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A organização dos espaços: a arquitetura do Grupo Escolar Coronel Flamínio Ferreira

A criação do Grupo Escolar Coronel Flamínio Ferreira

3.2 A organização dos espaços: a arquitetura do Grupo Escolar Coronel Flamínio Ferreira

“Além de se estruturar como elementos de aprendizagem, a análise da organização espacial dos edifícios escolares permite compreender o desejo e os propósitos de seus idealizadores em dada época.”

Prof. Jader Janer Moreira Lopes

Os edifícios para abrigar os Grupos Escolares foram sendo construídos ou adaptados por todo o território estadual. Os espaços eram especificamente pensados para atender a proposta pedagógica do início da República, as construções eram grandiosas em locais pensados estrategicamente, pois havia a necessidade de se divulgar, por meio da estrutura arquitetônica dessas construções, o ideário republicano e, com ela, demonstrar à sociedade a magnitude que a educação representava. As construções eram consideradas símbolos de modernidade e de progresso, desempenhando um papel importante na paisagem urbana das cidades onde eram erguidas.

Antes mesmo da criação dos grupos escolares, os responsáveis pela educação apontavam que os espaços escolares possuíam grande responsabilidade na disseminação do ensino, facilitando seu acesso. Monteiro (1998) afirma que “a carência de alunos com que contavam as escolas também era atribuída às condições materiais de suas instalações, portanto, o espaço físico ocupado por elas seria objeto de preocupação constante por parte do poder público provincial” (MONTEIRO, 1998, p. 37). Segundo a autora, as escolas eram instaladas em locais impróprios, mal iluminados, sem ventilação, entre outros problemas.

Foi pensando em resolver problemas estruturais como esses, observados no final do Império, e visando a uma nova concepção de escola, que os espaços dos grupos escolares foram idealizados no início da Primeira República.

Corrêa (1991) fala em sua obra da importância que os grupos escolares paulistas representaram para a arquitetura do período e da necessidade de preservá-los:

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Cerca de 170 edifícios... foram construídos entre 1890 e 1920. Esses prédios constituem um patrimônio merecedor de grande atenção, pois refletem a própria história da arquitetura escolar paulista. Cabem ao Estado, portanto, as iniciativas para que essas escolas sejam preservadas, através de políticas que possibilitem sua restauração e preservação. (CORRÊA, 1991, Introdução)

Faz-se necessário situar a arquitetura destes prédios em seu contexto e período, pois os mesmos representavam o que havia de mais moderno para aquele momento:

Talvez para o educador de nossos dias se torne um pouco difícil compreender o que representou como arrojo e confiança no futuro, a implantação desses estabelecimentos, a construção desses prédios – a maioria dos quais até hoje existem – com sua arquitetura pesadona e enfadonha para o gosto moderno, perdido na multiplicidade vertical das construções atuais, mas que para o coevos impressionavam pela majestosidade e imponência. (ANTUNHA, 1976, p.71)

É real a afirmação de que, para a atualidade, esses prédios, muitas vezes, representam construções ultrapassadas e obsoletas, ocupando grandes espaços que poderiam ser melhor aproveitados. A nosso ver, essa é uma triste realidade brasileira: a de não se valorizarem arquiteturas antigas, diferentemente do que ocorre em países europeus.

Devemos enfatizar que, apesar de esses espaços não serem funcionais nos dias de hoje, representaram, em sua forma física, o que de melhor havia em termos de organização do pensamento pedagógico determinante do período.

Os prédios construídos para abrigar os Grupos Escolares foram planejados por arquitetos renomados, em sua maioria estrangeiros. Devido à urgência, muitas deles foram construídos em locais diferentes com uma mesma planta, ou foram desenhadas fachadas diferentes para um mesmo projeto. Buffa e Pinto (2004) afirmam que os desenhos das fachadas atribuíam ao arquiteto o título da obra, assim, dentre os arquitetos que mais obras projetaram para os grupos escolares, alguns merecem destaque:

Victor Dubugras, arquiteto francês formado na Argentina, Giovanni Battista Bianchi, italiano, formado pela Escola de Belas Artes de Milão, Carlos Rosencrantz, nascido e formado na Alemanha, José van Humbeeck e também profissionais brasileiros, dos quais o mais importante, pela quantidade e qualidade de seus projetos, é Francisco de Paula Ramos de Azevedo, formado na Bélgica. (BUFFA E PINTO, 2002, p. 34)

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José van Humbeeck foi um dos arquitetos que mais obras produziu na antiga Superintendência de Obras Públicas (Corrêa, 1991, p.42), porém por ter restringido seu trabalho a órgãos públicos, é reconhecido hoje apenas pelos projetos desenvolvidos para o Estado.

