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No início do Século XX, novas perspectivas de crise bancária poderiam surgir em 1903 devido ao descontrole do crédito. Attali destaca que este fato fez com que o banqueiro Paul Warburg publicasse um Plano para um Banco Central que se baseava no modelo de Ludwig Bamberger, criado para o Império alemão de 1870. Este plano propunha "a implantação de um Banco Central que serviria de garantia mútua entre os bancos e do qual seriam proprietários, em partes iguais, o governo e os grandes bancos privados". Pela proposta somente dez bancos federais regionais poderiam ficar autorizados a emitir moeda, lastreada pelo ouro, bem como exercer o controle dos créditos de outros bancos179.

Em 1907 o Congresso norte-americano considera necessária a criação de uma instituição nacional para enfrentar as flutuações da demanda monetária, de outra maneira que não a absorção de ouro do exterior, sendo que determinados estados acabavam votando leis para instaurar o controle do crédito.

178 ATTALI, 2003, p. 463-464. (Grifos do autor)

Entretanto, destaca Attali, somente em novembro de 1912 o novo presidente Wilson “logo após ser eleito contra Taft e Theodore Roosevelt, pede a Paul Warburg que redija um projeto de lei a partir de seu livro”. O Projeto do banco central foi então apresentado no Senado por Robert Owen e na Câmara dos Representantes por Carter Glass, eleito pela Virgínia, sendo aprovado e tornando-se então a Glass-Owen Act, que cria o Federal Reserve

Bank (FED) e doze bancos regionais de reserva, dois a mais dos previstos e projetados por Paul Warburg em 1903180.

Assim, em 1913 foi instituído oficialmente o Federal Reserve Act que criava um organismo bancário central e um sistema de 12 distritos no território norte-americano, para cada um dos bancos da Reserva Federal criados pela Glass-Owen Act, e cujo capital era subscrito pelos bancos privados, que eram obrigados a aderir a este sistema, que entrou em funcionamento no dia 2 de novembro de 1914181.

Esta condição da subscrição, segundo Kregel, transformava os banqueiros privados em proprietários e diretores do sistema de bancos federais e as decisões sobre a política monetária cabia sempre, em última instância, a eles, fazendo com que o Conselho da Reserva Federal, nomeado pelo presidente da República e com sede em Washington, exercesse uma tutela problemática sobre esta política. Além de converter o dólar em uma moeda nacional garantida pelo governo dos EUA, as reservas consistiam essencialmente em divisas que, por sua vez, podiam ser convertidas em ouro. Os bancos federais foram autorizados a emitir um novo tipo de moeda, as notas da Reserva Federal, dinheiro legal para todas as dívidas e obrigações tanto dos bancos quanto do governo dos EUA. Para Kregel:

Essas novas notas deviam substituir as dos bancos privados, e a dívida que tinha servido de respaldo para estes deveria ser recolhida e paga com notas da Reserva Federal. A emissão estava lastreada em ouro em pelo menos 40%, e o restante por valores comerciais e outros ativos idôneos adquiridos, mediante desconto, dos bancos privados. Desse modo, supria-se a necessidade de criar um meio flexível de pagamento, que pudesse aumentar ou diminuir a oferta de moeda em função das exigências dos intercâmbios e da situação do sistema bancário. Um banco associado com escassez de divisas podia adquiri-las descontando ativos em troca de cédulas da Reserva Federal182.

179 Ibid, p. 461.

180 Ibid, p. 465. 181 Ibid, p. 481.

Dessa forma, criam-se as condições institucionais necessárias para garantir a regularidade da supremacia internacional do dólar, ou seja: a unificação da moeda nacional, emitida por uma só autoridade com poder para atuar como garantidor de última instância e a acumulação de uma parte considerável da reserva mundial de ouro, obrigando o sistema monetário internacional a adotar um padrão-ouro de câmbio; e o dólar passa a ser a única moeda verdadeiramente conversível em ouro183.

Depois da história de sua longa duração, a preponderância do dólar como moeda conversível em ouro vai se impondo cada vez mais na primeira metade do Século XX, pois, segundo Attali, os Estados Unidos já detém cerca da metade do ouro do planeta, fazendo a libra esterlina “caducar em relação ao dólar” e tornando os EUA a maior "potência do mundo".

Os EUA posicionam-se no cenário internacional, detendo a única moeda ainda conversível em ouro, transformando-se no seu equivalente geral, cujo padrão de moeda mundial, levou à expansão e domínio das instituições e das regras de controle a ela vinculadas, e que vêm, de forma historicamente determinada, arquitetando as formas de legitimação do poder político e financeiro dos norte-americanos sobre o mundo. Assim, os países que aderissem a esse sistema de procedimentos deveriam manter suas reservas em ouro em quantidade suficiente para garantir a conversão de suas moedas184.

O dólar torna-se, assim, uma hierarquia social ativa como moeda de domínio na realização dos jogos monetários e financeiros, de meios de pagamento internacionais, reserva de valor, e capital dinheiro; e para ser eficiente e eficaz necessita de uma rede de instituições associadas a ele com capacidades técnico-políticas, compatíveis e necessárias para a garantia do domínio e da sua regularidade, estruturando um conjunto padrão de instituições para os jogadores, como proprietários privados que controlam o capital. Constituiu-se, assim, uma "matriz da americanização" no conjunto dos jogos da produção global, valorizando sua "arte de extrair juro" e lucro da “mais valia” social.

No âmbito desses jogos financeiros desenvolvem-se eficazmente os controles na circulação monetária e financeira, intervindo nas regularidades sociais dos ciclos de acumulação e crises. Estas regras de expansão se constituem, portanto, como um conjunto de orientações estratégicas, movimentos que podem ser melhor observados a partir das

183 Ibid.

concepções de Giovanni Arrighi, com a ampliação das "estratégias capitalistas" aliadas ao arrefecimento das "estratégias territorialistas", com o dólar americano hegemonizando como "dinheiro mundial" e os EUA na posição de dominância das relações interestatais185. Estas orientações impulsionaram a trajetória do domínio do sistema financeiro dos EUA, ramificadas nos processos produtivos e de serviços, controlados por um número cada vez mais reduzido de empresas e pessoas extremamente poderosas operando como “capital financeiro” internacional nas praças do mundo inteiro. A necessidade de uma "nova ordem" política e econômica internacional estava relacionada às dos grandes bancos e indústrias para a consagração do "Século norte-americano".

II. 3 - O Século norte-americano: expansão planejada dos grandes bancos e

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