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O PRINCIPIO DA INVERSÃO

No documento A Natureza Mística do Marxismo (páginas 166-172)

PARTE I: MARX O HOMEM E O MÍSTICO /

Capítulo 13. O PRINCIPIO DA INVERSÃO

OPRINCÍPIO DA INVERSÃO

Existe uma “igreja” às avessas. Uma “igreja” de adoração a um antideus*. Convém notar que a presença de um antideus acha-se citada em todas as religiões. Na religião persa, ele é chamado “Masda — o deus do mal”; no Budismo, Mara — o demônio da ilusão; no hinduísmo, Siva — o destruidor; no Cristianismo, Satanás, Diabo ou Demônio... Enfim, em todas as religiões esse é o fato intrínseco. Não me proponho a demonstrar a existência real de um antideus, mas sim levantar algumas questões curiosas. Inicialmente, lembramos-nos de que a finalidade da existência humana é a alegria. Assim sendo, toda e qualquer coisa que traga sofrimento não é uma obra livre da natureza original humana. Ora, todas as religiões se caracterizam por ensinar a renúncia e o sacrifício pessoal, estimulando os homens a orarem, jejuarem e a pedirem perdão a Deus pelas suas falhas, com lágrimas de arrependimento. Será que os homens criaram e buscariam livremente as religiões? Outro estranho fenômeno são as guerras. As guerras trazem a devastação, a miséria e um sofrimento extraordinário.Nunca uma guerra deixou atrás de si construções, prosperidade e felicidade. Em toda a história, a humanidade tem procurado se livrar das guerras sem entretanto, alcançar tal escopo.

Hoje, mais do que nunca, se observa esse esforço, o mesmo esforço precedeu a I e II Guerra Mundial. Atualmente, prestes a estourar a III Guerra (Nuclear) e, literalmente, devastar a Terra, a humanidade volta a exprimir sua natureza pacifista e suas preocupações com o futuro.

*

A Editora Três publicou um livro chamado o Livro Negro do Satanismo. Trata-se de uma espécie de “catecismo” destinado à orientação de cultos e rituais.

Por todo o mundo, líderes de Estado se reúnem para “conversações de paz” infrutíferas. Será que a guerra é uma criação humana? Ao que nos parece, as religiões e as guerras não correspondem aos desejos originais do homem. Não sendo, portanto, obras originalmente humanas. Podemos também notar esse fato por meio de uma simples análise das necessidades e dos desejos humanos originais (intrínsecos), e nas obras criadas para satisfazê-los. Os homens fogem das religiões por um lado, e buscam-nas por outro; fogem das guerras um lado, e buscam-nas por outro. Esse comportamento paradoxal do homem será estudado em outra oportunidade, aos nos atermos a considerações mais pertinentes à teologia.

O paradoxo do comportamento humano

Neste trabalho quero apenas constatar e enfatizar o fato do “paradoxo do comportamento humano.” Quem então estaria por trás das religiões e das guerras? Quem estaria movendo os homens nessas direções opostas, em uma tão grande contradição com a sua vontade natural? Se acreditamos que Deus é a origem das religiões, através das quais procura conduzir o homem para o amor, bondade, a educação e a paz, somos constrangidos a admitir, uma vez as guerras não são obra de Deus e nem do homem, um terceiro personagem responsável por elas. Esse personagem deveria ser a antítese de Deus e a finalidade da sua obra deveria ser oposta à de Deus. Se a finalidade da obra de Deus é a paz e a felicidade, a do antideus seria a guerra, miséria, a destruição e a infelicidade.

Gostaria de ressaltar que, na história humana, ocorrem certos fatos que também representam grandes contradições no comportamento e na lógica humana. O homem, em toda a história, tem buscado a verdade, a beleza e o bem. Esses são desejos essenciais do espírito humano. Paradoxalmente a esse fato, sempre que novos filósofos, religiosos ou cientistas apareceram anunciando novos aspectos da verdade e novos caminhos para o bem, a humanidade — estranhamente — os perseguiu ou os matou! Podemos citar como exemplo Sócrates, Jesus e Giordano Bruno, Nenhum grande pensador, que trouxe algo novo para a humanidade, foi aceito naturalmente. Todos foram perseguidos, presos ou mortos. De Galileu a Einstein; de Jesus a Gandhi e de Sócrates a Kant. Somente depois de suas mortes a humanidade parece reconhecer-lhes o valor, erigindo estátuas e prestando-lhes homenagens. Não é um paradoxo? Quantas vezes a humanidade já se enganou (ou foi enganada?!) em seus julgamentos e sentenças? Quantos grandes pensadores deixaram de expor suas ideias com receio da miséria que se abateria sobre eles? Os artistas também foram perseguidos ou

tiveram uma vida miserável, material e espiritualmente. A surdez de Beethoven ou a loucura Van Gogh; a neurose de Michelangelo ou a angústia de Dante. Quase todos filósofos, religiosos e cientistas enfrentaram a miséria material e viveram em angustia profunda. O existencialismo é o grito angustiante de uma das vertentes da filosofia. Como pode a humanidade que tanto ama a filosofia, a arte, a bondade e a ciência perseguir tão barbaramente os seus grandes autores? Tudo nos leva a crer que esta perseguição é involuntária. O homem, livremente, não envenenaria a água que lhe sacia a sede! Nesse caso, quem os estaria induzindo a perseguir e destruir aqueles que lhes traziam a “água do espírito?” Dentro dessa visão, Freud, que afirma odiar a religião, a filosofia e a arte, perde todo o seu brilho e se converte numa ameaça para a humanidade, se não é Deus e nem o homem quem persegue e destrói os santos e sábios que florescem sobre a Terra, quem o estará fazendo? Podemos negar esse fato histórico?

