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M IKE L EIGH E A IMPROVISAÇÃO APLICADA EM CINEMA E TEATRO REALISTA : A IMPROVISAÇÃO COMO UM MEIO DE CONSTRUÇÃO DE PERSONAGEM.

! Como ocorrem os processos de improvisação e quais são as suas implicações nos processos de aprendizagem em contexto

4 A improvisação colectiva numa relação interdisciplinar.

4.5 M IKE L EIGH E A IMPROVISAÇÃO APLICADA EM CINEMA E TEATRO REALISTA : A IMPROVISAÇÃO COMO UM MEIO DE CONSTRUÇÃO DE PERSONAGEM.

O dramaturgo britânico Mike Leigh desde 1965 que tem escrito um grande número de peças (e scripts para Televisão e Cinema) aonde aplica a improvisação colectiva e individual na preparação dos actores durante os ensaios. Este seu trabalho encontra-se bem documentado por Clements (Clements, 1983). Numa entrevista com Leigh (Leigh, 1994), este explica que existe algum perigo de "codificação" deste seu processo, sublinhando que o mesmo não deve ser visto como um "método" para ser reproduzido, ou para ser ensinado ou seguido, (Cf. DVD. 4, Anexos 2_Pasta1_Videos_exemplos_ vídeo 36).

A dramaturgia e o cinema de Leigh acentua a participação dos atores, permitindo- lhes parcialmente criar próprias tarefas do seu personagem. Mas isto é mantido dentro de limites controlados: o personagem interpretado tém que manter a sua representação realista. Os atores podem dar sugestões de possíveis personagens podendo explorar e dar a Leigh uma lista de características do seu personagens. e desejo de Leigh é de que cada personagem possa ser baseado em alguém que o actor que o interpreta já conheça. A personagem que o actor irá criar será sorteada de entre um ambiente específico de colocação, social, educacional, económico ou cultural (Clements, 1983 p. 22).

Leigh tem-se preocupado primordialmente em estudar para a criação de suas obras explorando ambientes da classe trabalhadora, lidando com situações ligadas aos problemas das classes trabalhadoras, embora a sua obra fosse sendo gradualmente adaptada às mudanças sociais e ambientais dos anos 80 e 90. Ele faz parte dos criadores socialmente empenhados do teatro e cinema britânicos, que inclui o trabalho de Edward Bond, Howard Brenton, Ken Loach entre outros.

Apesar da liberdade que Leigh dá aos atores, essas preocupações sociais predominam sempre no discurso deste autor tendo isso algum grau influência na sua escolha dos atores. Apesar de alguns dos seus atores, por vezes, desenvolverem personagens, para os seus papeis, que têm origens muito diferentes os temas escolhidos por Leigh, (Leigh, 1999), são predominantemente ligados às preocupações da classe trabalhadora.

A fase de decidir sobre um personagem é considerada por Leigh como um estágio de pré - ensaio, em seguida, após um período de ampla discussão sobre eventos reais na vida do personagem que vão sendo explorados através da improvisação. Os atores também se envolvem na investigação, que explora a cultura e os ambientes físicos e sociais dos personagens. A um determinado momento do processo, Leigh escolhe as personagens entre as sugeridas pelos atores; por vezes a sua escolha é guiada pelas possibilidades de interacção que essa personagem possa ter. Leigh pode então reunir as improvisações de carácter divergente, e é frequente no seu trabalho com os actores que Leigh peça a estes para discutir uns com os outros os personagens, procurando não se acomodarem uns aos outros.

De seguida, os atores começam a improvisar juntos os seus personagens. Toda a acção baseia-se sobre as motivações dos personagens, e no início desta fase, os atores não devem saber as motivações dos personagens do outro. A pesquisa continua ainda e às vezes os intervenientes num determinado ensaio podem acoplar a sua pesquisa a outro trabalho. Durante as filmagens de "High Hopes", uma cena no cemitério de Highgate (casa de Karl Marx) surgiu como resultado de decisão dos atores em visitá-la (Cf. DVD. 4, Anexos 2_Pasta1_Videos_exemplos_vídeo 37).

Após a fase de pré-ensaio, Leigh elabora um cenário mais complicado, aonde a estrutura e os detalhes são ainda mais desenvolvidos através da improvisação. Leigh também utiliza exercícios mais abstractos, tais como a exploração de uma situação, utilizando as apenas mãos ou partes do corpo, para desapossar os atores de perspectiva normal do personagem lembrando-os que estão criando uma ficção (Clements, 1983).

Nos trabalhos de Leigh, a improvisação é usada como uma forma de gerar ideias ampliando a sua abrangência sendo que esta prática, certamente, desafia o conceito de trabalho criativo como uma percepção individual. Por outro lado o trabalho dele também não é totalmente colaborativo, uma vez que nas fases iniciais Leigh entrevista os atores sozinhos e não permite que eles interajam uns com os outros. Ele mantém igualmente a decisão final sobre qual material vai entrar em jogo. Assim, é mantida uma hierarquia, mas a sua abordagem oferece ao actor um objectivo muito maior do que a maioria das encenações mais tradicionais.

Os resultados desses métodos são peças pequenas e notáveis pela sua superfície detalhada e de desenvolvimento relativamente lento, no qual os maneirismos repetitivos, a fraseologia e a escala das acções dos personagens, muitas vezes actuam como uma chave para as tensões entre eles. Os maneirismos são usados como forma de articulação quando o personagem tem habilidades verbais limitadas, como no caso de da sua obra “Trevor” e repetida em ”Kiss of Death” (Beijo da morte) (Leigh, 1977). Neles os eventos e a acção são, muitas vezes mínimos, mas por vezes há um imprevisto no meio de sentimentos reprimidos como por exemplo, o comportamento descontrolado e grotesco de Beverley, que acompanha a morte de Laurence na peça “Abigail's Party” (Leigh, 1977; Leigh, 1979) ou explosão emocional do personagem Keith por um seu colega campista ter acendido uma chama em "Nuts in May", (Leigh, 1976), (Cf. DVD. 4, Anexos 2_Pasta1_Videos_exemplos_vídeo 38). Embora as cenas sejam "realistas" elas encontram-se, muitas vezes em desacordo com as normas do teatro realista.

A apresentação do trabalho deste artista nesta pesquisa prende-se com o facto de que os processos de improvisação por ele desenvolvidos são, em muito, semelhantes aos observados ao logo desta investigação durante a observação prática do grupo, “Cena

Múltipla” (descritos detalhadamente no capítulo 6) quer no que consta do processo de criação de personagens como no da construção de guiões das peças de teatro.

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