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AS INFLUÊNCIAS IDEOLÓGICAS

No documento A Natureza Mística do Marxismo (páginas 52-154)

PARTE I: MARX O HOMEM E O MÍSTICO /

Capítulo 4. AS INFLUÊNCIAS IDEOLÓGICAS

A

S

I

NFLUÊNCIAS

I

DEOLÓGICAS

Prometeu

Durante sua vida Marx sofreu profundas influências das circunstâncias históricas dos personagens célebres e das ideias que orbitavam sua época. Dentre elas porém, há um personagem mitológico que desempenhou um papel decisivo no seu pensamento e caráter:Prometeu.

Conta a lenda* que as divindades primordiais (a primeira geração mítica), criaram os Titãs. Estes, através de Cronos, destronaram os seus antecessores. Posteriormente, Zeus, filho de Cronos, numa sangrenta batalha, elimina a antiga estirpe e coloca os olímpicos no poder.

Prometeu era Titã derrotado que, fingindo-se fiel, permaneceu no Olimpo servindo aos deuses, enquanto criava o homem: o ser que iria destronar os deuses olímpicos e satisfazer seu desejo de vingança.

O Homem agradou aos deuses, e a deusa da sabedoria, Atena, filha de Zeus, decide ajudar Prometeu e dá aos homens uma taça do néctar divino.agora eles têm uma alma. São homens.

Prometeu cria a consciência dos homens ensinando-lhes tudo sobre a natureza. Eles descobrem a ordem, as riquezas da Terra e também sobre si mesmos. Agora os homens podem reinar; conhecem a natureza, conhecem a si mesmos. Trovoes e pesadelos já assustam. Têm cinco sentidos. Uma consciência. Uma vontade. Uma força poderosa

Zeus, observando a raça humana percebe que ela com sua sabedoria e seu trabalho, constituem uma perigosa ameaça às divindades. Assim, entendem os deuses que os homens deveriam suplicar ajuda e sacrificar animais aos poderes celestes; caso contrário seriam destruídos. A humanidade se submete, passando a olhar para o céu com temor, sacrificando animais ao poderoso Olimpo, implorando perdão e graça, entre cantos e murmúrios. Criaram pomposos rituais, cultos e vestimentas especiais... Os deuses estão satisfeitos. (A raça humana, inteligente e trabalhadora, aprenderá também o dom da humildade).

Prometeu, entretanto, sempre nutriu um profundo ódio pelos deuses olímpicos que derrotaram os Titãs. Agora que os deuses julgavam ter conquistado o respeito dos homens mortais, surge o momento da vingança: os homens serão mais inteligentes que os deuses. E haverão de derrota-los.

Prometeu, o filho de Iápeto, havia criado os homens. Dera-lhes forma física, consciência, conhecimentos e vontade de dominar a natureza.

Havia uma única coisa que eles ainda no possuíam: o fogo. Zeus, temendo-os, proíbe que esse fogo lhes seja “conhecido.”

Prometeu, seguindo seu plano de vingança, decide entregar o fogo aos homens. Quebra um ramo seco de árvore, voa até o céu o acende no calor do Carro do Sol, acendendo a chama dos homens. Agora eles, de fato, em muito pouco diferem dos deuses.

*

Zeus percebe que os homens tornam-se poderosos. Não precisam de mais nada, além do próprio esforço. Tem fé nas próprias mãos. Na própria luta. Já não precisam invocar a proteção dos deuses.

O orgulhoso Prometeu observa suas criaturas. Elas são inteligentes, ricas e fortes. Constituem uma grande ameaça aos deuses olímpicos. Podem até mesmo impor ao mundo uma nova ordem, a Ordem Humana, sobrepujando os filhos e irmãos de Zeus.

Os deuses discutem apavorados como prevalecer sobre os homens, tornando-os submissos e humildes. Eles não devem vencer os deuses.

Zeus chama então Vulcano, e ordena-lhe que confeccione uma imagem feminina em bronze. Uma imagem que fosse semelhante aos homens, mas em alguma coisa diferente deles. Ela deveria encantar e comover, atrasando- lhes o trabalho e transtornando-lhes a alma.

Cada deus oferece alguma coisa àquela criatura, que já nasce para desconcertar a vida dos mortais. Minerva lhe oferece um vestido bordado e uma grinalda de flores para os cabelos; Mercúrio a presenteia com a língua. Apolo lhe oferece uma voz suave. Finalmente Vênus oferece-lhe a beleza infinita e os encantos que seriam fatais aos indefesos homens. A linda Pandora está pronta para a sua missão destrutiva. Por último, Zeus lhe entrega uma caixa contendo as misérias destinadas a assolarem os mortais. Dores e pestes para enfraquecer-lhes o corpo; inveja e vingança para desesperar-lhes a alma, antes pura e solidária.

