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Pedro Franco 1 , E Marques da Costa 2 , N Marques da Costa

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os projetos referentes aos SGI, nas Eurorregiões AAA e ACE, estão distribuídos um pouco por todo os eixos do programa (como é possível observar no Quadro 1), contudo, confirma-se que, tal como foi afirmado, os SSGI se concentram no Eixo Prioritário 4, mais precisamente no âmbito de intervenção 112. Além disso, é seguro afirmar que a maioria do financiamento nestes serviços encontra-se em SSIG, com mais de dois terços do montante financiado, parceiros e projetos relativos a SGI, mas regiões EUROAAA e EUROACE. Não obstante, os projetos de SGI que envolvem um maior montante de financiamento, por projeto e por parceiro, são os ligados aos Eixos Prioritários 2 e 3 – não compondo, portanto, serviços classificados como SSGI –, estando conotados com a competitividade, no Eixo Prioritário 2, e a sustentabilidade, no Eixo Prioritário 3.

Desta forma, sabendo que os SSGI realmente se enquadram, na sua maioria, no âmbito de intervenção 112, pode afirmar- se que menos de 5 % do total do montante previsto de financiamento do programa cabe (obrigatoriamente) a SSGI.

Quadro 1: Parceiros, financiamento e projetos, de SGI, por Eixo Prioritário

Eixo Parceiros Parceiros % Montante por

parceiro Finan ciamento % Projetos Projetos % Montante projeto por 1 10 16.1 119 138.12 € 10.6 2 18.2 595 690.58 € 2 6 9.7 254 844.08 € 13.6 1 9.1 1 529 064. 50 € 3 16 25.8 203 439.40 € 28.9 2 18.2 1 627 515.23 € 4 30 48.4 176 079.34 € 46.9 6 54.5 880 396.68 € Total ACE e AAA 62 100 181 578.33 € 100 11 100 1 023 441. 47 €

Fonte: elaboração própria.

Em termos das tipologias dos serviços, isto é, das áreas temáticas a que estes correspondem, assiste-se a um claríssimo domínio da saúde, averbando quase três quartos da totalidade do financiamento aprovado, sendo também aqui que se encontram os maiores montantes de financiamento por parceiro. Ademais, é nas áreas da saúde e do mercado de trabalho que se observa o maior montante de financiamento por projeto, o que se coaduna com as necessidades evidenciadas na Avaliação Ex-Ante, nomeadamente ao nível das questões relacionadas com a problemática da demografia.

Quadro 2: Parceiros, financiamento e projetos de SSGI, por área temática, na EUROACE e EUROAAA

Área temática Financiamento Financiamento % Parceiros Montante por parceiro Projetos Montante por projeto

Saúde 5 663 290.16 € 73.26 % 28 202 260.36 € 5 1 132 658.03 €

Administração 744 163.50 € 9.63 % 5 148 832.70 € 1 744 163.50 €

Mercado de trabalho 1 032 142.50 € 13.35 % 6 172 023.75 € 1 1 032 142.50 €

Serviço social 290 942.74 € 3.76 % 3 96 980.91 € 1 290 942.74 €

Total SSIG 7 730 538.90 € 100 % 42 184 060.45 € 8 966 317.36 €

Fonte: elaboração própria.

Em termos da distribuição regional de SSGI, é possível – desde logo – observar uma forte disparidade entre Portugal e Espanha; apenas 25 % dos projetos têm o principal parceiro/líder em território português. Em termos regionais, há uma concentração dos projetos aprovados na região NUT II Extremadura, sendo a região NUT III Badajoz a única que consegue deter mais do que 1 projeto (estando estes relacionados com o tema da saúde).

Já em termos do financiamento, o mesmo padrão geral de assimetrias se verifica, ou seja, este concentra-se mais uma vez em território espanhol, sendo que menos de um quarto do montante de financiamento aprovado se encontra alocado a entidades localizadas em regiões portuguesas. Observa-se, também, que mais de 55% do financiamento aprovado está distribuído pelas regiões NUT II da Extremadura (33.08%) e da Andaluzia (23.09%), concentrando-se grande parte deste na região NUT III Badajoz (28.01%). Tal como na alocação dos projetos, também no financiamento é esta a região dominante.

Esta situação transparece as diferenças existentes de um lado e do outro da fronteira. As diferentes estruturas organizacionais dificultam a integração dos agentes de diferentes regiões (uns portugueses e outros espanhóis) num mesmo projeto, já que as competências e poderes se distribuem de diferentes formas e a escalas dissemelhantes. O que dificulta a execução do programa e acaba por perpetuar determinados problemas e disparidades regionais. Neste caso concreto, assiste-se ao domínio de determinadas regiões polarizadoras, como é exemplo a região NUT III Badajoz. Em vez de se promover a diminuição das disparidades e potenciar a coesão territorial, deu-se exatamente o contrário, observando-se uma concentração de projetos e financiamento nestas regiões que, em última instância, permitiram um maior desenvolvimento e crescimento destas quando comparadas com as restantes, cimentando o fosso já existente. Ademais, a capacidade polarizadora na economia parece adensar-se, constituindo um problema no presente, mas também futuro, já que quanto maior for esta capacidade, maior será – em situações normais – a dificuldade em contrariá- la.

