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No ano seguinte, as matérias sobre a empresa expõem sobre as vendas e aquisições nacionais da companhia. Em 26 de janeiro de 1971, no Diário do Paraná, sobre a venda da COSIGUA à Gerdau.

Essa transação faz parte dos esforços da política nacional em elaborar um Plano Nacional de Siderurgia, que visava suprir a demanda nacional interna de produtos do setor. O Instituto Brasileiro de Siderurgia se encarregara então de elaborar um estudo sobre a capacidade produtiva da siderurgia nacional, e o documento é usado para auxiliar na construção do plano. No estudo é determinada a proporção de cada produção na siderurgia, bem como a forma como o mercado absorve esses produtos.

Orienta-se, portanto, que a produção de aços planos deve ser responsabilidade das estatais – USIMINAS, COSIPA, CSN e COSIGUA – e o setor privado supriria o mercado com outros negócios. Aqui, salienta-se que o presidente da IBS é também membro do CONSIDER, o que facilitou a aprovação dos projetos desenvolvidos pelo IBS.

No início do ano de 1970, o então Ministro da Indústria e Comercio, Marcus Vinícius Piratini de Moraes, divulga a elaboração do Plano Siderúrgico Nacional. No mesmo período, o Grupo Gerdau envia ao CONSIDER proposta de isenção de impostos para a compra de maquinário, visando a expansão produtiva da Siderúrgica Rio Grandense em Porto Alegre. Esse projeto tem como adversário o

programa de expansão da COSIGUA pela Companhia Siderúrgica Nacional. Aí fica claro que parte do financiamento será feito pelo BNDE.

Em 11 de abril de 72, o ministro anuncia a criação da SIDERBRÁS, UNISIDER ou BRASIDER, uma holding que encarregada pela gestão das unidades estatais de siderurgia, cujo presidente indicado foi Eri Bernardes, diretor do Grupo Gerdau, maior acionista da nova holding.

O governo federal afirma que não vai mais investir em novas plantas e que deseja, assim, investir para que a indústria cresça também pela iniciativa privada, com foco no desenvolvimento da infraestrutura do país. A produção de aço é imprescindível para a construção civil e outras construções, logo o projeto desenvolvimentista está ligado ao investimento na indústria de base.

Figura 18 – Montagem das imagens de reportagens sobre a Cosigua.

Fonte: Elaboração própria usando as edições de 02/06/1970, 07/08/1970, 18/08/1970, 18/01/1971, 06/01/1971, 05/01/1971 e 7/01/1971.

Na década de 1970, inicia-se a intenção da venda de parte da COSIGUA ao Grupo Gerdau em associação à Thyssen Group, empresa alemã. A

proposta de compra pelas empresas é levada ao Governador do Estado da Guanabara, Negrão de Lima, sob a argumentação de dinamizar a economia local. No ano 1971, 60% das ações da estatal é vendida para o grupo Gerdau/Thyssen. Negrão propõe destinar parte da arrecadação dos impostos de ICM – Imposto sobre Circulação de Mercadoria – para investimento nem nova planta da siderúrgica, mesmo já com a maioria do controle acionário nas mãos da iniciativa privada (―Gerdau absorbe ações da COSIGUA‖, Jornal do Brasil, 07/01/1971)

Em 21 de fevereiro de 1971, a siderúrgica de Tubarão no Espírito Santo começa a ser implementada. A composição acionária da nova planta fica em 38% para a Gerdau, Thyssen Group fica com 48% e BNDES com a Vale do Rio Doce com o restante. No mesmo mês ocorre a confirmação da compra da Siderúrgica Guaíra e da expansão da Açonorte com a construção de trefilaria – para fabricação de arames e barras finas de metal.

SIDERURGIA CARIOCA (...)

Não há como perder tempo num projeto que já se retardou excessivamente. As negociações para que se associassem Estado e iniciativa privada, com a intenção de insuflar ao projeto uma dose de vitalidade, implicaram compromissos de outra natureza, em encomendas e estudos para recuperar o tempo perdido.

(...)

Para ser exato, é preciso contar este empreendimento não da cerimônia formal, e sim do início dos estudos e das negociações. Dois anos se passaram. Agora é acelerar outras providências. (Jornal do Brasil, 11/03/1971)

Jorge Gerdau fala da instalação da COSIGUA para o Jornal do Brasil em 19 de novembro de 1972, em entrevista dada junto com representante da White Martins – empresa de gases instalada próxima à fabrica da Gerdau na Guanabara. Conta que a decisão da instalação no Rio de Janeiro começa a se desenhar em 1968 dentro dos planos de crescimento da empresa. Desde então foi elaborado um estudo, um projeto, procurou-se parcerias para o desenvolvimento de uma nova tecnologia para o uso de sucata na transformação do aço.

