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Segundo Thelen (2007), as diferenças entre as habilidades dos agentes constrói diferentes capitalismos, ou seja, a evolução econômica dos países depende da forma como os atores econômicos trabalham suas expertises profissionais. Pela análise histórica-institucional, a formação de grupos de interesse – associações – depende do contexto histórico de cada nação. A partir daí, os profissionais se encarregam de estabelecer uma série de entendimento que cria sentido ao grupo e condiciona seus integrantes à regras simbólicas de ação. Naturalmente, entende-se que os empresários japoneses não são como os alemães ou brasileiros. Isso ocorre pelo contesto econômico e político que molda os empresários a pensar de determinadas maneiras distintas. A autora chama esse fenômeno de endogenous growth theory, e argumenta que o conhecimento é uma base elementar para a inovação e crescimento dos países, a qualidade da educação determina qual o tipo de evolução econômica se dará nas localidades.

Instituições são, portanto, estruturas de cooperação voluntária reguladas pelas suas funcionalidades (THELEN, 2007, p. 25). A associação das pessoas às instituições acontece porque elas reconhecem a sua utilidade, as instituições são, assim, desenhadas e selecionadas pelos efeitos que causam. Essas associações têm lutado através da história por poder político com outras associações, principalmente quando se pensa em lutas classistas. A evolução política contribui para o desenvolvimento desses agrupamentos na divisão de poder, nas disputas ocorridas, na qualidade da educação. De acordo com Thelen:

My characterization of institutional Genesis thus emphasizes a strong power-distributional component. It focuses heavily on political coalitions and political conflicts – some fought directly over issues relating to skill formation, other related only obliquely to skills but with implications nonetheless for outcomes in that realm6. (THELEN, 2007, p. 33)

6 ―Minha caracterização da gênese institucional enfatiza, portanto, um componente distributivo forte de poder. Ele se concentra fortemente em coalizões políticas e conflitos políticos - alguns lutaram diretamente sobre as questões relativas à formação de competências, outro relacionado apenas obliquamente para habilidades, mas com implicações no para resultados no espaço que ocupam.‖ Tradução da autora.

Na adoção da pesquisa pelo viés da política comparada, é importante ressaltar também o conceito de Path Dependence, que explica que o desenvolvimento político-econômico segue etapas em seu progresso. A educação, a infraestrutura e as instituições são elementos que compõem a explicação do conceito, de forma que uma etapa de desenvolvimento depende de uma outra anterior para se estabelecer. Com as instituições ocorreria da mesma forma, para a institucionalização de algo, uma instituição deve lhe ser precedente, como uma estrutura que dá apoio para que outros progressos aconteçam, e depois puxem outros mais.

É essa noção de Path Dependence que fornece base para entendermos o avanço das instituições e quebra o argumento contrário ao institucionalismo que questiona a mudança histórica das culturas. Alguém perguntaria: ―se o institucionalismo é certo, então por que as instituições não são as mesmas desde o começo da história?‖ Entendendo o Path Dependence, pode-se argumentar contra essa dúvida inocente.

Bo Rothstein (1998) Define instituições como ―as regras do jogo‖, deixando a questão do que haveria de ser as ―regras‖. Diz o autor que a maioria das pessoas entendem como comportamento formal ou informal, como costumes, rotinas, procedimentos, hábitos, normas e cultura. As instituições orientam decisões e os rumos da política, determinando a forma como os atores agem.

Most approaches would agree that institutions influence actors strategies, that is, the way they try to reach their goals. This is obvious from the fact that institutions determine: a) who are legitimate actors; b) the number of actors; c) the ordering of action; and, to a large extent, d) what information actors will have about each other‘s intentions. (…) The actors come to the institutionalized ―game‖ with fixed set of preferences which, moreover, they are able rank in a rational manner. Institutions determine the exchanges that then occur among actors, but the institutions as such do not influence preferences. (…) note that in this ―logic of exchange‖ approach, the calculative nature of action is universal, as the agents preferences are always to maximize expected individual utility. (ROTHSTEIN, 1998, p. 146)7

7 ―A maioria das abordagens concorda que instituições influenciam as estratégias dos atores, isto é, a forma como eles tentam alcançar seus objetivos. Isto é evidente a partir do fato de que as instituições

Dentro dessa definição, o agrupamento de profissionais em uma categoria institucionalizada faz sentido se esses agentes possuem a mesma postura dentro do jogo econômico, no caso. Mas se esses profissionais já não atuam da mesma maneira por mudanças no contexto, talvez esse enquadramento deva ser repensado.

Então, é possível a análise pela abordagem institucionalista se os atores se encaixam em uma categoria em que se comportam de forma parecida em seu espaço social de atuação, se compartilham de entendimentos, possuem legitimação e influenciam uns aos outros. Caso a análise não pretenda compreender a ação coletiva dos atores dentro de uma homogeneidade, deve ser considerada a ação pela sua maximização dos resultados individuais.

No caso dos empresários, torna-se difícil compreendê-los como uma categoria ainda institucionalizada. Uma vez que as mudanças econômicas do final do século XX, pela financeirização da economia que passou o poder de decisão dentro das empresas para acionistas, executivos e conselhos administrativos, eliminou o papel do ―dono‖ nas grandes empresas, A questão que fica é quem é o empresário no século XXI? Se pensarmos nas pequenas e médias empresas, que não tem significância para abrirem capital nas bolsas de valores, este papel ainda existe, porém este profissional não tem a relevância necessária para ser considerado um personagem que influencia politicamente o cenário econômico nacional.

A opção pela abordagem através da teoria da escolha racional supri as lacunas deixadas pelo institucionalismo, nesse sentido. Se a escolha racional leva em conta as ações individuais maximizando resultados, ela é ideal para analisarmos atores econômicos que representam uma organização que visa lucros financeiros. A complexificação da economia e a financeirização fez com que os representantes da economia passem a ser atores com fins ótimos dentro de seus interesses

determinam: a) quem são atores legítimos; b) o número de atores; c) a ordem de ação; e, em grande medida, d) como os atores da influenciarão sobre as intenções do outro. (...) Os atores vêm para o "jogo" institucionalizado com um conjunto fixo de preferências que, além disso, eles são capazes de classificar de forma racional. Instituições determinam as trocas que ocorrem entre atores, mas as instituições, como tal, não influenciam preferências. (...) Nesta abordagem da "lógica da troca", a natureza calculista de ação é universal, como as preferências de agentes são sempre para maximizar a utilidade individual esperada.‖. Tradução da autora.

individuais. Embora existam as associações empresariais, esses atores estão mais interessados em unir forças em torno de uma ou outra questão do que reunir os grandes proprietários de empresas nacionais para trocar experiências.

2.

O Contexto siderúrgico no Brasil: dos primórdios à

modernidade.

O sertanista Afonso Sardinha descobriu o primeiro ouro do Brasil, em 1590, no sopé do pico do Jaraguá em São Paulo. Já D. Francisco de Souza entrou para a história como o primeiro Governador Geral a oficializar as entradas e bandeiras em 1591. Pouco depois, os caminhos desses dois pioneiros se cruzaram em Araçoiaba. Foi lá que, em 1810, surgiria a Real Fábrica de Ferro de Ipanema – a primeira sociedade de economia mista do país e a primeira a empregar homens livres. Tal foi a importância dessa indústria – e o pioneirismo do local chamado pelos nativos de ―morada do sol‖ – que vale a pena explorar a história do morro do ferro.

(...)

Afonso Sardinha era um mestre na arte da lavra e da fusão de metais e seu ofício foi ensinado ao filho, também chamado de Afonso Sardinha e apelidado o Mameluco. Percorrendo as velhas trilhas indígenas – os peabirus – os Sardinha, o velho e o moço, chegaram ao Morro Araçoiaba. Nessa terra habitada por índios, encontraram magnetita (ferro magnético) e lá se instalaram. A data oficial do que é hoje denominado ―sítio arqueológico de Afonso Sardinha‖ foi registrada como 1589 e o local é reconhecido pela Associação Mundial de Produtores de Aço como a primeira tentativa para a fabricação de ferro em solo americano. Mas o historiador José Monteiro Salazar, autor de Araçoiaba & Ipanema, discorda e diz que os fornos só foram instalados ali em 1597.

O que se sabe com certeza é que em 1599, D. Francisco de Souza, então Governador Geral do Brasil, permaneceu por sete meses em Araçoiaba, acompanhado de Sardinha, o Mameluco, mais fidalgos, infantes, indígenas e técnicos. Ali fundou, junto ao engenho de ferro, no Vale das Furnas, o povoado de Nossa Senhora de Monte Serrate. Apesar das tentativas de Sardinha e D. Francisco, esses primeiro trabalhos – mais importantes pelo pioneirismo do que pela produção – não chegaram a ter resultados significativos. Vitimada pelos decretos que proibiam a fabricação de artigos manufaturados na colônia, a pré-indústria do ferro foi soterrada pelo tempo (FURTADO, 2012, p. 41).

O excerto acima ilustra o nascimento da primeira fábrica de produção de ferro no Brasil. As dificuldades que a indústria percorreu até o início do século XX são contadas como uma história de aventura, onde os heróis ―empreendedores‖ da iniciativa privada, ―salvadores‖ do desenvolvimento nacional são quase personagens fictícios. A aura encantada que alguns historiadores, iludidos pela promessa do self- made man, levam aos seus textos ofusca a real trajetória das origens das indústrias.

Nesta seção será feita uma abordagem breve sobre o desenvolvimento da indústria siderúrgica brasileira, como a política nacional serviu como termômetro e alavanca para as mudanças na formação do mercado nacional. Em ordem cronológica, será exposta a história da produção do aço no país, fazendo a correspondência com a política brasileira. O desenvolvimento da siderurgia no Brasil acompanha a dinâmica mundial de produção e o crescimento econômico interno. Em momentos de expansão econômica, onde os investimentos em infraestrutura e setores da construção civil se elevam, a atividade siderúrgica se beneficia desse contexto.

A injeção de recursos em áreas ligadas à construção é prejudicada quando a economia faz a escolha por direcionar a aplicação de capital em opções de retorno mais imediatas. Infraestrutura e construção civil demandam planejamento de longo prazo e perspectivas mais sólidas de crescimento nacional. Assim, a indústria siderúrgica obedece às demandas de mercado e sofre as influências da conjuntura econômica nacional.

No entanto, eventos ligados à economia e geopolítica mundiais são determinantes para o desenvolvimento de tecnologias bem como para a entrada de países emergentes na competição no mercado internacional do aço. Crises econômicas e a Segunda Guerra Mundial foram eventos que proporcionaram variação na história da indústria no mundo. Assim, os Estados Unidos é o país com maior produção de aço no mundo até a primeira metade do século XX, graças aos esforços nacionais investidos em desenvolvimento tecnológico e infraestrutura. A Segunda Guerra Mundial contribuiu também o país pela demanda de nações que precisaram se reestruturar após as perdas físicas ocorridas.