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5 ALGUMAS CONCLUSÕES E SUBSÍDIOS PARA UMA METODOLOGIA DE VIABILIZAÇÃO DO TBC O TBC, como ficou demonstrado pelo referencial teórico apresentado, é um novo paradigma do “fazer” turístico, que se

coaduna com os preceitos do desenvolvimento sustentável e endógeno. Como tal, traz novas oportunidades e desafios. Ao ser uma proposta de turismo que tem como foco a redução da pobreza e das desigualdades sociais, por meio do fortalecimento dos laços comunitários e da noção de civismo e de pertencimento, o TBC aparece como uma alternativa desejável e aplicável em regiões menos desenvolvidas. Todavia, também essa proposta de resolução, tal como o seu fato gerador, esconde um paradoxo: Como esperar que essas comunidades sejam protagonistas de seu próprio processo de desenvolvimento, se elas, na maioria das vezes, não possuem as condições necessárias para o exercício desse protagonismo?

Ao tentar responder a essa pergunta no âmbito do bairro estudado por este artigo, buscou-se identificar a existência de um produto turístico autêntico que possa ser oferecido por uma comunidade articulada e capaz de exercer o protagonismo dessa atividade, de acordo com as premissas trabalhadas para um projeto de TBC.

A herança africana aliada à riqueza natural dos remanescentes de Mata Atlântica se constitui nos principais patrimônios do bairro, ainda preservados pelos terreiros de candomblé e nas práticas musicais e manifestações artísticas.

O grande desafio encontrado na pesquisa para a implantação do TBC no bairro, diz respeito aos frágeis laços de confiança existentes entre os respondentes e algumas instituições e atores importantes na dinâmica deste tipo de processo, como as associações comunitárias e os poderes constituídos, tanto no âmbito estadual quanto municipal, dificultando a articulação comunitária.

O nível de engajamento, que mantém uma relação direta com o potencial de protagonismo dos atores locais, mostrou-se também muito fraco, uma vez que as questões locais não suscitam a atuação ativa dos respondentes. Por outro lado, existe uma grande disposição dos entrevistados para o trabalho na atividade turística associada ao patrimônio do bairro. Desejo fundamental para iniciar qualquer processo de mobilização comunitária em prol de atividades participativas como o TBC. A título de contribuição, apresenta-se a seguir a proposta de uma metodologia que está sendo idealizada para lidar com os principais desafios diagnosticados e fomentar o TBC partindo de uma ótica de empreendedorismo social. Como tal, ela prevê a constituição dos pilares fundamentais de um ecossistema propício para a atividade, envolvendo a Universidade, a iniciativa privada (sobretudo aquelas empresas instaladas nos bairros e comunidades em questão), o poder público (que nessa fase seria representado pela administração regional mais próxima) e as instituições sociais (que estimulam o desenvolvimento comunitário e são fonte de informação primária sobre as localidades). As principais fases dessa metodologia estão propostas no Quadro 2, a seguir:

Quadro 2 – Fases propostas para uma metodologia de fomento ao TBC

DESCRIÇAÕ

1ª FASE Identificação dos bairros e comunidades com potencial turístico ou com valores simbólicos invisíveis frente à população local e fora do circuito comercial de turismo;

Mapeamento das Instituições Sociais que atuam e atuariam na comunidade como principal parceira estratégica local. Parceria com a instância mais próxima da administração pública.

2ª FASE Diagnóstico dos capitais intangíveis com pesquisa direta de dados primários com os moradores locais;

3ª FASE Criação da Trilha Formativa de Fortalecimento dos Capitais Intangíveis;

4ª FASE Mapeamento dos potenciais tipos de negócios existentes ou a serem criados que façam parte da Cadeia Produtiva do Turismo de Base Comunitária;

5ª FASE Criação de uma Trilha Formativa com os empreendedores comunitários identificados para Negócios de Impacto Social;

6ª FASE Processo de Incubação para os negócios de impacto social (envolvimento das universidades que tenham incubadora); Criação dos Planos de Negócios e Planos de Impacto Social dos negócios que vão compor a cadeia produtiva do TBC;

7ª FASE Formalização de um COLAB (consiste num espaço físico que irá reunir todos os negócios que prestam serviços para o turismo, com objetivo de concentrar e tornar a comunicação mais eficiente, sendo então, uma Rede de Colaboração Comunitária e Social);

8ª FASE Aplicação de uma estratégia para envolver a cadeia produtiva externa, a priori, com a realização da Feira Trade Comunidade (FETRAC) onde os produtos e serviços seriam apresentados a cadeia produtiva externa, numa programação que envolveria fóruns, eventos, espaços de articulação e rodadas de negócios.

Comercialização piloto dos produtos considerados formatados para testar aceitação na cadeia produtiva do turismo;

9ª FASE Criação de uma política pública para o TBC que incentive e invista em outros modos de organizar fora do enclave do mercado que não reproduzam, de forma acrítica e indiscriminadamente, o modelo empresarial e que sejam pertinentes à essência e aos propósitos do TBC;

10ª FASE Monitoramento e Controle do desenvolvimento da atividade turística e protagonismo comunitário por 2 anos feito por um Núcleo de Acompanhamento vinculado ao COLAB.

Fonte: Elaboração Própria “Silva” (2019)”.

Esta proposta, apresentada aqui de maneira preliminar, pretende desenvolver o protagonismo humano e comunitário, mas precisa ser aprofundada e discutida com base em experiências reais, objetivo que será abordado em próximos artigos.

REFERENCIAS

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