É de sua autoria o projeto do prédio construído em Limeira para abrigar as instalações do Grupo Escolar Coronel Flamínio Ferreira. A planta que serviu de modelo para a construção do prédio de Limeira era da tipologia de Avaré datada de 1901. Esta tipologia segue o mesmo partido da de Botucatu, acrescentando-se duas salas - o projeto de Botucatu era de autoria de Victor Dubrugas.

Apesar de as construções apresentarem diferentes composições de fachadas, todas utilizam o mesmo padrão reforçando traços da arquitetura medieval. Apresentam características bastante semelhantes: número de janelas, disposição da construção, detalhes do telhado, tijolos aparentes com moldura de argamassa e frontões triangulares que recriam o estilo francês (CORRÊA, 1991, p.6).

Figura 7: Esboço da Planta que serviu de base para a construção do Grupo Escolar Coronel Flamínio. Fonte: Corrêa (1991, p.42)

O prédio possuía dois pavimentos, com duas entradas separadas: a entrada dos meninos dava acesso direto ao pavimento superior, ficando no andar térreo a seção feminina e não existia ligação entre o andar térreo e o superior na entrada feminina. Cada pavimento continha cinco salas de aula - a sala da direção e a sala dos professores ficavam no pavimento superior, e a portaria, no inferior. Os banheiros eram separados, ficavam atrás do prédio principal,

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e a passagem que ligava o prédio aos banheiros era toda ornamentada. As salas possuíam janelas grandes possibilitando uma maior iluminação e ventilação do espaço.

As fachadas das escolas desenhadas por José van Humbeeck têm características muito parecidas, destacando-se pela simplicidade estilística formal do neoclássico, acrescida de alguma ornamentação calcada no vocabulário neo-renascentista (CORRÊA, 1991).

O prédio foi construído em uma praça central no quadrante das ruas Carlos Gomes, Tiradentes, Treze de Maio e Boa Morte. Nossa dúvida inicial era se havia uma possibilidade de o arquiteto responsável pelo projeto do G.E. de Limeira ter pensado em alguma especificidade para a construção desse Grupo Escolar, porém percebemos que, além de nenhuma inspiração local ter sido considerada para a elaboração do projeto, soubemos esse projeto nem mesmo fora pensado para essa construção, mas apenas adaptado para ela. Vários prédios foram construídos com fachadas idênticas, o que nos leva a concluir que não havia preocupação com a exclusividade na dessas plantas escolares e para o desenho de suas fachadas.

Figura 8: Grupo Escolar de Limeira. Fonte: C.R. Mário Covas37

37 CENTRO DE REFERÊNCIA EM EDUCAÇÃO MÁRIO COVAS disponível em:

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Os terrenos onde foram implantados os grupos escolares, não foram escolhidos ao acaso: “eram situados em regiões nobres, esses edifícios marcam, definitivamente, pela imponência e localização, seu significado no tecido urbano” (Buffa e Pinto, 2002, p.43). Os autores afirmam que a seleção dos terrenos era criteriosa: “quadras inteiras ou grandes lotes de esquina que proporcionassem uma visualização completa do edifício e permitisse múltiplos acessos” (idem, p.44).

O Grupo Escolar Cel. Flamínio Ferreira foi construído em uma praça central, com vistas para seus quatro lados. Era uma obra arquitetônica de excelência para as construções da época, localizando-se no centro da cidade, no Engenho Ibicaba, fazenda modelo para o mundo38.

O local escolhido para sua construção foi estratégico. O declive da cidade contribuiu para que o prédio pudesse ser visto de longe. Ele ficava acima da estação ferroviária e da igreja, demonstrando que a educação estava acima de tudo na cidade.

