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As Organizações Colectivas de Produtores na Terra Fria Transmontana

FRIA TRANSMONTANA

1. Identificação e Comportamento dos Actores

1.1. O Perfil do Produtor

1.1.8. As Organizações Colectivas de Produtores na Terra Fria Transmontana

Após um período de inactividade ressurge no concelho de Bragança em 1998, com uma ampliada área geográfica de intervenção,43 a APCNT, associação sem fins lucrativos, com cerca de 90 membros e liderança renovada. Esta Associação trabalha em parceria com a Monteval (Associação para o Desenvolvimento Agrícola e Rural da Terra Fria) no desenvolvimento rural da TFT com algumas sinergias daí resultantes. A Monteval possui 212 associados, alguns dos quais também pertencentes à APCNT. É sustentada pelas quotas dos sócios, serviços prestados (projectos, contabilidade, ...), subsídios e ajudas (aos técnicos de gestão da secção de contabilidade e formação profissional para apoiar os membros na actividade agrícola em geral).

Com este novo quadro associativo, o objectivo da APCNT inseriu-se na defesa da produção de castanha da região, na preparação dos agricultores para um mercado cada vez mais organizado, na investigação de novas técnicas culturais, na prevenção das doenças através de um selo de qualidade para os porta-enxertos, na intervenção técnica junto dos soutos, no sentido de promover os aumentos de produtividade e defesa sanitária e na

148 comercialização de castanha com o estatuto DOP. Os recursos através dos quais a APCNT se manteve desde 1998 resultaram de um Projecto de Reforço da Capacidade Técnica e de Gestão das Organizações Agrícolas (PROAGRI) e das quotas dos associados.

Um dos principais handicapes dos meios rurais é a vulnerabilidade das associações colectivas de agricultores devido à ausência de líderes à altura. O rumo da APCNT mudou radicalmente desde 1998 com a presença de uma liderança rodeada de colaboradores com objectivos claros, que inferiram uma nova performance na associação, quer através de acções de desenvolvimento rural quer na manutenção da própria associação, como tivemos oportunidade de verificar no ponto anterior relativamente às medidas agro-ambientais. Porém, passados dois anos, a situação alterou-se sobremaneira.

Com o trabalho conjunto das duas instituições (APCNT e Monteval com sede em instalações comuns) teve o Presidente como estratégia concentrar recursos humanos e materiais, dando, deste modo, maior facilidade aos sócios para resolverem os problemas nas duas instituições em simultâneo. Em termos de gestão interna, seria também mais rentável a parceria entre as duas associações, uma vez que custos totais diminuiriam. O Presidente efectivo das duas associações concentra funções na mesma pessoa, pelo que tanto em termos de liderança como em termos de comunicação interna entre os colaboradores dos vários níveis hierárquicos e mesmo em relação aos próprios associados, resultou em alguma confusão. Com esta estratégia deixou de haver uma clara distinção das tarefas e papéis de cada colaborador, o que gerou algum mal-estar que acabou por “sufocar” a APCNT. Dado que a reactivação da APCNT foi conduzida pela Monteval, levou a que houvesse partilha de espaço físico, recursos e associados, facto que em si mesmo não tem nada de grave mas que, indiscutivelmente leva a alguma “confusão” entre os associados acerca das actividades desenvolvidas por ambas. Por exemplo alguns associados atribuíam importância à disponibilização de Formação Profissional quando, de facto esta era da responsabilidade da Monteval e não da APCNT (Gomes, 2001:34). Assim, a APCNT está hoje de novo estagnada44ou até “engolida” pela Monteval, os sócios não participam, as suas castanhas são vendidas em particular (cada um por si) e relativamente à DOP da castanha nada mais se acrescentou. Transcrevendo as palavras de

43 Oito concelhos: Alfândega da Fé, Bragança, Chaves, Macedo de Cavaleiros, Mirandela, Valpaços, Vimioso e Vinhais (Anexo IV).

149 Gomes (2001:33), existe pouco espírito de associativismo entre os associados. Por vezes, e neste caso em concreto, o associativismo não funciona em pleno, devido a interesses pessoais que prevalecem e se tornam muitas vezes mais importantes que os objectivos comuns da associação.

