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A Denominação de Origem Protegida da Castanha da Terra Fria Transmontana Em princípio, para que o percurso de certificação ocorra de modo satisfatório, é obrigatória a

Mapa IV.1: Produção Agrícola em Trás-os-Montes.

3. Programas Comunitários e Medidas para o Castanheiro e a Castanha

3.1. As Condicionantes das Políticas Intra e Extragovernamentais

3.1.2.1. A Denominação de Origem Protegida da Castanha da Terra Fria Transmontana Em princípio, para que o percurso de certificação ocorra de modo satisfatório, é obrigatória a

intervenção de duas entidades, a entidade certificadora e a entidade gestora. No caso da TFT, o Organismo Privado de Controlo e Certificação é a Tradição e Qualidade - Associação Interprofissional para os Produtos Agro-alimentares de Trás-os-Montes (TQ) e a entidade gestora, a Associação de Produtores de Castanha do Nordeste Transmontano (APCNT). Em teoria, as entidades que prestam serviços de staff na área da qualidade são propiciadoras de geração e fixação de valor acrescentado com impactos (positivos ou negativos) para o produtor. A fixação de valor não depende apenas dos actores directos mas também destas entidades e da eficiência do seu trabalho, que vai influenciar o progresso (ou não) da actividade dos produtores, agrupamentos e outras entidades locais.

A entidade gestora, a APCNT, foi constituída em 1984 e possui nesta data 270 associados. Compete-lhe zelar pelo cumprimento das normas impostas pela legislação, organizando os registos das explorações e dos locais de transformação. Qualquer alteração que afecte a qualidade do produto ou outro aspecto de igual relevância, deve ser comunicada ao

107 agrupamento de produtores, à data da ocorrência. A APCNT tem livre acesso a todos os locais de produção e transformação, através dos seus agentes, ou outros sob a sua responsabilidade. Pode recusar qualquer inscrição de explorações que não cumpram as normas impostas pela CE para a Denominação de Origem Protegida da Castanha da Terra Fria (DOPCTF).

O Organismo Privado de Controlo e Certificação da castanha da Terra Fria foi constituído em 1994. É uma entidade privada sem fins lucrativos, cujo objectivo é o controlo e certificação de produtos agro-alimentares, de acordo com a Norma Europeia EN-45011. Este organismo é co-financiado pelo Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER) e pelo Programa Operacional do Norte (PRONORTE).

Como já ficou atrás mencionado, a tutela jurídica comunitária relativa ao cumprimento dos requisitos da legislação em vigor para o uso de Denominações de Origem Protegida, é o Reg. (CEE) nº2081/92. O emprego da marca de Certificação, instituída desde 1994, obriga a que o modo de produção ocorra segundo as normas convencionadas no caderno de especificações, o qual estabelece, as condições de produção, de colheita, o acondicionamento e a rotulagem do produto.

A apresentação comercial dos produtos que beneficiam de uma DOP ou IGP está sujeita a disposições legais em termos de rotulagem, ou seja, o nome do produto com inclusão da DOP ou IGP e a marca de certificação que deverá ter inscrito o nome do OPC, a DOP e o número de série que permite rastrear o produto.

No registo das explorações podem inscrever-se os produtores de castanha proveniente das variedades regionais situadas na áreas geográficas de produção de castanha, que queiram aderir à DOP e o solicitem voluntariamente (Quadro IV.3).

Segundo o mesmo regulamento, a protecção comunitária exige algumas condições basilares relativamente ao meio geográfico, que fixam a qualidade ou as características dos produtos, incluindo os factores naturais e humanos.

