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Para Nelson Alves Pinto a "noção de capital financeiro" no capitalismo moderno pode ser reconstruída partindo-se das concepções clássicas de Marx e de Rudolf Hilferding, servindo para se compreender o que há de essencial no interior do processo mais geral do desenvolvimento econômico e social275.

Esta "noção" nessa perspectiva sociopolítica - aqui estabelecida e relacionada ao conceito de “capital financeiro” - pode ser observada a partir das formas de estruturação, organização, controle e dos mecanismos da “assistência financeira” que se destacam adequados aos seus objetivos estratégicos, que são de "apoio" as “estratégias de desenvolvimento do setor privado”, com a expansão dos capitais das grandes instituições financeiras, bancos e empresas transnacionais. Assim, articulados com seus mecanismos de assistência financeira de caráter multilateral, inserem-se também, relativamente no

274 CHESNAIS, 2005, p. 29.

capitalismo contemporâneo como “banqueiros institucionais”, na forma geral clássica de valorização fictícia – e ideal - do seu capital (D-D

´)

, onde, atuam também como "comerciante de dinheiro". Ou seja, na perspectiva de Marx, do “capital adicional na forma de créditos” apenas como valores já realizados, exercendo uma "mediação técnica" de uma parte desse D- 276

.

De forma geral, esse “elemento técnico” da metamorfose é exercido quando da “manipulação do capital-dinheiro” na esfera da circulação dos capitalistas comerciantes e industriais, e pode-se acrescentar aqui, na esfera da circulação dos tributos e da dívida pública advindos daí, que como “intermediários operacionais” apropriam-se sob a forma de juro, de parte do lucro (D + ∆D) e de parte dos tributos contidos nos juros das dívidas, gerados pela mais-valia. De acordo com Marx, quando, nessa “mediação técnica da circulação do dinheiro”:

o capital-dinheiro for adiantado por categoria especial de capitalistas – um capital que representa, reduzindo a escala, o capital adicional que, não fora essa ocorrência, os próprios comerciantes e os capitalistas industriais teriam de adiantar para esse fim – temos, também aí, a forma geral do capital D-D´. Ao adiantar D, quem desembolsa obtém D + ∆D. Mas, a mediação de D-D´ não se refere aí aos elementos materiais e sim aos elementos técnicos da metamorfose.

É evidente que a massa de capital-dinheiro, que os comerciantes de dinheiro (banqueiros) manipulam, é o capital-dinheiro que está na circulação, dos capitalistas comerciantes e industriais, e que as operações que realizam são apenas as operações desses capitalistas a que servem de intermediários. Também é claro que seu lucro é apenas dedução da mais-valia, pois só lidam com valores já realizados, mesmo quando realizados apenas na forma de créditos.

Ocorre aí a duplicação de função observada no comércio de mercadorias, pois parte das operações técnicas relativas à circulação do dinheiro tem de ser executada pelos próprios comerciantes e produtores de mercadorias277.

1997, p. 24.

276 MARX, 1985b, p. 371. Ver especialmente o Capítulo XIX sobre o "O Capital Financeiro". Entretanto, cabe aqui uma ressalva acerca deste conceito de “capital financeiro” discutida por Gerárd Duménil e Claus Germer durante o seminário "Neoliberalismo, Transição e Finanças em Marx", realizado em Florianópolis, SC, no período de 28.11 a 01.12.2006. De acordo com estes autores, este termo "capital financeiro", consignado na tradução brasileira, não possui o mesmo significado na expressão original em alemão, sendo que para Gerárd Duménil o sentido utilizado por Marx era o de "capital de financiamento" e para Claus Germer seria no sentido do "capital de comércio de dinheiro"; a tradução foi feita provavelmente da versão francesa, e influenciada pelo conceito desenvolvido por Rudolf Hilferding, como ver-se-á mais adiante. Em todo caso Marx considera o “banqueiro” com um “comerciante de dinheiro”, intermediários do capital-dinheiro.

