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2 PRESSUPOSTOS METODOLÓGICOS

2.10 O perfil dos participantes

2.10.2 O perfil dos alunos

Como já foi dito anteriormente, este trabalho foi desenvolvido com a turma 2 do ProJovem de Brazlândia, DF. Os alunos da turma em questão têm entre 18 e 24 anos. Todos residem em Brazlândia e são oriundos de classes sociais menos favorecidas. Muitos não têm emprego formal e estão voltando para a escola com a finalidade de concluir o ensino fundamental e conhecer um pouco mais sobre os arcos ocupacionais, apresentados pela disciplina Qualificação Profissional, com o objetivo de ingressarem no mercado de trabalho. A seguir apresento algumas informações sobre essa turma, dando início, assim à coleta de informações.

A coleta de informações começou com a aplicação, no dia 21/03/2007, de um questionário com os seguintes objetivos: (1) obter algumas informações sobre a vida dos alunos e (2) conhecer suas principais dificuldades no desempenho de tarefas comunicativas. Naquele dia, estavam presentes, na sala de aula, somente dez alunos, que aqui receberão os seguintes nomes fictícios: Francisco, Geise, Janaína, Jeferson, Leandro, Laura, Lúcia, Márcio, Fernanda e Soraia . O quadro abaixo apresenta algumas características gerais da turma:

Quadro 3: Perfil social da turma

Alunos (as) Estado Civil Sexo Cidade onde

nasceu Idade Filhos? Tem Profissão Trabalha?

Francisco Solteiro M Brazlândia 18 não estudante não

Geise união

instável F Sousa/Paraíba 24 sim vendedora salgadeira sim

Janaína Solteiro F Brasília 19 não estudante sim

Jeferson Solteiro M São Luiz-

Maranhão 20 não estudante não

Leandro Solteiro M Brazlândia 24 não estudante não

Laura união

instável F Padre Bernardo

Goiás

26 sim estudante não

Lúcia Casada F Brasília 21 sim estudante não

Márcio Solteiro M Brazlândia 25 não estudante sim

Fernanda união

instável F Altos - Piauí 22 sim babá sim

Soraia Solteiro F Brasília 25 não babá sim

Fonte: dados da própria pesquisa

Em relação ao Quadro 2, observou-se que a maioria dos respondentes é do sexo feminino. Quanto ao local de nascimento, metade da turma é constituída por alunos nascidos em Brasília/Brazlândia, sendo os outros oriundos de diversos lugares do Brasil. A idade deles varia entre 18 e 25/26 anos, conforme é previsto pelo programa. Quanto ao mercado de trabalho, cinco alunos afirmaram que realizam algum tipo de trabalho e o restante apenas estuda. Partindo-se das informações obtidas sobre a identidade dos alunos, observa-se que faltam referências dos pais em muitos aspectos da vida de cada um desses alunos.

A analisar as informações coletadas, percebeu-se que quatro alunos pararam de estudar na 8ª série; três na 7ª série; dois na 6ª série e um na 5ª série. De posse disso, pode-se observar a heterogeneidade da turma, o que requer dos professores uma forma diferenciada de trabalhar.

Quando perguntados pelos motivos que os levaram a deixar a escola antes de concluir o ensino fundamental, eles responderam:

Quadro 4: Motivos pelos quais os alunos do ProJovem deixaram de estudar

Alunos (as) Motivos

Francisco Preguiça, só pensava em curtir as festas.

Geise Porque eu não gostava de estudar, mas eu

gostaria de mudar.

Janaína Porque eu achei que não me faria falta mais tarde.

Jeferson Porque eu reprovei dois anos na escola.

Leandro Porque a escola era muito longe da minha casa.

Laura Porque fiquei grávida, daí aconteceram muitas

mudanças na minha vida.

Lúcia Porque o colégio era muito longe da minha casa.

Márcio Falta de ânimo e de interesse.

Fernanda Porque eu tive muitos problemas em minha casa

com minha mãe doente.

Soraia Porque tive que cuidar da minha filha que nasceu

há um ano. Fonte: dados da própria pesquisa

Diante dessas respostas, observa-se que o fato de o aluno abandonar a escola antes de concluir os estudos, nem sempre se justifica pelo fato de a escola não atender aos seus anseios, ou porque a escola é ruim. Os motivos variam de pessoa para pessoa. Nessa turma, diante desse questionário e durante a gravação da história de vida, os alunos confirmaram que deixaram a escola por motivos de ordem pessoal e não porque a escola era sem graça, desinteressante.Somente a aluna Janaína mencionou, num determinado momento,que se algum professor a tivesse ajudado, talvez, ela não tivesse “desistido” de concluir seus estudos no momento certo.

