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Os incentivos no desenvolvimento da siderurgia na segunda metade do século

Através da criação do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico – BNDE – em 1952, atual Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, depois de 1982 – o BNDES –, a siderurgia passa a ter um auxílio estatal para financiamentos no setor. Compreendendo que a indústria de base é essencialmente estratégica para o desenvolvimento nacional, o Estado estabelece apoio à produção do aço e projetos nesse sentido passam a ter garantias de financiamento pelo banco nacional.

Segundo documento de 1955 do Conselho de Desenvolvimento da Presidência da República, objetivava-se atingir uma produção de 2,4 milhões de toneladas/ano de laminados em 1960, num acréscimo de 1,4 milhão de toneladas/ano sobre a produção de 1954. Entre expansões e implementações de novas capacidades, considerava-se um investimento médio de US$ 300/tonelada, necessitando-se, portanto, de cerca de US$ 420 milhões para alcançar aquela meta em 1960. Note-se que 82% do investimento total se referia a importações e que apenas 18% correspondiam a inversão em moeda nacional. A participação do BNDES era estimada em 60%, ou US$ 252 milhões, afora as operações de aporte de capital (ANDRADE & CUNHA, 2002).

O BNDE vai financiar a expansão da Siderúrgica Belgo-Mineira em 1953, a criação da Cosipa em 1956 em colaboração com o estado de São Paulo, a Usiminas com capital privado e oriundo do BNDE em 1956.

A Usinas Siderúrgicas de Minas Gerais (Usiminas) também foi fundada em 1956, lançando-se com capitais privados nacionais e passando no ano seguinte a contar com participação de 40% de um consórcio de empresas japonesas, responsáveis pela implantação do projeto. A exemplo do ocorrido com a Cosipa, o BNDES entrou no capital da Usiminas para complementar a participação do governo estadual, cujos recursos eram insuficientes. De início, a colaboração do Banco foi concedida em tríplice modalidade: participação acionária (contrato de 16 de janeiro de 1958) de US$ 36,5 milhões; financiamento em moeda nacional (contrato de 28 de agosto de 1959) de US$ 186,7 milhões; e aval a créditos externos (contratos de 16 de janeiro de 1958 e 12 de maio de 1960) de US$ 120,9 milhões, mais juros correspondentes. Em outubro de 1962, quando do começo da operação do alto-forno 1, o BNDES já detinha 24,6% do capital ordinário; o estado de Minas participava com 23,9%, a Nippon Usiminas com 40%, a Companhia do Vale do Rio Doce (CVRD) com 9%, e outros acionistas com 2,5%. A empresa, cujo projeto inicial era de 500 mil toneladas/ano de produtos planos, com investimentos totais de US$ 500 milhões, necessitou de constantes aportes do BNDES, em termos tanto de financiamento quanto de participação acionária, vindo o Banco a tornar-se acionista majoritário. Em 1960, o investimento total atingia US$ 2,6 bilhões (Idem).

Na década de 1960, outras siderúrgicas são criadas e que depois terão sua direção controlada pelo IBS.

A CRIAÇÃO DO IBS

O Instituto Brasileiro de siderurgia é uma organização da sociedade civil criada em 1963. As empresas do setor eram associadas à Associação Brasileira de Metais até então, quando perceberam a necessidade da criação de um órgão específico para a siderurgia.

Associaram-se ao Instituto Latinoamericano del Fiero y del Acero – ILAFA – que quando teve sua sede transferida para Santiago do Chile gerou insatisfação dos brasileiros (Livro aço Brasil). Criada em 1959, a ILAFA foi pioneira neste tipo de representação. Hoje ela é chamada de Associação Latinoamericana do Aço.

O IBS surge nos moldes da organização estadunidense American Iron and Steel Institute. Seus objetivos são a pesquisa relacionada ao setor, a normalização de produtos, desenvolvimento de tecnologias e aprimoramento de técnicas, o acompanhamento das tendências do mercado mundial, divulgação de análises estatísticas, desenvolvimento de políticas e programas para a siderurgia, realizar atividades de relações públicas para o setor e como representante no Brasil e no exterior (CPDOC).

Um dos principais objetivos era justamente criar um programa de normas técnicas e defende-lo nos congressos da área na América Latina para padronizar os produtos da siderurgia, evitando diferenciações e proporcionando um mercado comum latino americano. O documento foi elaborado em convênio com a Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT.

Durante a década de 1970, o IBS foi o porta-voz da siderurgia no país com grande atuação, principalmente contestando algumas decisões do CONSIDER no plano de expansão siderúrgica. Na história do instituto, o primordial é o amparo à iniciativa privada e atua onde os governos não têm atuação. Assim, as diretorias são sempre formadas por representantes de empresas privadas e defendem seus interesses. Em 2009 passa a ser denominado Instituto Aço Brasil.

A participação em encontros internacionais e a organização de congressos brasileiros de siderurgia deram ao instituto a importância de órgão representativo do setor e, embora trabalhasse na iniciativa privada, contribuía com os governos fornecendo dados estatísticos e serviços técnicos no suporte a programas e leis no setor.