Poderão ocorrer consequências indesejáveis se persistirem demasiadas normas a cumprir, especialmente, no caso do produto transformado, isto é, se os normativos não se coadunam

108 Quadro IV.3: As Denominações de Origem Protegida de Castanha em TMAD.

DOP Área Geográfica de Produção Variedades Regionais Agrupamento de Produtores

Organismo Privado de Controlo e Certificação Castanha da Terra Fria Alfândega da Fé, Bragança, Chaves, Macedo de Cavaleiros, Mirandela, Valpaços, Vimioso e Vinhais

Longal, Judia, Cota, Amarelal, Lamela, Aveleira, Boaventura, Trigueira Martaínha e Negral APCNT – Agrupamento de Produtores de Castanha do Nordeste Transmontano TRADIÇÃO e QUALIDADE – Associação Interprofissional para os Produtos Agro- -Alimentares de Trás- -os-Montes Castanha da

Padrela Chaves, Murça, Valpaços e Vila Pouca de Aguiar

Judia, Lada, Negral, Cota, Longal, e Preta ARATM – Associação Regional de Agricultores das Terras de Montenegro. TRADIÇÃO e QUALIDADE – Associação Interprofissional para os Produtos Agro- -Alimentares de Trás- -os-Montes Castanha dos Soutos da Lapa Armamar, Tarouca, Tabuaço, S. João da Pesqueira, Moimenta da Beira, Sernancelhe, Penedono, Lamego, Aguiar da Beira e Trancoso Martaínha e Longal BANDARRA – Cooperativa Agrícola do Concelho de Trancoso C.R.L. ACILVD – Associação Comercial e Industrial de Lamego e Vale do Douro

Fonte: Reg. (CEE) nº2081/92; Diário da República II Série (Despacho Normativo nº293/93, Despacho nº37/94 de

04/02, Despacho Normativo nº42/94 de 03/02, Despacho Normativo nº44/94 de 03/02); Caderno de Especificações da Castanha DOP dos “Soutos da Lapa”. (1993).

com o processo de laboração23, obrigando a uma alteração em vários pontos do diagrama de fabrico, o produto final, sujeito a estes condicionalismos, deixa de ser o genuíno produto tradicional, e deste modo, o “saber fazer” das regiões extingue-se. Este constrangimento está a acontecer, entre outros produtos, com os tradicionais enchidos alentejanos, nomeadamente, as chouriças de sangue. Sendo os produtos de tecnologia caseira sujeitos às normas impostas pela UE, nomeadamente, pela não utilização de sangue na sua composição, o produto acaba por desaparecer. Segundo os normativos da CE, é igualmente vedado o abatimento de animais na exploração agrícola, pelo que todos criadores que o pretendam fazer deverão deslocar-se ao matadouro mais próximo (Beja). Decorrente desta imposição legal e devido ao grande afastamento geográfico dos matadouros tem sido mais cómodo para os criadores de gado alentejano venderem o “porco de pata negra”, raça autóctone da região, aos espanhóis. Estes, após a aplicação de uma série de operações de transformação, tendo em vista o presunto, os enchidos e outros derivados, expedem os produtos denominados “porco de pata negra” para os circuitos de comercialização europeus, entre eles, o português. Agora pergunta-se, não está

109 Espanha sujeita aos mesmos normativos que Portugal? Sendo a resposta afirmativa, não terá o nosso país capacidade para adaptar estes normativos às suas realidades, como faz o país vizinho?

Exemplo diferente mas igualmente interessante relaciona-se com a actividade vinícola na região duriense, adiantados na história, os portugueses terão atribuído, há 250 anos, a primeira Denominação de Origem ou, mais precisamente talvez, a primeira Indicação Geográfica do mundo a um produto agrário: o generoso néctar das escarpas do Douro, armazenado em Gaia e saído pela barra da cidade que lhe havia de dar nome: Vinho do Porto. Exemplo pioneiro universal de que os produtos regionais ou locais “têm efectivamente uma pátria (...)” (Alarcão e Silva, 1998:s/p). Não obstante esta realidade, os principais benefícios gerados pelo Vinho do Porto desde sempre foram investidos fora do Douro, não tendo este feito produzido qualquer acção no “desencravar” da região. A primeira e a mais antiga denominação de origem foi também a primeira excepção porque o vinho generoso não é produzido no Porto. Assim, a própria designação de produção de origem desrespeitou o berço que lhe deu o ser não tendo a região suficiente força para lhe conferir a legitima filiação.

