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3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

3.3 A ÉTICA ANIMAL E SUA INFLUÊNCIA SOBRE AS ORGANIZAÇÕES

3.3.2 O dark side das organizações no trato com os animais

3.3.2.5 Porcos de abate e porcas reprodutoras

Os porcos são animais muito inteligentes, sensíveis e que tem muita empatia com o ser humano. São afetuosos e sociáveis e podem ser brincalhões e carinhosos como os cachorros, têm preferência e personalidade (JOY, 2014; CARVALHO, 2015). Com apenas 3 semanas os porquinhos aprendem o próprio nome e respondem quando chamados (JOY, 2014). Ao contrário do que se credita a eles, são bastante higiênicos, fazendo questão de ter áreas diferentes para descanso das que urina e defeca (CARVALHO, 2015).

Em ambientes naturais, os porcos caminham até 50 quilômetros por dia. Podem formar laços de intimidade uns com os outros, distinguem diferentes indivíduos e vão procurar aqueles com que tem intimidade. As mães grávidas são extremamente conscientes, podem percorrer quilômetros para procurar o local perfeito para construir um abrigo para os filhos (JOY, 2014).

Apesar disso, muitas vezes esses animais são tratados com negligência e crueldade, sujeitos ao crescimento acelerado, procedimentos mutilatórios dolorosos - como o corte de cauda, dos dentes e castração sem anestésicos - e grande quantidade de antibióticos diariamente para evitar o desenvolvimento de doenças causadas pela baixa imunidade devido ao confinamento intensivo (REGAN, 2006; CARVALHO, 2015). As caudas são cortadas com alicates rombudos, que só cortam de um lado para ajudar a reduzir o sangramento. Eles são realizados porque sob extrema tensão e quando todos os impulsos naturais forem frustrados, os porcos desenvolvem comportamentos neuróticos (Síndrome do Estresse Suíno) e podem arrancar com mordidas as caudas uns dos outros e as suas próprias (JOY, 2014). A autora explica que:

Como humanos que passaram por confinamento solitário e outras torturas em cativeiro, os porcos têm se entregado à automutilação e têm sido vistos repetindo sem parar, às vezes milhares de vezes por dia, os mesmos comportamentos absurdos; os animais são literalmente levados à insanidade (JOY, 2014 p. 44)

As porcas reprodutoras são, talvez, as que mais sofrem. Elas ficam mantidas durante a maior parte do tempo em celas metálicas individuais conhecidas como baias de gestação (que foram proibidas na União Europeia e alguns outros lugares do mundo, em virtude da situação desumana), pouco maiores do que seu corpo - 61 cm, e vivem cerca de 5 anos sem conseguir

se virar de lado, sofrendo com doenças decorrentes do confinamento, em especial infecções urinárias devido a sentar em seus dejetos. Essas porcas, em ciclos de 5 a 6 meses recebem inseminação artificial e sucessivas gestações. Após anos de exploração e confinamento, esgotadas, as porcas são encaminhadas para matadouros, de onde são transformadas em carne de segunda qualidade ou ração para pets (REGAN, 2006; JOY, 2014; CARVALHO, 2015).

Os leitões nascidos em confinamento têm permissão de mamar apenas duas ou três semanas após o parto e fazem isso através das barras da cela. Se eles conseguirem passar pelas barras para satisfazer sua necessidade instintiva de calor e intimidade com a mãe, eles podem ser acidentalmente esmagados por ela. Após o desmame, durante os seis meses seguintes que o separam do abate, os porcos são apinhados nas pocilgas ou galpões, que frequentemente estão sujos, cheios de gases nocivos originados dos seus excrementos. Devido a isso o ar fica espesso, cheio de poeira e agentes alérgicos, os porcos e humanos que trabalham lá, sofrem de doenças respiratórias crônicas e muitos porcos morrem prematuramente de enfermidades do pulmão (JOY, 2014), estima-se que mais de 70% tenha pneumonia ao serem abatidos (REGAN, 2006).

A maioria dos porcos passam suas vidas em pé ou dormindo em superfícies de tela de arame (quando nascem) e sobre barras de metal ou de concreto com espaços vazios entre elas. Nunca são tratados os comuns casos de ferimentos nos pés e nas pernas, escoriações e contusões na pele. Diarreia, cólera e triquíase são comuns. Os porquinhos que não crescem rápido o suficiente são mortos por meio de pancadas na cabeça contra o chão de concreto. (REGAN, 2006).

Em seu livro Regan (2006) narra os relatos de Matthew Scully, o redator dos discursos do ex-presidente norte americano George W. Bush, em uma visita a uma granja que garante um tratamento humanitário aos porcos e tem uma das melhores instalações para criação de seu país. Ele escreve:

Feridas, tumores, úlceras, bolsas de pus, lesões, cistos, contusões, orelhas rasgadas, pernas inchadas em todo lugar. Rugidos, gemidos, mordidas nos rabos, brigas e outros vícios, como se diz nas indústrias. Mordedura frenética das barras e correntes; estereotípica mastigação do nada ("vácuo"); cavação estereotípica da terra à procura de raízes; construções de ninhos com palha imaginária. E "frustração social" de montão: a cada terceira ou quarta baia, algum ser completamente destruído que você só sabe que está vivo porque pisca, porque olha fixo para você... criaturas fora do alcance da ajuda por piedade ou de pior miséria por indiferença. Mortas para o mundo, exceto enquanto amontoados de carne (REGAN, 2006 p. 112-113).

No momento do abate “humanitário” os porcos são conduzidos a um estreito compartimento onde o "atordoador" lhes dá um choque elétrico, que supõe, os deixar inconscientes. Após essa etapa, eles tem suas pernas traseiras levantadas por correntes e fica

de cabeça para baixo e são colocados na esteira rolante onde encontram os lanceiros, cuja tarefa é cortar-lhes a garganta. Depois de sangrarem até a morte, eles são submersos em água escaldante, em seguida depilados e tiradas suas vísceras. Na teoria, os porcos vão passar por todo esse processo sem recobrarem a consciência ou mortos, mas na prática, não é isso o que acontece, conforme descobriu Gail Eisnitz, na sua investigação secreta sobre a indústria do abate nos Estados Unidos, é comum os porcos entrarem no tanque de escaldagem totalmente conscientes (REGAN, 2006).

Diante da realidade vivida por esses animais de “consumo” é crescente a legislação no Brasil e no mundo que trata sobre o Bem-Estar Animal. Na próxima seção apresento esse conceito entre outras discussões.

3.3.3 Bem-estar animal, abate humanitário e a legislação