Chegando à Terra, Pandora encontra Epimeteu e o encanta, oferecendo-lhe a perigosa caixa, como um presente de Zeus. Epimeteu não desconfia que todo sofrimento humano emergiria dali. E sob o encantamento de Pandora esquece o juramento feito ao irmão Prometeu, de jamais aceitar presente algum de Zeus. Agradece e abre a caixa. E delas saem todas as desgraças do mundo.

Entretanto, no fundo da caixa havia um tesouro. Um sentimento precioso que poderia reverter todo o plano cruel dos deuses: a esperança. Mas Pandora fecha a caixa imediatamente a um só gesto de Zeus. A esperança é negada para sempre aos homens. E o homem perde o paraíso que Prometeu lhe havia ofertado.

Violência, fome e peste se espalham pelo mundo. Os homens adoecem e o amor vira corrupção, agonia e brutalidade. Já não erguem o rosto com orgulho. Tudo se transformou em um inútil festim. Os deuses estão contentes agora. Os homens não tentam mais sobrepujá-los e toleram a escravidão.

Restava ainda punir Prometeu que, além de roubar o fogo divino, havia ridicularizado o grande Zeus, oferecendo-lhe ossos sem carne alguma, enquanto rejubilava-se ante a cólera dos deuses.

Zeus ordena a Vulcano que agrilhoe Prometeu no cimo do monte Cáucaso. Depois envia uma águia gigante e faminta para devorar-lhe o fígado, agora transformando em imortal. Um suplício quase esterno, onde durante o dia, a águia estraçalha o fígado, o qual volta a recompor-se à noite, para ser outra vez retalhado pela águia. Foram trinta séculos de dor. Mas Prometeu dirigiu palavras de impudência a Zeus.

Afirmava conhecer um segredo de Zeus e que somente o revelaria se fosse libertado. Trinta séculos de curiosidade e irritação fizeram com que Zeus, subornado, ordenasse a Hércules a liberação de Prometeu. O protetor dos homens será salvo pelos mais forte dos homens.

Hércules flecha a águia maldita e liberta Prometeu. Então o Titã revela o segredo: Zeus estava apaixonado por Tétis, uma nereida que estava prometida a Peleu, mas Zeus, enciumado e violento, não queria permitir que sua amada desposasse um homem.

Prometeu diz-lhe então que se ele desposasse Tétis, teria com ela um filho que mais tarde o destronaria. Para conservar o poder, Zeus amedrontado, entrega a bela nereida a Peleu.

Prometeu quer voltar ao Olimpo. Mas depois de tudo o que fizera, tornara-se mortal. Se pudesse encontrar um imortal que aceitasse trocar de fardo com ele, então poderia retornar ao Olimpo. O centauro Quirão aceita. Prometeu torna-se imortal, é readmitindo no Olimpo, de onde saíra para rebelar a humanidade contra os deuses. Volta a tomar parte das assembleias e dos banquetes. O mundo esta em paz novamente.

O Gênesis e o mito de Promete

Bem, agora vamos analisar o mito. Fiz questão de sintetizá-lo na íntrega para que o leitor possa perceber com maior clareza a semelhança com as narrativas bíblicas e ao mesmo tempo, sua notável diferença quanto à visão da divindade.

O mito de Prometeu subdivide-se em três partes:

a) a criação do ser consciente e o roubo do fogo por Prometeu,

b) a sedução dos homens pela mulher ― Pandora ― e o aparecimento das misérias humanas;

Do mesmo modo, o Gênesis subdivide-se em três partes, incrivelmente semelhantes às divisões do mito de Prometeu. Vejamos:

a) a criação do universo e do homem e roubo do fruto de Lúcifer,

b) a sedução do homem pela mulher. Eva, e o aparecimento das misérias do homem;

c) a punição de Lúcifer e sua restauração.*

Prosseguindo com nossa analogia, traçaremos um quadro comparativo dos elementos contidos em Gênesis e no mito de Prometeu, destacando suas diferentes visões da divindade.