Quando perguntados sobre o que os motivou a procurar o ProJovem, a maioria respondeu que foi a possibilidade de concluir os estudos, dado esse confirmado por meio da história de vida, filmada e, também, escrita pelos alunos, cujos conteúdos serão apresentados no perfil dos participantes efetivos da pesquisa.

Em relação às expectativas sobre o programa, os participantes responderam:

Quadro 5: O que o aluno espera do programa?

Alunos (as) Respostas

Francisco Recuperar o tempo perdido e conclui-lo.

Geise Espero que eu consiga aprender coisas novas.

Janaína Espero concluir e logo depois conseguir um

emprego melhor.

Jeferson Espero do Projovem um grau completo.

Leandro Espero terminar os estudos com a ajuda do

Projovem.

Laura Retomar meus estudos, porque quero ter um futuro

melhor.

Lúcia Espero terminar o 1º grau.

Márcio -

Fernanda Arranjar um bom emprego e uma qualificação

melhor.

Soraia Terminar meus estudos.

Fonte: dados da própria pesquisa

Quanto à questão da leitura e da escrita, quando se auto-avaliaram, 80% dos alunos disseram que possuem dificuldades de leitura e de escrita de texto. Apenas 20% revelaram ter facilidade com essas tecnologias. Isso só confirma os dados atuais de pesquisas realizadas no âmbito da leitura e da escrita de que o número de pessoas que chegam à idade adulta sem saber ler e escrever, com proficiência, é muito grande. (INAF, 2001, 2003, 2005,2007)

Em relação à dificuldade com a escrita, todos os alunos afirmaram ter dificuldades para escrever, conforme se pode observar na tabela a seguir:

Quadro 6: Dificuldades na produção textual escrita

Pergunta: Você sente dificuldades para produzir textos escritos? Quais?

Alunos (as) Respostas

Francisco Não sou muito bem, troco as letras.

Geise Não consigo, porque não sei desenvolver muita

coisa.

Janaína Não sei por que, mas às vezes consigo ter idéias e

às vezes não consigo me concentrar. Tenho dificuldades.

Jeferson Sim. Eu não tenho muitas idéias e dificulta

escrever.

Leandro Não, sinto dificuldade na escrita.

Laura Sim. Na escrita tenho muitos erros de caligrafia e

não tenho muitas idéias.

Lúcia Sim, em pontuação não sei pontuar textos.

Márcio Não muito, mas tenho algumas dificuldades na

escrita.

Fernanda Boas idéias, esqueço das letras, fico nervosa.

Soraia Sim, na hora de pensar.

Fonte: dados da própria pesquisa

A partir dessas respostas, evidencia-se que a dificuldade em produzir textos é comum a quase toda a turma. Isso nos leva a confirmar que, de fato, escrever é um ato que exige técnica,muita paciência e, sem dúvidas, uma preparação prévia, que dê condições ao educando de produzir um texto coerente e com boas idéias.

Quando perguntados sobre as dificuldades de expor suas idéias oralmente, os alunos responderam:

Quadro 7: Dificuldades na produção textual oral

Pergunta: Você sente dificuldades em expor suas idéias oralmente, quando solicitado pela professora? Por quê?

Alunos (as) Sim Às vezes Não Por quê?

Francisco X Porque eu gosto de

um diálogo.

Geise - - - Porque, às vezes

penso em dizer algo e não consigo.

Janaína X Às vezes estamos tão

sérios, que eu acabo tendo dificuldades.

Jeferson X Sou muito tímido.

Leandro X Tenho vergonha.

Laura X Porque só assim

saberei se estou indo no rumo certo...

Lúcia X Porque é bom falar

com a professora.

Márcio X Acho que me saio

muito bem.

Fernanda X Tenho dificuldades,

mas quando estou só consigo fazer legal.

Soraia X Porque eu tenho um

pouco de vergonha. Fonte: dados da própria pesquisa

Quanto às dificuldades de produção textual oral, conforme Quadro 7, três alunos revelaram ter dificuldades, dois colocaram que às vezes e quatro afirmaram não ter dificuldades. A aluna número dois não marcou nenhuma das alternativas propostas, porém justificou. A partir dessa informação, percebe-se que esta também apresenta dificuldades em expor suas idéias oralmente.