Neste empreendimento, houve a associação ao Thyssen Group. Participação do grupo alemão visa adquirir novas técnicas de utilização de sucata na

produção de aço no país. Para isso, é necessário que o governo permita a importação da matéria-prima – sucata – e equipamentos especiais.

Rio de Janeiro concorria com Espírito Santo, Minas Gerais e São Paulo. Os argumentos sobre qual o estado escolhido para a expansão usados na entrevista foram os comumente usados no discurso empresarial: localização geográfica que facilita o escoamento da produção, mão-de-obra qualificada, mercado consumidor. Porém na entrevista o incentivo fiscal dado pelo Governo do Rio de Janeiro, em forma de repasse de uma parte do ICM – Imposto sobre Circulação de Mercadorias – recebido pelo estado e repassado em investimento para as empresas, para a industrialização da região.

O financiamento para implantação da fábrica é explicado por Jorge Gerdau a um periódico de circulação nacional:

Obtivemos um financiamento que representa 50% do investimento global, que está sendo realizado pela Siderúrgica Riograndense, também do nosso Grupo. Gostaria de acrescentar que isso não representa um ônus para uma possibilidade de ganho maior adiante. Esse financiamento é constituído de Cr$36 milhões em crédito ao fornecedor pela Corporação Financeira Internacional do Banco Mundial e pela Sociedade Financeira Européia, que é uma instituição financeira formada por vários bancos de investimento. (―Cosigua e White Martins inauguram duas fábricas no Rio, Jornal do Brasil, 19/11/1972)

Em outra matéria, diz Jorge Gerdau: ―O problema para estes empresários, como para todos os empresários do país, está em que, se as opções são no sentido de desenvolver o capitalismo, há que encontrar os capitalistas e confiar neles. Do contrário, as portas usuais são o estatismo ou a empresa multinacional‖ (Investimentos do projeto Gerdau vão à Cr$ 86 milhões, Jornal do Brasil, 02/06/1970). Com isso, o empresário sinaliza seu posicionamento para a necessidade de expansão dos negócios para a internacionalização da produção.

Em 18 de janeiro de 1971 ocorre a transferência do controle da empresa para a Gerdau e em 19 de dezembro de 1972 a COSIGUA faz sua primeira produção.

No ano de 1975, é noticiado um encontro entre Jorge Gerdau, o governador do estado do Paraná e o Presidente da República, em visita às

instalações da siderúrgica COSIGUA. A conversa direta com os líderes do poder executivo tem como objetivo obter incentivos econômicos para a expansão da produção no Paraná, na Siderúrgica Guaíra.

Figura 19 – Geisel e Canet têm encontro na terça Fonte: Jornal do Brasil, 05/01/71.

Visitas como a noticiada são encontradas outras vezes na coleta de dados em notas ou matérias pequenas. Governadores, representantes da indústria associados a entidades classistas e Presidentes da República participam de encontros dentro das unidades da empresa, momentos em que os discursos supervalorizam a presença das fábricas pela sua importância econômica e social através dos empregos aos residentes da área.

Durante um evento na Zona Industrial de Santa Cruz, onde se localiza especificamente a COSIGUA, estavam presentes grandes personagens da política local e nacional. O excerto de uma matéria conta que:

A programação que inaugurou o segundo forno elétrico da Aciaria da COSIGUA teve início às 9h30 com recepção aos convidados. Às 10h discursou o sr. Jorge Gerdau Johannpeter, seguido pelo sr. Wolfgang Philipp [representante do Thyssen Group e diretor da fábrica]. A seguir, discursou o governador do Rio de Janeiro, Faria Lima, que após descerrou a placa comemorativa e acionou o forno, seguindo- se a tradicional corrida do aço. A programação foi encerrada com um

coquetel buffet (Iniciativa Privada na Cosigua foi destacada, Jornal do Brasil, 05/12/1975)

Anteriormente, quando ainda estava em análise o projeto da COSIGUA pelo Conselho Nacional de Siderurgia – CONSIDER, já havia a sinalização de apoio do Ministro da Indústria e Comércio, Pratini de Morais, dando ao Grupo prioridade no conselho. Em nota (Siderurgia, Jornal do Brasil, 15/07/1970), o ministro diz que há um consenso de que a COSIGUA produzirá para a demanda não atendida pelas estatais, produzindo uma linha diferente de produtos para não entrar em conflito de interesses.