A castanha é um produto agrícola com escoamento garantido, o problema coloca-se na diferente distribuição das valias que ela proporciona aos vários operadores no sistema de comercialização. Conforme Pereira e Carqueja (2001:14), devido à facilidade de escoamento, e ainda ao facto da margem bruta da castanha, comparativamente à de outros produtos, ser elevada, o produtor não “sente” que está a receber pouco pelo seu produto em relação ao que poderia receber se estendesse a sua acção ao processo de transformação e/ou comercialização (o diferencial de preços entre produtores e consumidor final é muito elevado). Assim, pelo facto de existir na região uma “rede de intermediários” que controlam os preços da castanha, obrigou os produtores a fazer uma reflexão sobre o destino da castanha (Gomes, 2001:20).

Foi pois com a iniciativa do Presidente da APCNT e de alguns membros associados que foi constituído um Agrupamento de Produtores de Castanha45 com vista à comercialização de castanha DOP. Com esta unidade situada na Zona Industrial de Bragança, com capacidade para 500 a 1 000 toneladas numa fase inicial e cerca de três dezenas de membros46 em 2000, além de se proceder à luta contra as pragas e à conservação do fruto por meios adequados, pretendeu-se efectuar a concentração da oferta, dando resposta às aspirações dos produtores associados, que desejam ver reconhecida a importância económica do fruto. Deste modo, os sócios, além de deterem a comercialização do fruto fazendo-o chegar directamente ao mercado retalhista, pretendiam valorizá-lo visando um sistema de acondicionamento de primeira transformação (unidade de desinfecção, calibragem e ensacagem) com laboração prevista para a campanha de 2001.

É de salientar que o agrupamento não pretendia comercializar grandes quantidades de castanha no início, mas salvaguardar, como primeiro objectivo, o escoamento da produção dos associados, colocando no mercado a castanha DOP da TFT. Seria assim lançada a semente para outras iniciativas do género na região. Contudo, também este agrupamento está inactivo.Pesem embora os esforços dos associados, o organismo associativo não conseguiu

45 O projecto do Agrupamento de Produtores de castanha foi submetido em 1996 à DRATM e por ela posteriormente aprovado. O Agrupamento foi constituído para comercializar castanha DOP da TFT por não ser permitida às associações de produtores (sem fins lucrativos) aquela actividade.

46 Com os seguintes requisitos: possuir obrigatoriamente 0,5 ha de souto e ser associado da APCNT. Cinco dos produtores inquiridos são membros da APCNT e oito da Monteval.

150 controlar uma parte da produção, ainda que modesta. Precisa portanto de repensar uma melhor coordenação da fase produtiva à fase comercial. Seria, no entanto, de todo o interesse o funcionamento na região deste agrupamento já que, a unidade tem um carácter industrial e destina-se a toda a região Nordeste, sendo a única de cariz associativo, que terá capacidade para desenvolver a actividade descrita (Gomes, 2001:20).

Com o intuito de reestruturar a fileira e valorizar a produção torna-se necessário concretizar estas iniciativas na região, de modo a que sejam os produtores a colocar o produto no mercado, concentrando a oferta e promovendo o produto, dando-lhe uma imagem de qualidade e originalidade. Assim, sendo a região carente em iniciativas associativas e falta de participação dos associados, pretende, mais uma vez o Presidente, extinguir a APCNT, e com os membros actuais, constituir uma Cooperativa ou Agrupamento para a comercialização, de modo a incutir aos associados uma participação mais activa e garantir o escoamento da castanha dos produtores directamente. Crê o Presidente da APCNT, que se os associados virem os seus montantes monetários investidos, sentirão mais responsabilidades e, com certeza, terão mais interesse no sucesso da sua Organização.

No âmbito da cultura do castanheiro como espécie silvícola, a região conta com outra associação – a ARBÓREA – Associação Florestal da Terra Fria Transmontana, constituída em 1997, com sede em Vinhais, por proprietários de terras arborizadas nos concelhos de Bragança, Vinhais e Vimioso. Sem influência directa sobre a comercialização da castanha, o seu objectivo é o de combater as dificuldades no sector da arborização/florestação. Entre outros aspectos de interesse para o ecossistema florestal, a associação faculta aos associados cursos de formação na área do castanheiro, especialmente na prevenção dos problemas fitossanitários, nomeadamente, no maneio dos soutos e podas e colabora com outras instituições em projectos que defendem a floresta e preconizam a comercialização do castanheiro.