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Figura 9: Grupo Escolar Coronel Flamínio Ferreira s/d. Acervo do Centro de Memória

Acreditamos que a imagem acima seja a que melhor expresse o que representou a arquitetura do Grupo Escolar em seu auge. A falta de informações sobre a data não nos impede de deduzir que a imagem é posterior à década de 1950, pois, em 1957, são retirados os muros que cercavam a praça, e, conforme é possível observar, não há muros em torno do prédio. Essa imagem nos remete aos tempos de glória do Grupo Escolar - infelizmente, tempos remotos e distantes da atual condição em que ele se encontra.

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Figura 10: Planta baixa da praça que abriga o Grupo Escolar de Limeira. Acervo do Centro de Memória

Inicialmente, o prédio possuía, além dos espaços pedagógicos internos, um grande pátio coberto e também uma área descoberta, onde aconteciam os recreios e as apresentações públicas. Os recreios eram divididos por sexo, ficando as meninas na parte coberta. Nesse espaço havia também um palco que era utilizado para as diferentes apresentações que ocorriam no Grupo Escolar; já o espaço destinado ao recreio dos meninos era a área descoberta do grande pátio. As atividades ao ar livre eram realizadas nesse espaço, atendendo ao currículo implementado na Reforma da Instrução Pública de São Paulo, descrito no Regulamento da Instrução Pública de 27 de novembro de 1893. Os exercícios ginásticos e militares atendiam ao programa de cada ano, tanto do ensino preliminar, quanto do complementar. Eram previstas tais atividades no Artigo 67 da Lei citada, constando as orientações fundamentais:

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Artigo 67. Cada escola preliminar, além de uma área bastante espaçosa pra recreios e exercicios fysicos, terá uma sala apropriada para os trabalhos manuaes, assim como os objectos e apparelhos necessarios ao ensino intuitivo e ao da geographia, do systema metrico e da gymnastica (art. 5º da lei n° 88). (COLEÇÃO DE LEIS E DECRETOS DO ESTADO DE SÃO PAULO DE 1983, Tomo III, 1913)

José van Humbeeck é autor também dos primeiros projetos para grupos escolares de um único pavimento, com características acentuadas daquilo que permeava o pensamento pedagógico. Todos os corredores abertos, possibilitando visualizar (vigiar) tudo que acontecia em todos os locais do prédio.

Importante ressaltar alguns detalhes apresentados por Corrêa (1991), referentes a essas construções:

O partido arquitetônico é caracterizado pela existência de um pátio interno, em torno do qual desenvolve-se a circulação coberta que interliga as salas. As plantas são simétricas, sendo reservadas uma das alas à seção masculina e outra à seção feminina. Bem no eixo da simetria está localizado o acesso central do prédio, que dá para um vestíbulo ou portaria, antes de se atingir a galeria de circulação. Essas galerias possuem as mesmas características dos alpendres e varandas de algumas casas do fim do século passado, com suas coberturas apoiadas em colunas de ferro forjado e arrematadas por lambrequins de madeira rendilhado. (CORRÊA, 1991, p.46–47)

A imagem seguinte é um exemplo de planta de um único pavimento e com pátio no centro:

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Figura 11: Planta baixa do Grupo Escolar de Caçapava. Fonte: Corrêa (1991, p.47)

O que diferencia esse projeto daquele de dois pavimentos é a junção dos espaços administrativos, que, nos projetos de dois pavimentos, eram separados. O número de salas permanece o mesmo e a separação por sexo também está presente no projeto de pavimento único.

Figura 12: Pátio do Grupo Escolar de Santa Bárbara d'Oeste. Fonte: Corrêa (1991, p.53)

1 - sala de aula 2 - professores

3 - vestíbulo (saguão de entrada) 4 - professoras

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É importante enfatizar que existiam alguns aspectos em comum nos diferentes projetos que atendiam a uma exigência da época: a separação das alas femininas e masculinas. Nos edifícios térreos, diferentemente dos de dois pavimentos, onde cada um era destinado a determinado sexo, as alas eram opostas, inclusive com relação ao recreio. Nota-se que, nessas construções, apesar de existir o pátio central, muitas vezes, ele não era utilizado pelos alunos para que meninos e meninas não se misturassem.

Havia, no início da República, a preocupação de se difundir o ensino por todo o país, e os Grupos Escolares eram um dos instrumentos utilizados pelo poder público para essa disseminação: “[...] o objetivo era impressionar a população, tornar ostensiva a preocupação do Estado com a educação, não só através da arquitetura escolar, mas também das constantes exibições públicas dos alunos” (IWAYA, 2005, p.190).

