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No dia 19 de outubro de 1982, o Diário do Paraná publica uma matéria sobre homenagem feita ao ex-governador do Paraná e candidato a senador pelo PSD, Ney Braga, pelos trabalhadores da Siderúrgica Guaíra:

Figura 42 – Ney Braga homenageado por trabalhadores da Gerdau Fonte: Jornal do Paraná, 19/10/1982.

Durante o evento, os discursos exaltavam a economia do Estado do Paraná e a importância do polo industrial do estado. O Ex-governador participou da inauguração de uma nova unidade da Guaíra, que possui 1.250 trabalhadores diretos em Araucária. Diz o texto que ―o diretor-presidente do Grupo Gerdau [Jorge Gerdau] encerrou seu discurso ressaltando ‗o dinamismo do então governador Ney Braga e sua equipe (...) cujo apoio tornaram possível este empreendimento‘‖. No discurso de Ney Braga, os elogios foram trocados:

ao encerrar seu discurso, o candidato ao senado enalteceu a atuação do Grupo Gerdau, na pessoa de seu diretor-presidente: ‗sua posição de defesa da economia privada e de denúncia das promessas que a economia não pode sustentar, tão claramente expressa em artigo recente sobre a concentração de renda em nosso país, deveria servir de lição para os empresários que, em momento s decisivos como o que hoje vivemos no Brasil, ou se calam ou se alinha ao lado daqueles que trazem como bandeira política a

hostilidade à iniciativa privada e a exaltação das doutrinas que assentam no totalitarismo e na estatização as promessas de salvação da sociedade‘ (Ney Braga homenageado por trabalhadores da Gerdau, Jornal do Paraná, 19/10/1982).

Essa passagem mostra a aparente sintonia de ideias políticas entre o grupo empresarial e a o candidato ao senado e ex-governador 10.

A ligação de empresários com o governo federal é vista após o atendimento da demanda da classe com relação ao aumento na tabela de preços do aço, conforme visto anteriormente nesta seção. O apoio público à Delfim Netto e ao Presidente Figueiredo são noticiados, como a participação de encontros com os políticos e na publicação de opiniões direcionadas à enaltecer o papel d governo na economia.

Encontros também ocorrem para falar sobre os números da siderurgia e diretamente de questões ligadas ao Grupo Gerdau (―Empresários apoiam Figueiredo sem engajamento de classe‖, Jornal do Brasil, 23/10/1980; ―Gerdau apoia medidas anunciadas por Delfim‖, Diário do Paraná, 15/01/1981; ―Empresário sugere cerrar fileira em torno de Delfim‖, Jornal do Brasil, 31/07/1982; Figueiredo visita a usina do Grupo Gerdau‖, Diário do Paraná, 24/09/1982).

Embora a relação entre os empresários do Grupo Gerdau e políticos se mostrasse frequente, estes nunca se mostraram partidários ou defenderam objetivamente candidatos. Daí se compreende que a opção feita por eles é de defender governos e não candidatos.

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Não foram observadas relações econômicas relacionadas ao apoio à campanhas políticas dos citados nesta tese. Não são disponibilizados dados dos recursos obtidos para financiamento de campanhas no período.

Figura 43 – Entre dois fogos. Fonte: Jornal do Brasil, 09/09/1984.

Como visto na nota acima, Jorge Gerdau não se colocava em defesa de um ou outro candidato abertamente. No entanto, na festa de vitória da eleição de Tancredo Neves à presidência, o empresário estava presente junto a outras personalidades, conforme a matéria:

Figura 44 – Comitê de Tancredo festeja. O de Maluf se esvazia. Fonte: Jornal do Brasil, 12/01/1985.

Em 1987, com José Sarney presidente, surge a proposta de entregar a pasta do Ministério da Fazenda à Jorge Gerdau. Em nota publicada, o Jornal do Brasil diz que:

Sanatório Geral

Domingo à noite, o presidente José Sarney telefonou para o governador do Rio Grande do Sul, Pedro Simon. Sarney pediu a Simon para sondar empresário Jorge Gerdau Johannpeter –

presidente do maior grupo privado siderúrgico do país – sobre a possibilidade de assumir o Ministério da Fazenda. Gerdau acho melhor ir a Brasília discutir o convite pessoalmente com o presidente da República. Lá chegando, encontrou a confusão armada com o convite para o mesmo cargo, formulado ao governador do Ceará, Tasso Jereissati (―Sanatório Geral‖, Jornal do Brasil, 02/05/1987).

A aproximação da Assembleia Constituinte levantou temas relacionados aos direitos trabalhistas nos círculos empresariais. Os deputados ligados às classes trabalhadores defendiam a redução da jornada de trabalho e outras garantias. Jorge Gerdau aparece na mídia impressa se mobilizando em torno da não aprovação dessas propostas, alegando, como de costume, que a iniciativa privada não conseguiria arcar com os novos custos trabalhistas.

Figura 45 – Protesto contra estabilidade. Fonte: Jornal do Brasil, 08/07/1987.

Gerdau passa a circular no congresso fazendo lobby mesmo que solitário com os deputados. Organiza encontros com empresários para difundir as suas ideias contrárias à redução da jornada de trabalho com a intenção de que, com grande número de apoiadores, suas demandas fossem resguardadas.