Antiverdade

Outro curioso fato nos ocorre: a existência de uma antiverdade para cada aspecto da verdade surgida até os nossos dias (digo “antiverdade” porque tais afirmações são sempre o oposto da verdade). Para todo o conjunto de filósofos idealistas, crentes na existência do ser absoluto — Deus (Platão, Aristóteles, Tomás de Aquino, Hegel, Kant, Fichte, Schelling e outros), surgiu todo um grupo de filósofos materialistas, descrentes na existência do ser absoluto (Heráclito, Demócrito, Strauss, Nietzsche, Freurbach e outros). Teístas e ateístas representam portanto, duas visões do que ambos os grupos afirmam ser a “verdade.” Evidentemente, uma é falsa. As duas não podem ser verdadeiras, visto que são opostas. Do mesmo modo, para todo um grupo de cientistas crentes, surgiu um grupo de descrentes. Uns podem ser chamados criacionistas e outros, evolucionistas (aqui entendidos como aqueles crêem que Deus criou o Universo e aqueles que afirmam que o Universo não foi criado, mas é um produto de um processo evolutivo casual). Naturalmente, não vou negar o fato incontestável da evolução. O que parece questionável aqui é a causa haja vista que ela se apresenta como um efeito. Aqueles pois, que crêem numa causa para a evolução, denomino- os criacionistas, e àqueles que não crêem , denomino-os evolucionistas. A posição da ciência atual tende à unidade entre essas duas correntes. Conviria lembrar aqui que a ciência se baseia na experimentação concreta e, uma vez que Deus é espiritual e invisível, não pode ser “objeto” da ciência materialista e experimentalista. Assim como a mente não pode ser

localizada ou mesurada pela psicologia. Para se chegar a compreende-la, estuda-se o comportamento e as obras humanas — os efeitos.

Da mesma forma, para se chegar a compreensão sobre Deus, deveríamos estudar os efeitos, ou seja, suas obras visíveis na Terra. Concluímos, portanto, que a ciência experimentalista não pode alcançar Deus diretamente, mas somente por meio das suas obras.

Paralelamente, as artes também apresentam essa dicotomia entre artistas espiritualistas e materialistas. Podemos citar a pintura realista e a surrealista ou abstracionista. Qual das duas expressões artísticas produzem melhor sentimento no coração humano? Imagine-se, por exemplo, a pintura realista de Michelangelo na capela Sistina, a pintura surrealista de Picasso ou Dali e os efeitos no espírito humano. Em qual das duas expressões artísticas o homem melhor se compraz? Ou seja, em qual delas sente-se mais naturalmente satisfeito por encontrar maior identificação com os seus protótipos e sentimentos originais? Mesmo que Picasso, sem dúvida um artista de renome, retrate de maneira supra-real a condição e as vicissitudes humanas, o “feeling” que seus quadros provocam no apreciador, realmente destoa daquele sentido através de um Michelangelo, por exemplo.

Que me desculpem os apreciadores da chamada “arte moderna”, mas na maioria das vezes, a apreciação desse estilo de arte é muito mais por modismo ou propaganda. Procura-se conhecer a arte moderna “porque é sinal de ignorância e quadradismo ignorá-la. Não que satisfaça espiritualmente, mas é questão de atualidade.” Vejam a escultura da estátua de Moisés ou a Pitá de Michelangelo, comparadas com as atuais esculturas modernistas, disformes e torpes, ou as horríveis montagens de ferro-velho em forma de figuras; na arquitetura, as belíssimas catedrais e os prédios góticos, barrocos ou coloniais, em comparação com os modernos edifícios “quadrados e econômicos”, da atualidade; na poesia, vejam-se as obras de Gonçalves Dias e Castro Alves, comparada com a chamada “poesia modernista”, na literatura, comparemos a obra de José de Alencar e Machado de Assis no romantismo, com a literatura banal ou pornográfica da atualidade.

Contracultura

Com essa análise, quis tão somente evidenciar ao leitor que somente o chamado “progresso modernista” muito mais parece um retrocesso. Modernamente é o que os comunistas chamam de contracultura (contra a cultura ocidental tal do mundo livre, é claro!).

