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iolandabarros5@gmail.com, Universidade Salvador – UNIFACS, Brasil

Abstract. O Brasil se destaca no cenário mundial como um dos mais atraentes destinos para visitação, seja pela sua

diversidade cultural, histórica, gastronômica ou pela riqueza da sua biodiversidade, o país se apresenta como uma experiência única para o viajante em vários aspectos. De acordo com o documento The Travel and Tourism Competitiveness Report (2017), divulgado pelo Fórum Econômico Mundial no ano de 2018, o Brasil aparece em oitavo lugar em potencial de recursos culturais, dentro de uma lista de 136 países. Nesse sentido vale ressaltar que no cenário nacional, a cidade de Salvador se destaca em primeiro lugar no mesmo índice, conforme dados do Índice de Competitividade do Turismo Nacional (2015), divulgado pelo Ministério do turismo em 2016, assim o segmento cultural é responsável por atrair 15% dos turistas nacionais e 20% dos internacionais que visitam a Bahia. Dito isso, este trabalho tem como objetivo traçar um panorama da competitividade da cidade de Salvador, com intuito de aferir suas principais potencialidades e inabilidades, fazendo uma breve avaliação da forma como é explorada essa competência para promoção e divulgação da cidade como destino de viagem. Para alcançar o objetivo proposto, a metodologia adotada, se deu com utilização de pesquisa bibliográfica, e pesquisa documental baseada nos relatórios divulgados por instituições de credibilidade na respectiva competência, além de informações em plataformas digitais de órgãos governamentais e empresas privadas específicos do setor. Dentre os resultados encontrados, a pesquisa identificou que não há um aproveitamento efetivo da potencialidade de recursos culturais, e que em grande parte essa ineficácia se dá em função da ineficiência de campanhas de marketing adequadas na promoção do destino, e de ações de alcance global conjuntas entre as esferas governamentais e privadas, assim a divulgação do país e a difusão do destino Salvador para turismo cultural ocorre muito aquém da sua capacidade.

Keywords. Turismo cultural, panorama, Brasil, Salvador

1. INTRODUÇÃO

A importância do Turismo a nível global, vem se destacando a medida que o setor está se tornando uma força pujante para a expansão da economia em diversos países20, visto que a atividade gera para a economia mundial aumento do

consumo, produção de bens e serviços, e a criação de empregos e/ou novos postos de trabalho.

Paulatinamente, o setor ganha relevância econômica, tornando o tema da competitividade um motivo de debate desde a entrada do século XXI, discutido intensamente pelas esferas governamentais, privadas, assim como no meio acadêmico, de forma que a literatura recente sobre turismo apresenta uma série de estudos e experiências internacionais acerca da competitividade na indústria do turismo.

Nesse contexto, torna-se essencial a abordagem de alguns estudos relevantes sobre o tema, a exemplo temos os trabalhos de “Crouch e Ritchie (1999)”, que destaca a abordagem dos recursos, dentro da Teoria Baseada em Recursos21, tendo

como vantagem competitiva os recursos e competências desenvolvidos e controlados pelas empresas. Para “Barney (1991)”, as características internas da organização como principais responsáveis pelo desempenho superior em uma indústria, sendo esses recursos divididos em capital físico, humano e organizacional, podendo ainda ser tangíveis e intangíveis.

Outro estudo importante que é amplamente utilizado pelas organizações ligadas ao Turismo, é a Teoria das Capacidades Dinâmicas22, que está entre as teorias que se desenvolveu tendo como base conceitual o campo das Ciências Sociais, e

pode ser definida como a habilidade de integrar, mudar, construir e reconfigurar competências internas e externas para lidar com rápidas mudanças de ambiente, refletindo a capacidade da organização para alcançar novas e inovadoras formas de vantagem competitiva “Teece et al (1997)”.

Entretanto é devido salientar que no campo acadêmico brasileiro, de acordo com “Aragão e Oliveira (2007)” em seu artigo intitulado: “Visão Baseada em Recursos e Capacidades Dinâmicas no Contexto Brasileiro”, embora a discussão conceitual e publicações internacionais sobre a Visão Baseada em Recursos e Capacidades Dinâmicas tenham se iniciado nos anos 80, tratando respectivamente as questões referentes aos recurso e vantagens competitivas, no Brasil, somente a partir da segunda metade dos anos 90 que essas abordagens começaram a ser estudadas e veiculadas nos principais periódicos e eventos da academia brasileira.

