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! Como ocorrem os processos de improvisação e quais são as suas implicações nos processos de aprendizagem em contexto

4 A improvisação colectiva numa relação interdisciplinar.

4.7 I MPROVISAÇÃO E I NTERACÇÃO COM O PÚBLICO

Os grupos de teatro que utilizam a improvisação, quer seja aplicada ou pura, muitas vezes têm incentivado a participação da audiência durante as suas apresentações. O “Living Theatre” geralmente concebia um script rudimentar das suas produções durante os ensaios deixando, no entanto, muitas vezes uma latitude considerável para o público interferir e mudar a microestrutura se não a macro estrutura do desempenho. Apesar da lentidão das suas prestações, o “Living Theatre” possuía uma notável habilidade em envolver a plateia e os comentários da audiência em interpolação com o evento da peça, mantendo-se ainda um aberto na direcção geral do jogo. O seu trabalho “Paradise Now”, na versão escrita, aparece representado através de uma estrutura "vertical aberta a soluções imprevisíveis permitindo um conjunto de hipóteses no sentido de revolução permanente" e funde ideias e ensinamento da Kabbalah, do I Ching e outras fontes elaborandas num documentado do texto publicado mais tarde (Malina e Beck, 1971), (ver Fig. 22).

Na sua representação de "Paradise Now" em Berlim, em 1970 (Rochlin, 1970) os atores misturam-se com o público recorrendo a comentários concebidos para provocar propositadamente o público, tais como:

Não posso viajar sem passaporte, não sei como parar as guerras, você está vivo, se você não tem dinheiro, não posso fumar maconha.

Nessa proposta o actor mantinha a sua frase mas ouvindo as respostas dos espectadores controlando a resposta do público enquanto é apresentada a passagem subsequente, conforme o documentado na versão impressa apresentada na fig.25.

Por vezes a resposta por parte do público a esses tipos de pistas dos atores surgia bastante detalhada, uma das vezes, por exemplo: um membro da plateia invadiu um discurso aquecido, acusando o grupo de ingenuidade política (Rochlin, 1970). Noutra Interjeição eles foram rotulados de "The Dead Theatre" (Brown, 1968), (Cf. DVD. 4,

Anexos 2_Pasta1_Videos_exemplos_vídeo 42). Às vezes como em "Paradise Now" o público respondeu ao convite por tirar sua roupa e/ou entrar em contacto com os atores de forma física. Durante o mesmo vídeo da performance, Julian Beck pode ser visto discutindo com um actor sobre como lidar com uma intervenção de um espectador, que está demorando muito e como integrar o incidente em estrutura de desempenho.

Participação da audiência neste tipo iniciativa criada pelo “Living Theatre”, foi pensada para agitar a plateia de sua passividade e complacência e para confrontá-los com o inesperado sendo, em alguns casos mesmo, para quebrar tabus sociais.

! Fig.22 – Partitura para teatro da peça do grupo “Living Teatre” “Paradise New”. Fonte em

http://www.ateatro.org/

Ainda na direcção da interacção com o público com fins políticos, é exemplo também, o grupo de teatro do oprimido criado por Augusto Boal. Boal foi o director artístico do teatro de Arena em São Paulo no Brasil entre 1964 e 1971. Ele queria

encontrar a "poética dos oprimidos", para o qual ele propôs um "teatro Fórum" em que os espectadores pudessem desafiar os papéis dos atores e pudessem mudar o curso da acção (Norden, 1991). Boal rejeitou o "teatro pobre" de Grotowski, que ele via como sendo elitista e baseada na ideia do actor sagrado. Em 1978 Boal mudou-se para a França onde dirigiu por mais de uma década a “Paris-based Centre du Théatre de l'Opprimée”. Os atores empregados pelo teatro eram, muitos deles, activistas anti- racismo, feministas, ecologistas ou politicamente comprometidos com outros grupos. Na Europa, Boal encontrou, segundo ele, maior dificuldade na aceitação desses conceitos do que experimentara no Brasil, tendo que lutar de forma mais subtil sobre esses tipos de opressão, a que ele chamou de "consciência politica". Ele retornou intermitentemente a luta política na década de 1980 quando regressou ao Brasil, onde recomeçou a sua participação social e política. Boal utiliza a improvisação como forma de ajudar as pessoas a sair de sua opressão; por exemplo, ele incentiva as pessoas a improvisar comportamentos diferentes em diferentes situações e em seguida, pede-lhes para mudar esses comportamentos em resposta a uma sugestão do espectador, (Cf. DVD. 4, Anexos 2_Pasta1_Videos_exemplos_ vídeo 43).

Esse objectivo é do fazer com que o sujeito sinta que alguns rituais de nossa vida diária impõem-nos máscaras de comportamento que não queremos ter, mas às vezes é possível mudar essa máscara e quebrar o ritual. (Norden, 1991).

Em termos da observação prática realizada, a questão da interacção com o público é por vezes utilizada pelo grupo “Cena Múltipla” embora a utilização observada fosse esporádica e limitada à apresentação da peça em pequenos espaços ou em ensaios públicos.

No caso observado, o grupo na sua apresentação da peça em ensaio geral aberto apresentou alguns trechos da peça abertos a participação do público. Estes ensaios gerais são dinamizados alguns meses antes da estreia da peça e servem como divulgação do evento e de aproximação ao público. De um modo geral estes ensaios gerais são feitos num espaço relativamente pequeno, situado na casa da juventude de Almada e embora sejam abertos ao público em geral tem sido frequentados com mais assiduidade pelos familiares e amigos dos actores e algum público mais regular que o grupo tem mantido ao longo da sua existência.

Como exemplo apresenta-se a filmagem de um pequeno momento em que o público é levado a participar num momento da peça que depois é adaptado à peça final de forma diferente e que pode ser visualizado no conjunto de imagens dedicado aos ensaios gerais finais da primeira peça apresentada, (Cf. DVD. 1, Apendice1_grupo Cena Múltipla_Videos_exemplos_ exemplos improvisação_vídeo 2).

CAPÍTULO 6

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