No capitalismo contemporâneo, como visto, observa-se, na perspectiva traçada por Guttmann, que se trata do “capital financeiro” como um "circuito de investimento", cuja base é o crédito, com uma "carteira de ativos" proporcionando uma "redistribuição da renda", sendo identificado por ele como "circuito de capital financeiro". Este circuito pode ser definido mais precisamente como sendo de "investidores", que fazem seus empréstimos a partir de "excedentes de caixa" e obtém o "direito legal" de participar dos ganhos futuros do "tomador de empréstimos", dado que o "desenvolvimento de qualquer empreendimento" que necessite da presença de "agentes dispostos a gastar dinheiro hoje" tem a intenção de ganhar mais dinheiro no futuro, "seja sob a forma de juros, dividendos e ganhos de capital" 278.

Já para Alves Pinto, este processamento do capital financeiro, no que há de essencial no interior do desenvolvimento econômico e social, leva "a transformação da riqueza privada – de haveres produtivos em títulos negociáveis – e a centralização do controle sobre os meios de produção – através da expansão da grande sociedade por ações em substituição à empresa familiar". Isto significa que não está correta para este autor a noção dos economistas neoclássicos contemporâneos de que um título financeiro seja "um direito" sobre um "rendimento futuro", mas trata-se "da expressão institucional de um mecanismo de apropriação cujo desenvolvimento pressupõe a organização capitalista da produção". Desta forma, para Alves Pinto, não se pode buscar o centro do processo decisório de alocação de recursos produtivos no interior da firma, nas unidades de produção, mas no mercado financeiro, "onde se negociam os títulos/ações que compõem a maior parte da riqueza privada – que se situa o fulcro das decisões de investimento e, portanto, de acumulação de capital" 279. Assim, através desta pressuposição de Alves Pinto sobre a organização capitalista da produção, que reorienta o centro do processo decisório para alocação de capitais produtivos, o “capital financeiro” para Hilferding se caracteriza pelo "ciclo completo" do capitalismo.

Para Hilferding, a capacidade do "grande banco" como proprietário do "capital fictício" e como proprietário majoritário das "ações", é obter o "poder de dispor do capital fictício" para a ampliação das relações de propriedade na "transformação do capital em capital financeiro". Esta é a forma mais "elevada" e "abstrata" do capital no “capitalismo moderno", segundo ele, e se constituiu pelos processos de concentração "que aparecem, por um lado, na

abolição da livre-concorrência, mediante a formação de cartéis e trustes e, por outro, numa

278 GUTTMANN, 1998, op. cit. p. 62. 279 ALVES PINTO, 1997, p. 24.

relação cada vez mais intrínseca entre o capital bancário e o capital industrial. É através dessa relação que o capital vai assumir a forma de capital financeiro" 280.

Assim, para se entender melhor esta definição, pode-se observar que para Hilferding, é o capital na “forma de dinheiro à disposição dos bancos” que é definido por ele como o “capital bancário”. Este "é transformado" numa "parte cada vez maior" do capital produtivo e é, por sua vez, empregado e imobilizado no processo de produção industrial cujas características se relacionam com o desenvolvimento da sociedade anônima e sua monopolização. Portanto, “uma porção cada vez maior do capital da indústria não pertence aos industriais que o aplicam” e assim: “dispõem do capital somente mediante o banco, que perante eles representa o proprietário”. Por outro lado, conforme Hilferding:

o banco deve imobilizar uma parte cada vez maior de seus capitais. Torna- se, assim, em proporções cada vez maiores, um capitalista industrial.

Chamo de capital financeiro o capital bancário, portanto o capital em forma de dinheiro que, desse modo, é na realidade transformado em capital industrial.

Mantém sempre a forma de dinheiro ante os proprietários, é aplicado por eles em forma de capital monetário – de capital rendoso – e sempre pode ser retirado por eles em forma de dinheiro.

Mas, na verdade, a maior parte do capital investido dessa forma nos bancos é transformado em capital industrial, produtivo (meios de produção e força de trabalho) e imobilizado no processo de produção.

Uma parte cada vez maior do capital empregado na indústria é capital financeiro, capital à disposição dos bancos e, pelos industriais. O capital financeiro desenvolveu-se com o desenvolvimento da sociedade anônima e alcança o seu apogeu com a monopolização da indústria.

O rendimento industrial ganha um caráter seguro e contínuo; com isso, a possibilidade de investimento de capital bancário na indústria ganha extensão cada vez maior.

