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CAPÍTULO 1: TERRITÓRIO, FRONTEIRA E OCUPAÇÃO DE ÁREAS

1.3 BRASIGUAIS: REALIDADE ATUAL E ESPECTATIVAS

De acordo com o estudo em questão o termo brasiguai, serve para identificar brasileiros que possuem moradia no Paraguai e vice versa; no entanto para melhor entender sobre o termo, é preciso realizar uma breve revisão histórica.

Depois de anulada a lei que impedia a aquisição de terrar por estrangeiros, na faixa de fronteira, em 1967, pelo Presidente Stroessner, promoveu-se uma grande onda migratória de brasileiros para o Paraguai.

Aliado a tal fator, pode-se correlacionar também a ciência dos brasileiros da grande fertilidade do solo paraguaio e os baixos preços das propriedades do país, como impulsionadores da migração.

No lado Brasileiro o fato propulsor do grande deslocamento de paraguaios, por sua vez, foi a entrada do grande capital no campo e o incentivo à agroindústria, em detrimento do modo de produção familiar, mais ou menos nesta mesma época, em 1973.

Outro fator estimulante foi a construção da Usina de Itaipu, visto que muitos agricultores paranaenses foram desalojados. Os emigrantes concentraram-se, em

sua maioria, nas regiões de Canindeyú e Alto Paraná, no sudoeste do Paraguai e foram alcunhados de brasiguaios.

Dentre vários aspectos temos que este povoamento desordenado de áreas de fronteiras, disseminam obstáculos obviamente mais complexos dos apresentados no território nacional, pois existem duas nacionalidades em regiões que se separam ora, por apenas uma rua, ora um rio não muito estreito, ou uma ponte.

Tais situações identificadas nas regiões de fronteira entre Brasil e Paraguai demonstram:

Considera-se aqui o espaço estruturado ao redor das bacias Média e Alta do rio Paraguai, zona que abrange a metade ocidental do Mato

Grosso do Sul, a metade oriental do departamento de Santa Cruz e grande parte do Chaco. É um espaço historicamente estruturado pelo rio e que apresenta configurações socioeconômicas comuns, apesar das fronteiras internacionais.

Historicamente, o elemento comum às três vertentes nacionais desse espaço foi a dificuldade de implantar uma colonização humana duradoura, devido, em grande parte, às suas características geográficas e, principalmente, naturais. O primeiro elemento é a interioridade desse espaço, a qual se torna relevante frente ao projeto de colonização e organização territorial na América do Sul, que fez com que as áreas litorâneas e próximas ao litoral concentrassem a população, as atividades econômicas e o poder político. Em consequência, os espaços interiores ficaram pouco accessíveis e integrados até o século XX46.

Em relação ao mercado econômico, os brasiguais, mesmo enfrentando problemas, são atualmente, responsáveis pela produção de cerca de 60% da soja paraguaia, o que corresponde a 30% do PIB nacional do país. 47

No entanto os brasiguaios sofrem muitas pressões dos camponeses paraguaios, assim como sofrem também com a ilegalidade e insegurança jurídica, pois muitos desses imigrantes, que alcança cerca de 385 mil dos 500mil presentes no país (Paraguai).

Este aspecto choca-se atualmente, com as propostas atuais do governo paraguaio, no quesito reforma agrária. O atual governo do presidente Lugo, promove o temor quanto a desapropriação destas terras.

Mediante acordos diplomáticos com o Brasil, conforme no próximo capítulo será estudado, os governos tentam tranquilizar os brasiguais quanto a situação no

46 SOUCHAUD, Sylvain; CARMO, Roberto Luiz do; FUSCO, Wilson. Mobilidade populacional e migração no Mercosul: a fronteira do Brasil com Bolívia e Paraguai. Teoria & Pesquisa Vol. XVI -

nº 01 - Jan/Jun de 2007, p. 39. 47 ZOGO, 2008, p. 8.

país, contudo, diante de tal questão de insegurança jurídica, muitos brasiguaios, nos últimos anos (ver anexo D, ao final do trabalho), têm voltado ao Brasil, visto que as terras disponíveis para contratos de arrendamento diminuíram consideravelmente.

A caracterização atual do território de fronteira, diante da pesquisa feita, envolve principalmente o estudo doutrinário e legislativo nacionais e internacionais acerca do direito positivo que pressupõe unidade, mas que, diante do exposto, não impede que os sistemas se comuniquem, mantendo intercâmbio, num convívio plurissistemático, e no caso dos brasiguais, somente acordos diplomáticos bilaterais, que venham a impulsionar legislações internas, podem ser dirimentes de tais inseguranças.

Os tratados e as convenções internacionais são modos específicos, conforme veremos em capítulos seguintes, de iniciar o acolhimento interno de preceitos pertinentes a outros conjuntos normativos, igualmente carregados de normatividade e juridicidade, mas em prol do desenvolvimento, não do Estado em si, não mais, pois hoje o desenvolvimento envolve os sujeitos e atores anteriormente já identificados: empresários, empregados, entes públicos e empresas privadas.

Ou seja, o século XXI é identificado pelas relações internacionais, pelos megablocos, pela era digital e pelas relações econômicas em defesa do social internacional.

O Direito atual não é mais como antes, fato da cultura própria de um único povo; hoje o que impera é uma síntese entre valor e mundo econômico, social, político e ambiental; por esse modo, uma investigação moderna da juridicidade, voltada para os valores contemporâneos, tem razão de ser favorável à resolução de conflitos de forma interligada com demais interesses comuns de territórios afins, ou áreas de fronteira, em proveito do mercado em ascensão com a constante evolução capitalista.

Nessa linha de pensamento, busca-se respostas para os problemas neste presente trabalho, abordados, não sendo, mais, atualmente viável, apenas a nação individual, Brasil ou a nação soberana Paraguai, pois, não são problemas que envolvem um povo, um território, uma nação; são problemas advindos da correlação de áreas de fronteiras entre os países, que atingem não apenas brasileiros ou paraguaios, mas que afligem também os brasiguaios, com seus contornos históricos

próprios e com seus desafios a serem compactuados não por uma nação, mas pela interligação destas.

Segundo Machado:

Enquanto o limite jurídico do território é uma abstração, gerada e sustentada pela ação institucional no sentido de controle efetivo do Estado territorial, portanto, um instrumento de separação entre unidades políticas soberanas, a fronteira é um lugar de comunicação e troca. Os povos podem se expandir para além do limite jurídico do Estado, desafiar a lei territorial de cada Estado limítrofe e às vezes criar uma situação de fato potencialmente conflituosa, obrigando a revisão dos acordos diplomáticos.48

Assim, estas discussões serão apresentadas situando-se também no âmbito da dinâmica legal do processo de integração econômico, Mercosul, ou como objeto de barganha para expectativas de que, com a formação de leis interterritoriais, asseguradoras de organização jurídica do processo de integração promovam o tão sonhado desenvolvimento da região em estudo.

A conquista da segurança jurídica no processo de integração condiz com a aplicação do discutido e ratificado nos tratados de integração; representam um alicerce para os demais direitos, na verdade a segurança jurídica é direito fundamental e é uma garantia ao combate das instabilidades e ilícitos que suprimem direitos sociais, econômicos e ambientais.

48 MACHADO, Lia Osório. Limites e fronteiras: da alta diplomacia aos circuitos da ilegalidade. Revista Território, 2000.