Arquitetura e projeto pedagógico dialogavam na medida em que os espaços eram pensados para atender a uma nova estrutura de ensino. Disciplina, ordem e devoção pátria faziam parte da rotina dos alunos, assim como pontualidade e compromisso com a educação eram a base de sua formação. Para as meninas, atividades manuais completavam o currículo pedagógico, para os meninos, aulas nas oficinas criadas dentro do Grupo Escolar.

Mais do que instruir, a função dos Grupos Escolares era disseminar uma educação para a população Tendo em vista a nova conjuntura social “caberia ainda à escola primária prover às camadas populares alguns conhecimentos técnicos, de cunho profissional” (SOUZA, 2008, p.35), ou seja, em nosso entendimento, a função da escola era preparar o operário para a sociedade capitalista em que esse indivíduo estava inserido, instrumentalizando-o para o mercado de trabalho.

A formação integral era pautada na concepção de uma formação completa que desenvolvia o intelecto, o corpo e a alma do indivíduo, contudo, mais que isso, ela visava formar para a sociedade moderna, uma sociedade que respeitasse a hierarquia e mantivesse a disciplina:

...educar pressupunha um compromisso com a formação integral da criança que ia muito além da simples transmissão de conhecimentos úteis dados pela instrução e implicava essencialmente a formação do caráter mediante a aprendizagem da disciplina social - obediência, asseio, ordem, pontualidade, amor ao trabalho, honestidade, respeito às autoridades, virtudes morais e valores

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cívico-patrióticos necessários à formação do espírito de nacionalidade. (SOUZA, 2004, p.127)

Ao analisar as mudanças educacionais que ocorreram na Primeira República, podemos perceber uma grande transformação na organização da educação, seja na forma graduada e seriada, implantada pela Reforma da Instrução Pública, que transformou as escolas multisseriadas, isoladas e sem infraestrutura alguma em escolas organizadas de forma a atender, qualitativa e quantitativamente, à educação primária. Outra transformação positiva foi a organização do currículo que previa a formação integral do cidadão, com conteúdos pensados especificamente para a idade e o sexo, de maneira que tornavam cada ano de estudo insubstituível e essencial para a sua formação integral. Da mesma forma, as belas construções idealizadas para a democratização do ensino serviram aos objetivos propostos pela Reforma, na medida em que cada espaço foi pensado e destinado para tarefas diversas.

As mudanças atingiram também o trabalho docente e contribuíram enormemente para a formação da nova identidade desse profissional: “reunindo vários professores sob a supervisão de um diretor, o prestígio social dessas escolas era estendido aos seus professores” (IDEM, ibidem, p.117). O trabalho docente deixa de ser pensado individualmente, com a preocupação com a idade do alunado e formações diferenciadas para cada faixa etária, cada professor passa a pensar o ensino a ser ministrado para o ano de sua atuação; não podemos esquecer ainda que os manuais e documentos oficiais predeterminavam o que e como ensinar.

As visitas dos Inspetores de Ensino registrados no Livro de Visitas do Grupo Escolar Coronel Flamínio Ferreira demonstram a preocupação que eles tinham com a ordem, a disciplina e a competência dos professores, pois em vários relatórios encontramos observações que elogiavam a ordem e a disciplina nas salas de aula do G. E., bem como a forma como os professores conseguiam garantir esse ordem.

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Figura 13: Corredor do pavimento superior do prédio que abrigou o G. E. As mesas e cadeiras que serviram ao G.E. empilhadas, assim como os quadros pertencentes ao Museu.Arquivo da autora 05/2009

Podemos observar, na imagem acima, a preservação das cadeiras e carteiras que serviram de assento e apoio para tantas gerações escolares. Elas fazem parte do acervo do Museu, e ficavam na sala de homenagem do Grupo Escolar. Com a queda do teto, as carteiras foram dispostas no corredor e posteriormente foram retiradas do prédio para sua reforma.

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Figura 14: Corredor do pavimento inferior, onde funcionava o Centro Cultural. Arquivo da autora 05/2009

Nesta imagem observamos a porta ao fundo do corredor, por onde diversas gerações de meninas adentravam o Grupo Escolar. Essa entrada não tinha ligação com o andar superior, servindo apenas às salas do pavimento térreo. A porta mantém algumas características do período, como a ferragem e a estrutura de madeira.