Em relação às atividades orais, os alunos afirmaram, no questionário aplicado, que o desenvolvimento de atividades que contemplem essa modalidade da língua pode ajudá-los a desenvolver suas habilidades para que assim eles possam produzir bons textos escritos. Essa afirmação pôde ser confirmada no decorrer da pesquisa, pois ao final de cada atividade realizada com os educandos, eu propunha uma reflexão, objetivando perceber se a atividade oral estava sendo importante para que eles tivessem condições de produzir seus textos escritos, bem como para ampliar a competência comunicativa de cada um.

Em relação às atividades que podiam ajudá-los a desenvolver a oralidade e conseqüentemente a escrita, os alunos afirmaram, no questionário acima mencionado, que a atividade que mais os ajuda é o debate. 50% dos alunos marcaram essa opção; 40% acreditam que o diálogo com o professor pode ajudar no desenvolvimento de atividades escritas; 10% acreditam que o diálogo com o colega é o que mais ajuda no desenvolvimento das atividades propostas. E o item que menos ajuda é, quase por unanimidade, o reconto de filmes, os alunos acham que esse tipo de atividade não contribui muito para o desenvolvimento de suas habilidades de leitura, fala e escrita.

Quanto ao uso do gênero debate, esse foi bastante desenvolvido no decorrer da pesquisa. Durante a realização desse tipo de atividade, eu pude observar que mesmo não conhecendo em profundidade um determinado tema, os alunos eram encorajados e levados a participar, e o mais interessante é que nos textos escritos, após cada debate, apareciam as idéias e opiniões trocadas no decorrer do debate. Dessa forma, entende-se que os alunos produziram textos polifônicos, isto é, com várias vozes e idéias, o que confirma que é na fala do outro, no texto oral do outro, na interação, que o aluno busca elementos para construir seus próprios textos.

Apesar de a turma não apresentar um número tão grande de alunos, foi necessário, em decorrência do pouco tempo que eu tinha para realizar a pesquisa, diminuir o número de participantes. Assim, foi reduzido para cinco, o número de alunos que efetivamente participariam do trabalho. É importante tornar claro que a aluna Maria das Graças começou a participar da pesquisa depois que esta já tinha sido iniciada. A aluna estava em licença maternidade, por isso não respondeu ao questionário inicial. No entanto, ela expressou querer participar das atividades seguintes e foi acolhida com muito carinho, tanto por mim quanto pelos outros alunos.

Com a diminuição do número de participantes foi possível coletar outras informações que foram relevantes para este trabalho. Com esse objetivo, foram realizadas 2 atividades, além do primeiro questionário: uma entrevista semi-estruturada e a história de vida de cada educando.

Com o intuito de preservar a identidade dos alunos participantes, eles serão, aqui, identificados como: Jeferson, Laura, Fernanda, Janaína e Maria das Graças.

A despeito de ter apresentado características gerais da turma, entende-se que o conhecimento da história de vida de cada participante dessa pesquisa assume grande relevância para este trabalho, por isso, a partir de agora, será apresentada a trajetória de cada aluno que aceitou o desafio de construir comigo esse conhecimento.

Para iniciar esta parte do trabalho, recorro a uma citação de Reis (2000) que diz:

Na minha análise levo em conta a história de vida de cada sujeito, desde a sua chegada ao Paranoá (ainda invasão, favela, ocupação, moradia em precários barracos) até os dias atuais, em que se conquistou a fixação do Paranoá, e este se tornou oficialmente cidade satélite. Na narrativa de cada sujeito, uma história. Em cada história, um processo de desenvolvimento. E nesse processo de desenvolvimento, a partir do referencial teórico que discuti, a garimpagem de indícios que revelam a possível ocorrência de transformação de cada sujeito ou sujeitos em sujeitos de poder, saber e amor. Consoante o próprio Vygotsky, repetindo Blonsky “o comportamento só pode ser entendido como história do comportamento”. (p. 144)

O conhecimento da trajetória de vida de cada aluno participante levou-me a entender algumas dificuldades de aprendizagem e de comportamento apresentadas no decorrer deste trabalho. Conforme explicita Reis (2000), em cada história de vida aqui relatada existe um processo de desenvolvimento e de transformação de cada sujeito em sujeito de poder, porque a educação pode e deve ter esse objetivo de transformar esse ser passivo em um ser ativo e participante; de saber que se concretiza, por meio da aprendizagem significante e significativa e, finalmente, de amor que passa a se aceitar enquanto pessoa, enquanto educando, enquanto um ser que tem capacidades e limitações e aceita o próximo também com suas singularidades.

2.11 A trajetória de vida dos educandos jovens e adultos do ProJovem de