20 De acordo com a pesquisa “Tendências e Políticas para o Turismo da OCDE em 2018” o turismo representou 11% do PIB da Espanha em 2016 e 9,2% em Portugal, número relevante para a força do setor nestes países.

21 A Teoria Baseada em Recursos, ou Resource Based View, é uma teoria que se desenvolveu a partir das ideias de Penrose (1959), Wernerfet (1984), Barney (1991), e segundo “Barney (1991)” é uma perspectiva da estratégia que explica a vantagem competitiva a partir dos recursos e competências distintivos da firma, considerando portanto, as características internas da organização como responsáveis pelo desempenho superior em uma indústria. 22 A Teoria das Capacidades Dinâmicas, é uma linha teórica baseia-se nos estudos desenvolvidos pelos autores seminais Teece, Pisano e Shuen, em 1997, com a abordagem sobre capacidades dinâmicas no cenário organizacional, desde então a teoria tem sido adotada e estudada por diversos autores que na tentativa de formular novos conceitos produzem uma miríade de definições contundentes e controversas aquela produzida pelos autores originais.

De acordo com a Organização Mundial do Turismo - OMT, em 2017, o turismo mundial superou as expectativas de crescimento, sendo caracterizado como o mais alto nos sete anos anteriores, com 1,32 bilhões de viajantes internacionais, significando um aumento de aproximadamente 7% com relação a 2016.

Segundo a pesquisa anual do World Travel & Tourism Council – WTTC, sobre o impacto econômico e a importância social do setor, que analisa 185 países de 25 regiões do mundo, pelo oitavo ano consecutivo, esse aumento esteve acima da taxa de crescimento do PIB mundial.

Nesse sentido, o Brasil não difere do panorama mundial, uma vez que o setor de turismo é um dos que mais cresce atualmente no país, de acordo com o Ministério do Turismo - MTur, em termos econômicos, o crescimento do setor chega a ultrapassar o crescimento do Produto Interno Bruto - PIB da economia, no ano de 2017, tomado como referência para essa pesquisa, o turismo foi responsável pela injeção de US$ 163 bilhões no país, o equivalente a 7,9% do PIB brasileiro, o país aparece em 117ª posição quando avaliada a contribuição do setor para o PIB no mesmo ano.

Esses números evidenciam a pujança do setor na economia brasileira, fazendo com que a atividade turística seja reconhecida como uma atividade econômica com potenciais efeitos positivos para a diversificação econômica do País, ao se destacar o setor passa a ser um tema de relevante interesse, não apenas no meio acadêmico, mas também na esfera governamental e privada.

Essa força econômica do setor, ganha destaque nas questões acerca da competitividade de destinos turísticos brasileiros, na medida que o País aparece em 1º lugar em potencial de recursos naturais, e em 8º lugar em recursos culturais na lista de 136 países avaliados pelo relatório The Travel & Tourism Competitiveness Report 2017, desenvolvido para Fórum Econômico Mundial. Entretanto, essa condição não lhe atribui uma posição de destaque no ranking geral, estando o país em 27ª lugar, pois perde competitividade em quase todos os outros 13 critérios classificatórios do estudo.

Segundo a Organização Mundial do Turismo -OMT, a cadeia produtiva do turismo é bastante complexa na medida que impacta e é impactada por 52 setores da economia, sendo portanto, uma engrenagem composta por uma sucessão de operações integradas, realizadas entre as empresas desses diferentes setores, com níveis elevados de dependência entre as partes, nesse sentido, “Teece et al (1997)” afirma que é necessário que a organização e instituições tenham no contexto competitivo dos mercados, a capacidade de trabalhar os recursos existentes nos ambientes interno e externo é uma premissa para o desenvolvimento das empresas.

Nesse contexto, o turismo pode e deve ser reconhecido pelas instituições governamentais e empresas privadas, como uma atividade capaz de promover o desenvolvimento socioeconômico de uma nação, com a criação de recursos para o incremento da competitividade e incentivo à inovação nas atividades da cadeia produtiva.

Dito isso, esse estudo, volta seu olhar para essa perspectiva, e sem o intuito de esgotar o tema, propõe uma análise do panorama do turismo no Brasil, aferindo suas principais potencialidades para alavancar o setor, tomando como enfoque principal a cidade de Salvador pelo seu destaque de turismo cultural, sendo utilizado para o estudo e desenvolvimento desta proposta os relatórios The Travel & Tourism Competitiveness Report (2017) e Relatório do Índice de Competitividade do Turismo Nacional (2015) – Destino: Salvador, assim como informações e dados do Ministério do Turismo do Brasil.

