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4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS

4.1 A INDÚSTRIA DA CARNE

Segundo a Associação Brasileira das Indústrias de Alimentação - ABIA (2016), a indústria da alimentação, composta por produtos alimentares e bebidas teve um faturamento líquido em 2015 no Brasil, de R$ 562,0 bilhões, representando 9,5% do PIB. O setor de carnes foi o 1º dessa relação, com R$ 129,1 bilhões (23% do total) e laticínios e bebidas lácteas ficou em 4º, com R$ 58,9 bilhões (10%), juntos representam um terço do total do setor de alimentação (ABIA, 2016).

Produto Produção Exportação

Bovino 1o lugar 2o lugar

Soja 2o lugar 1o lugar

Frango 3o lugar 1o lugar

Milho 3o lugar 2o lugar

Suíno 4o lugar 4o lugar

Fonte: Schlesinger, 2016 p. 18

Os dados demonstram a importância econômica da indústria da carne no país (sem considerar os demais produtos de origem animal), o Brasil, com a produção de 17% da carne bovina do mundo, é o segundo maior produtor mundial, com a previsão para se tornar o primeiro até 2020. Em 2014, o Brasil vendeu carne bovina in natura para 151 países e industrializada para 103 nações. Essa produção direta deve fechar uma cifra em torno de R$ 93 bilhões esse ano, e superar os R$ 380 bilhões em toda a cadeia produtiva da bovinocultura (BEEFPOINT, 2015).

Um dos grandes influenciadores desses números foi o governo Brasileiro. Em 2008, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) lançou a política das “campeãs nacionais”, e virou investidor direto e articulador de fusões e aquisições de empresas agroexportadoras. A ideia do BNDES foi eleger empresas exportadoras brasileiras e transformá-las em grandes multinacionais. Estas empresas receberam grande volume de recursos: empréstimos com juros subsidiados, injeções em seu capital, com a aquisição pelo banco de parte de suas ações. A concentração de capitais do setor de carne e derivados foi um dos resultados, já que os grandes frigoríficos brasileiros se encontram dentre os beneficiários dessa política, tendo absorvido dois terços dos recursos destinados pelo BNDES a estes “campeões”, destacando-se a JBS-Friboi, a Marfrig e a Brasil Foods (BRF) (HEINRICH BOLL FOUNDATION, 2016). A Marfrig foi comprada depois pela JBS. As duas empresas, em 2015, só no Mercado de “frango” abateram quase 50% dos animais e exportaram 70% do total das vendas brasileiras (CAMPOS, 2016)

A produção industrial da carne e dos seus subsídios como a soja há tempo deixou de ser um problema exclusivo dos países industrializados. Ela tem aumentado muito na América Latina nos últimos 20 anos. Na verdade, América Latina é a região de maior expansão do agronegócio no mundo. Os sucessos no combate à pobreza aumentam a demanda pela carne. O maior processador global de carne hoje em dia também é uma empresa brasileira, a JBS/Friboi, e isto corresponde à política de desenvolvimento do governo. Por meio de sua estratégia dos ‘campeões nacionais’, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) concedeu créditos e investimentos diretos no valor de mais de R$ 12 bilhões à JBS e atualmente

detém 24,6% das suas ações. Na produção e exportação de carne bovina, frango, soja e milho o Brasil está ou em primeiro lugar ou entre os primeiros três, no mundo. (BARTELT, 2016 p. 8-9).

Um outro instrumento importante de incentivo ao agronegócio é o apoio à infraestrutura. O Programa de Investimentos em Logística (PIL) de 2015, por exemplo, prevê quase R$ 200 bilhões em investimentos, entre portos, ferrovias, e em muitos casos, vinculados à exportação de commodities e para transportar grãos (SCHLESINGER, 2016).

A partir da política dos “campeões nacionais”, a JBS tornou-se a maior empresa de proteína animal do mundo (HEINRICH BOLL FOUNDATION, 2016). A JBS é detentora das marcas Friboi, Seara e Swift, entre outras. A JBS é a segunda maior empresa de alimentos do mundo (JBS, 2015). A companhia opera no processamento de carnes e outros produtos com ingredientes de origem animal, como: couro, higiene e limpeza, colágeno, entre outros. A JBS teve um faturamento estimado em 2015 de R$ 150 bilhões, e atualmente possui mais de 300 unidades de produção no mundo contando com mais de 230 mil empregados e com capacidade para processar 100 mil bovinos por dia, mais de 14 milhões de aves por dia, 100 mil suínos por dia e 100 mil peças de couro por dia (JBS, 2015) A JBS está entre as dez principais empresas internacionais de alimentos e bebidas, com vendas de US$ 38,7 bilhões em 2012 e com faturamentos anuais que superam os de grandes atores da indústria alimentícia mundial, como Unilever, Cargill e Danone. (HEINRICH BOLL FOUNDATION, 2016)

A compra de frigoríficos em outros países foi uma maneira de abrir as portas de mercados estratégicos que, foram fechados em razão de frequentes focos de febre aftosa e outras doenças no Brasil. Com unidades de negócios como as dos Estados Unidos e da Austrália, a JBS resolve esse problema, obtendo acesso aos 50% do mercado mundial que permanecem fechados para o Brasil (HEINRICH BOLL FOUNDATION, 2016).

