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O interessante aqui nest4e ponto, é abrir parênteses para se compreender porque os elementos históricos que deram origem à grande expansão na produção e na circulação desta moeda de prata alemã, relacionam-se fundamentalmente com a história da criação do dólar norte-americano. Esta é a do dollar original que se transformou na moeda oficial, no padrão ouro, nas notas verdes e nas causas das crises. Constitui-se também na identidade simbólica do poder do dinheiro e dos EUA como se conhece hoje.

No caso específico das colônias inglesas na América, utilizava-se uma moeda de prata espanhola denominada pillar dollar, muito popular devido a simples necessidade do seu uso e na prática comum das atividades que envolviam o dinheiro como meio de pagamento e de troca, segundo consta a versão de Jack Weatherford144.

Esse padrão prata da moeda e sua expansão só foi possível devido à descoberta de um "processo racional", segundo Weber, que beneficiava a prata por meio de um amálgama com mercúrio, o que permitiu utilizá-la largamente no desenvolvimento do comércio, quando da exploração das minas de prata e dos povos do México e do Peru. Fluiu da América para a Europa, entre 1493 e 1800, segundo ele, uma quantidade enorme do metal estimada em cerca de 90 a 100 milhões de quilogramas. Estes indicadores demonstram a grande influência que a prata transformada em moeda teve no desenvolvimento do comércio Europeu. Isto fez com que ela se estabelecesse na história monetária como "padrão metálico", expandindo-se em quantidade e em cálculos, o que fez Weber relatar as origens de uma grande expansão dessas moedas de prata na Europa, quando se começou a cunhar o Joachimstaler, suplantando o Florim Florentino de ouro145.

Esta história da expansão da moeda foi relatada por Weatherford, e sua versão dos fatos dá conta de que ela ocorreu por volta do ano de 1516, no contexto da Reforma Luterana de 1517-1520, quando um Conde chamado Hieronymos Schlick descobriu uma grande mina de prata nas suas propriedades localizadas num vale da Boêmia, chamado Joachimsthal. Após extrair a prata o Conde começou a cunhar moedas partir de 1519.

144 WEATHERFORD, Jack, A História do dinheiro: do arenito ao cyberspace. São Paulo: Negócio Editora, 2000, p. 115-126.

No ano seguinte ele foi autorizado por Carlos V146 a emitir oficialmente moedas de prata para o "sacrossanto Império Romano-Germânico", o que propiciou ainda mais o alargamento da expansão da produção e da circulação deste metal pela Europa. As primeiras moedas de prata cunhadas pelo conde Schlick foram denominadas de Joachimsthalergulden

ou Joachimsthalergroschen, em homenagem ao vale (Tal) onde elas estavam sendo produzidas e cunhadas. Estas moedas ganharam o mundo e expandiram-se por todas as partes, sendo conhecidas popularmente como Thalergroschen, Thalers ou simplesmente Talers147. A redução na sua denominação ocorreu obviamente devido à exagerada nomenclatura e à difícil execução da pronúncia na língua alemã, mesmo entre os germanos. Os thalers espalharam-se, tornando-se uma moeda aceita em quase todos os cantos do mundo, por conta da expansão das relações comerciais e políticas do Império.

Segundo Weatherford, a história da denominação "dollar" pode ser interpretada pela numismática, ciência que estuda as moedas e medalhas. De acordo com esta interpretação ela aconteceu por derivação lingüística, conforme o entendimento que cada nação tinha do nome dessa moeda alemã: em italiano foi denominado thallero; em holandês daalder; em dinamarquês daler ou rigsdaler; ou sueco riksdaler; e em inglês dollar.

Estes thalers/dollars que circulavam na Inglaterra penetraram através da Escócia no reinado de James VI, que não utilizava a libra como moeda circulante devido a sua política anti-inglesa. Assim, esta moeda, que possuía o padrão metálico da prata, foi levada pelos escoceses para as colônias britânicas na América.

Para se ter uma idéia da produção e expansão, o Conde Schlick, só no primeiro ano, cunhou cerca de 250 mil talers. De 1529 até 1545 foram cerca de 5 (cinco) milhões e estima- se que até o final do Século XVIII foram cunhados em torno de 12 (doze) milhões de thalers. A taxa de câmbio de um thaler equivalia a 3 (três) marcos alemães, e o mais famoso deles foi o que na cunhagem tinha a imagem da Imperatriz da Áustria, Maria Theresa (1717-1780). Mesmo depois da sua morte, estima-se que foram produzidos e cunhados, com data de 1780, mais de 800 milhões de talers, até o ano de 1975148.

146 O imperador Carlos V (1500-1558) foi Rei da Espanha de 1516 a 1556 e Imperador da Alemanha de 1519 a 1556.

147 Em alemão Gulden = Florim; Groschen era uma moeda alemã mais antiga equivalente a 10 Pfennigs. Cf. LANGENSCHEIDTS UNIVERSAL-WÖRTERBUCH PORTUGIESISCH. Berlin: Langenscheidt KG, 1978. 148 WEATHERFORD, 2000, p. 115.

Por outro lado, também é interessante e curioso de se saber de onde vem o símbolo

"$",

tão popular, que acompanha as notas verdes de dólar e que se transformou num forte símbolo “universal” do dinheiro, usado para expressar as unidades monetárias em muitos países.

A explicação, segundo Weatherford, vem da moeda de prata espanhola pillar dollar que circulava nas colônias das Américas, a do norte e a latina, e traziam no seu anverso duas colunas e uma bandeira. As duas colunas eram paralelas e identificavam as "colunas de Hércules" do estreito de Gibraltar, que separa a Espanha do Marrocos e liga o Mediterrâneo ao Atlântico. Isto representava para os europeus os limites dos hemisférios ocidental e oriental. A bandeira fixada nestas colunas, era a imagem que pendia “tremulando ao vento”. No anverso da moeda havia uma inscrição em latim plus ultra, que significava "ir mais além". Este símbolo continha a idéia que ensejava transpassar as “colunas de Hércules” em direção a um "novo mundo", e a "descoberta" da América significou o ir "mais além" em direção ao ocidente. Segundo Weatherford "algumas pessoas dizem que o sinal do dólar moderno deriva desse pillar dollar". De acordo com essa explicação, as duas linhas paralelas representam as duas colunas e o

"S"

significa o formato da bandeira tremulando149.

Por outro lado, segundo Weber, o dinheiro moeda aparece com o comércio helênico tirando vantagens técnicas e superiores, mas foi a Lídia, com o "dárico", que fez a casa da moeda mais antiga sob os domínios do Rei da Pérsia150 promovendo assim a expansão do dinheiro amoedado.

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