O LIVRO DE GÊNESIS O MITO DE PROMETEU

Deus criou os anjos As divindades primordiais criaram os Titãs

Deus criou o universo e a vida As divindades primordiais criaram o Universo e a vida

Deus criou o homem e a mulher Prometeu ― o deus construtor dos homens ― junto com outras divindades deram vida à criatura humana

O arcanjo Lúcifer rouba o fruto proibido e dá ao homem

Prometeu rouba o fogo proibido e o entrega ao homem

Deus pune os homens e o arcanjo Lúcifer

Os deuses punem os homens e Prometeu

O arcanjo Lúcifer é derrotado por Deus e a paz volta ao mundo

Prometeu “derrota”* os deuses e paz volta ao mundo

*

No século III era cristã, um teólogo chamado Orígenes, defendia a teoria da Apocatástase. Ou seja, a teoria de que o Universo seria resultado ao seu estado original, inclusive os anjos. O Livro do Apocalipse fala da restauração de rodas as coisas.

* Na verdade, com sua atitude de inquietação e velada rebeldia, Prometeu, ainda que

punido, consegue por fim reafirmar-se diante dos deuses, livrar-se da condenação, resgatando a imortalidade.

Deus criou o homem com o barro da Terra

Prometeu criou o homem co argila e as próprias lágrimas

Deus inspira no rosto do homem um sopro de vida e ele se torna um ser eterno

Atena, a filha de Zeus, traz o néctar divino para os homens beberem. Eles passam a ter uma alma.

Neste sete pontos descritos, podemos perceber algumas das semelhanças básicas entre o Livro do Gênesis e o Mito de Prometeu, uma das suas marcantes diferenças: Prometeu criou os corpos físicos dos homens e derrotou os deuses! Ou seja, Prometeu ocupa lugar de Zeus (quando cria o homem) e ainda chega a derrota-lo quando o suborna e volta ao Olimpo.

Uma característica inconteste do mito de Prometeu em relação ao Gênesis, é que aquele denigre os deuses atribuindo-lhes uma natureza perversa e culpando-os por todas as misérias humanas. Enquanto este apresenta Deus como um ser de amor e bondade, que luta para trazer a paz e felicidade entre os homens. Façamos mais uma analogia a fim de se evidenciar este ponto.

VISÃO DA DIVINDADE NO LIVRO DO GÊNESIS

VISAO DA DIVINDADE NO MITO DE PROMETEU

Deus cria o Universo e oferta aos homens para a sua felicidade

Prometeu cria os homens e os “instrui” no domínio da Terra e na rebelião contra os deuses, libertando- os da escravidão

Deus cria a mulher para a felicidade humana

Os deuses criam a mulher para a desgraça humana

Os homens herdam de Deus o poder sobre o Universo

Os homens devem ― pela violência ― tomar dos deuses o poder sobre o Universo (que havia sido usurpado pelos olímpicos)

Deus, através de seus mensageiros envia paz e felicidade para a humanidade

Os deuses, através de Pandora, enviam guerra e miséria para a humanidade

Deus é origem de todo o Bem. Os homens tornaram-se maus.

Os deuses são origem de todo o Mal. Os homens são bons.

Deus deve ser amado e obedecido Os deuses devem ser odiados e desobedecidos

Deus é impoluto e incorruptível Os deuses são corruptos e impuros (envolvem-se em orgias e banquetes) Deus é o Pai do amor dos homens e o

anjo Lúcifer é um cruel escravizador

Os deuses são os escravizadores dos homens. O titã Prometeu é o amoroso protetor deles

Deus foi justo quando puniu o anjo Lúcifer e a humanidade

Os deuses foram injustos quando puniram a humanidade e o titã Prometeu

Deus é poderoso e vence o anjo mau que escraviza os homens

Prometeu é poderoso e vence os deuses maus que escravizaram os homens

Ao estudar o mito de Prometeu percebi que ele representa muito mais que uma simples história fantasiosa da mitologia grega*. Na verdade, o mito de Prometeu é uma narrativa da história do Universo e do homem, quase que exatamente paralela à história do Universo e do homem descritas no livro do Gênesis. Na Bíblia, o Livro de Gênesis é o mais importante porque contém a narrativa da origem universal, humana, e das causas da miséria do homem. Por isso, ele representa a espinha dorsal do corpo bíblico: a estrutura óssea sobre a qual os nervos e os músculos distribuem-se funcionalmente. De fato, todos os outros demais livros bíblicos não passam de histórias biográficas paralelas ao eixo central, intima e logicamente relacionada, que decorrem dos acontecimentos do Gênesis. Quanto à divisão, o Gênesis está dividido em três partes: a) história da Criação (Deus