Mas o banco dispõe de capital bancário, e os proprietários majoritários das ações bancárias dispõem do domínio sobre o banco.

É evidente que, com a crescente concentração da propriedade, os proprietários do capital fictício, que dá o poder aos bancos, e os proprietários do capital que dá poder a indústria são cada vez mais as mesmas pessoas. Isto é tanto mais verdade quando, como visto, cada vez mais o grande banco obtém o poder de dispor do capital fictício281.

Para Hilferding, esta crescente concentração da propriedade nas mesmas pessoas, a “união pessoal” na “formação” de cartéis e trustes, torna o "capitalista financeiro" o mais alto grau de poder como "magnata do capital", das "altas finanças", pois o poder dos "magnatas"

da indústria torna-se cada vez mais dependente do poder dos magnatas proprietários do capital fictício; mas o contrário não é verdadeiro, enquanto o capital comercial se degrada profundamente.

Na medida em que o próprio capital, no seu mais alto grau, se torna capital financeiro, o magnata do capital, o capitalista financeiro, concentra a disposição de todo o capital nacional em forma de domínio do capital bancário.

A união pessoal também desempenha aqui um papel importante. Com a formação de cartéis e trustes, o capital financeiro alcança seu mais alto grau de poder, enquanto o capital comercial sofre sua mais profunda degradação. Completou-se um ciclo do capitalismo282.

Dessa forma, este capital financeiro exerce cada vez mais influência na fase contemporânea do capitalismo, a partir dos fenômenos que compõem suas características dinâmicas e que se apresentam na perspectiva de Hilferding: de "forma autônoma, embora reflexa; nas múltiplas formas que esse movimento assume; na dissociação e independência conquistada que esse movimento assume; e na dissociação e independência conquistada por esse movimento em relação ao capital industrial e comercial" 283.

O capital financeiro para Hilferding, portanto, "significa a uniformização do capital" em que "os setores do capital industrial, comercial e bancário antes separados encontram-se agora sob a direção comum das altas finanças, na qual estão reunidas, em estreita união pessoal, os senhores da indústria e dos bancos" 284.

Por outro lado, na perspectiva clássica de Marx o “capital financeiro” (ou o "capital de financiamento" de Duménil, ou o "capital de comércio de dinheiro" de Germer), e seus movimentos, adquire essa função autônoma de um capital particular que é executado como operação peculiar, uma "função técnica", no processo de circulação do capital industrial e comercial. No sentido geral dado por Marx, isso é a transformação do capital no seu ciclo completo, no encadeamento do processo total, do início ao fim do movimento na

281 Ibid, p. 219.

282 Ibid, p. 219. 283 Ibid, p. 27.

284 Ibid, p. 283. Hilferding considera ainda que no início do desenvolvimento capitalista "o capital monetário, como capital de usura e comercial, desempenha um papel importante tanto para a acumulação de capital quanto também na transformação da produção artesanal em capitalista. Mas aí tem início a resistência dos capitalistas produtivos, isto é, dos capitalistas que obtém lucro, portanto dos capitalistas comerciantes e industriais, contra os capitalistas do juro". (Ibid, p. 219)

"metamorfose do dinheiro" na compra e venda sem cessar (D-M e M-D)285. Desta forma procedendo:

O dinheiro efetua movimentos puramente técnicos no processo de circulação do capital industrial e, conforme podemos acrescentar agora, do capital comercial (pois este se incumbe de parte da circulação do capital industrial, parte que se torna operação própria e peculiar do capital comercial).

Esses movimentos – ao se tornarem função autônoma de um capital particular que os executa, como operações peculiares, e nada mais faz além disso – transformam esse capital em capital financeiro.

Parte do capital industrial, e também do capital comercial, na forma dinheiro, existiria sempre não só como capital-dinheiro em geral, mas como capital-dinheiro empenhado apenas nessas funções técnicas.

Da totalidade do capital destaca-se e se torna autônoma determinada parte, na forma de capital-dinheiro, tendo a função capitalista de efetuar com exclusividade essas operações para toda a classe dos capitalistas industriais e comerciais286.

