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Jéssica Tavares 1 , Gonçalo Santinha 2 , Luís Jorge Gonçalves

3. RESULTADOS 1 Entrevistas

3.3 Grupo de foco

Efetuado o protótipo da ferramenta interativa realizou-se um grupo de foco com cinco potenciais utilizadores. Aqui, é possível fazer duas observações prévias à análise dos conteúdos discutidos no grupo de foco. Em primeiro lugar,

4.1 4.2 4. 3

observou-se uma maior participação por parte dos mais jovens e com maior nível de escolaridade, o que pode significar uma maior sensibilidade da população jovem para o uso deste tipo de ferramentas interativas. Em segundo lugar, verificou-se que os participantes com menos escolaridade sentiram-se mais confortáveis para apontar os aspetos positivos da ferramenta, ao contrário dos estudantes com mais escolaridade, que apontaram com maior frequência os aspetos a melhorar. Tal situação revela a exigência que a população mais jovem e com maior formação deposita nas novas tecnologias de informação e comunicação, numa Era cada vez mais digital.

Iniciou-se o grupo de foco pela apresentação do modelo da ferramenta, seguida de algumas questões quanto à mais-valia da ferramenta, aspetos positivos e aspetos a melhorar. Relativamente às duas primeiras questões, a resposta foi unânime, todos referiram que a ferramenta é útil, intuitiva, de fácil leitura e compreensão e, acima de tudo, inovadora. A título de exemplo, um dos participantes referiu:

“Tendo em conta a nova Era tecnológica, em que toda a informação está disponível online, esta aplicação torna-se um mecanismo de aceder a informação estruturada e atualizada.”

De forma complementar, outro participante referiu:

“Num futuro cada vez mais digital, esta aplicação vai a esse encontro, ao fornecer um motor de busca que permite filtrar bastante informação de acordo com as necessidades atuais do utilizador e ao minimizar o tempo gasto em pesquisas.” Mais especificamente, um dos participantes considerou que a informação dos tempos de espera, das especialidades e da pesquisa por problema era muito útil, uma vez que “evita a deslocação para um hospital para depois ser reencaminhado para outro”. Assim, segundo outro participante, “a ferramenta indica desde logo qual o hospital que tem a especialidade mais adequada para o problema.”

Do ponto de vista dos aspetos a melhorar, houve alguns comentários e ressalvas feitas à ferramenta. Em primeiro lugar, foi realçado por um dos participantes a necessidade de ter uma ferramenta constantemente atualizada e interligada com os diferentes serviços (e.g. hospitais, centros de saúde e farmácias) para lhe ser dada a utilidade desejada. Isto é, “para dar informação real é necessário que a ferramenta seja atualizada ao instante, caso contrário as pessoas deixarão de usá- la” ─ completou um dos participantes. Em segundo lugar, foi referido por outro participante que a aplicação disponibiliza muita informação, o que origina a ocupação de muito espaço na memória do dispositivo móvel. Neste sentido, um dos participantes referiu:

“É necessário que a aplicação seja muito bem formatada para que ocupe o mínimo de espaço possível no dispositivo do utilizador, caso contrário as pessoas preferem dar prioridade a outras aplicações.”

