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Jorge Brandão Pereira, Manuel Albino, Paula Tavares, Ana Catarina Silva, Pedro Mota Teixeira, Demétrio Matos

5. ANÁLISE DOS DADOS DO PROJETO

Qual a perceção que a nossa indústria regional tem do design? Foi questão primordial feita por às empresas objeto de estudo, de forma a iniciar um processo de reconhecimento mútuo da indústria e do ensino superior nesta região. Das 14 empresas que nos receberam para esta aferição, 5 eram do ramo da cerâmica, 5 do têxtil, e 4 da indústria vini- vitivinícola. A dimensão destas empresas abrange um espectro muito amplo. Desde pequenas empresas de produção individual, com faturações de dezenas de milhares de euros anuais, a empresas de dimensão considerável, com faturações de dezenas de milhões de euros anuais, empregando centenas de pessoas. Desta amostra, pequena mas heterogénea, conseguimos constatar que a presença do design na arquitetura das empresas é baixa: apenas 21,5 por cento destas empresas possuem um departamento de design. A média de 1,75 na avaliação através dos 4 patamares da design ladder evidencia esta fraca presença nos processos e nas decisões das empresas.

Figura 1: Presença do design na arquitetura das empresas

Se na indústria têxtil a presença do design é inevitável, e compreendida a sua importância, ainda assim, nesta pequena amostra, somente 3 das 5 empresas têxteis auscultadas possuem um departamento com este fito, devendo-se sublinhar que, em duas destas empresas, o design não é uma prática de afirmação identitária ou de criação de novos produtos para a empresa, mas, de comunicação interna, otimização de processos e recursos, e de apoio ao cliente: através da criação de novas possibilidades de servir melhor o cliente, ou dando apoio na criação e produção de peças de comunicação com o pano de fundo da identidade do cliente. Mais notória é a ausência de departamentos de design quando o têxtil deixa de ser contabilizado.

Nenhuma empresa da indústria cerâmica possui departamento de desenvolvimento de produto ou de comunicação. E as empresas ligadas ao setor dos vinhos subcontratam pontualmente os serviços de design para a criação de rótulos e para algum apoio à comunicação e promoção dos produtos, sem possuírem, na sua visão estratégica, nenhum dos vetores que ao design concernem.

Esta ausência do design como elemento preponderante na estratégia das empresas poderá ter origem na pequena dimensão das indústrias e na relação de horizontalidade na produção, principalmente no setor têxtil, mas não deixa de ser um facto expressivo a ter em conta em políticas futuras de implementação da cultura do design regionalmente. A perceção que os decisores das empresas têm do design faz realçar o papel do desenvolvimento de novos produtos, a inovação e o fator estético, referindo raramente o fator do custo do produto na intervenção dos processos de design. Ao potencial para desenvolver novos produtos, a perceção dos decisores das empresas abrangidas, acrescenta a importância do design no apoio à exportação/internacionalização e à competitividade em geral.

Figura 2: Perceção da definição de design na empresa e seus produtos

Ainda que algumas empresas se identifiquem com a posição de liderança no mercado, é notória a preocupação em melhorar práticas e observar os melhores exemplos existente. Ainda que tendo sempre em vista a inovação, o novo é assumido de forma ponderada e, na maioria das vezes, de forma reativa em relação ao mercado.

Figura 3: Perceção do potencial de capacitação pelo Design

6. CONCLUSÃO

O design, na sua relação com a indústria, a economia, o território e a cultura, enfrenta hoje complexidades que o impedem de manter-se focado somente no produto e nos meios para a sua produção. As complexidades internas ao produto envolvem o alto custo envolvido no lançamento de um novo produto e a consequente diminuição da tolerância ao erro, assim como a dificuldade de prever processos adequados para a planificação das soluções necessárias em situações totalmente novas. Por outro lado, complexidades externas ao produto envolvem a previsão de efeitos colaterais para cada novo produto, standardização internacional em termos de tecnologias e a impossibilidade de evitar incompatibilidades entre produtos.

É dentro desta proposta, de uma visão alargada sobre o design, e reconhecendo a análise que percecionamos do contacto com as empresas, que afirmamos que a participação do design na estratégia tanto mais se reconhecerá quanto o designer possa estar envolvido ou ciente da sua influência em todo o sistema.

A noção de que o designer pode contribuir para as decisões com vista ao sucesso e repercussões desse mesmo sucesso faz com o que o processo de design se torne cada vez mais participado. Posto de outra forma, na ação prática isto significará um diálogo colaborativo e sistemático com os agentes envolvidos, para as definições de problema e solução, e pela integração de designers nas empresas. Quando a ênfase está apenas na tecnologia, pensa-se em como resolver um problema; quando se pensa em significado, pensa-se em “por quê”. Por isso, o design não deve ser interpretado como uma ferramenta para criar formas agradáveis, mas deve antecipar uma necessidade e propor uma visão. A inovação não deve ser a finalidade, deve ser sim o instrumento criativo que contribui para o desenvolvimento.

O design é hoje promovido como ferramenta de eficiência e diferenciação, para criar e implantar uma cultura empresarial, integrando todas as etapas de desenvolvimento de produtos. O design reveste-se deste otimismo, que é contagiado às organizações e ao discurso coletivo. No entanto, este otimismo tem de ser configurado de acordo com as particularidades de cada empresa e cada área de negócio, tendo em vista a diferenciação de produtos, o aumento da competitividade, a otimização dos processos.

Reconhecendo ao Design o potencial de capacitação das empresas para a exportação, para o desenvolvimento de novos produtos, para impulsionar a competitividade e internacionalização e, no global, contribuir para o seu crescimento económico sustentado, torna-se então necessário concretizar e agarrar esta perceção – contratando designers, empresas prestadoras desses serviços ou, como verificamos, criando a “primeira pedra” deste percurso que é exigente, mas que retornará à empresa. O projeto Design, Empresas e Inovação da Região do Cávado, aqui apresentado, será, não o final, mas antes o ponto de partida para esta transformação do território e das suas indústrias.

REFERÊNCIAS

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01132 - TERRITÓRIO, DESIGN E SUSTENTABILIDADE NUM CONTEXTO