Em 1973 é fundada a Usiba – Usina Siderúrgica da Bahia. A década de 1970 foi marcada pela taxa alta na inflação, embora os esforços do governo militar em regular a economia. O consumo interno de aço sofria com o contexto econômico desfavorável e o fato do segundo Plano Nacional de Desenvolvimento não ter alcançado seu objetivo máximo, instituído pelo Presidente Ernesto Geisel, levou a indústria siderúrgica a buscar o mercado externo. Em 1978 as exportações de aço superaram as importações (FURTADO, 2012).

A política de substituição de importações dava suporte ao crescimento da siderurgia no país. O BNDE, em 1974, cria três subsidiárias para capitalizar as empresas nacionais: A Insumos Básicos AS – Fibase, a Mecânica Brasileira AS – Embramec, e a Investimentos Brasileiros AS – Ibrasa. A Fibase se encarregava do apoio às siderúrgicas. As três subsidiárias vão integrar depois, em 1982, o BNDESpar.

A década de 1980 ficou conhecida como a ―década perdida‖. Muitos dos esforços políticos que deveriam estar voltados para o crescimento econômico e social do país foram direcionados para a luta pela redemocratização. A dívida externa e os altos juros e inflação impediam a indústria se expandir livremente. As intervenções mal sucedidas do Estado na economia, a partir de planos mal formulados e regulações que avançavam em sentido contrário aos interesses dos empresários, acarretaram em queda no crescimento.

A crise do petróleo havia derrubado a economia de países produtores de aço. Os Estados Unidos sofriam as consequências da crise e o México assume uma dívida muito alta com o FMI. A siderurgia mundial entra em crise e os produtores não conseguem se adaptar.

O relativo otimismo do governo se contrapunha à preocupação dos empresários e de todo o sistema produtivo. Em 1982, como reflexo da crise que se instalou globalmente, a produção mundial de aço bruto caiu de 716 milhões de toneladas em 1980 para 625 milhões de toneladas. No Brasil, os lucros e investimentos sofreram queda significativa devido à menor disponibilidade de crédito externo e aos baixos preços, fruto da política governamental de combate à inflação. Os investimentos na siderurgia brasileira, que eram de 2,3 bilhões anuais entre 1980 e 1983, caíram para apenas 500 milhões anuais entre 1984 e 1989. Frente ao excesso de produção e à necessidade de dar continuidade às operações nas usinas, as siderúrgicas brasileiras passaram o exportar com lucros menores, de forma a garantir o mercado internacional. O setor siderúrgico brasileiro tornou-se mais vulnerável e menos capaz de competir com o aço estrangeiro. Se anteriormente a participação estatal se mostrava fundamental, nos anos 1980 o controle do governo reduzia a velocidade e a capacidade de resposta das empresas ante as exigências do mercado, dificultando ou impedindo a sua capitalização e comprometendo a sua modernização. Algumas expansões já haviam sido iniciadas no período anterior à crise. Assim foram inauguradas duas novas siderúrgicas estatais. Em 1983, entrou em operação a Companhia Siderúrgica de Tubarão, no

Espírito Santo e, em 1986, a Açominas, em Minas Gerais. (FURTADO, 2002, p. 128).

O CONSIDER

Após o Golpe de 1964, o regime militar prometera alavancar a indústria nacional e apoiar a iniciativa privada. Nesse sentido, Costa e Silva procurou apoiar o setor industrial instituindo uma prorrogação do prazo estipulado para o pagamento do IPI – Imposto sobre Produtos Industrializados, as empresas passam a ter a margem de 30 a 45 dias para a dedução do imposto, até então o imposto era cobrado no ato da transação. Houve também, em abril de 1967, a criação da norma que criou o Grupo Consultivo da Indústria Siderúrgica – GCIS, pelo Decreto n° 60.642, ligado ao Ministério da Indústria e do Comércio.

O GCIS tinha a responsabilidade de elaborar um projeto de expansão da siderurgia brasileira em um prazo de 60 dias, pelo grupo composto por: Presidente do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico; Presidente do Banco do Brasil; Presidente da Companhia Siderúrgica Nacional; Presidente da Companhia Vale do Rio Doce; Presidente do Plano do Carvão Nacional; um Representante do Ministério do Planejamento e Coordenação Geral e três técnicos, designados pelo Ministro da Indústria e do Comércio, que exerciam as funções executivas do Grupo, um deles seria o Secretário Geral e os dois outros os Secretários-Adjuntos.

Da experiência obtida pela GSIS surge o formato do Conselho Consultivo da Indústria Siderúrgica – Consider, em 1968, pelo Decreto 62.403. O conselho havia sido formado somente para das assessoria ao governo para ações na área, mas tornou-se um órgão com funções executivas em 1970 na coordenação da política nacional de siderurgia.

O Consider foi extinguido em 1988 e a Siderbrás passava por momento desfavorável economicamente. O ambiente internacional tornava-se cada vez mais competitivo e o Estado brasileiro estava impedido de fazer novos investimentos,

principalmente para a Siderbrás, que era uma empresa estatal. Esse quadro direciona as estratégias das empresas para a internacionalização.

Com fim da Siderbrás, o BNDES foi incumbido de dirigir o Programa Nacional de Desestatização, instituído pelo governo Fernando Collor, que criou também o Fundo Nacional de Desestatização e a Comissão Diretora desse programa.