*

Ao estudar a obra de Freud um detalhe chamou-me sobremaneira a atenção: a constância com a qual ele lançou mão da mitologia grega. Anteriormente havia observado que os mitos gregos foram também utilizados por muitos outros pensadores ateus, entre os quais, o próprio Marx. Este fato intrigou-me a tal ponto que resolvi empreender uma pesquisa mais prolongada da qual resultaram as teses parcialmente aqui apresentadas, e que poderão conduzir o estudo da mitologia a uma revisão de suas premissas e a uma nova visão da mitologia grega e, quiçá, da mitologia universal.

cria o Universo e o homem); b) a Queda do Homem (o arcanjo Lúcifer rouba o fruto proibido e dá aos homens); c) a história da Salvação ou a história da Restauração (Deus trabalha para salvar o homem). Todos os outros livros posteriores ao Gênesis, inclusive o Novo Testamento. São decorrentes; estão relacionados apenas com a terceira parte do Livro do Gênesis ― história da Restauração.

Do mesmo modo que o Gênesis, o mito de Prometeu também possui uma tripla divisão: a) história da Criação pelas divindades primordiais que criam os elementos da natureza e os titãs (Prometeu cria* o corpo físico do homem e os deuses, a alma); b) a Queda do Homem (os deuses criam e enviam a mulher para destruir a paz entre os homens). Prometeu rouba o fogo dos deuses e o entrega aos homens para que se libertem dos deuses); c) a história da Salvação ou a história da Restauração (Prometeu se sacrifica para liberta os homens, suprimindo os cultos e derrotando os deuses maus).

A mitologia grega assemelha-se de tal forma à historiografia hebraica, que possui até mesmo uma narrativa do Dilúvio Universal. Porém, mais uma vez, os deuses são cruéis e Prometeu bondoso.

Diz o mito que os homens cometiam tantos males contra os deuses que o próprio Zeus decidiu enviar um grande dilúvio e exterminá-los. Prometeu, conhecendo os planos cruéis dos deuses, correu a avisar Deucalião e sua esposa Pirra as desgraças que vieram. Ensinou-os fazer uma arca de madeira para ele, sua esposa e os mantimentos. Foram nove dias de chuvas. A arca encalha sobre o monte Parnaso; Deucalião e Pirra sobrevivem e dão origem a uma nova raça humana. Nesse mito, prometeu é o herói salvador de Deucalião e Pirra, sua esposa. Uma vez que ambos são os pais da nova humanidade, prometeu emerge como o salvador da própria raça humana. Prometeu tem decisiva participação não só no mito que envolve o seu nome, mas também em outras passagens, como no coso de Deucalião e Pirra, já citado.

*

Até mesmo os titãs foram criados pelas divindades primordiais. Prometeu é em titã derrotado pelos deuses olímpicos (algo como um anjo ou um semideus) que criou os homens para se vingar dos deuses. Note-se porém,que a alma dos homens foi dada pelos deuses, a mulher foi criada por eles, como também todos os seres na natureza; ou seja, os deuses criaram tudo (até mesmo Prometeu). Por esse prisma, a narrativa mítica de que Prometeu criou o corpo físico do homem e lhe inspirou a consciência par que se liberta-se dos deuses, poderia ser perfeitamente entendida da seguinte forma:Prometeu adquiriu domínio físico sobre os homens, ensinou-lhes a leis da natureza e lhes incutiu uma consciência rebelde e ingrata contra os deuses, transformando-os em instrumentos de sua vingança.

Este fato indica que a mitologia grega pode ser vista como uma única história ― a história da origem e da formação do povo e da cultura helênica ―, onde Prometeu, acompanhando o seu desenvolvimento, atua em diversas passagens.

Também nesse ponto, o mito de Prometeu assemelha-se à história do arcanjo Lúcifer que acompanha a atua ao longo de toda a história do desenvolvimento da esfera cultural hebraica (ou juidaico-cristã).

Concluímos, cremos ter demonstrado ― a partir do que dói exposto ― que o mito de Prometeu possui um significado oculto mais profundo que uma mera fantasia da mente perigosa dos helênicos. Se a mitologia grega de fato corresponder a um paralelo da historiografia, suas implicações na história humana tornar-se-ão muito mais amplas e profundas. Do mesmo modo, as motivações de Marx, ao se identificar com Prometeu a ponto de se auto-retratar preso a uma máquina de imprensa sendo atacado por uma águia, e defender Prometeu como o “primeiro santo e mártir do calendário filosófico”, ganham uma impressionante conotação mística*.

