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FRIA TRANSMONTANA

VARIEDADES COMERCIALIZADAS Empresas

4. A Expedição O Elo Grossista-Destino

4.1. O Escoamento da Castanha

No nosso país, em Setembro já se comercializa a castanha temporã e até ao Natal não há problemas de escoamento das outras variedades. Porém, é habitual o período de comercialização ter início em meados de Outubro e finalizar em Janeiro, porque existe tradição no consumo entre os Santos e o S. Martinho e no Natal; passados esses dias o consumo diminui. No Norte, os magustos e as feiras da castanha assada favorecem em simultâneo a promoção do produto e da região, nas grandes cidades, consomem-se assadas nas ruas. No estrangeiro, o consumo aumenta no Natal tanto na Europa como no Brasil. Uma das empresas grossistas em estudo iniciou, excepcionalmente, em Maio de 2002, a comercialização da castanha. Importou o fruto do Chile, porém, não teve grande procura, quiçá, por força da tradição e dos hábitos alimentares, uma vez que em Portugal os hábitos de consumo incidem no tempo frio.

A facilidade no escoamento da castanha está fortemente associada às variedades endógenas de cada região, às colheitas anuais, às épocas de maturação e conservação, às quantidades que os compradores pretendem de cada variedade, ao timing para comercialização, ao calibre e às características de cada uma, tendo em conta que existem vários mercados. Verifica-se grande velocidade no escoamento da castanha, quer nos refiramos ao mercado do fruto em natureza quer ao mercado do fruto congelado. No entanto, a castanha congelada pode armazenar-se em grandes quantidades, já o mercado da castanha em verde é um pouco mais complicado porque o timing para a colocar no destino após tratamento é muito curto.

A forma ou o feitio da castanha vai também condicionar a venda do produto, consoante as finalidades de transformação. Os industriais europeus solicitam ao grossista as variedades adequadas, tendo em atenção as que melhor se adaptam à confecção do produto final. Assim, as castanhas que oferecem melhor aptidão por exemplo para o fabrico do marron glacé, segundo Pereira et al. (1992), são a Lamela a Lada e a Longal. Ainda de acordo com

180 os mesmos autores, a Longal de Carrazedo de Montenegro e de Vinhais são as mais adequadas à indústria de conserva, doçaria, creme, farinha e confeitaria. Segundo os nossos entrevistados, se o cliente pretender uma castanha redonda para a indústria solicita em primeiro lugar a Martaínha, em segundo a Judia, depois a Longal (precisamente porque é mais alongada) e por fim a Negral.

As épocas de maturação e conservação têm também grande influência no escoamento da castanha. O período entre a primeira e a última maturação dos frutos é muito curto (inferior a dois meses) por isso, juntam-se muito frequentemente no mesmo período de maturação a Judia, a Negral e a Longal. Quando isto não acontece, é habitual que a Judia e a Longal amadurem com um compasso de tempo muito próximo. As variedades precoces têm muita procura no cedo, mas vão perdendo as características organolépticas muito rapidamente, baixando com o passar do tempo o interesse dos compradores na sua aquisição. Neste caso, solicitam outra cultivar acabada de madurar porque oferece melhor qualidade e garantia de conservação.

O escoamento da castanha é efectuado directamente pelo AE ou por agentes de controlo no destino/homens de confiança. A fatia dos grossistas entrevistados que não trabalha com intermediários no destino é muito pequena – o equivalente a dois AE. Onze, possuem ACD nos mercados geograficamente mais afastados para efectuar as transacções, e destes onze, quatro vendem apenas a ACD (Quadro VI.19).

Quadro VI.19: Agentes de Distribuição de Castanha no Mercado Externo em 2001.

AE ACD AE

2 -

11 7  

4  -

Fonte: Dados recolhidos directamente.

A situação geográfica em alguns casos e o desconhecimento da língua noutros coloca algumas limitações aos AE. Estes constrangimentos implicam que se vejam forçados a “contratualizar” com entrepostas pessoas no destino. Estes intervenientes, que integram a cadeia de comercialização, oneram o preço final do produto ao consumidor. A partir deste estádio de comercialização os intermediários no destino desenvolvem o negócio nos moldes que melhor lhes aprouver. Daqui resulta que os AE perdem parcialmente os

181 comandos da comercialização do produto no destino, melhor dizendo, além de perderem uma parte do rendimento que fica na posse do ACD, dificilmente saberão se foram efectuados os trâmites legais de comercialização com as “suas” castanhas.

