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A IGREJA MARXISTA INSTITUÍDA /

No documento A Natureza Mística do Marxismo (páginas 193-200)

PARTE I: MARX O HOMEM E O MÍSTICO /

Capítulo 18. A IGREJA MARXISTA INSTITUÍDA /

AI

GREJA

M

ARXISTA

I

NSTITUÍDA

Nesse tópico apresentaremos ao leitor o resultado final do marxismo; o que resultou como produto definitivo — para surpresa geral — em uma “igreja”! Depois de ocultar-se, quase um século e meio, sob uma capa de política, economia, filosofia e ciência, o marxismo revelou-se como uma “religião”, porém uma religião às avessas do Cristianismo (aí estaria a causa misteriosa por que o marxismo combateu tão frontal e especialmente o Cristianismo e seus filósofos)

Iniciamos a apresentação dos argumentos para esta tese a partir de um artigo muito estranho publicado pelo jornal O Estado de São Paulo no dia 16 de março de 1983, pág. 8. Transcrevemos o texto na íntegra para apreciação do leitor:

Os rituais “Religiosos” dos cidadãos Comunistas

(Serge Schmemann. Publicado no New York Times)

Kies, URSS — Karl Marx disse que a religião é o ópio das massas, e portanto, é o lógico que, na sua luta contra ela, os herdeiros de Marx recorram a drogas sucedâneas. A Ucrânia lidera o movimento, tendo instituído complicados “ritos socialistas” para assinalar as datas importantes da vida de um cidadão, que vão do nascimento até o casamento e a morte.Não são simples cerimônias cívicas. Em toda cadeia de “palácios de acontecimentos” existentes em Kiev e no resto da Ucrânia há oficiantes do sexo feminino, usando vestidos longos e correntes brilhantes, prontas para oficiar os novos rituais, em mesas semelhantes a altares, tendo ao lado o busto de Lênin. As cerimônias são acompanhadas de música executada em um órgão, e por um coro.Há uma “tocha perene” queimando em uma sala adjacente, na qual oficiantes acendem suas tochas cerimoniais. Uma empresa do governo, chamada SVYATO, fornece todo o material necessário. As Ministras do novo ritual insistem em afirmar que eles não tiveram origem nos rituais religiosos, e não se destinam a substituí-los.

“As cerimônias religiosas estão desaparecendo por si” — comentou Galina Menzheres, vice-prefeita de Kiev e presidente da Comissão pa a Composição e Implementação de Novos Ritos.” O povo precisa de novas cerimônias para assinalar as ocasiões importantes, e examinamos o folclore e os costumes nacionais, para determinar o que foi confirmado pela experiência. Em seguida, examinamos a vida contemporânea e escolhemos o que o povo queria.”

Transferência de Funções

A evolução dos rituais faz parte de uma tentativa soviética de transferir para o Estado algumas das funções simbólicas e cerimoniais da Igreja. Porém seus novos rituais geralmente parecem pálidas imitações e mesmo paródias das cerimônias que supostamente deveriam substituir. A cerimônia de registro do recém-nascido, por exemplo, imita muito o batismo cristão. Os padrinhos foram substituídos pelos “pais convidados”, velas e tochas são acesas são na calma da tocha perene e, em lugar da cruz de batismo, a

criança recebe a “estrela do nome” que simboliza a Grande Revolução Socialista de Outubro de 1917 — data que, de acordo com o Calendário Juliano usado na época, corresponde a 25 de outubro. Ao colocar a estrela no pescoço da criança, a oficiante dirige uma execução aos pais: “Que esta estrela ilumine o caminho do seu filho como a Estrela de Outubro ilumina o caminho do mundo inteiro.” O ponto alto do ritual é o momento em que a criança, no colo de um dos “pais convidados”, recebe o nome , a oficiante declara: “Por um ato da República Socialista da Ucrânia, o filho da família Popov, nascido no dia 1º. de março de 1983, recebe o nome da grande família dos povos soviéticos, como da URSS, são confirmados.” O nome constante do parágrafo acima e a data do nascimento são fictícios. Mas o texto foi copiado de um manual oficialmente aprovado. Na sua maioria, os oficiantes são do sexo feminino. Seu traje cerimonial de inverno é uma capa guarnecida de pele, um vestido comprido, com uma insígnia distintiva do cargo e uma grossa corrente. Na medida em que decorrem suas vidas, os cidadãos devem ir ao Palácio dos Acontecimentos Festivos, para celebrar o primeiro e o último dia de aula; o recebimento de um passaporte interno — ou documento de identidade — aos 16 anos; o primeiro emprego, simboliza o “ingresso na classe trabalhadora”, o casamento; a incorporação ao exército; as bodas de ouro, e na ocasião da morte. A cerimônia mais popular é a de casamento. Lyudmila Panomarev, assessora da prefeitura de Keiv para assuntos relacionados dos com festivais e cerimônias, afirmou que virtualmente todos os casamentos da cidade são celebrados de acordo com os novos rituais. No ano passado por ocasião do aniversário da fundação de Kiev, foi inaugurado um novo e moderno Palácio Central de Acontecimentos festivos, onde o grande número de casamentos segue a última palavra em simbolismo socialista. Recentemente, havia no palácio uma fila de casais que aguardavam a sua vez de preencher os formulários, ouvir um conselheiro e, examinar, no salão da SVYATO, os preços do aluguel de trajes de casamento, aluguel de automóveis ornamentados, etc. Também há um sucedâneo para os Dez Mandamentos, no Código Moral dos fundadores do comunismo, adotado pelo 22º Congresso do Partido Comunista em 1961. O preceito básico é esse: “O homem deve ser, para outro homem, um amigo, um camarada e um irmão.”