A BRF é detentora das marcas Sadia e Perdigão. É líder global em exportação de proteína animal. Tem 105 mil funcionários em 35 unidades industriais no Brasil, 19 fábricas no exterior (BRF, 2016a). A BRF teve uma receita líquida em 2015 de mais de R$ 32 bilhões sendo aproximadamente metade da receita no país e a outra no exterior. O lucro bruto foi superior a 10 bilhões. Entre os membros do Conselho de Administração encontra-se Luiz Fernando Furlan, o seu presidente é o empresário Abílio Diniz (BRF, 2015). Furlan foi presidente do Conselho da Sadia, e durante o período em que ficou afastado da organização foi Ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, no governo de Lula. A BRF é uma das maiores exportadoras mundiais de aves e destaca-se entre as maiores empresas globais de alimentos em valor de mercado, respondendo por mais de 9% das exportações mundiais de proteína animal. Seus principais acionistas são fundos de pensão de duas

empresas estatais: a Fundação Petrobras de Seguridade Social (12,49%) e a Caixa de Previdência dos Funcionários do Branco do Brasil (10,94%) (HEINRICH BOLL FOUNDATION, 2016). A JBS e BRF, detentoras das marcas, respectivamente, Friboi e Seara, Sadia e Perdigão são as empresas pesquisadas na indústria da carne nesse trabalho.

A indústria da carne é altamente concentrada em virtude da competição global. Nos Estados Unidos, apenas quatro corporações – Tyson, Cargill, JBS e National Beef – controlam a produção de carne. Em trinta anos, estas empresas aumentaram o controle da produção de gado de 36% para 85%, e de porco de 34% para 65%. No caso das aves, o processo é similar. Globalmente, nos anos 2011, 2012 e 2013, a JBS liderou o mercado de processamento de carne, seguida da Tyson Foods e da Cargill. De 2011 a 2012, a Brasil Foods (BRF) pulou do 9º para o 4º lugar, mantendo essa posição em 2013. Campeã do setor em todo o planeta, a JBS sozinha produz globalmente mais carne do que as dez empresas posicionadas do 11º ao 20º lugar juntas. As dez maiores empresas têm o controle quase total do mercado (SHARMA, 2016).

No Brasil, os dados de 2012 (hoje a concentração deve estar maior) demonstram que o mercado de frango tem os três maiores abatedores respondendo por mais de 2/3 do mercado nacional. Uma empresa sozinha – a BRF – domina grande parte do mercado. No mercado dos suínos, os quatro maiores abatedores, abatem 50% da produção brasileira, dado que também deve ter sido aprofundado por ser de 2007, estando provavelmente em torno de 80%. Na área da carne de boi, os 10 maiores frigoríficos, cinco empresas, respondem por cerca de 30% do abate no Brasil, sendo este também um número antigo (MINEIRO, 2016)

O consumo de carne está relacionado também com o poder aquisitivo a população, por isso ele é maior nos países industrializados, mas tem ocorrido um expressivo aumento do consumo nos países que formam o bloco Brics (Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul). O segmento em maior crescimento é a avicultura (SHARMA, 2016; HEINRICH BOLL FOUNDATION, 2016)

Em termos da extensão territorial dessa cadeia produtiva, em 2015, ocupava 200 milhões de hectares do território nacional pela criação de gado, ou seja, há um boi por hectare. 32 milhões de hectares foram destinados à soja, 15,7 milhões ao milho e 8,4 à cana. Feijão, arroz e trigo, que compõem a base da dieta brasileira, ocupam menos de 8 milhões de hectares (SCHLESINGER, 2016).

Por esses e outros motivos esse setor vem sendo considerado:

insustentável e destruidora dos recursos relacionados à terra e à água, que são finitos e estão diminuindo. Altos níveis de poluição da terra, da água e

do ar ocorrem onde o estrume é produzido e os fertilizantes são utilizados. Para produzir cada kilo de carne são necessários 15 mil litros de água. Além disso, a indústria da carne ameaça a segurança alimentar, pois coloca em oposição comida e ração, aumenta a grilagem de terras e viola direitos humanos. As pastagens florestas e os cerrados, onde grande parte da expansão da indústria ocorre, são transformados em terras de cultivo e pastos. E quem vive nessas terras? Geralmente, são povos marginalizados. Esses impactos estão aumentando em decorrência do aumento do consumo, das exportações e da porcentagem de terra sendo desmatada para o pasto. (SHARMA, 2016 p. 16).

A seguir apresento mais informações sobre a outra indústria pesquisada, a do leite.