Para não ter de se confrontar com esta situação, um dos nossos entrevistados, já de si portador de maior background, informou-nos que quando iniciou a sua actividade como grossista, foi aperfeiçoar os seus conhecimentos em línguas nos países com que estabelece mais relações comerciais, para não se sentir na dependência de terceiros. Além disso, ampliou os seus conhecimentos de informática para diminuir as barreiras geográficas, podendo contactar electronicamente com os clientes e ter acesso em primeira mão aos preços da castanha. Enfim! Para permanecer informado sobre o ambiente que rodeia o produto nos países de destino. A este respeito, comenta o nosso entrevistado: é exportador quem quer, não é quem tem capacidade. Tenho 32 anos de castanha e vejo colegas meus que exportam produtos agrícolas mas nem sabem ir à Internet ver o preço da castanha em Paris. Além disso, são enganados pelos intermediários no destino porque não sabem falar os seus idiomas. Para ter sucesso nesta actividade é preciso ir ao estrangeiro, fazer negócios sem intermediários, praticar o Inglês e o Francês e ir à Internet ver os preços da castanha.

4.2. O Transporte

Todos os grossistas possuem carros próprios destinados ao transporte de mercadorias. A capacidade dos veículos dos AE oscila entre as cinco e as quarenta toneladas. Os de maior dimensão são mais frequentemente utilizados na exportação de produtos agrícolas ou para fazer o ajuntamento de castanha nas aldeias. Neste último percurso, entre a zona de produção e os armazéns, são também utilizadas as pequenas carrinhas dos produtores e/ou ajuntadores. Durante o resto do ano, 12 grossistas utilizam (ou fretam) os seus veículos para transportar outros produtos que comercializam, rentabilizando desta forma os seus equipamentos de transporte.

As principais dificuldades na exportação de castanha dos países europeus para os países terceiros, prendem-se com a qualidade do acondicionamento e com o custo de transporte. A expedição por via marítima é a mais económica, mas a viagem de cerca de duas a três semanas altera a qualidade e provoca uma perda de peso no fruto, mesmo utilizando

182 modernos refrigeradores. A via aérea suprime os problemas atrás citados mas aumenta o custo suportado. Só é possível recorrer a este meio de transporte quando as produções são precoces e/ou de boa qualidade, oferecendo ao exportador quotizações de mercado muito elevadas.

Portugal partilha destas dificuldades na expedição de castanhas principalmente para os Estados Unidos, Canadá e Brasil, sobretudo no que respeita à qualidade sanitária e à desidratação do fruto. Devido às exigências do mercado fresco externo, a castanha deve resistir a insectos e cogumelos e cumprir as regras de limpeza e conservação, o que implica a calibragem, selecção de variedades, desinfecção e embalamento em sacos de malha. Para aqueles países, todos os exportadores nacionais fazem a desinfecção ao fruto imediatamente antes da data de expedição pois este tratamento só é válido por dez dias. Quanto à desidratação, é introduzida uma compensação por saco para contrabalançar a perda de peso natural do fruto.

A castanha destinada à Europa é transportada nos veículos dos grossistas, dos clientes ou em veículos de aluguer. O barco é o meio de transporte mais utilizado para o Brasil. Para os EUA e Canadá são utilizados o barco ou o avião. Estes encargos são suportados pelo cliente (70%), pelo AE (15%) ou por ambos (15%). Com esta disposição o preço da castanha varia. Normalmente, se o cliente vem buscar a castanha ao armazém, paga ele o transporte, se é expedida pelo grossista, o encargo do transporte vai incluído no preço da castanha. De um modo ou de outro, é sempre o cliente a suportar este custo.

4.3. Mercados de Destino da Castanha Portuguesa

No mercado nacional, os grossistas vendem grande volume de castanha a outros intermediários grossistas (incluindo as agro-indústrias), aos retalhistas (centrais de compras de hipermercados, supermercados e mercados abastecedores62) e em menor proporção aos “magusteiros”. A quantidade directamente vendida ao pequeno comércio, à restauração e ao consumidor é residual. Externamente o grosso da produção nacional é exportado para a UE e Brasil.

Os quadros VI.20 e VI.21 apresentam dados complementares sobre o destino e utilização

183 da castanha nacional.

Quadro VI.20: Destino da Castanha Congelada nas Agro-indústrias Nacionais (2001).

AE Total %

Mercado Nacional

Mercado Externo

Europa Resto do Mundo

Agente % Países % Países %

A 60(*) Retalhista 11,4