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Como anteriormente nas eleições de 1985, quando o empresário Jorge Gerdau se colocou como apoiador de Tancredo Neves (―Comitê de Tancredo festeja. O de Maluf se esvazia‖, Jornal do Brasil, 12/01/1985), assim ocorre no ano de 1989, quando apoia candidatos para cadeiras no executivo (―Brisola 89 já tem o apoio de Jorge Gerdau, Jornal do Brasil, 05/03/1989).

O empresário não se posiciona partidário em nenhum momento da sua carreira, e em 94 ele afirma ter contribuído com campanhas políticos para o executivo nacional aos partidos, menos para o PT.

Figura 55 – Jorge Gerdau sobre contribuição em campanhas em 1994. Fonte: Jornal do Brasil, 17/04/1994.

A estratégia do empresário sempre foi a de estabelecer relações diplomáticas com diferentes partidos, para que tivesse sempre diálogo com o poder em qualquer cenário.

A exposição que Jorge Gerdau ganhou nos anos anteriores o alçou à posição de destaque elevada, sendo então cogitado a participar como membro do Governo Collor, como ministro.

Figura 56 – Surpresa, Gerdau cogitado para ministério. Fonte: Jornal do Brasil, 27/01/1990.

Na nota acima, é explícito que a relação de Jorge Gerdau com Brisola o ajudou a obter expressão política. Na verdade, muitos eram os cogitados para os cargos neste governo, entre eles políticos já conhecidos e outros empresários. O texto ainda diz que a escolha dos nomes para os ministérios durou 17 horas e meia e que foram consultadas lideranças diversas da sociedade brasileira para compor o melhor cenário. Como evidencia também o trecho a seguir:

A alternativa ao nome de Pratini de Moraes para o Ministério das Minas e Energia era o megaempresário Jorge Gerdau Johannpeter, amigo de Bornhausen e que tinha uma vantagem extra: ser amigo e eleitor de Brisola (PDT). O governo não chegou sequer a consultar Gerdau. Pratini, apesar da resistência da bancada em respaldar seu nome, aceitou logo o convite. (―Montagem levou 17 horas e meia‖, Jornal do Brasil, 10/04/1992).

Em 1998, Fernando Henrique Cardoso cogita Jorge Gerdau para o Ministério do Desenvolvimento (―Últimas vagas do ministério‖, Jornal do Brasil, 22/12/1998), proposta que não deu resultado mas mostra a pertinência do nome do empresário no ambiente político nacional.

O empresário inicia uma batalha com os governadores sobre isenções fiscais a partir de 1992. No Ceará, onde Ciro Gomes era governador, a Gerdau entra na justiça contra a cobrança de ICMS sobre produtos para exportação. Ciro suspendeu os incentivos fiscais do Grupo após a posse (―Gerdau x Ciro‖, Jornal do Brasil, 27/10/1992).

Os conflitos acontecem também com o Partido dos Trabalhadores: Gerdau x PT

O presidente do Grupo Gerdau, Jorge Gerdau Johannpeter, ficou irritado com a acusação do PT de que a Companhia Siderúrgica do Nordeste (Cosinor) foi fechada depois de privatizada em 1989.

– O PT, que adora se dizer ético, mentiu porque sabia que tínhamos mantido o setor de bens de capital. Se a gente não responde a esses caras eles vão cada vez mais longe – diz Gerdau (Jornal do Brasil, 30/09/1992).

Acontece que a Cosinor havia sido de fato desativada e o PT tinha relações com o movimento sindical que se esforçou em barrar a venda da estatal para o Grupo Gerdau. A Cosinor manteve somente uma minúscula das operações para não demitir os funcionários ligados ao sindicato, prática proibida por lei.

No ano de 1998, acontece outro desacordo entre Gerdau e o PT, com Olívio Dutra, Governador do Rio Grande do Sul. O Grupo Gerdau, que vinha se beneficiando de subsídios fiscais para suas operações no estado e o novo governador resolveu rever os incentivos, destinando-os a empresas que de fato precisavam deles: ―Subsídio é para quem precisa, gera empregos e desenvolvimento espraiado (espalhado) em todo o estado, retrucou Olívio‖ (―Olívio estranha Gerdau‖, Jornal do Brasil, 06/01/1998).

PT veta incentivo à Gerdau

Lider do partido na assembleia gaúcha diz que o PMDB também negará benefícios

O líder do PT na assembleia Legislativa , deputado Elvino Bohn Grass, revelou ontem ao Jornal do Brasil que a ―tendência das atuais bancadas oposicionistas (de situação com o futuro governo Olívio Dutra) é não aprovar os incentivos fiscais à laminadora do Grupo Gerdau, pelo Fundopem‖, o fundo estadual de benefícios fiscais. (...)

Eles devem respeitar a nova realidade da legitimidade do governo Olívio Dutra. ‖Foi o povo quem escolheu entre dois projetos e definiu-

se pelo nosso, que prioriza o atendimento aso pequenos e médios empresários e agricultores e não dá privilégios a grandes empresas, como Britto fez‖.