No caso desta abordagem sociopolítica, parafraseando a perspectiva de Marx, considera-se que a assistência financeira desenvolvida pelos organismos financeiros multilaterais, como o Banco Mundial e o FMI, executam determinada "função autônoma de um capital particular", como "prestamistas", para os Estados nacionais e para os capitais privados. E nesta atuação, fazem uma pequena parcela do dinheiro mundial efetuar "movimentos puramente técnicos", no conjunto do processo de circulação, e executam assim esta "tarefa técnica" como "categoria especial de agentes ou capitalistas que o efetuam para toda a classe capitalista" 287.

Nessa condição especial, se definem como um "verdadeiro proprietário jurídico" de parcela do "capital-dinheiro" propriamente dito assumindo assim, nesta perspectiva, uma função particular de "capitalista financeiro" multilateral no qual derivam, de acordo com Marx, nas formas de capital emprestado288.

Assim, o movimento contínuo da parte deste “capital financeiro” multilateral, configurada na forma dinheiro, como uma operação particular de configuração "puramente técnica", representa também uma espécie de reserva, "guarda do tesouro", como capital- dinheiro potencial dos Estados (capitalistas), e assim sendo pode ser reconstituído no futuro por pagamentos vencidos, pois segundo Marx, parte determinada do capital:

285 MARX, 1985b, p. 363.

286 Ibid, p. 363. 287 Ibid, p. 364.

tem de existir constantemente como tesouro, como capital-dinheiro potencial: reserva de meios de compra, reserva de meios de pagamentos, capital vadio na forma dinheiro à espera de aplicação; e, nessa forma, parte do capital reflui sem cessar.

Além dos recebimentos, pagamentos e contabilidade, torna-se então necessária a guarda do tesouro, o que por sua vez é uma operação particular. Ela se caracteriza de fato pela transformação constante do tesouro em meios de circulação e em meios de pagamento e pela reconstituição dele com dinheiro obtido com as vendas e com os pagamentos vencidos; esse movimento contínuo da parte do capital, configurada em dinheiro, separada da própria função do capital, essa operação puramente técnica, ocasiona trabalho e custos especiais – custos de circulação289.

Este capital emprestado como capital-dinheiro potencial caracteriza o "dinheiro como mercadoria" para Marx, ou seja é "mercadoria capital" apenas "quando emprestado" e "efetiva duplo retorno: no processo de reprodução volta ao capitalista ativo e em seguida transfere-se ao prestamista, o capitalista financeiro, e assim é devolvido ao verdadeiro proprietário, o ponto de partida jurídico" 290. Isto posto, a natureza é a do capital fixo ou circulante, sendo seu proprietário o dono do dinheiro; e o capital produtor de juros assume um caráter específico e extrínseco:

No capital produtor de juros tudo aparece extrinsecamente: ao adiantar o capital, o prestamista apenas transfere-o ao prestatário; o capital realizado retorna simplesmente quando o prestatário o restitui, o devolve com juros ao prestamista.

O mesmo se estende à determinação imanente ao modo capitalista de produção: a taxa de lucro não é só determinada pela relação do lucro obtido numa rotação, para o valor-capital adiantado, mas também pela duração

288 Ibid, p. 397-399.

289 Ibid, p. 365. Este tipo de operação particular de transformação do dinheiro, representa para Marx este "custo de circulação", que não cria valor, mas se reduz como custo ao capitalista na medida em que ele é executado por categoria especial de agentes [Bancos]: "Que o dinheiro exerça a função de meio de circulação ou de meio de pagamento depende da forma de troca das mercadorias. Em ambos os casos, o capitalista tem de lidar incessantemente com dinheiro, pagando muitas pessoas ou recebendo-o de muitas pessoas. Essa tarefa puramente técnica de pagar e de receber dinheiro constitui de per si trabalho que, ao servir o dinheiro de meio de pagamento, exige balanços de contas, operações de compensação. Esse trabalho representa custo de circulação e não cria valor. Reduz-se, quando é executado por categoria especial de agentes ou capitalistas que o efetuam para toda a classe capitalista" (Ibid, p. 364)

