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A Importância da improvisação na criação compartilhada: A partilha de conhecimentos Talento, treino e trabalho em equipe.

! Como ocorrem os processos de improvisação e quais são as suas implicações nos processos de aprendizagem em contexto

3 Improvisação, Singularidade e Renovação – Análise dos vários processos de improvisação.

3.6 O UTROS A SPECTOS DA I MPROVISAÇÃO

3.6.3 A Importância da improvisação na criação compartilhada: A partilha de conhecimentos Talento, treino e trabalho em equipe.

A improvisação pode ser individual ou colectiva. A improvisação individual pode ser comparada a um solo de improviso de um dos músicos, bailarino ou artista de teatro. No entanto, quando um pequeno grupo passa a improvisar, este improviso passa a ser colectivo, havendo uma necessidade de harmonia entre os improvisadores, para que todos caminhem num mesmo sentido. Nas suas ideias criativas, as pessoas dão importância ao talento, à persistência, à habilidade, à visão e ao conhecimento,

juntamente com o treino, suporte a todos, e à improvisação. No trabalho em grupo a diversidade ajuda a promover um ambiente dinâmico (Meyer 2004).

Alguns trabalhos ou projectos podem ser demasiado grandes para que possamos dar conta deles sozinhos, ou simplesmente ser mais divertido realizá-los com amigos. Em qualquer dos casos, isso leva-nos ao produtivo e desafiador campo da colaboração. Cada colaborador traz para o trabalho um conjunto diferente de forças e resistências. Cada um deles proporciona ao outro, irritação e inspiração, pois temperamentos diferentes possuem estilos criativos diferentes. Não existe uma única ideia sobre criatividade capaz de descrevê-la no seu todo assim, como em qualquer relacionamento, quando colaboramos com outros construímos um ser maior, uma criatividade mais versátil (Nachmanovitch, 1993).

Outra vantagem importante do trabalho em colaboração é de que é muito mais fácil aprender com alguém do que sozinho. A apatia é um dos maiores obstáculos que ocorrem durante o trabalho solitário e que, praticamente, deixa de existir quando se parte para a participação colectiva num trabalho em comum. A improvisação colectiva surge como uma boa conversação, nela os membros reúnem-se em volta de uma estrutura mínima (como já referimos acima) e exercitam-se na arte de ouvir os outros e a si mesmos, como trabalho mútuo de intervenções em tempo real.

Segundo Weick e Westley (2004), este processo de troca mútua, ocorre pela transferência da aprendizagem dos indivíduos para o colectivo, podendo ser posteriormente institucionalizada em forma de sistemas, estruturas, estratégias e procedimentos. Estes dois sentidos da aprendizagem, segundo estes autores, atravessam a aprendizagem individual, colectiva e organizacional segundo quatro estágios que abrangem o processo de improvisação. Estes estágios dinâmicos, sociais e psicológicos da estrutura do trabalho de improvisação colectiva são (Weick e Westley 2004):

a) A Intuição

A intuição envolve a percepção de semelhanças e diferenças, padrões e possibilidades; como por exemplo: um músico quando improvisa em conjunto, enquanto aguarda o seu momento de improvisar, improvisa as suas notas com base nas notas anteriormente tocadas, na intuição de possibilidades de passagens

para outros temas e frases musicais, intuindo as notas que o companheiro irá tocar;

b) A Interpretação

Enquanto a intuição relaciona-se, predominantemente, com os processos de pensamento inconsciente, a interpretação aproxima-se da captação e organização destes elementos de forma consciente;

c) A Integração

A integração acontece quando as informações que já passaram pelas fases de intuição e de interpretação são socializadas para um grupo. Esta integração pode ocorrer por meio de conversas, artefactos ou exercícios práticos.

d) A Institucionalização

A institucionalização existe quando o processo de legitimação de actividades, comportamentos e conhecimentos passam a fazer parte das rotinas e da memória do grupo.

Então, como funcionariam estas fases no processo de improvisação? Nachmanovitch (1993, p. 91) diz-nos sobre isso:

Toco com um parceiro; ouvimos um ao outro, espelhamos um ao outro, estamos conectados com aquilo que ouvimos. Ele não sabe para onde estou indo, eu não sei para onde ele está indo, e no entanto prevemos e que o outro vai fazer, sentimos, conduzimos e seguimos um ao outro. Não há uma estrutura preestabelecida, mas, depois de cinco segundos tocando juntos, passa a existir uma estrutura, porque demos inicio a alguma coisa. Um abre a mente do outro como uma série congénita de caixas chinesas. Uma misteriosa comunicação que flui de um para o outro com major rapidez do que qualquer sinal que pudéssemos passar através do olhar ou do som. A música não nasce de um ou de outro, embora nossas idiossincrasias e nossos estilos, os sintomas de nossa natureza original, continuem exercendo a sua influência. A música também não nasce de um compromisso entre nós ou de um meio-termo (a média é sempre uma coisa tediosa!), mas de um terceiro elemento, que não é necessariamente igual ao que um ou outro de nós faria individualmente. O que brota é uma revelação para nós dois. Um terceiro estilo, totalmente novo, nos supera. É como se nos tivéssemos tornado num organismo grupal que tem uma natureza própria e um peculiar modo de ser, um elemento único e imprevisível, que é a personalidade ou o cérebro grupal. Afirmamos anteriormente que a fala quotidiana é um exemplo de improvisação. Mais do que isso, é uma improvisação compartilhada. Conhecemos alguém e juntos criamos uma linguagem...