O Estado de São Paulo 16.03.83. Pág. 8.

Agora, vamos deter um pouco para analisar alguns pontos desse texto. Primeiro, o estabelecimento desses novos ritos e as cerimônias vêm comprovar a tese de que é impossível suprimir a mística humana.

Como comentamos anteriormente, os homens são seres espirituais transcendentais. Portanto, a sua natureza mística somente se satisfaz com atividades místicas. Nessa análise, contataremos que o estabelecimento dessa “igreja” comunista não é uma novidade, mas tão somente a substituição do Cristianismo original por um “pseudo-cristianismo”, sem os fundamentos básicos da fé cristã. Ou seja, sem Deus, sem Jesus, sem a Bíblia e sem nenhum dos pontos essenciais do Cristianismo. É o Cristianismo às avessas e descentralizado.

Segundo, o texto fala de comemorações que vão desde o nascimento à morte dos cidadãos. O Cristianismo instituiu cerimônias que vão desde o batismo às cerimônias fúnebres. Faremos agora uma analogia entre os “novos ritos” comunistas e os ritos e instituições do Cristianismo.

Instituição Marxista Instituição Cristã

Palácio Central de Comemorações Festivas Corresponde à matriz ou catedral Palácio de Comemorações Festivas

Estes correspondem às igrejas cristãs

As oficiantes do sexo feminino

Corresponde aos padres e pastores cristãos As cerimônias festivas da vida As cerimônias sagradas e os sacramentos Os trajes longos e as correntes

Corresponde aos paramentos cristãos

As mesas especiais Os altares e púlpitos religiosos

O busto de Lênin ou outros O Cristo ressuscitado e os outros santos As cerimônias ao som de coro

e órgão

A “tocha Perene” Corresponde à luz perene das velas que simboliza a vida eterna e o Santíssimo A tocha cerimonial e as

velas da oficiante

As velas especiais das missas

A cerimônia de registro de nascimento

Representa o batismo cristão

Os pais convidados Representam os padrinhos de batismo

A “Estrela do nome” colocada no pescoço das crianças

Corresponde ao crucifixo

O manual oficial para a orientação das cerimônias

Corresponde ao catecismo

Todo o palavreado das cerimônias

Corresponde ao palavreado litúrgico do Cristianismo

A insígnia distintiva presa a uma corrente usada pela oficiante

Corresponde à cruz dos ortodoxos ou católicos

A cerimônia do casamento Corresponde ao matrimônio sagrado do Cristianismo

O preceito básico do Código Moral dos Dez Mandamentos Comunistas: o homem deve ser, para outro homem, um amigo, um camarada e o irmão

Corresponde ao mandamento fundamental do Cristianismo: Amai a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a ti mesmo

Como o leitor pôde ver, trata-se de uma versão exata para substituir o Cristianismo. Todas essas observações não podem ser consideradas meras coincidências. Isto seria um cinismo defensivo. O que realmente seria interessante saber (apesar de isto parecer evidente), é se os líderes comunistas conhecem exatamente o significado místico desses atos, ou seja, se os instituem com um sentido religioso consciente, ou se são levados inconscientemente a isso. Para o pastor Wurmbrand, muitos desses atos são

conscientes. A revista comunista Nauka i Religiya (Ciência e Religião), publicou:

“A Religião é incompatível com o comunismo. Ela lhe é hostil... O

Conteúdo do programa do Partido Comunista é um golpe de morte na religião... É um programa para a criação de sociedade ateística na qual o povo se livre, para sempre, da escravidão religiosa.”

