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! Como ocorrem os processos de improvisação e quais são as suas implicações nos processos de aprendizagem em contexto

3 Improvisação, Singularidade e Renovação – Análise dos vários processos de improvisação.

3.8 F ORMAS COMBINATÓRIAS DE IMPROVISAÇÃO COM RECURSO A MAIS DE UM MEIO DE EXPRESSÃO A RTÍSTICA

3.8.1.1 Improvisação Som/Palavra.

3.8.1.1.2 A Improvisação Texto/Som e a tecnologia

A improvisação Texto-som, desde o seu início, incorpora por vezes outras tecnologias. O artista Henri Chopin, por exemplo, muitas vezes improvisa sons de

respiração nas suas obras não semânticas, que combinam a improvisação vocal com trabalho de estúdio editado (Cf. DVD. 4, Anexos 2_Pasta1_Videos_exemplos_ vídeo 23) (Chopin, 1983, 2005). No entanto, as tecnologias de gravação e reprodução têm vindo progressivamente a permitir maior manipulação em tempo real em resultado da substituição progressiva dos meios analógicos pelos meios digitais. Estes últimos incluem a utilização de um instrumento como o sampler, sendo este um gravador digital de trechos ou registos e repetições do som que podem ser manipulados através de teclas de um teclado digital ou de um computador. Através da utilização desta tecnologia, a voz pode ser alterada radicalmente em tempo real, transformando-se em ritmo, tom e dinâmica. Isso altera não só o som, mas também as suas implicações e especificidades. Por exemplo, a voz pode tornar-se de masculina em feminina, ou pode ser manipulada até ao ponto de ser mal reconhecível como uma voz humana. Ao mesmo tempo os sons podem ser humanizados ou transformados em sons verbais, para mais uma vez, produzir uma troca semiótica entre os dois sistemas.

Esta troca permite exploração dos extremos da música e da linguagem. Na peça de rádio "Collaboration" realizada por Amanda Stewart e Warren Burt (1987), são utilizadas a improvisação e partitura composta por secções. Amanda Stewart ela própria improvisou sons que são às vezes acompanhados por sons incluídos em amostras de som da sua voz. Os sons da voz são uma mistura de sons vocais, por vezes pouco perceptíveis, como o coaxar e que sugerem uma voz entre as fronteiras da língua e da música (Zurbrugg, 1988). Muitas vezes a sensação do revestimento de significado residual de uma luta interior e ansiedade reprimida, não verbalizadas. Amanda Stewart diz sobre a sua colaboração em duas secções ao vivo voz e electrónica em que improvisaram juntos:

Neste processo, eu fiz uma improvisação vocal e Warren gravou fragmentos comprimidos criados por ele num sampler de tal forma que cada som vocal foi distribuído por três teclas do teclado... Havia um total de dezassete sons vocais organizados desta forma através de um teclado de quatro oitavas, a partir daí improvisámos com a minha voz amplificada num canal estéreo e Warren, tocando o "vocabulário" do meu som no sampler em noutro canal. Foi um processo estimulante - sons vocais abstractos colidindo num jogo musical rápido, expondo algumas das formas complexas em que sons se podem agrupar em micro sistemas. Os sons podem ser ouvidos como fonemas ou sinais transculturais não verbais ou materiais musicais. Existindo um vasto conjunto de jogos musicais, trocadilhos, onomatopeias, trocadilhos de entonação de voz (Smith, 1991).

Amanda Stewart também menciona as implicações gerais do seu trabalho:

Os sons da voz podem ser ouvidos como fonemas ou meias palavras, grunhidos expressionistas ou materiais musicais. Mas o importante é que oposições como aquelas entre linguagem/música, homem/máquina, sujeito/objecto, quebram, fazendo com que os outros sentidos se tornem mais imperativos (Zurbrugg, 1989, p. 46). Amanda Stewart tem começado recentemente a incorporar mais extensivamente a improvisação no seu trabalho, muitas vezes usando textos de pré-escrita ou listas de palavras como indutores. Ela escolhe e trabalha com palavras, fonemas ou frases de texto; combina palavras de diferentes partes de um texto; ou diverge das formas do que acrescenta ao texto, que parecem adequados ao momento da improvisação.

Elementos semânticos são justapostos com vocalizações agudas e ruídos vocais não verbais. Prevalecem por vezes usados como um auxílio à improvisação, para que a improvisação ao vivo possa ser uma resposta a uma voz pré-gravada. Ela explicita sobre sua utilização dessas abordagens o seguinte:

...é essencialmente um pedaço gerado semanticamente. Ele é composto de quatro camadas de interjeições e comentários. Compus um texto em que a palavra chave foi definida, mas o desempenho destas palavras era para ser manipulado espontaneamente pela voz (sem processamento) em "tempo real" improvisando. Eu gravei esta primeira apresentação na pista esquerda e, em seguida, gravei um segundo texto sobre a pista direita, comentando e interceptando as primeiras. As terceiras e quartas camadas eram gravações estéreo das improvisações vocais em que fazia comentários ocasionais sobre a primeira. Ao ouvir os alto-falantes esquerdos e direito, isoladamente, pode-se ouvir os dois textos, ouvindo e comentando sobre os outros as suas dimensões semânticas vão sendo encorajadas... (Wendt, 1993, p. 76).

...Os textos usam uma diversidade de referências e construções, de pronomes esquizóides operísticos como "ela ele" tiradas de palavras fracturadas, fonemas, chamadas, declarações, explosões, gaguejos, pronunciamentos, sons de boca, discursos paralelos "substantivos do concreto". para que modos de escuta sejam constantemente alternados entre campos diferentes da forma, sugestão e significado

(Wendt, 1993, p. 76).

No "Poema sem linguagem" (Smith e Dean, 1991) gravado em 1994 é usada uma mistura de tecnologias digitas e analógicas, combinando a prevalência composicional da voz com a manipulação de amostras em tempo real. Os sons musicais de instrumentos de corda e percussão são gerados como amostras e como objectos de síntese de outros sons de teclado electrónico. Estes sons foram, previamente sintetizados e tomados a partir de amostras de texto que foram editadas digitalmente. A relação entre som verbal e não verbal é explorada através de uma ampla gama de

formas, incluindo o uso de amostras invertidas, conjuntos de amostras de sons digitalmente transformados, para que as densas estruturas rítmicas sejam, por vezes, construídas a partir de palavras e partes de palavras, diferentes partes das palavras estão comprimidas ou emergem em momentos divergentes. O texto é um conjunto de multi- camadas e multi-referenciais: a obra trata de questões de raça, linguagem e conceitos da mente, mas também se refere aos mesmos conceitos na relação da linguagem com a música. Ela assume a forma de uma partitura permitindo improvisação valiosa sobre as amostras, mas com especificidade quanto ao que deve ser ou não ser utilizado (Fig.10).

Fig.10 – Hazel Smith e Roger DeanParte do poema Poet Without Language. Fonte: Hazel,

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