruguai, o Tratado preliminar de paz (20 de junho de 1870)68:

[...] las enseñanas militares que esa gran sangria americana de cinco años arrojo para las naciones que, aquence y allende los mares, las analizaron y aprovecharon; el entramado diplomático que ha ido clarificándose recién em los últimos años por sobre las conclusioessimplistas o interessadas, han originado notables e cuántiosos apostes eruditos. [...] notables estudiosos de las naciones otrora em pugna – como el ilustre paraguayo Efraim CARDOSO, que desentrño em dos libros de receia arquitectura as seculares rivalidades entre Brasil y el Rio de la Plata y mostro como, inexoravelmente, ellas desembocaron em uma guerra em la que se invirtieron las alianzas naturales.

Ainda sobre o tema vale citar69:

[...] Não cabe aqui recordar os seus aspectos propriamente militares. Basta- nos assinalar que a difícil campanha serviu de dura prova à política exterior do império, que da luta saiu prestigiado como sempre, visto que não se aproveitou da vitória para exigir quaisquer compensações territoriais ou outras.

Mas ainda ficou em aberto as questões dos limites, já que o Brasil discordava da plena aplicação do Tratado da Tríplice aliança, que por sua vez beneficiava a Argentina com prejuízo ao Paraguai.

Mostrando interesse do Estado brasileiro em resolver a lide internacional, José Maria da Silva Paranhos (pouco depois disso o Visconde do Rio Branco), apresentou autorização de que lhe havia sido direcionada, em 1869, pelo então Imperador do Brasil, de ceder ao Paraguai a faixa de terra entre o Igureí e as sete quedas, desde que o governo de Buenos Aires também apresentasse uma proposta generosa, no que dizia respeito ao trecho do Chaco a que não tinha direito, vale salientar que tais negociações não surtiram efeitos positivos.70

Como o exposto, eram apimentadas as divergências entre os pontos de vista do Brasil e da Argentina, não tendo outra alternativa senão, o Império brasileiro negociar, em separado com o Paraguai, assinando o Tratado de paz, limites e amizade perpétua em 09 de janeiro de 1872.

De acordo com Vianna71:

[...] neste, foi felizmente encerrada a secular questão de limites, generosamente cedendo o Brasil a linha do Igureí, a que tinha direito pelos

68 MARCO, Miguel Angel Santiago de. La guerra del Paraguay. Buenos Aires: Planeta, 1995, ‘prologo’, p. 9-13, cit. p. 9-10.

69 VIANNA, Hélio. História diplomática do Brasil. São Paulo: Melhoramentos, 1958, cap. XV, ‘Guerra da tríplice aliança contra o governo do Paraguai’, p. 121-125, cit. p. 125.

70 Ibidem, p. 126-132. 71 Ibidem.

convênios anteriores, mas não pelo uti possidetis, e reivindicando a divisa

pela margem direita do rio Apa, de acordo com nossa anterior ocupação efetiva.

De acordo com o exposto, pelo Tratado de 1872, pouco depois foi iniciada a demarcação da fronteira paraguaio-brasileira, desde a foz do rio Iguaçu e a confluência dos rios Apa e Paraguai. A comissão mista colocou seis (06) marcos nos pontos mais notáveis da fronteira e terminou sua incumbência em 1874, mas é de grande valia informar que o trecho da fronteira brasileiro-paraguaio, permaneceu não precisado no referido tratado:

[...] o território do Império do Brasil divide-se com o da República do Paraguai pelo álveo do rio Paraná, desde onde começam as possessões brasileiras na foz do Iguaçu, até o Salto grande das Sete quedas do mesmo rio Paraná;/do salto grande das Sete quedas continua a linha divisória pelo mais alto da serra de Maracaju, até onde ela finda;/ daí segue em linha reta, ou mais que aproxime, pelos terrenos mais elevados, a encontrar a serra Amambaí;/ prossegue pelo mais alto desta serra até a nascente principal do rio Apa, e baixa pelo álveo desde até a sua foz, na margem oriental do rio Paraguai;/ todas as vertentes que correm para o norte e leste pertencem ao Brasil, e as que correm para o sul e oeste, pertencem ao Paraguai;/ a ilha do Fecho dos morros é domínio do Brasil.

O trecho da fronteira do Brasil não apareceu entre a foz do rio Apa e o desaguadouro da Baia Negra, no rio Paraguai, pois este trecho era reclamado pela Argentina, pela Bolívia e pelo próprio Paraguai, sendo que as pretensões Argentinas foram afastadas em 1878, mas o interesse boliviano permaneceu, até ser resolvido, depois da conhecida guerra do Chaco.72

Em relação ao Brasil, nenhuma dessas nações, aqui citadas, contestavam a posse da margem esquerda, apenas competia aguardar que, algum interessado pudesse arguir divergências, fazendo, pois, reiterada ressalvas quanto aos eventuais direitos da Bolívia.

Vale salientar, por fim, que o Brasil, independentemente dessa condição, ficou a pleitear, de forma singular e objetiva a linha fronteiriça, entre a foz do rio Apa e a Baía negra, aponta H. Vianna (1958), que por várias vezes o governo brasileiro e sua diplomacia tentaram estabelecê-la com o Paraguai: em 1911, em 1922 e 1924; conseguindo, em 27 de maio de 1927, por meio do Tratado complementar de Limites73:

72 VIANNA, Hélio. História diplomática do Brasil. São Paulo: Melhoramentos, 1958, cap. XV, ‘Guerra da tríplice aliança contra o governo do Paraguai’, p. 1958, cp.xvi, item 5, ‘tratado complementar de limites, de 1927, p. 131-132.

[...] De acordo com os termos do tratado complementar de limites, de 27 de maio de 1927, assinado por Otávio Mangabeira, então ministro das relações exteriores do Brasil, e Rogelio Ibarra, como representante paraguaio, a divisória segue, no referido trecho, o álveo do Rio Paraguai, declarando pertencer a margem direita à República do Paraguai, margem esquerda ao Brasil. Quanto às linhas, a sua atribuição, aos dois países, é a vigente no caso dos rios navegáveis; separa-as para um e o outro lado, o meio do canal principal ou de maior profundidade [...].74

Ao longo do período ditatorial, as análises adquiridas em seminários75,

mediante documentações pesquisadas na chancelaria, quais indicam uma prática por parte do Estado brasileiro de impor-se ao Paraguai, aproveitando-se da fragilidade econômica e política desse país, ao mesmo tempo em que corroborava com o processo de sua ditadura militar.

Um dos principais expoentes da Ditadura Brasileira, o General Golbery do Couto e Silva, que esteve no Paraguai de 1947 até 1950, cuja, a presente pesquisa, pouco se adentrou em suas feitas, já que as suas ações como “membro da Missão Militar Brasileira de Instrução no Exército do Paraguai”, só foi adquirida no bojo de pesquisas realizadas em seminários, sem provas documentais substanciais.

Mas as evidências documentais, obtidas nas fontes mencionadas demonstram que houve similaridades em ambos os regimes, cujas semelhanças e diferenças entre os governos ditatoriais dessas nações, influenciaram diretamente na relação de fronteira, na sobreposição do Brasil diante do Paraguai.

2.2 A FORMAÇÃO DE UM "ESPAÇO COOPERATIVO BRASIGUAIO": A