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3 ORIENTAÇÃO TEÓRICA DA PESQUISA

3.8 A formação reflexiva do educador

O conceito de “professor reflexivo” foi inicialmente formulado por Donald Schön, que é professor de Estudos Urbanos nos Estados Unidos, no Instituto de Tecnologia de Massachusetts nos EUA (MIT). Amparado por pesquisas realizadas por John Dewey, Shön (2000) propõe uma renovação na formação de profissionais da educação. O autor destaca a importância de uma formação profissional fundamentada numa epistemologia da prática e acredita que essa deva ser vista como um momento de construção a partir da reflexão.

Os postulados de Shön têm sido muito úteis, principalmente no que tange à formação de profissionais da educação. Mas para que se possa entender o conceito de “professor reflexivo”, de maneira mais ampla, é necessário que se considerem algumas definições iniciais: o que significa a palavra reflexão e, segundo, o que ela pode acrescentar à prática pedagógica?

Pimenta e Ghedin (2005) entendem que a reflexão é um ato inerente a todos os seres humanos, e sendo essa uma característica própria de todas as pessoas, então por que reforçar essa característica nos professores? Destarte, esse termo pode tanto ser empregado como adjetivo quanto um conceito.

Para que o termo, reflexivo, assuma o papel de um adjetivo, precisa ser entendido como uma característica de toda pessoa que pensa, ou seja, de uma pessoa reflexiva, que reflete sobre seus atos, sobre suas ações. Para que ele possa ser visto como conceito, é relevante entender como ele foi postulado por Donald Shön, na década 1990.

Por meio das pesquisas realizadas por Jonh Dewey (pesquisador que focalizou a aprendizagem através da ação), Schön propõe uma mudança na formação dos professores. Para isso, o autor destaca a necessidade de o conhecimento passar por três momentos básicos, quais sejam: o conhecer-na-ação, a reflexão-na-ação e a reflexão sobre a reflexão-na- ação.

Segundo Shön (2000, p. 33), a expressão conhecer-na-ação “é um processo tácito, que se coloca espontaneamente, sem deliberação consciente e que funciona proporcionando os resultados pretendidos, enquanto a situação estiver dentro dos limites do que aprendemos a tratar como normal”. O conhecer-na-ação é o conhecimento que se dá através da prática.

Quanto à reflexão-na-ação, o autor afirma que “podemos refletir sobre a ação pensando retrospectivamente sobre o que fizemos, de modo a descobrir como nosso ato de conhecer-na-ação pode ter contribuído para um resultado esperado” (SHÖN, 2000, p. 32). Em outras palavras, a reflexão-na-ação seria a possibilidade de refletir sobre uma ação enquanto

ela acontece. Essa forma de reflexão é muito útil para a educação, pois proporciona tanto ao educando quanto ao educador uma avaliação da ação no momento em que ela ocorre. Essa reflexão concomitante à ação, além de promover o desenvolvimento de todas as pessoas que participaram da ação, faz também com que as dificuldades existentes possam ser discutidas e sanadas ainda no decorrer da ação.

Finalmente, o autor destaca a reflexão sobre a reflexão-na-ação. Nesse sentido, postula-se que a reflexão deve ser orientada, após uma prática, objetivando novas ações.

Dib (2004) observa que a reflexão sobre a reflexão-na-ação é uma reflexão orientada para uma ação futura, almejando entender os problemas, encontrar soluções e propor atividades pedagógicas que possam ser postas em prática futuramente.

Acredita-se que as formas de reflexão propostas por Schön sejam muito úteis para atender às necessidades da sociedade moderna, pois traz contribuições significativas para a educação no sentido de que proporciona tanto ao professor quanto ao aluno uma aprendizagem voltada para a prática e embasada por uma reflexão constante.

A prática em sala de aula e a reflexão, a partir dessa prática, em muito podem contribuir para que a educação viva um momento de transformação. Primeiro, porque as escolas sempre deram mais ênfase à teoria do que à prática. No que se refere à formação do professor, um número expressivo de universidades tem primado pelo suporte teórico que o aluno deve receber e acredita-se que só depois de ter recebido um referencial teórico é que o aluno estará pronto para ir para a prática. Partindo do que foi proposto por Shön, acredita-se que teoria e prática não devem acontecer na formação do professor como momentos estanques. O autor dá maior ênfase à necessidade de trazer para a escola uma aprendizagem que aconteça através do fazer.

Outra inovação importante que os estudos realizados por Shön trazem é a questão da reflexão em todos os momentos da prática. Acredita-se que essa reflexão possa diminuir os “erros” cometidos durante ação e depois da ação. A reflexão sugerida por Schön leva tanto o professor quanto o aluno a reconstruir seus conhecimentos no dia-a-dia.

Embora Shön tenha contribuído com mudanças no âmbito da educação, existem críticas aos seus postulados, pois alguns pesquisadores apontam algumas lacunas deixadas por sua teoria.

Pimenta e Ghedin (2005) afirmam que, ao enfatizar a necessidade da prática no ambiente escolar, Shön não considerou também a importância da teoria aliada a essa prática. Os autores destacam que o saber docente não se faz apenas com a prática, sendo assim,o

ideal é que teoria e prática tenham a mesma importância para a construção do saber tanto do professor quanto do aluno.

Giroux (1990 apud PIMENTA e GHEDIN, 2005) destaca que apenas refletir sobre a prática docente em sala de aula, torna-se insuficiente para compreender os elementos teóricos que a subsidia. Portanto, a teoria proposta por Shön não seria suficiente para reverter os problemas que surgem no dia-a-dia de uma sala de aula.

Kemis (1985), assim como Giroux (1990 apud PIMENTA e GHEDIN, 2005), destaca que a prática da reflexão individualizada não abarcará e não suprirá as dificuldades e os problemas que surgem no decorrer do trabalho docente, ou seja, ao refletir de maneira individualizada o professor não conseguirá atingir os problemas que assolam a escola como um todo. Critica-se a reflexão individual e propõe-se uma reflexão coletiva que atinja a todos os membros do grupo escolar.

Uma outra crítica existente acerca da reflexão proposta por Shön foi feita por Liston e Zeichner (apud PIMENTA e GHEDIN, 2005). Eles reafirmam a crítica realizada por Kemis e Giroux e consideram a reflexão proposta por Shön limitada e reducionista, uma vez que essa não leva em consideração o contexto institucional, nem o grupo de professores que atuam nessa instituição, pois se trata de uma reflexão individual e não coletiva.

Apesar dessas críticas, é preciso considerar a relevância dos postulados schonianos, percebendo que as três concepções de reflexão propostas por Schön, geram muitas e valiosas mudanças no âmbito educacional. Nesse sentido, é interessante perceber que elas acontecem em três momentos diferenciados da educação e que a cada um desses momentos, a reflexão proposta faz com que aluno e professor estejam num processo constante de interação e de construção de conhecimentos, em que ambos são sujeitos.

Apoiando-me nessas pesquisas e na realidade de sala de aula, pretendeu-se, neste trabalho, trazer para o âmbito escolar, os postulados de Shön, acrescentando-se a eles, a necessidade da crítica e da práxis como forma de construção de conhecimento para o professor bem como para o aluno.

A seguir será apresentada uma atividade realizada no decorrer da pesquisa, objetivando estabelecer uma relação mais próxima entre a prática pedagógica, a pesquisa escolar e a reflexão coletiva.