Em terceiro lugar, no seguimento do comentário feito anteriormente, um participante pôs em causa a quantidade de dados móveis e de bateria que a aplicação iria consumir, uma vez que, “aplicações que consumam muita energia e dados móveis acabam por ser dispensadas pelos seus utilizadores”. Em quarto lugar, surge um dos aspetos que gerou mais controvérsia: o excesso de informação que a ferramenta contempla. Por um lado, dois participantes consideraram que a ferramenta está demasiado completa, tornando-a complexa, e sugerem a eliminação de alguma informação que já é contemplada por outro tipo de aplicações (e.g. a informação das farmácias de serviço, os locais de restauração e os postos de abastecimento). Outro participante referiu, ainda, que a aplicação deve focar-se apenas na sua funcionalidade principal, isto é, a pesquisa de prestadores de cuidados de saúde. Por outro lado, dois participantes demonstraram-se em desacordo com a opinião acima, chegando mesmo a referir: “Não faz sentido eu consultar três aplicações diferentes para recolher informação, quando posso recolher essa mesma informação apenas numa”. Ainda neste contexto, um dos participantes assumiu a primeira posição, ao considerar que a ferramenta tem excesso de informação, mas de um ponto de vista diferente. Na opinião deste, “se a ferramenta surge no âmbito de situações de urgência, os utilizadores vão querer aceder à informação rapidamente, no entanto, se a plataforma tiver muita informação, vai dificultar o acesso à mesma e demorar muito tempo a carregar os resultados”. Assim, o mesmo participante conclui que, de facto, “a ferramenta deverá ter menos informação para agilizar o processo para o qual se destina” ─ pesquisa por prestadores de cuidados de saúde adequados às necessidades do utilizador. Após uma longa discussão com a exposição dos diferentes pontos de vista, os participantes não chegaram a consenso, mantendo as suas posições iniciais. Por fim, o grupo de foco terminou com todos os participantes a considerarem pertinente a inclusão dos hospitais privados.

4. CONCLUSÃO

O desenvolvimento de uma ferramenta digital que dote o cidadão de informação rigorosa, atualizada e alargada relativamente aos prestadores de cuidados de saúde apresenta-se vantajosa para o processo de tomada de decisão em saúde em duas situações distintas. Em caso de urgência, permite ao cidadão uma escolha mais informada e refletida sobre qual o prestador mais adequado à sua situação clínica e/ou de mais rápido acesso. Em situações programadas, permite ao cidadão a escolha de um prestador que melhor se adeque às suas preferências e necessidades. Tais vantagens podem também ser visíveis a outros níveis, como o turismo de saúde, ao revelar, por exemplo, as regiões com uma boa rede de cuidados de saúde, o que leva ao aumento da atratividade do território e sua economia. E, ainda nesta perspetiva, pode auxiliar o cidadão na escolha do seu futuro local de residência, ao revelar a oferta de cuidados de saúde a nível nacional. De um modo geral, a proposta de ferramenta digital aqui apresentada vem colmatar a ausência de mecanismos de apoio à decisão em saúde e produzir impacto para diversos stakeholders a diferentes níveis. Para o cidadão, possibilita um

maior conhecimento da oferta de cuidados de saúde, uma escolha de prestadores mais informada e racional, e a possibilidade de pesquisa com base em vários critérios adequados à sua situação clínica e preferências; permite, também, visualizar a localização do prestador sobre cartografia de contexto e o percurso a efetuar em termos de deslocação. Ainda na perspetiva do cidadão, promove a contribuição dos próprios para uma discussão informada, e não só mediática, capaz de os colocar no centro do sistema de saúde e de, consequentemente, fomentar a eficiência e qualidade dos serviços. Para o decisor político, os dados que resultem da utilização da aplicação auxiliam na perceção das escolhas e dos fatores que influenciam as mesmas por parte dos cidadãos por um determinado prestador, o que permite posteriormente formular políticas mais informadas e adequadas aos diferentes contextos geográficos numa ótica de coesão territorial. Por fim, para as entidades privadas, permite analisar a potencial localização de um novo prestador com base na localização dos cuidados de saúde existentes e nas preferências dos cidadãos.

REFERÊNCIAS

Campos, António (2015), Saúde & Preconceito, Lisboa, Editora Livros Horizonte.

Dias, Raquel (2002), “Métricas para Avaliação de Sistemas de Informação”, Revista Eletrónica de Sistemas de Informação, Vol. 1, nº 1, pp. 1-13.

Direção-Geral da Saúde (2015), Estratégia Nacional para a Qualidade na Saúde 2015-2020, Lisboa.

Grupo de Ativistas em Tratamento (2017), Carta para a Participação Pública em Saúde, in Mais Participação Melhor Saúde, Lisboa. OPSS (2001), Conhecer os caminhos da Saúde: Relatório Primavera 2001, Observatório Português dos Sistemas de Saúde, Lisboa.