O mesmo se passa com o TER, embora a paisagem tenha sido elevada a Património Mundial24, é uma das regiões mais pobres do país. As pessoas que aí vivem constituem, em grande parte, a mão-de-obra que mantém a riqueza vinhateira da paisagem para fruição dos forasteiros, em especial os turistas de elevado poder de compra. Pode mesmo dizer-se que as populações residentes abandonam a terra ou lá ficam de castigo, sem qualidade de vida, votadas ao esquecimento e ao abandono, por um país que tem uma dívida cívica e estrutural de séculos para com a região duriense.

No caso específico da CTF, o problema da comercialização do fruto põe-se sobretudo ao nível de uma melhor coordenação da fase produtiva à fase comercial, ao processo de embalamento do produto e aos custos suportados com todos os trâmites legais, que estão a ditar o insucesso da comercialização do fruto com o signo DOP. Contudo, o factor mais importante é a falta de uma estratégia organizativa dos produtores da região, pois a DOPCTF abrange uma área geográfica de produção muito extensa25, tornando-se necessário concentrar o mais possível a

23 A imposição de azulejos nas pequenas fabriquetas de enchidos artesanais ou o processo de fabrico dos queijos de quinta.

24 Em Dezembro de 2001 pela UNESCO. 25 Anexo IV.

110 oferta disponível na região. Nos outros dois casos DOP aqui focados, além da área geográfica, também a produção é diminuta e por isso mais fácil se torna a sincronização das acções dos actores intervenientes no processo de comercialização e os consensos.

Temos então que compreender o motivo do desinteresse por parte dos agricultores da TFT pois acaba por ter algum fundamento. Referem os produtores que a castanha se vende muito bem e a bom preço sem necessitar de qualquer especificação. Especialmente, a Longal, a Judia e a temporã nunca deixaram de se vender e nenhum cliente, alguma vez, os questionou se estas variedades possuem DOP. Significa isto que estas cultivares, especialmente a Longal, sendo consideradas de excelente valor comercial, não necessitam de uma DOP.

O dinamismo desta cultura na TFT vem colocando algumas questões ao nível técnico, nomeadamente, sobre as técnicas de plantação, tratamentos, doenças, comercialização, mão-de-obra e transformação, obrigando ao surgimento de estruturas dotadas de meios técnicos capazes de dar resposta a estas solicitações.

Neste contexto, seria uma mais-valia para a região, a criação de um (...) organismo pluridisciplinar (onde tenham assento associações de produtores, técnicos, instituições de ensino superior, autarquias e o Ministério da Agricultura), que acompanhe a todos os níveis a produção do castanheiro e da castanha; à reposição de novas plantações; à criação de um centro de documentação; ao reforço da informação aos produtores ou ao desenvolvimento de canais próprios de comercialização (Avante, 2000). Só deste modo se poderá planear correctamente uma produção que possui já uma certa dimensão no mercado português.

O Presidente da APCNT é veemente em dizer que o castanheiro é uma espécie que desde que entrámos para a UE, tem sido marginalizada. Há medidas para a fruticultura, para a olivicultura, e o castanheiro não tem, embora seja uma espécie sensível. Embora as áreas de castanheiro continuem a aumentar todos os anos, nos últimos cinco anos, 15 a 20% da área de soutos foi afectada pelas doenças da tinta e cancro. Mas sem o devido ordenamento, dada a inexistência de um cadastro do castanheiro26, é impossível saber quantas árvores foram já infectadas. Identificar as árvores doentes e tratá-las ou abatê-las de imediato é outro problema que preocupa os agentes do sector, pois o processo efectuado pelas entidades competentes é muito lento, ao ponto de os agricultores esperarem mais de dois

111 anos para que se efectue o corte das árvores danificadas, que, desde então, vão contribuindo para alastrar a enfermidade às áreas vizinhas.

3.1.3. Problemas da Fitossanidade do Castanheiro e Implementação de Medidas de