2. TURISMO – BREVE HISTÓRICO E CONCEITO

Destacam-se entre as primeiras manifestações conhecidas da atividade turística as Olimpíadas na Grécia Antiga, realizadas por volta de 776 a.C. na cidade de Olímpia, onde centenas de pessoas se deslocavam para assistir aos jogos olímpicos, posterior a isso pode-se citar a realização de festivais religiosos e místicos em algumas cidades da Europa, aos quais as pessoas confluíam para ver as artes, onde existiam vendedores de comidas e bebidas, lembranças, no século VI a.C “Barbosa (2017)”.

Assim, notadamente, desde tempos remotos o turismo demonstra um potencial de atração de indivíduos, e uma força para que se tornasse uma atividade comercial, nesse sentido recordemos o empresário inglês Thomas Cook23 que foi

pioneiro no turismo enquanto atividade comercial, uma vez que 1841 promoveu a primeira viagem organizada em grupo, quando reuniu pouco mais de 500 pessoas, em uma viagem de trem, configurando a primeira viagem agenciada da história, que poderíamos definir como a origem daquilo que hoje é conhecido como pacote turístico “Barbosa (2017)”. Dessa forma, é correto afirmar que a formalização do turismo como atividade voltada para o descanso, ócio, por motivos culturais, ou qualquer outra ação que difere do ato de labor remunerado, veio a ocorrer no século XIX após a Revolução Industrial, e se configura como força pujante da economia global.

Embora existam diversas definições de turismo, cunhadas por inúmeros estudiosos no início do século XX até a atualidade24 sobre o tema, dada complexidade do assunto, e também das várias concordâncias e contradições de

23De acordo com os estudos de “Barbosa (2017)”, Thomas Cook foi o responsável pelas mais importantes transformações do setor de viagens. Estima- se que foi o primeiro agente de viagens profissional, estabelecendo as bases da atividade turística e os seus pilares principais (transportes, hospedagem, alimentação).

24 Os primeiros trabalhos publicados acerca do turismo, datam do período entre as duas grandes guerras mundiais, 1919 – 1938, quando se destacou autores como Schwinck, Bormann, Morgenroth e Glucksmann, da Escola de Berlim. Em estudos mais atuais “Jafari (2003)” define o turismo como

conceitos formulados ao longo do tempo, é necessário esclarecer que para o pesquisador conceituar o turismo apresenta- se como primeiro desafio, à medida que existem uma serie de explicações, e citações avulsas, adotar uma conceituação deve partir de alguma escolha de critério. Em um contexto mais contemporâneo, “Beni (2006)” conceitua o turismo em uma abordagem mais lógica e sistemática ao afirmar:

“O turismo é um elaborado e complexo processo de decisão sobre o que visitar, onde, como e a que preço. Nesse processo intervêm inúmeros factores de realização pessoal e social, de natureza motivacional, econômica, cultural, ecológica e científica, que ditam a escolha dos destinos, a permanência, os meios de transportes e o alojamento, bem como o objetivo de viagem em si para fruição tanto material como subjetiva dos conteúdos de sonhos, desejos, de imaginação projetiva, de enriquecimento existencial histórico-humanístico, profissional, e de expansão de negócios. Esse consumo é feito por meio de roteiros interativos espontâneos ou dirigidos, compreendendo a compra de bens e serviços da oferta original, das atrações e dos equipamentos a ela agregados globais com produtos de qualidade” “Beni (2006: 25)”.

Assim a definição do conceito de turismo é reconhecida como condição preliminar para determinar o campo que se insere este estudo, neste sentido, entendendo que existem inúmeras definições conceituais, teóricas, regidas por distintos critérios, e por se tratar de uma pesquisa voltada sobre o panorama e competitividade do turismo no Brasil, adotamos por semelhança e reconhecimento da credibilidade de suas estatísticas turísticas, a definição do conceito de turismo atribuído pela Organização Mundial do Turismo – OMT, que define o turismo como atividade do viajante que visita uma localidade fora de seu entorno habitual, por período inferior a um ano, e com propósito principal diferente do exercício de atividade remunerada por entidades do local visitada.

Referente a origem e significado da palavra “turismo”, tem sua alcunha compartilhada por duas origens, assim a palavra “tour”, oriundo do latim “tornare” e a palavra “tornus”, se origina do grego, significando “giro” ou “círculo”. Ainda acerca das definições é necessário citar o significado da palavra no sentido popular, explanados pelo dicionário Aurélio, onde o turismo é conceituado como "Viagem ou excursão, feita por prazer, a locais que despertam interesse”.