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FRIA TRANSMONTANA

1. Identificação e Comportamento dos Actores

1.1. O Perfil do Produtor

1.1.1. Estratégias dos Produtores na Venda de Castanha

Vamos dividir os produtores em duas categorias por se comportarem de forma diferente no sistema de comercialização de castanha na TFT: os grandes produtores e os Pequenos e Médios Produtores.

O grupo dos GP é reduzido mas não pretende depender de intermediários, optando por vender ele próprio o produto e transportá-lo na sua viatura até ao destino. Do total dos 15 GP, 2 apanham a castanha, ensacam-na em sacos de 30 Kg e vão por várias vezes ao Porto vendê-la ao mercado abastecedor em viatura própria, 4 vendem a castanha na própria

139 exploração aos grossistas, 8 transportam-na à unidade de transformação local, aos armazenistas ou aos mercados abastecedores e 1, como é simultaneamente produtor e AE, comercializa a sua própria produção. Este último deteve na década de 70 a 90 o monopólio da castanha na região, possuindo a maior casa agrícola de cereais do Norte, cujas empresas empregavam mais de 200 trabalhadores. Este operador é também produtor e comerciante de uma vasta gama de produtos agrícolas. Possui lagares de azeite, fábrica de moagem e fábrica de preparação de castanha para limpeza e expurgo, apetrechada para exportar 30 a 50 toneladas por dia, actualmente inactiva. Começou a exportar castanha para o Brasil por intermédio de um familiar, mas em 1999 deixou a exportação devido à avultada quantia de divisas que ficou em terras Latinas.

Os PMP vendem toda a sua produção41 aos ajuntadores, armazenistas, agro-indústrias e “magusteiros”. Após a apanha, os produtores optam por várias modalidades, não estanques, de venda:

- vendem a quem oferecer maior cotação;

- vendem a um cliente certo, mas se ele tarda, vendem a outro qualquer que passe na região;

- vendem a granel juntando todas as variedades de qualquer qualidade;

- ensacam e armazenam a castanha para vender mais tarde ou vendem-na imediatamente;

- escolhem apenas a castanha boa e vendem só essa para fidelizar clientes, e consequentemente, fazer bons negócios nos anos seguintes. As de inferior qualidade guardam-na para os animais;

- vendem castanha a granel fazendo apenas a selecção da Judia durante a apanha; - vendem o primeiro lote de castanha temporã no cedo porque é mais rentável e o

segundo na época normal;

- se o preço no início da campanha não agrada aos produtores, vendem a produção em várias fases, deixando alguma em armazém para o caso da cotação subir. Esperam pelos “magusteiros” (pequenos comerciantes que possuem carrinhas com capacidade para 200-300 Kg) que vêm do Porto, Póvoa, Lisboa e outros pontos do país que se

140 deslocam à TFT para comprar o produto a granel e o vender no Porto, Lisboa, mercados abastecedores, assadores de rua, Malveira, etc. Estes operadores pagam bem, pelo que os produtores aumentam a cotação do fruto à sua chegada. Por sua vez o “magusteiro” queixa-se desta situação alegando: se pago numa aldeia um preço mais elevado a um lavrador por a sua castanha ser melhor, todos os outros querem o mesmo preço, quer se trate de castanha fraca quer se trate de castanha boa! O produtor tem maior poder negocial quando os “magusteiros” vêm comprar a castanha à origem, quando os grossistas fazem a concentração do fruto em grandes quantidades para exportar para o Brasil, quando os frutos possuem grande calibre e quando a oferta é escassa.

Os “magusteiros” vêm de vários pontos do país, ao local de produção logo no cedo para levar a temporã. Devido ao seu afastamento da origem, não têm facilidade de voltar em várias fases da campanha de comercialização para regatear preços, incidindo a sua procura no início e no final da campanha. É nestas alturas que o produtor tem maior poder de negociação, porque sabe à partida, que se o comprador não levar a carga repleta os encargos com o transporte se tornarão mais elevados, e portanto, não irá dali com a carrinha vazia.

Para vender a castanha tardia aos “magusteiros”, os produtores que utilizam esta estratégia, ensacam a castanha e guardam-na até final de Novembro, preferindo perder um pouco no peso da castanha mas ganhar no preço por quilo. Esta atitude dos produtores está a diminuir pois os “magusteiros” pagam bem mas são muito incertos, falham frequentemente, podendo o produtor vender a castanha a melhor preço num ano e não nos subsequentes. É aqui que uma das unidades agro-industriais, e em menor escala os armazenistas locais, ocupam um papel preponderante no escoamento dos frutos da região. Assim, quando os “magusteiros” não aparecem para comprar o fruto, os produtores acabam por vender a castanha a preços irrisórios no final da campanha. É por estas razões que actualmente aqueles produtores tendem a alterar a sua estratégia, alegando um deles que não se pode deixar a venda para muito tarde pois se os “magusteiros” falham, a castanha fica ao preço que os grossistas querem.

O produtor também tem algum poder de negociação na época da exportação para o Brasil porque tem conhecimento que tanto a unidade de transformação como os grossistas locais têm de satisfazer contratos internacionais de grande volume. Portanto, quando a cotação

141 oferecida pela castanha não é aceitável, produtores de várias aldeias entram em consenso para não vender abaixo de determinado preço, pois sabem que os grossistas, sendo da região, voltarão posteriormente com preços mais satisfatórios.

O produtor sabe bem como agir perante o leque de situações criadas, se por exemplo, a sua castanha possui grande calibre, pode-se dar ao luxo de misturar as fracas e vende sempre. Referem os grossistas e o “magusteiro” que é a castanha de melhor preço que traz sempre muita mistura.

De qualquer modo, o risco e a especulação estão sempre presentes no sistema de comercialização de castanha, sofrendo o seu preço oscilações diárias. Os PMP de Vinhais queixam-se que o problema na venda são os intermediários, porque se levássemos a castanha para um local fixo, mesmo que não pagassem logo, era óptimo... agora, vem um e leva a 100$, vem outro mais tarde e leva a 150$ e nós perdemos dinheiro. Se esperássemos vendíamos melhor... ou não!?! corremos muito este risco. Devia haver cooperativas para levarmos a castanha e ficávamos nós com a pior para os animais, porque o nosso fumeiro é melhor por causa disso (...) (Matos et al., 2001:10). Os produtores referem que embora a unidade de transformação lhes fique com a produção, o que é hoje mais favorável que antigamente, seria melhor colocarem eles próprios em associação as castanhas no mercado, tratando da comercialização, para não depender dos intermediários.

As Cooperativas têm como objectivo principal a ajuda mútua entre os membros no âmbito da repartição dos lucros pelos sócios, na criação de melhores condições de produção aos associados e na permissão de um mais fácil escoamento dos produtos. A existência de uma Cooperativa ou uma entidade semelhante às Estações Hortofrutícolas seria uma óptima ajuda à produção. Estes centros de acondicionamento limpam, embalam e armazenam o produto antes de sair para o comércio. Como se pode depreender, uma prestação de serviços ao produtor, visando a preparação e acondicionamento do fruto antes da comercialização, só se tornaria possível através de consensos no seio dos PMP.