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Mapa IV.1: Produção Agrícola em Trás-os-Montes.

1. Recolha da Informação

1.2. Identificação dos Indivíduos a Inquirir

Ouvir as revelações sobre a experiência das pessoas que constituem a unidade de análise da nossa pesquisa foi um suporte valioso, na medida em que nos proporcionou um conhecimento mais aprofundado da realidade em estudo. Daqui resultou a produção de informação muito útil e pertinente não prevista inicialmente, o que nos alertou para variáveis e fenómenos que de outro modo poderiam escapar à nossa interpretação.

Para obter a informação necessária à pesquisa, foi eleito um universo de estudo onde foram seleccionados os indivíduos a inquirir. Foram realizadas 52 entrevistas a diversos agentes intervenientes no sistema de comercialização com experiência no sector: produtores, APCNT, ajuntadores, armazenistas-exportadores (elementos grossistas onde se incluem

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duas agro-indústrias no caso particular do nosso trabalho), “magusteiros” e um informante- -chave (Quadro V.1). Reuniram-se também contactos de pessoas e entidades (DRATM e Zonas Agrárias, Associações de Produtores, OPC, Organismos de Administração Local e outras entidades prestadoras de serviços da região) directa ou indirectamente envolvidas na fileira da castanha.

Quadro V.1: Quadro-Resumo das Entrevistas Efectuadas em 2001-2002.

Agentes Integrantes na Cadeia de Valor Entrevistas Número de

Produtores

Agentes que produzem castanha 15 GP e 20 PMP

24 em Bragança e 11 em Vinhais

35

APCNT Associação de Produtores de Castanha do Nordeste

Transmontano 2

Ajuntadores Agentes que efectuam o ajuntamento da castanha no local de produção 1

Armazenistas-

-Exportadores Agentes grossistas, entre os quais, duas unidades de transformação 13

“Magusteiros” Agentes retalhistas do mercado nacional 1

Total 52

O produtor é o primeiro interveniente do sistema de comercialização; a ele cabe a decisão de produzir um produto com a finalidade de o vender. Foram entrevistados trinta e cinco produtores da TFT, vinte e quatro do concelho de Bragança e onze do concelho Vinhais. Dos trinta e cinco produtores, 15 são considerados Grandes Produtores (GP) e 20, Pequenos e Médios Produtores (PMP). No âmbito da APCNT foram realizadas duas entrevistas formais baseadas num guião elaborado para o efeito. Uma dirigida ao presidente e outra à técnica responsável pela área de gestão agrícola.

À saída da exploração agrícola, entram no sistema de comercialização os agentes intermediários, nomeadamente os ajuntadores, os grossistas (AE) e os “magusteiros”. Os ajuntadores são elementos que unem o elo Produtor-AE. Foi entrevistado apenas um ajuntador por entrevista aberta baseada num guião37. Dada a dificuldade/subtileza em conseguir esta entrevista, devido a eventuais receios de que a informação prestada viesse a causar danos/embaraços ao inquirido, houve necessidade de recorrer a um tipo de entrevista um pouco mais flexível e informal. Quando o inquirido se sente hesitante, a entrevista revela-se contraproducente e em consequência disso, poderá eventualmente ocorrer maior probabilidade de enviesamento e perda de rigor da informação. Nestas

132 circunstâncias, com a finalidade de descontrair o inquirido, não foram retiradas notas escritas nesta entrevista.

Porém, como uma parte dos agentes armazenistas-exportadores pertencentes à nossa amostra já ocupou a posição de ajuntador e outros, acumulam actualmente na sua actividade comercial os dois elos da fileira (quase metade dos armazenistas-exportadores entrevistados fazem eles próprios o ajuntamento da castanha directamente ao produtor), na realização das entrevistas, este facto foi por nós ponderado. Assim, a informação sobre o modo de operar dos ajuntadores na cadeia de valor, surgia espontaneamente e em simultâneo. Devido à dinâmica da cadeia de valor, com reposicionamento em mais do que um elo, estes actores assumiam complementarmente o papel de ajuntador e de armazenista- -exportador, sendo deste modo superado o défice de indivíduos entrevistados neste elo de comercialização.

Os armazenistas-exportadores além de exportarem o fruto também lhe acrescentam valor – embora tipicamente comercial38 – pelo que o seu perfil é, à semelhança do produtor, de vital importância para uma análise integrada do sistema comercialização de castanha. Foram entrevistados todos os elementos que movimentam quantidades próximas ou superiores a 1 000 toneladas, pelo que todo o universo (13) a operar na actividade com carácter sistemático e de regularidade, foi inquirido39.

Este elo da cadeia de valor integra os agentes que compram a castanha ao produtor ou ao ajuntador, efectuam a desinfecção, calibragem e a expedem para o mercado interno e externo. Foi, pois, neste contexto que se incluíram neste elo os grossistas que, além daquelas operações, também transformam a castanha. Optámos por esta tipologia porque todos estes operadores se comportam de modo idêntico na cadeia de valor. Outro factor que nos levou a tomar esta opção prendeu-se com a sistematização da informação. Com esta tipologia é, no nosso entender, mais evidente a leitura dos dados quantitativos (volume comprado, vendido, exportado, etc.) pois agrupam a dinâmica de todos os armazenistas-exportadores da fileira.

Os “magusteiros” são agentes de comercialização que compram a castanha no local de produção e a vendem aos retalhistas no mercado nacional. Apenas foi possível entrevistar

38 Poucos amarzenistas-exportadores dispõem de uma linha de transformação que permita a incorporação de valor estritamente industrial

133 um “magusteiro” (entrevista aberta baseada num guião40) devido ao secretismo inerente a este elo da cadeia de valor. Houve, pois, necessidade de recorrer a um modelo de inquirição idêntico ao do ajuntador.

Vale a pena realçar a dificuldade em exprimir informação útil neste elo da cadeia de valor directamente. Contudo, foi possível construir uma visão mais objectiva por inquirição a outros elos do sistema de comercialização. Assim, esta contrariedade foi ultrapassada por via da triangularização da informação: quer pela informação fornecida pelos AE que já ocuparam esta posição na cadeia de valor e presentemente ocupam outro elo, quer pela informação fornecida pelas instituições de suporte e pelos produtores.

Finalmente, uma parte da produção de castanha vendida pelos AE para o mercado externo é controlada por intermediários no destino (agentes de controlo e/ou homens de confiança dos AE). Devido à sua permanência no estrangeiro, não foram entrevistados quaisquer intermediários no destino. Para o efeito coligiu-se informação junto dos AE, por possuírem uma forte relação comercial com este elo da cadeia.

Para superar falhas de informação e melhor compreender determinados fenómenos relacionados com a pesquisa, foi repetidamente entrevistado um informador-chave, dado o seu conhecimento e experiência em matérias relacionadas com o nosso estudo. O seu tributo foi imprescindível, quer ao nível da prestação de informações sobre o comportamento dos agentes de comercialização, quer ao nível da rede de relações informais de conhecimentos na região, especialmente no fornecimento dos contactos para inquirição dos produtores de castanha.

Devido a uma relação especial e intensiva, este indivíduo serviu de elo a múltiplas questões que se nos colocaram no decorrer da investigação. Nestas entrevistas (espontâneas baseadas num guião), o processo de colecta de informação surgia casualmente no local de trabalho, na rua ou no café, onde os assuntos abordados, com interesse para a pesquisa, emergiam da continuidade do diálogo, resultando naturalmente da relação de confiança existente entre entrevistador e entrevistado.

Como já mencionado, produtores e armazenistas-exportadores foram igualmente interlocutores passíveis de colmatar lacunas na nossa investigação.

Recolhida a informação e definidas as suas fontes, estamos em condições de efectuar o tratamento e análise da informação.

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SECÇÃO VI – A COMERCIALIZAÇÃO DE CASTANHA NA TERRA