290 Ibid, p. 397. (Grifos nossos). Pode-se observar o que diz o capítulo XXI n’O Capital produtor de juros, onde Marx escreve que a "mercadoria, quando emprestada como capital, é cedida, segundo a natureza dela, como capital fixo ou circulante"; (...) mas todo capital emprestado, qualquer que seja a forma dele, como quer que a natureza do valor-de-uso modifique o modo de devolução, é sempre forma particular do capital-dinheiro, pois o que se empresta então é sempre determinada soma de dinheiro sobre a qual calculam os juros"; (...) "o que se empresta, se não for dinheiro nem capital circulante, será reembolsado da mesma maneira que o capital fixo"; (...) "o locador recebe periodicamente juros e ainda parte do valor consumido do próprio capital fixo, equivalente ao desgaste periódico. E ao final do prazo retorna fisicamente a parte não consumida do capital fixo emprestado"; (...) "a maneira de retorno é determinada portanto em cada caso pelo ciclo real do capital que se reproduz e das suas variedades particulares. Mas para o capital adiantado, o retorno toma a forma de reembolso, pois o adiantamento, a cessão dele, tem a forma de empréstimo".

dessa rotação; é determinada portanto pelo lucro que o capital industrial proporciona segundo períodos determinados.

Essa regulação extrínseca se apresenta no capital produtor de juros, pois estes são determinados e pagos ao prestamista em prazos estabelecidos. (...) o tempo de produção e o tempo de circulação concorrem para determinar o preço das mercadorias; que, por essa razão, a taxa de lucro é determinada para dado tempo de rotação do capital e que essa determinação do lucro segundo um tempo dado acarreta a determinação do juro" 291.

Portanto, os organismos financeiros multilaterais inserem-se na divisão do trabalho, no capitalismo contemporâneo, como uma "categoria especial de agente" com funções exclusivas, convertidas em "negócios especiais". Transformam seus mecanismos financeiros em espécie de “negócio especializado”, exercido em grande escala, como na noção de “capital financeiro” ou "comércio" de um determinado dinheiro bancário292, de um determinado capital adiantado, reservado como Tesouro pelos Estados, a eles associados. Para Marx, portanto,

a divisão do trabalho faz que essas operações técnicas, condicionadas pelas funções do capital, sejam tanto quanto possível executadas para toda a classe capitalista por uma categoria de agentes ou capitalistas como funções exclusivas, ficando concentradas em suas mãos.

Há aí divisão do trabalho em duplo sentido, como acontece com o capital mercantil.

Aquelas funções se tornam negócio especializado, e porque se efetuam como negócio especializado concernente ao mecanismo financeiro de toda a classe, concentram-se, são exercidas em grande escala; ocorre então nova divisão do trabalho nesse negócio especializado, por se repartir em diversos ramos independentes entre si e por se aperfeiçoarem as condições de trabalho desses ramos (grandes escritórios, numerosos contadores e caixas, adiantada divisão do trabalho).

Pagamentos, recebimentos de dinheiro, operações de compensação, escrituração de contas-correntes, guarda do dinheiro, etc., todas essas operações técnicas, separadas dos atos que as tornam necessárias, transformam em capital financeiro o capital nelas adiantado293.

291 Ibid, p. 412.

292 Ibid, p. 367. Para Marx, o comércio de dinheiro, ou seja, "o comércio com a mercadoria dinheiro se desenvolve com o tráfico internacional. Desde que existam diferentes moedas nacionais, tem os comerciantes, que compram em países estrangeiros, de converter sua moeda nacional em moeda local e vice-versa, ou ainda de trocar diferentes moedas por prata ou ouro puros sem cunhar, como moeda universal. Daí operações de câmbio que devem ser consideradas uma das bases naturais do moderno comércio de dinheiro. Desenvolveram-se daí as casas de câmbio onde a prata (ou ouro) funciona como dinheiro universal – agora como dinheiro bancário ou comercial – por oposição à moeda corrente. As operações cambiais no sentido de mera ordem do cambista de um país a outro em favor do viajante já se tinham desenvolvido em Roma e na Grécia, a partir do negócio propriamente dito do cambista. O comércio de ouro e de prata como mercadorias (matérias-primas para a fabricação de artigos de luxo) constitui a base natural do comércio de lingotes desses metais, o qual facilita ao

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