Em conjunto com a União Brasileira de Empresários, Jorge Gerdau elabora um discurso de incentivo aos empresários sobre a Constituinte, que é publicada no Jornal O Estado de São Paulo:

O empresário Jorge Gerdau Johannpeter, presidente do Grupo Gerdau, em reunião conjunta do Conselho Consultivo e das entidades associadas à União Brasileira de Empresários — UB, em Brasília, realizada no dia 20 último, fez o Seguinte discurso:

―Desvanecidos, recebemos o honroso e gratificante encargo de reafirmar o apoio da classe empresarial à posição, ora assumida pela entidade, de acompanhar a votação em segundo turno do texto constitucional, e conclamar todos os empresários a não ensarilhar armas até termos a certeza de que o texto da futura Carta espelhe com fidelidade os anseios da sociedade de conquistar o desenvolvimento económico e, assim, estar em condições de prover a desejável justiça social em bases realistas e sustentáveis. Vivemos todos hoje, sem dúvida, um momento histórico, uma encruzilhada para o progresso ou retrocesso do País. Não nos referimos, evidentemente, à momentânea fase de instabilidade vivida por toda a comunidade nacional, decorrente do processo em curso de transição e consolidação de nosso sistema político em bases democráticas permanentes. Notável é que poderemos conquistá-la ainda dentro de nossa própria geração, bastando para isso a necessária coragem de abolir os resquícios do paternalismo e intervencionismo estatal, arraigados no inconsciente social de nossa população.

(...)

Somente geraremos impostos e empregos produtivos se a classe empresarial contar com o apoio de toda a sociedade para capacitar- se plenamente ao trabalho, sempre com ampla liberdade de ação. Assim conseguiremos desenvolver nosso corpo social, dando-lhe meios para se equiparar aos das nações desenvolvidas.

Hoje, a maior limitação do empresário ainda é a falta de liberdade para realizar sua importante função social. O que tememos — e devemos enfatizar essa preocupação aos ilustres membros da Assembleia Nacional Constituinte —, o que tememos é que o texto constitucional, tal como se encontra atualmente, se não for expurgado de algumas distorções a nosso ver sérias, ensejará mais perda de liberdade e, em consequência, mais intervencionismo e ineficiência, com todas as mazelas que acarreta.

Senhores constituintes: meditem sobre os fatos que apontamos, pois muita coisa ainda poderá ser aperfeiçoada no segundo turno de votação. Analisem com atenção e imparcialidade, as nossas propostas e a de outros segmentos da opinião pública. A responsabilidade de não termos as condições de enfrentar os grandes desafios de nosso desenvolvimento económico e social está agora em suas mãos.

(...)

Senhores empresários: devemos garantir a prosperidade do País, preparando um futuro de grandeza para as nossas próximas gerações. Esta é a hora aprazada para cada um de nós levar nossa bandeira a todos os rincões do País. Todo empresário tem o dever de alertar os constituintes de suas relações sobre a relevância de nossas posições, induzindo tantos companheiros quanto possível a se engajar na mesma luta.

A prosperidade desta nação não pode ser objeto de indiferença. E, por isso, confiamos nos lídimos representantes da sociedade

brasileira na Assembleia Nacional Constituinte, no seu devotamento à causa pública, no seu empenho de promover nossa modernização e garantir o desenvolvimento de nossa pátria. Mas não devemos esquecer que, sem liberdade económica, jamais atingiremos as conquistas nacionais almejadas por todos.

A sociedade, acima de tudo, pode acreditar em nós, em nossa capacidade de realização.

Empresários, levantemo-nos pela liberdade.

Muito obrigado‖ (―Empresários, levantemo-nos pela liberdade‖, O Estado de São Paulo, 21/07/1988).

Cartas, panfletos, textos eram distribuídos para os deputados em nome de entidades e empresários com as ideias defendidas pelos empresários contra o alargamento dos direitos trabalhistas.

O excerto da matéria ―Medeiros [presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo] diz que Lourenço [líder do PFL na câmara dos deputados] ‗não é tão feio quanto pintam‘‖ (Jornal do Brasil, 04/08/1988), ilustra o conflito entre os empresários, representado por Jorge Gerdau e os trabalhadores: ―Enquanto os sindicalistas marcaram presença maciça na Constituinte, do lado do empresariado, Jorge Gerdau Johannpeter, do Grupo Gerdau, trabalhava sozinho, pedindo aos constituintes a supressão do turno de seis horas. Incansável, percorreu os gabinetes do líderes e conseguiu infiltrar-se no plenário‖.

Mesmo com a mobilização do empresário, as demandas dos patrões não conseguiram ser mais atendidas do que as dos trabalhadores, significando uma derrota do empresariado na constituinte.

Independente do resultado do conflito, importa aqui saber que Jorge Gerdau esteve em atividade política e que representou sua categoria, reafirmando a sua posição.

Figura 46 – Empresário perdeu quase tudo. Fonte: Jornal do Brasil, 04/09/1988.

7.

Os anos 1990 e o avanço da financeirização: a privatização

em pauta

Figura 47 – O peso da economia. Fonte: Jornal do Brasil 09/12/1990.

A abertura política causou profundas mudanças nas relações entre os agentes econômicos e políticos. A entrada de novos agentes políticos e de agentes interacionais, trazidos pela abertura econômica ao capital estrangeiro reconfigura as formas de relacionamento e de contato entre o Estado brasileiro e os empresários nacionais.