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3 ORIENTAÇÃO TEÓRICA DA PESQUISA

3.9 O professor-pesquisador-reflexivo: uma experiência pessoal

Na sociedade moderna, urge uma mudança do paradigma tradicional de educação para um paradigma emergente em que haja uma transformação nos valores que norteiam a educação, nos compromissos que se organizam em torno da moral e da ética, na relação entre a prática pedagógica e as exigências feitas pela sociedade (DIB, 2004).

Questões como essas têm sido o ponto central de grandes debates entre os pesquisadores da área de formação de profissionais da educação, no entanto percebe-se que elas só podem ser respondidas, se chegarmos à gênese do problema, em outras palavras, não se muda o ensino, se não for ofertada uma aprendizagem significativa para o aluno, e de o professor ser um educador crítico-reflexivo, se não houver mudanças significativas na formação que a universidade oferece a esse professor, em todas as modalidades de ensino, principalmente na educação de jovens e adultos.

Ribeiro (1999) destaca em seus estudos que pesquisas realizadas na educação brasileira têm apontado um conjunto de problemas relacionados à formação docente e ao desempenho dos educadores que atuam na educação básica, com ênfase na educação de jovens e adultos. Um dos problemas tratados pela autora e que merece um destaque especial nesta pesquisa é a falta de formação específica dos professores que ministram aulas nessa modalidade de ensino. Dados empíricos e de pesquisa (RIBEIRO, 1999) evidenciam que “parte” (ou grande parte) dos educadores que atuam na educação de jovens e adultos receberam, em suas universidades, uma formação inicial voltada para o ensino de crianças e adolescentes, mas não tiveram uma formação direcionada para dar aulas para os alunos que se encontram na educação de jovens e adultos.

Informações como essas são imensamente preocupantes, tendo em vista que os alunos que voltam para a sala de aula, já na vida adulta, requerem de seus educadores um conjunto de habilidades específicas que estejam voltadas para a superação de suas dificuldades em todas as disciplinas, em especial no ensino de língua materna que é uma das áreas de maior defasagem apresentada pelos educandos.

No que tange ao ensino de língua materna, entende-se que a necessidade de mudança é algo que precisa acontecer com a máxima urgência, em todas as modalidades de ensino, em específico, na educação de jovens e adultos, uma vez que, para esses alunos, não basta o acesso à leitura e à escrita, faz-se necessário desenvolver programas que os levem a um maior domínio dessas tecnologias e saibam empregá-las de maneira consciente em contextos diversos.

Ribeiro (1999) defende que as transformações esperadas só acontecerão na medida em que seja profissionalizado o pessoal que atua nessa área, destaca a necessidade de

pensar em formas de prover a especialização dos educadores que se interessam pela educação de jovens e adultos e, acrescenta que é imprescindível perceber que a problemática relacionada ao ensino de jovens e adultos merece compor um currículo básico na formação de seus educadores.

É preciso que o futuro professor da educação de jovens e adultos tenha acesso a disciplinas e a cursos voltados para a sua área de interesse. Torna-se inaceitável que um professor passe em média quatro anos em uma universidade e não tenha em seu currículo básico um momento específico que o capacite para atuar na educação de jovens e adultos, que lhe ofereça subsídios para desenvolver atividades com esse alunado, que é diferente dos alunos regulares do ensino básico, fundamental e médio. Não dá para adaptar conhecimentos e metodologias voltadas para o ensino de crianças na educação de jovens e adultos, sem levar em consideração as necessidades próprias desse grupo.

Levando em conta a necessidade de rever a formação inicial dos professores que irão atuar na educação de jovens e adultos, a Universidade Federal do Paraná vem introduzindo, na formação de professores da primeira etapa do ensino fundamental e de pedagogos, duas disciplinas obrigatórias: Fundamentos da Educação de Jovens e Adultos, no primeiro ano e Estrutura e Funcionamento da Educação de Jovens e Adultos no terceiro ano. Nessas disciplinas são contempladas questões como: a compreensão das concepções da educação de jovens e adultos ao longo da história da educação brasileira, o pensamento de Paulo Freire e a educação de jovens e adultos, as políticas educacionais e as legislações que estabelecem a educação de jovens e adultos no Sistema Nacional de Educação e as condições de acesso e permanência na escola, entre outros tópicos. (ZANETTI, 1999)

Segundo Ribeiro (1999), os educadores da educação de jovens e adultos devem estar aptos a repensar como os conteúdos vêm sendo transmitidos aos alunos. Nesse sentido, percebe-se uma real necessidade de criar condições para que o educando possa ter acesso a uma formação diversificada e relacionada à sua vida.