Quadro 3: Número de projetos de SSGI por região do parceiro principal e área temática, na EUROACE e EUROAAA, 2014-2019

Região Mercado de trabalho Serviço social Saúde Administração Total

Algarve 1 1 AML 1 1 Andaluzia 1 1 Sevilha 1 1 Castilha-Leão 1 1 Valladolid 1 1 Extremadura 1 2 3 Badajoz 1 1 2 Cáceres 1 1 Galiza 1 1 A Corunha 1 1 Total 1 1 5 1 8

Quadro 4: Financiamento programado em projetos de SSGI, em percentagem do montante aprovado para cada área temática na região e representatividade regional no total, nas regiões EUROACE e EUROAAA

Região Emprego de qualidade Proteção à vítima Saúde Serviços públicos digitais Total Geral

Alentejo 0.00 0.00 100.00 0.00 2.07 Alto Alentejo 0.00 0.00 100.00 0.00 2.07 Algarve 0.00 0.00 100.00 0.00 4.19 AML 0.00 27.49 72.51 0.00 3.48 Andaluzia 0.00 0.00 100.00 0.00 23.09 Cádis 0.00 0.00 100.00 0.00 3.92 Sevilha 0.00 0.00 100.00 0.00 19.17 Castilha-Leão 22.12 0.00 27.72 50.16 13.39 Valladolid 22.12 0.00 27.72 50.16 13.39 Centro 0.00 0.00 65.74 34.26 8.49 Beira Baixa 0.00 0.00 100.00 0.00 3.24 Beiras e S. Estrela 0.00 0.00 24.48 75.52 3.85 Coimbra 0.00 0.00 100.00 0.00 1.40 Extremadura 5.36 8.48 86.16 0.00 33.08 Badajoz 6.33 10.02 83.65 0.00 28.01 Cáceres 0.00 0.00 100.00 0.00 5.07 Galiza 49.04 0.00 50.96 0.00 7.04 A Corunha 49.04 0.00 50.96 0.00 7.04 Norte 100.00 0.00 0.00 0.00 5.16 Alto Minho 100.00 0.00 0.00 0.00 1.99 AMP 100.00 0.00 0.00 0.00 2.02 Cávado 100.00 0.00 0.00 0.00 1.15 Total Geral 13.35 3.76 73.26 9.63 100.00

Fonte: elaboração própria.

Voltando ao ano de 2014, e pegando na SWOT apresentada na Avaliação Ex-Ante, é pertinente uma relação entre a mesma e os projetos existentes, sempre na ótica dos SSGI. Sendo esta apresentada sob a forma de um esquema (Figura 3). Então, como é possível observar neste esquema, um dos importantes pontos fortes económicos – o caso dos centros polarizadores da economia (por exemplo: Sevilha e Badajoz) – acaba por também se tornar num ponto fraco, já que polariza de forma incontornável o financiamento aprovado e contribui para um intensificar das assimetrias regionais. Porém nem tudo é negativo, houve uma aposta na utilização das TIC no acesso a serviços públicos, o que é bastante relevante em regiões com estas características territoriais (em termos da ruralidade e sistema urbano); foram aprovados projetos no sentido de melhorar as políticas de emprego, produzindo efeitos positivos na demografia (e não só); assistiu- se a um importante esforço, em termos de projetos aprovados, no sentido de responder ao grande problema que são as necessidades e a assistência a uma população cada vez mais envelhecida; mas não só, estes projetos tentam tirar partido de economias de escala, um fator preponderante na prestação de SSGI em territórios com as caraterísticas demográficas e de ocupação territorial como os da EUROACE e EUROAAA.

Aspetos apontados na SWOT Domínios dos projetos

Figura 3. Esquema síntese da análise de suficiência, aferição dos projetos sobre SGI e da SWOT afeta a estes

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O programa de cooperação transfronteiriça POCTEP possui mais-valias concretas, no sentido em que responde a determinadas questões que merecem uma cuidadosa atenção, todavia, apresenta problemas de base limitadores dos seus possíveis resultados e impactos.

Na realidade, a representatividade dos SSGI no POCTEP é bastante reduzida, ficando-se com menos de 5 % do montante total de financiamento previsto. Tendo em conta que este é um programa de CBC e, portanto, advoga a coesão territorial, o papel tão reduzido acaba por ser algo incongruente, sobretudo quando o alvo de ação maioritário do programa são low growth regions, onde este tipo de serviços – como é defendido pela teoria – constitui um importante vetor de desenvolvimento e de obtenção de equidade e coesão territorial.

Em termos dos projetos existentes e do financiamento aprovado, é perentório afirmar que estes são coerentes com a Avaliação Ex-Ante, incidindo nas necessidades elencadas, salientando-se a tentativa de responder à realidade populacional e territorial existente. Todavia, dada a pouca representatividade dos SSGI na totalidade do programa, os projetos aprovados mostram-se como sendo bastante reduzidos para a carência sentida, minimizando o impacto que estes possam ou não repercutir na população e na redução das disparidades regionais. Portanto, este projeto de CBC, claramente, não utiliza este tipo de serviços como um vetor para a mudança, negligenciando as suas forças e potencialidades como um fator para contrariar as disparidades regionais e promover a coesão territorial.

No que concerne à repartição regional, as disparidades verificadas na alocação de financiamento (e projetos) têm o condão de cimentar as assimetrias regionais já existentes. Sendo claro que a capacidade polarizadora das regiões se repercute na capacidade de captar projetos e financiamento. Mas não só, esta clara discrepância entre as regiões portuguesas e espanholas reflete um problema maior, nomeadamente, uma questão relacionada com a capacidade institucional. Desta forma, no lugar de um programa de cooperação, surge um programa de comensalismo, onde as regiões espanholas conseguem financiar os seus projetos, ou seja, conseguem promover e defender os seus interesses individuais através de financiamento compartilhado.

Agradecimentos

Pedro Franco é bolseiro de doutoramento (SFRH/BD/138999/2018) da Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT, Portugal).

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