À medida que a improvisação varia, combina e recombina um conjunto de elementos, os membros passam a perceber a coerência e os caminhos da improvisação, conferindo-lhe assim um significado. Dessa maneira, projectam nela o que estão realizando colectivamente. É nesses momentos que surge a aprendizagem do grupo, pois passam a ser momentos a serem lembrados como experiências significativas.

“A beleza de tocar junto com alguém é a possibilidade de encontrar a unidade. É surpreendente a frequência com que dois músicos de formação e escolas diferentes se encontram e, antes de trocar duas palavras, começam a improvisar, revelando uma totalidade, uma estrutura e uma perfeita comunicação” (Nachmanovitch, 1993 p. 92). Assim, a acção coordenada vai-se tornando fluída, não determinando esforço, e a linguagem que daí vai surgindo torna-se criadora em vez de descrever. Sendo assim, conhecimento antigo a ser olhado como novo, numa mistura de descoberta e nostalgia.

Por outro lado, a livre colaboração entre músicos é apenas uma das muitas possibilidades de intercâmbio estético. A colaboração intermédia enriquece igualmente a vida de poetas, artistas plásticos, bailarinos, actores, cineastas e muitos outros artistas. As combinações e permutas possíveis são infinitas e a evolução das novas tecnologias têm vindo a tornar cada vez mais exequível o velho sonho da arte multimédia. Vivemos numa época em que os multiformes mundos da música e da arte estão começando a encontrar-se, a misturar-se e a criar espécies artísticas inteiramente novas. Uma ponte encontra-se lançada entre estes diversos tipos de arte: entre o oriental e ocidental, entre o popular e o clássico, entre a improvisação e a composição rigidamente estruturada; o vídeo junta-se ao sintetizador digital, que se junta ao monocórdio de Pitágoras, que se junta à dança - teatro. Culturas inteiras encontram-se expressando-se juntas, colaborando umas com as outras, fertilizando entre si (Nachmanovitch 1993).

O fazer artístico compartilhado é, em e por si mesmo, a expressão, o veículo e a força motriz dos relacionamentos humanos. Na expressão conjunta, os participantes constroem uma sociedade à parte e própria.

Proporcionando um relacionamento directo entre as pessoas, sem qualquer outro intermediário a não ser a imaginação de cada um, a improvisação em grupo actua como um catalisador de amizades fortes e especiais, entendendo-se assim a pertinência do

recurso a processos de improvisação na formação artística e na produção de relacionamentos inter-artísticos em grupos de alunos ou na formação profissional nas artes performativas.

C

APÍTULO

4

Liberdade, acaso e ironia – análise dos processos de improvisação e suas possibilidades combinatórias interdisciplinares e multidisciplinares.

3.7 I

NTRODUÇÃO

Neste capítulo aborda-se diversas formas improvisação combinatórias entre duas expressões artísticas ou média diferentes analisando usos interessantes dessas combinações ou experiências significativas entre artistas, recorrendo por vezes, também, a breves referências históricas ou descrições dos processos utilizados e resultados deles surgidos.

Serão assim abordadas as seguintes formas combinatórias de improvisação: o som e a palavra; o som e o movimento corporal; o som e as expressões artísticas visuais; a palavra e a expressão visual.

Procura-se neste capítulo abordar a experiência da improvisação conjunta de dois meios de expressão diferentes de forma colaborativa, analisando o trabalho de alguns artistas contemporâneos e técnicas por eles utilizadas e fazendo por fim alusão a exemplos recolhidos ao longo da observação directa do trabalho do grupo de teatro “Cena Múltipla”. A análise da importância dessas experiências combinatórias na construção de um discurso performativo mais abrangente, será tratada no capítulo posterior que se debruçará sobre algumas formas combinatórias de improvisação mais complexas como, por exemplo, o teatro.

Sendo o teatro uma forma combinatória complexa com recurso a diversas expressões artísticas aonde o trabalho multidisciplinar é predominante e parte integrante da obra final, o trabalho preparativo que leva a criação da obra é por vezes constituído por experiencias combinatórias mais reduzidas daí o interesse em analisar de forma separada essas diversas possibilidades de interacção de meios de expressão no trabalho prévio de construção da obra.

3.8 F

ORMAS COMBINATÓRIAS DE IMPROVISAÇÃO

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COM RECURSO A MAIS DE UM

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