Torturado por Amor a Cristo. R. Wurmbrand, pág.97.

Seja o que for, a instituição dessa pseudo-religião, é, no mínimo, uma flagrante contradição. Deixo ao leitor a análise e a avaliação.

O “Pai Nosso” e o “Decálogo” Comunista

Continuaremos a expor outros interessantes pontos místicos existentes na teoria e na prática marxista.

“O jornal soviético Sovietskaia Moladioj, de 14.05.76, descreve como os comunistas militantes do regime czrista tumultuavam as igrejas e zombavam de Deus e da fé cristã. Para este fim, usavam uma versão própria da oração cristã “Pai Nosso”:

“Pai nosso, que estás em Petisburgo Amaldiçoado seja o teu nome, Possa o teu reino despedaçar-se Possa a tua vontade não feita, Sim, nem mesmo no inferno. Dá-nos o pão que nos roubaste, E paga nossas dívidas, assim como Pagamos as tuas até agora,

Não nos deixe cair em tentação — a política de Plevhe —,

E põe um fim neste maldito governo. Mas, como tu és fraco e pobre de espírito, Poder e autoridade,

Fora contigo por toda a eternidade. Amem.”**

O jornal O Falcão na sua edição de 06.05.84, publicou documentos que foi distribuído aos saldados americanos pelos comunistas alemães, em 1918, após o término da I Guerra Mundial. O documento chamava-se “O

Decálogo Comunista.” Trata-se de uma espécie de tábua-de-lei semelhante aos Dez Mandamentos mosaicos. Vejamos o texto:

1. Corrompa a juventude e dê-lhe liberdade sexual;

2. Infiltre e depois controle todos os veículos de comunicação de massas;

3. Divida a população em grupos antagônicos, incitando-os a discussões sobre assuntos sociais mesmo que não relacionados com a causa comunista;

4. Destrua a confiança das populações nos seus líderes;

5. Fale sempre sobre a democracia e em Estado de direito, mas assuma o poder, sem qualquer escrúpulo, tão logo se apresente a oportunidade;

6. Colabore para o esbanjamento dos dinheiros públicos; coloque em descrédito a imagem do país especialmente no exterior; provoque o pânico e o desassossego nas populações através da inflação; 7. Promova greves, mesmo ilegais, nas indústrias vitais do país; 8. Promova distúrbios e contribua para que as autoridades

constituídas não os coíbam;

9. Contribua para a derrocada dos valores morais, a honestidade e a crença nas promessas dos governantes; nossos parlamentares infiltrados nos partidos diversos, especialmente nos frágeis partidos democráticos, devem acuar os não-comunistas, obrigando-os, sob pena de expor-lhes pechas, a votar somente o que for de interesse da causa comunista;

10. Procure catalogar todos aqueles que possuem armas de fogo para que as mesmas sejam confiscadas no momento oportuno, tornando impossível qualquer resistência a nossa causa.

Sem dúvida estes “Dez Mandamentos” sintetizam a práxis marxista do mesmo modo como os Dez Mandamentos mosaicos sintetizam a práxis cristã.

A intenção desse livro é apresentar dados para fortalecer uma tese: que

a força do marxismo está em sua natureza mística ainda desconhecida. Se o

leitor encontrar sentido nos dados que apresento, muito bem. Se não, deverá encontrar em contra-argumento para cada dado que apresento aqui. De outro modo, a não aceitação é preconceituosa, pois trata-se de uma defesa sem defesa, o que configura muito mais uma reação inconsciente do que uma defesa real.

Ora, por que o marxismo apresenta essa tendência geral a copiar tudo o que o Cristianismo instituiu? Por que compor um Pai Nosso, um Decálogo, uma Igreja, Sacramento, etc? O que me intriga aqui não é bem o conteúdo das instituições marxistas, mas o porquê dessa luta para suplantar e substituir a religião por uma coisa que é, em tudo, cópia e semelhança da mesma. Não me parece um ato coerente com a posição ateísta. Se uma das metas centrais do marxismo é eliminar todos os vestígios das religiões, por que essa tendência mística, no seu comportamento, em querer e insistir na preservação de todas as instituições religiosas, despojadas de sua essência? É como preservação um objeto e sua forma externa, e substituir seu caráter interno. Por exemplo: substituir a veneração da cruz, pela veneração da estrela. Mesmo sendo marxista, o leitor compreenderá que não tenciona agredi-lo. Mas revelar-lhe um lado do marxismo que desconhece. Há da achar tudo isso, no mínimo, pouco comum e perfeitamente verossímil.

No documento A Natureza Mística do Marxismo (páginas 193-200)