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Figura 15: Teto de uma das salas de aula no pavimento superior.Arquivo da autora 05/2009

Essa imagem é da sala em que funcionava o espaço de homenagem ao Grupo Escolar e ela foi tirada dias antes de a sala ser interditada. As lâmpadas se mantinham por um fio preso ao teto de madeira e, alguns dias após termos registrado sua má conservação, as lâmpadas e seus suportes vieram abaixo, o que levou o Poder Público local a esvaziar e interditar definitivamente a sala.

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Figura 16: Lateral do prédio. Arquivo da autora 05/2009

Um dia belo, no outro esquecido. Essas eram as condições do prédio que abrigou o primeiro Grupo Escolar de Limeira. Nas diversas visitas que realizamos, ao longo de nossa pesquisa, presenciamos o descaso com os espaços que outrora tiveram papel fundamental na instrução da população local. As paredes emboloradas, os tetos desabando, as goteiras dentro das salas, as calhas entupidas causando alagamentos em dias de chuva, as paredes pichadas. A estética externa também sofreu uma desvalorização imensa, pois foi instalado ao redor da praça o terminal urbano da cidade, e, juntamente com ele, as barracas de camelôs e os ambulantes. Se não bastassem os desgastes que o tempo causou no prédio, as ações públicas voltadas contra a manutenção contribuíram para que esse espaço sofresse tal degradação.

Muitas reportagens foram realizadas ao longo dos últimos anos sobre a situação lastimável em que se encontrava o prédio além de várias visitas de arquitetos e funcionários do CONDEPHAAT – Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo e do CONDEPHALI – Conselho Municipal de Defesa do

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Patrimônio Histórico e Arquitetônico do Município de Limeira, na tentativa de negociarem as reformas entre a Prefeitura Municipal e o Governo Estadual.

Não podemos deixar de registrar as palavras da Museóloga Ariadne e sua indignação com a forma como se portavam os órgãos públicos frente ao problema da degradação deste prédio: ela relatou que tinha perdido a conta de quantos pessoas já haviam ido olhar, fotografar e fazer relatórios sobre o estado prédio, mas que infelizmente nada acontecia: “Se fotos restaurassem, esse prédio estaria novo”.

Figura 17: Grupo Escolar Coronel Flamínio Ferreira s/d. Arquivo do Centro de Memória T.1052

Inferimos que essa imagem antecede a década de 1950, período no qualocorreu a reforma que retirou o muro ao redor do prédio. No ano de 1956, o Governo Estadual, por meio da Secretaria de Educação, autorizou a execução do Processo nº 47859, de 13 de agosto de 1956, que atendia ao Oficio nº 152/56 da Prefeitura Municipal que solicitava, junto ao Governo, autorização para demolir o muro existente na praça e a justificativa era a de que a prefeitura necessitava dessa área, que ia dos arredores do prédio até o muro. Informou o Prefeito, no Ofício,

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que, para concluir o plano urbanístico que vinha sendo executado pela Prefeitura, era necessário demolir os muros, pois o plano urbanístico fluiria exatamente naquele espaço. Para autorizar a demolição do muro, o governo estabeleceu um Termo de Compromisso que o Prefeito José Adriano Lopes Castelo Branco deveria cumprir para que fosse autorizada tal reforma – Termo que foi, finalmente, assinado em 16 de janeiro de 195739.

Essa demonstração da forma como o Governo Estadual e o Governo Municipal dialogavam frente às questões relacionadas ao Grupo Escolar era um prenúncio dos diversos embates entre esses governos ao longo dos anos que se seguiram. A Prefeitura Municipal de Limeira pleiteou, por muitos anos, a posse do prédio junto ao Governo Estadual, pois o terreno pertencia ao município e a construção ao Governo do Estado. Esses embates acabaram resultando no pedido de tombamento do prédio pelo CONDEPHALI (Conselho Municipal de Defesa do Patrimônio Histórico e Arquitetônico do Município de Limeira) através de Ofício nº 20/2005 de 07 de dezembro de 2005. No processo de tombamento, fica proibida a realização de quaisquer intervenções no prédio que possam vir a descaracterizar a referida área. O prédio, agora, faz parte de um conjunto de 14 espaços tombados pelo CONDEPHALI, e, entre eles,