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Violeta de Faria Pereira 1 , Cláudia Andreoli Galvão

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os IDs italianos encontraram formas de reproduzir algumas das suas forças internas e combiná-las com novos fatores, introduzindo inovação em produtos, processos e organização da produção e na comercialização, recuperando a vantagem competitiva. Vários DIs italianos mudaram a sua especialização de bens finais para bens de capital como máquinas. Muitas empresas desses DIs assumiram papéis de liderança nas CVGs, coordenando fornecedores locais e externos, reorientando sua produção e aumentando seus investimentos em marketing e marcas. Os DIs italianos responderam à incerteza de um cenário global através da diferenciação de sua produção, da reorganização de suas atividades, escapando da armadilha de baixo custo e baixo valor agregado, explorando suas conexões com as CVGs para favorecer seu desenvolvimento, dedicando recursos a atividades de pesquisa ou design e se concentrando no processo de inovação. Com as mudanças no cenário brasileiro após a abertura econômica ocorrida na década de 90, e o aumento da competição chinesa os clusters de malhas foram obrigados a buscar novas maneiras de produzir para se diferenciarem. A competitividade e a globalização do mercado têm levado as empresas a aperfeiçoarem seus sistemas de fabricação, buscando sucesso através da flexibilidade na fabricação de seus produtos, dando respostas rápidas ao mercado consumidor, buscando qualidade com menores custos, utilizando a estratégia de terceirização, buscando melhor negociação com fornecedores, fabricando lotes menores de modelo diversificados. Nesse contexto muitas empresas desses clusters sobreviveram e estão atuantes no mercado, as demais pereceram ou reduziram seus tamanhos a pequenas malharias que atendem às grandes ou vendem seus produtos diretamente no varejo. Utilizaram também a aliança de negócios com grandes magazines que orientam as malharias sobre os modelos e qualidade a serem produzidos. No cluster de malhas ocorre a representação da indústria de máquinas têxteis mundial, atuando na esfera das vendas, da manutenção, da instalação e do treinamento de mão-de-obra. A diferenciação do produto se dá na aquisição de novas máquinas com tecnologia mais avançada, que possibilitam a fabricação de produtos de maior qualidade, com mais detalhes e aumento de produtividade, criam-se, assim, produtos mais elaborados, com maior valor agregado.

O cluster de revestimentos cerâmicos, em razão da retração do mercado interno, direcionou sua produção para o exterior. A baixa taxa de câmbio incentivou a presença dos produtos chineses no Brasil, aumentando a concorrência interna e consequentemente baixando a rentabilidade. No processo de reestruturação dos clusters de cerâmica, as empresas foram

abandonando as estratégias de redução de custos e obtenção de escala de produção e incorporando inovações de produtos, de processos e organizacionais, passaram a importar de bens de produção e a utilizar a terceirização, bem como estratégias como a relocalização de fábricas para o Nordeste brasileiro.

O cluster de calçados no Brasil e particularmente o arranjo calçadista do Vale do Sinos, face às novas pressões competitivas a partir dos anos 1990, se defrontou com pressões competitivas oriundas do surgimento de novos concorrentes que se beneficiam da vantagem comparativa do preço de sua mão-de-obra, obstaculizando as exportações. A penetração de calçados chineses no mercado doméstico levou à demissão de milhares de trabalhadores, particularmente no Vale do Sinos, o que levou o setor a adotar uma estratégia de ajuste, mesclando modernização produtiva, demanda por proteção comercial e deslocamento de unidades de produção em direção ao Nordeste brasileiro em função dos incentivos fiscais, financeiros e do custo da mão-de-obra. Deslocalização esta que mostrou-se positiva, os investimentos tiveram um efeito multiplicador na competitividade da cadeia de calçados, criando melhores condições produtivas e difusão de tecnologias modernas.

O surgimento das CVGs colocou os lugares em um espaço global em um período muito curto, forçando os IDs a se adaptarem, mudarem, reinvestirem ou declinarem, assim os IDS estão renovando sua vantagem competitiva, combinando o antigo e o novo, local e o regional, nacional e o global. Em relação à inserção dos clusters às CVGs podemos indicar que a tendência observada pelos estudos revisados mostra que os DIs italianos estão cada vez mais ligados às CVGs enquanto os brasileiros se ligam às cadeias de valor nacionais, e só marginalmente se conectam às CVGs em sua forma de uma rede com governança, embora se conectem crescentemente no intercambio derivado das crescentes importações de bens de capital e via um crescimento ainda insipiente das exportações.

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