Estudando o mito de Prometeu para escrever este capítulo, fiquei bastante impressionado com a semelhança entre o comportamento de Prometeu e Marx.

Ao analisar a sociedade da sua época, Marx sentiu profunda revolta contra todos os homens poderosos; especialmente os religiosos. Estes, para ele, eram os mentores da injustiça que presenciava. A hipocrisia e a vida nababesca dos lideres religiosos, forneciam um quadro contrastante com a desoladora situação das massas proletárias. Marx sentiu profunda revolta e desprezo por aqueles falsos religiosos e generalizou sua revolta contra todas as religiões, todos os religiosos, contra todos sos deuses ― do mesmo modo que Prometeu, ao olhar para os homens submissos e humilhados.

Quando os deuses viram os homens se desenvolvendo, ficaram temerosos e os ameaçaram de destruição caso não se submetessem a eles e não lhes prestassem culto e serviços. Prometeu, vendo o estado humilhante dos homens, decidiu roubar o fogo dos deuses e dá-lo à humanidade para que se libertasse do julgo divino.

De modo semelhante, ao ver o estado deplorável dos proletários sob as injustiças dos capitalistas e o jugo dos falsos religiosos, Marx decidiu desafiar a Deus a libertar os proletários. Os sentimentos de Prometeu e de

*

Evidentemente, esta analogia está incompleta. Mas o foco central dessa obra não é a mitologia, mas a semelhança entre o comportamento de Prometeu e Marx.

Marx podem ser observados hoje nas palavras e nos atos comunistas militantes, que doam a própria vida em defesa dos proletários.

Quem estudar o mito de Prometeu de modo parcial não poderá deixar se sentir uma certa piedade de Prometeu e revolta contra Zeus. As razões parecem óbvias: Zeus era o Deus poderoso; prometeu, apenas um titã derrotado. Segundo: o erro de Prometeu foi amar e preocupar-se com os homens aponto de sacrificar a si mesmo para que eles pudessem viver bem e em paz. Como isso pôde ser considerado um crime contra os deuses? Terceiro: Prometeu dera aos homens algo bom de que necessitavam e que os deuses lhe negaram.

O mito de Prometeu assemelha-se de forma muito particular à história da serpente bíblica (o arcanjo Lúcifer). Aparentemente, tudo o que a serpente fez foi induzir os seres humanos a comerem do fruto que desejavam. Entretanto, isso foi a bastante par que Deus , enfurecido, a condenasse a andar se arrastando sobre o próprio ventre e a comer pó todos os dias de sua existência. Uma condenação severíssima.

Até aqui questionamos a aparecimento argumentos favoráveis a Prometeu. Os deuses, vistos desse modo unilateral, emergem como cruéis tiranos; enquanto Prometeu e os homens, como seres indefesos e bondosos castigados pela ira olímpica.

Tradição x Sucessão

Analisaremos aqui a questão quanto ao modo como a mitologia grega e a historiografia hebraica concebem a sucessão do poder.

Na tradição hebraica, os descendentes herdam dos antepassados suas riquezas e posições pacificamente. Na tradição grega, os descendentes rebelam-se e roubam suas riquezas e posições violentamente. Em outros termos: na tradição hebraica os mais velhos legam aos mais jovens tudo o que herdaram de seus antecessores, somado com o que conseguiram por seus esforços pessoais. Já na tradição grega, os mais jovens roubam dos mais velhos o que eles haviam roubado de seus antecessores.

Conta a mitologia grega que as divindades primordiais criam os titãs. Um titã chamado Cronos provoca uma rebelião e destrona as divindades primordiais. Zeus, filho de Cronos, ocasiona uma nova rebelião e destrona seus predecessores. Agora os homens, como filhos de Prometeu e dos deuses, deverão se rebelar e derrubar os olímpicos do poder. Nestes termos,

o mito de Prometeu apresenta a rebelião violenta como ordem natural de sucessão*.

Por sua vez, as escrituras hebraicas dizem que com amor e sacrifício Deus criou o Universo e o doou aos homens para que fossem felizes e, com a felicidade dos homens, Deus sentir-se-ia feliz. Dessa forma, o casal primário (ao qual a Bíblia chama de Adão e Eva), legaria aos descendentes tudo o que ganharam de Deus, somado aos frutos de seus esforços, e assim por diante. De acordo com essa tradição, os mais jovens retornariam aos mais velhos respeitosa gratidão. Portanto, a tradição hebraica apresenta a

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