Partindo da necessidade de o professor possuir uma formação específica que o capacite para atuar na educação de jovens e adultos, observo através das minhas graduações que até bem pouco tempo não havia esta preocupação. Na minha formação, enquanto professora de português e enquanto pedagoga, não tive acesso a nenhuma disciplina que tratasse dessa modalidade de ensino, porém fiz o meu segundo estágio em turmas de jovens e adultos e, já nesse momento, verifiquei que a falta de um conhecimento direcionado a esse público dificulta em demasia a dinâmica de sala de aula.

Motivada também por essas inquietações, decidi realizar esta pesquisa com os alunos do ProJovem. Para mim, eram muitos os desafios: (1) voltar a ter contato com jovens e

adultos; (2) realizar atividades que os ajudassem a lidar com mais segurança com as modalidades: oral e escrita de nossa língua; (3) observar como eu, professora-pesquisadora atuava juntamente com os alunos; (4) quais eram os meus objetivos; e (5) qual era a minha postura frente a esses desafios.

Ao assumir o trabalho com o ProJovem fui encaminhada para uma escola de Santa Maria. Os primeiros contatos com os alunos foram tumultuados, num primeiro momento, fiquei insegura e pensei que teria problemas em relação ao comportamento deles.

Os primeiros dias e semanas não foram fáceis, pois vi que aqueles alunos precisavam de mim e que eu teria que me adaptar a eles. Muitos eram arredios e não queriam saber de muita conversa (Reis 2000).

Quando fui para Brazlândia, já estava mais segura, no entanto meu desafio era bem maior, porque fui substituir uma professora de português que era adorada tanto pelos alunos quanto pelos professores do núcleo.

Diferentemente dos alunos de Santa Maria, os alunos de Brazlândia pareciam mais calmos, mas também apresentavam alguns problemas que dificultavam o processo de aprendizagem, conforme se pode observar nas falas dos professores:

Episódio 1 – Os professores falam sobre os alunos do ProJovem

Professor Tadeu (professor de Português): são alunos que não possuem a mínima noção de cidadania, que abandonaram a escola ou por causa de gravidez indesejada ou por tráfico, basicamente. Poucos têm a idéia de que a educação pode fazer por eles.

Professor Alan (professor de Ciências Humanas): são alunos com grau de conhecimento bastante desnivelado. No tocante ao aspecto social, trata - se de alunos carentes que vêem no ProJovem, além da possibilidade de conseguir o diploma do ensino fundamental, a conquista de um subsídio financeiro de R$ 100,00 (cem reais).

Professora Francisca (professora de Inglês): Os alunos do ProJovem de Brazlândia são bem tranqüilos. A maioria deles é responsável no sentido de ter levado o projeto a sério. Muitos tinham dificuldade no início, mas com o passar do tempo foram adquirindo maturidade.

Professora Cássia (professora de Ação Comunitária): nossos alunos pertencem à classe de jovens excluídos da escola, portanto, o nível de escolaridade deixa muito a desejar. Alunos de poder aquisitivo baixo, poucos trabalham. Dependem de seus pais, mas quase todos

têm filhos e/ou convivem com suas companheiras. Auto-estima muito baixa, e não valorizam (na maioria) a oportunidade que hora esta passando (estudos).

Inicialmente tive que ter muita paciência para conquistá-los, para isso, foi preciso rever minha postura, tive que aprender a “respirar”, agir com cautela e tranqüilidade, pois as comparações entre mim e a outra professora existiam e, às vezes, isso doía.

Aos poucos, os alunos e eu fomos nos adaptando à nova realidade, em março tomei a decisão de convidar a Turma 2 para participar do meu trabalho, já que eu era professora orientadora dessa turma e, isso me possibilitou a oportunidade de convidá-los. Graças a Deus, aceitaram.

Nessa turma, eu tinha alunos que pararam de estudar em séries diferentes, por isso as facilidades e dificuldades eram diversificadas. Ás vezes, eu pensava que as dificuldades por mim observadas faziam parte somente da minha disciplina, por isso voltei aos professores do meu núcleo e a um professor, de português, do outro núcleo também de Brazlândia, através de um questionário e fiz a seguinte pergunta: