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A financeirização econômica como fator da mudança econômica e social

As transformações do capitalismo trouxeram à economia um novo cenário durante o final do século XX, as finanças passam a ser o tema central das ações econômicas. Chamamos essa nova fase, que dá ao sistema financeiro maior atenção, como Capitalismo Financeiro. A mudança acontece quando o modelo industrial dá lugar à uma nova concepção focada na preocupação em dar retorno a investimentos aplicados por novos atores, os acionistas.

O conceito de financeirização remete ao fenômeno em que as finanças tornam-se mais predominantes no foco das estratégias de mercado. A produção e a gestão passam a se subordinar a essas estratégias, de forma que as ações sejam voltadas para a maior rentabilidade dos investimentos feitos pelos acionistas. Nesse contexto, elementos surgem como protagonistas dessa nova fase do capitalismo contemporâneo. Os fundos de ações são responsáveis pela formação de blocos de investidores que entram como acionistas das empresas.

Configurações complexas, que estruturam o mercado de ações, nascem em torno de novos agentes. Termos como governança corporativa, estruturas de governo e concepções de controle, responsabilidade social, passam a explicar a financeirização da economia. A financeirização da economia contribui para que, com todas as inovações possíveis pelas trocas de expertises globalmente, novas exigências sejam necessárias para que as relações entre os atores econômicos sejam mais impessoais possíveis, e características novas tornam-se mais interessantes, fazendo com que os executivos precisem se adaptar ao novo mundo da administração global e finceirizada, e se profissionalizem conforme as exigências de mercado, reestruturando os perfis dos atores do campo da gestão de empresas.

As empresas que se apresentavam sob o comando e propriedade familiar, ao se adequarem ao contexto global de financeirização da economia, abrindo o controle acionário para investidores, aceita os novos moldes impostos pelo conceito de Governança Corporativa: ―definimos decisões de Governança Corporativa como aqueles momentos em que os diretores do conselho administrativo encaram uma real oportunidade para consignar alguns recursos da empresa em um ou outro curso, a favor de seus objetivos‖ (USEEM, 2011).

O objetivo primeiro da organização é atender as expectativas dos investidores. Os diretores podem se envolver em quatro áreas na tomada de decisão tendo este foco, de acordo com Useem: a gestão monitorada, onde os executivos se portam como supervisores dos gerentes para o benefício dos acionistas; de outra forma podem ser a parceria de gestão, em que os conselheiros apoiam as decisões dos altos executivos, visando melhorias para a empresa; legitimação da gestão, quando os diretores têm visibilidade no mercado dando à diretoria da empresa determinadas características, para tranquilizar os investidores das diversas formas; controle de gestão, onde a diretoria é fiscalizada por agentes externos, como o governo ou um partido, por exemplo; controlados pela gestão, os diretores não tomam decisões importantes. As organizações percebem a necessidade de se reestruturar e a exigir novos capitais dos profissionais de altos cargos de gestão.

A pertinência da discussão sobre a mudança no cenário atual é de maior importância para esclarecer fenômenos atuais no contexto de transições

sociais, fortemente marcadas pelas economias locais e global. Para explicar o conceito do pensamento emergente das firmas, Fligstein (2001) faz uma recapitulação histórica da organização de empresas durante o século XX. O surgimento de cartéis passa a ser neste período importante para obter maior poder de competição.

O pensamento empresarial passa a se focar na concepção financeira do negócio e os proprietários deixam de serem grupos fechados e passam a ser acionistas, investidores e fundos de pensões. Os responsáveis pelas decisões concernentes à direção das empresas passam a ser os conselhos executivos, diretores e administrativos (FLIGSTEIN, 2001). Esses profissionais não são, a partir da adequação da organização aos moldes definidos por essa nova lógica, membros de famílias ou pessoas ligadas aos primeiros fundadores do negócio, perdendo o caráter personalista dos ―donos‖ por completo depois da reconfiguração das empresas em capital aberto.

O processo de desenvolvimento da empresa capitalista moderna apresenta-se como resultado da profissionalização de atores, responsáveis em fazer com que a direção das firmas acompanhe o contexto capitalista mundial em crescimento. A substituição dos cargos de direção dos ―donos‖ para os gerentes profissionais, ocorrida após a Segunda Guerra Mundial, é tratada como a Revolução dos Gerentes por Grün (1990).

O aumento da concorrência entre empresas e a necessidade de maximizar rentabilidade teve por efeito a formação de holdings empresariais, formação em que uma estrutura diretiva atua para um grupo de empresas a partir de fusões e aquisições de outras empresas. Essa estrutura permite que as decisões tomadas sejam impessoais, descentralizando a responsabilidade pelos rumos do negócio.

Hoje, a organização da estrutura societária se configura como mostra p quadro abaixo, onde pode-se observar a extensão do grupo como um todo.

Figura X – Estrutura societária da holding Metalúrgica Gerdau. Fonte: site do Grupo Gerdau, disponível em www.gerdau.com.br.

A mudança na gestão da empresa, no modelo que atende melhor os anseios do mercado financeiro internacional, provoca a seleção dos executivos a partir de novos perfis. Os gestores passam a apresentar currículos em conformidade com os novos tempos. A trajetória acadêmica, profissional, conhecimentos em diversas línguas, passam a ser diferenciais mais adaptados ao mercado. Os membros da família Gerdau da quarta geração – Germano, Jorge, Frederico e Klaus Gerdau Johannpeter – cedem espaço para a nova geração e passam a exercer cargos nos conselhos da empresa.

Jorge Gerdau, não tendo o mesmo espaço de antes no controle da empresa, atua com mais dedicação como interlocutor entre a política e os empresários. Quando integra o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social ele legitima sua história nesse sentido, de atuar na ligação entre o poder político e econômico.