Polêmica – A laminadora Gerdau tornou-se a primeira polêmica política do governo petista depois que o presidente do Grupo Gerdau, Jorge Gerdau Johannpeter, advertiu sobre o risco de grandes empresas irem embora do estado se forem suspensos os benefícios fiscais.

Olívio Dutra retrucou que Gerdau só estava vendo interesses pessoais, por causa da votação de incentivos a sua laminadora na assembleia. Jorge Gerdau não quer mais se pronunciar sobre o assunto, mas prometeu ―reavaliar‖ o projeto de instalar a laminadora no estado, em caso de suspensão dos benefícios fiscais.

Tanto no caso da laminadora quando no de outros projetos que dependem de aprovação na assembleia, os benefícios permitem o não pagamento de 75% do ICMS por 15 anos. O coordenador da transição pelo governo Olívio Dutra, vice-governador eleito Miguel Rossetto, já disse que cada caso de benefício pelo Fundopem será reavaliado, mas que não houve definição quanto aos projetos em tramitação e que está conversando com a bancada petista.

Gerdau responde a Olívio, dizendo que as grandes empresas deixarão o estado caso o governador corte os benefícios (―Gerdau faz advertência a Olívio Dutra‖, Jornal do Brasil, 05/11/1998). Gerdau planeja instalar uma nova siderúrgica no estado e exige – da sua forma – que sua nova instalação receba isenção de ICMS. Essa proposta isentaria o Grupo de qualquer custo de investimento a longo prazo, pois todo o montante usado para a construção da unidade seria reembolsado por essa isenção em alguns anos. O governo do Rio Grande do Sul estaria doando esta fábrica para o Grupo, em outras palavras.

Esse debate entre as forças acontece antes mesmo da posse de Dutra e os interessados chegam a pedir a intervenção de Antonio Brito (PMDB), governador apoiado por Gerdau, que votaria naquele ano ainda as isenções e anistias fiscais das grandes empresas (―Olívio faz pedido a Brtto‖, 10/11/1998). No ano seguinte, Gerdau faz uma doação de obras de arte ao Museu de Arte do Rio Grande do Sul, como um gesto amigável ao governo do estado (―Arte une Olívio e Gerdau‖, Jornal do Brasil, 18/08/1999).

Enquanto ocorriam os fatos relatados, o nome de Jorge Gerdau continuava a aparecer nos jornais como participante de encontros, entre políticos e

empresários, e em consultas de opinião pelos periódicos da mesma forma que em décadas anteriores.

Figura 57 – Empresários fazem alerta. Fonte Jornal do Brasil, 02/07/1991.

Collor reconhece empresário como representante da categoria, como mostra a matéria a seguir em que é relatado um café da manhã entre políticos, o presidente e empresários. O Jornal dá uma impressão de que o encontro foi uma reunião entre amigos, exibindo inclusive o menu do evento, porém o presidente procura apoio com os agentes econômicos para, por sua vez, pressionar os deputados aliados – aliados ou, melhor dizer, financiados – para a aprovação da reforma fiscal proposta.

Figura 58 – Collor faz apelo a empresariado. Fonte: Jornal do Brasil, 16/07/1992.

8.

Pós anos 2000: a financeirização muda as relações entre

agentes econômicos e políticos.

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Figura X – Gerdau no CDES. Fonte: Revista IstoÉ Dinheiro, 19/09/2012.

Nas seções anteriores, foi apresentada a dinâmica de mudanças causada pela abertura política e econômica, que passa a ter orientação liberal após o Governo Collor e durante o Governo FHC. Com a virada para o século XXI, e o advento dos governos petistas – de linha ideológica menos liberal – é evidente que não é somente a mudança de governos que transforma as relações, mas as mudanças estruturais de mercado influenciam nas relações entre os agentes e o papel dos representantes do empresariado se torna mais impessoal e regulada.

Embora, evidentemente, ainda existam as relações próximas entre os indivíduos, perante o Estado as formas de apresentação das demandas têm de passar por instâncias legítimas, como câmaras e conselhos. As competições entre

os agentes políticos alargam a esfera de discussão, o número de agentes com pensamentos diversos dificulta a estratégia de estabelecer contato direto dos representantes com os líderes políticos.

Com o cenário mais democrático, embora a elite política ainda mantenha determinados agentes nas mesmas posições, outros agentes entrantes no jogo se colocam como chaves de possíveis rearranjos futuros. O campo torna-se mais difuso.

Se em outros momentos Jorge Gerdau dizia não apoiar os governos petistas por considera-los ineficientes, a partir do crescimento expressivo do partido, no final dos anos 1990, ele precisa então encontrar outros meios de aproximação e legitimidade junto ao Governo Federal. O empresário encontra no Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social uma maneira de se manter ativo e legitimado.

8.1 A financeirização econômica como fator da mudança econômica e