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Violeta de Faria Pereira 1 , Cláudia Andreoli Galvão

2. A GLOBALIZAÇÃO E AS CADEIAS DE VALOR GLOBAL

Para Ascani, Crescenzi e Immarino (2012) a globalização tem contribuído para a evolução progressiva do paradigma da organização industrial da produção em massa para sistemas de produção mais flexíveis e bem sucedidos, como uma maneira de responder à pressão da concorrência crescente dos mercados internacionais. Assim, a produção estandardizada tornou-se progressivamente obsoleta em favor de um sistema especializado e mais flexível às mudanças na demanda, o que permitiu às empresas sobreviver à incerteza global. As cadeias globais têm em seu topo intensa concentração de empresas líderes, compostas por corporações líderes e fornecedores globais de alta qualificação,

formadas a partir da fusão, aquisição, join ventures e acordos tecnológicos, que exigem contrato formal de trabalho. Na base da cadeia ocorre a fragmentação através de franquias, subcontratações e parcerias caracterizadas por serem de processo bem mais flexível e informal que os empregos do topo da cadeia.

Para Gereffi (2015) nas últimas décadas, mudanças na estrutura da economia global remodelaram a produção e o comércio global e alteraram a organização de indústrias e economias nacionais em cadeias de valor global (CVGs). Como as CVGs se tornaram globais em escopo, mais bens intermediários e componentes foram exportados. Em 2009, as exportações mundiais de bens intermediários excederam os valores combinados de exportação de bens finais e de capital pela primeira vez. Gereffi (2015) relata a crescente proeminência das economias emergentes como principais atores econômicos e políticos, desempenhando papéis significativos e diversos nas CVGs, sendo que na década de 2000, os países emergentes eram simultaneamente grandes exportadores de produtos manufaturados intermediários e finais (China, Coréia do Sul e México) e produtos primários (Brasil, Rússia e África do Sul) (Gereffi, 2015:1).

Gereffi (2015:1) também relata que ocorreu o aumento do comércio entre as economias em desenvolvimento (muitas vezes referido como comércio Sul-Sul na literatura), especialmente desde a recessão econômica de 2008-09. Para Gereffi (2015) a China tem sido o ponto focal de ambas as tendências: é o maior exportador mundial de produtos manufaturados e o maior importador mundial de muitas matérias-primas, contribuindo assim para o boom de exportação de produtos primários. Esse autor mostra que à medida que as cadeias de suprimentos se tornavam globais em escopo, mais bens intermediários eram negociados além-fronteiras e mais peças e componentes importados eram integrados às exportações.

Uma análise extremamente importante efetuada por Gereffi (2015) refere-se ao período posterior a 1989, onde o colapso da União Soviética, a abertura da China ao investimento e comércio internacional e a liberalização da Índia trouxeram um número de economias muito grandes para o cenário global, conhecidas inicialmente como BRICs (Brasil, Rússia, Índia e China). Isso resultou no que Richard Freeman chamou de “a grande duplicação” da mão-de-obra global, de cerca de 1,5 bilhão de trabalhadores para 3 bilhões de trabalhadores (Freeman, 2008, Apud Gereffi, 2015: 2). A ascensão dos BRICs estimulou o processo de globalização, pois as CVGs começaram a concentrar suas operações de investimento e fornecimento em economias emergentes grandes e dinâmicas que ofereciam matérias-primas abundantes, grandes grupos de trabalhadores de baixa remuneração, fabricantes altamente capacitados e mercados domésticos em rápido crescimento.

Torna-se, assim, primordial concentrar-se nas políticas de desenvolvimento e no papel das CVG no conjunto de sete economias emergentes, China, Índia, Brasil, México, Rússia, Coréia do Sul e África do Sul. Essas economias estão todas envolvidas centralmente em tipos distintos de CVGs na agricultura, indústrias extrativas (mineração, petróleo e gás), manufatura e serviços. Juntas, essas sete economias emergentes respondiam por 45% da população mundial, 25% das exportações mundiais e 24% do produto interno bruto (PIB) em 2013, e suas taxas de crescimento do PIB se mostravam substancialmente superiores à média mundial (3,2 % versus 2,2%) (Freeman, 2008, Apud Gereffi, 2015: 3).

Zhang e Schimanski (2014) apresentam a cadeia de valor de um bem como composta por um conjunto de atividades inter-relacionadas no ciclo produtivo, desde a pesquisa e desenvolvimento, design e fabricação, até a distribuição. Zhang e Schimanski (2014) mostram que a análise da cadeia de valor, em vez do valor agregado, que está vinculado ao preço de venda deduzido o custo de matérias-primas, é o meio adequado para examinar a vantagem competitiva, e esses autores acrescentam que com a crescente utilização da terceirização e da colaboração, a conexão entre o valor das múltiplas firmas envolvidas nos processos (muitas delas situadas em diferentes países) tem sido denominada de cadeias globais de valor, já que o valor criado por uma empresa contribuirá para o valor de produtos ou serviços de outras, em diferentes partes do globo.

Para Zhang e Schimanski (2014) a cadeia de valor de uma empresa é parte de uma série de atividades globais e constitui um sistema de valores, o qual também integra cadeias de valor das outras empresas. Nas cadeias globais de valor, os bens são produzidos com insumos provenientes de diferentes países e, consequentemente, as exportações de um país dependem cada vez mais do valor acrescentado pelas indústrias fornecedoras. Além disso, em função da dispersão do processo produtivo, as exportações de um país contêm cada vez mais valor estrangeiro adicionado via importações de insumos ou produtos intermediários, como peças e componentes.

Zhang e Schimanski (2014) lembram que embora a CVG não possa ser considerada um fenômeno inteiramente novo, a sua velocidade, sua escala e sua complexidade aprofundaram a globalização econômica por meio da inclusão de mais países, inclusive os em desenvolvimento, setorialmente por afetar a produção e crescentemente os serviços e funcionalmente incluindo não só a produção e distribuição, mas também pesquisa e inovação. Zhang e Schimanski (2014:84) apresentam dados demostrando que os produtos intermediários compreendem o mais importante fluxo de comércio da atualidade: aproximadamente 40% do total comercializado (mais de US$ 7 trilhões em 2011).

Ao analisar as cadeias de valor globais de vestuário, Gereffi e Frederick (apud Zhang e Schimanski, 2014) observaram que os países em desenvolvimento se concentram nas atividades intensivas em trabalho, enquanto as economias desenvolvidas nas atividades mais valiosas dessa cadeia que são encontradas no design, no desenvolvimento da marca e marketing dos produtos.