Podemos estender essa nossa análise para a música clássica e a música moderna, bem estabilizada no heavy metal, ritmo caracterizado por ruídos estridentes e sons roucos, semelhantes a grunhidos selvagens aliados a todo um visual de desordem, sujeira e terror, envolvidos por um ambiente de fumaça, fogo e destruição. Na arte da costura e na arte das jóias, podemos também perceber essa queda extraordinária. As delicadas e trabalhosas vestimentas da “belle époque”, transformaram-se em trajes desbotados, alguns semelhantes a sacos e outros, semelhantes a pedaços de panos jogados sobre o corpo. Por um lado, podemos ver também as belas vestes sociais masculinas e femininas, com cortes impecáveis e de caimento perfeito. Por outro, a decadência na forma de vestir das novas gerações que culminam no estilo “punk.” Tal é o paradoxo desse século.

Outro incrível traço paradoxo está representado pelos vícios de toda natureza. O homem busca originalmente a alegria. Para isso, ele precisa ter saúde física. Entretanto, ainda que tenha consciência disso, o homem avança por um caminho oposto a esse resultado. O alcoolismo e o tabagismo vêm destruindo milhões de seres humanos há séculos; as drogas e a imoralidade, outros milhões; a banalidade e os jogos, outros tantos...

Enfim, todo esse comportamento auto-destrutivo é outro traço do declínio do homem para sua destruição total. Será que ele não tem consciência de seu futuro? Creio que sim; no entanto, parece não ter forças internas para deter essa queda.

Como acabamos de ver há um conjunto de ideias e atitudes que dão origem a um conjunto de efeitos paradoxais. A quem devemos atribuir a queda da cultura mundial? A Deus, ao homem ou a uma terceira personagem oculta?

Deus e antideus

A cada dia torna-se mais patente que a única explicação plausível para a atual estado humano é uma força má superior, que o está arrastando à destruição total, contra sua vontade mais íntima, utilizando uma arma sutil — a mentira e a ignorância —, aliada aos desejos mais indignos da natureza humana (não original). E aí estaria a grande força: de uma posição invisível aos olhos carnais do homem! Sem essa antítese de Deus — esse antideus —, como se poderia explicar a origem de todo esse lado oposto da história da arte. Filosofia, da religião e da ciência? Como se explicaria o comportamento paradoxal do homem toda a história em todo lugar?

Como vimos anteriormente, o marxismo, tanto no aspecto ideológico quanto no aspecto governamental, é o oposto do Cristianismo. Vimos em

detalhe que a cada ideia do marxismo corresponde uma ideia cristã. O pastor Wurmbrand nos conta em seu livro que assim como há uma igreja de Deus, há também uma “igreja de Satanás” — o antideus. O Cristianismo e o Satanismo seriam opostos, com finalidades opostas.

O que caracteriza o satanismo é o que chamamos de “Princípio da Inversão”, tudo é feito às avessas. As palavras e as cerimônias são executadas às avessas. Naturalmente, suas finalidades também são opostas. Nada da ética ou da moral cristã deverá ser respeitado. O que existe deverá ser destruído. A ordem, a higiene, a verdade, a arte, a moral, a bondade, enfim... Tudo! Tudo deverá ser invertido; posto de penas para o ar. Esse seria o ideal supremo do antideus para a humanidade. Mesmo que não queria, não posso deixar de ver aqui a sombra do marxismo e do seu ideal. Quero lembrar ao leitor que o marxismo está destruindo não apenas o mundo livre, mas também o mundo comunista. Exagero? Infelizmente não, amigo, se assim fosse seriamos mais felizes hoje. Essa é a mais nua realidade. Na obra O 18 Brumário, Marx revelou sua admiração pelas palavras de Mesfistófeles no drama Fausto; “Tudo que existe é digno de ser

destruído.” Stálin destruiu todos os velhos camaradas e até a própria

família. Lênin disse certa vez em uma carta de 1921 (Lênin. Obras em

Francês — Vol.36 pág. 572): “Todos nós merecemos ser enforcados em uma corda suja”**. Após toda uma vida de dedicação ao marxismo, foram

essas suas palavras final dos seus dias.

Esse princípio da inversão é um dos traços mais visíveis no marxismo, também no aspecto ideológico. Exemplificamos: na natureza tudo é dialético. Os aspectos contrários acham-se em luta no interior dos seres e é por isso que eles existem e se movimentam.

A esse princípio conflitante o marxismo chama “Lei da Unidade e Luta dos Contrários.” Já vimos que essa afirmação é um sofisma. Na realidade, os elementos dos quais se compõem todos seres não são contrários, e nem se acham em luta. São complementares e acham-se em ação harmoniosa no interior dos seres duais. Se o próton e o elétron estivessem em luta no interior do átomo, o que existiria? Tal princípio harmonioso é chamado, no pensamento Deusista, “Lei da Reciprocidade.” A “Lei” da Unidade e Luta dos Contrários” é uma inversão da verdade. O mesmo raciocínio aplicaremos oportunamente a uma análise exclusiva do marxismo.

No documento A Natureza Mística do Marxismo (páginas 166-172)