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Em seus primórdios, a pequena agricultura campesina no Sul do país sempre se caracterizou por ser um sistema de produção mista, e o deslocamento de uma área colonial para outra surgiu como estratégia de superação das limitações impostas por uma forma de ocupação territorial incapaz de absorver as crescentes levas de imigrantes e seus descendentes (Roche, 1969).

De certo modo, a busca de novas terras e a manutenção do sistema de produção mista se configuraram numa espécie de corolário da experiência colonizadora dos imigrantes europeus no Brasil meridional, que somente a atração exercida pela lucratividade aparente do binômio trigo/soja mudaria.

Tais mudanças impuseram certa distinção entre os níveis de integração ante o processo modernizador, uma vez que a condição de pequeno produtor familiar ou camponês não implicava necessariamente uma totalidade homogênea e desintegrada do mercado; ao contrário, sua integração existe e é diferenciada do produtor capitalista no modo como este se relaciona com a terra. Essa relação em última análise, determina em termos ideológicos a percepção que ambos os grupos de produtores, os capitalistas e os pequenos produtores, têm de si, como já observamos. O primeiro grupo concebendo a terra e a produção agrícola basicamente em termos de lucro, e o segundo como base de sua segurança e reprodução social (Jensen, 1991).

A gênese dessa diferenciação está na própria formação das colônias de povoamento e na expansão das frentes pioneiras, na maior parte das vezes organizadas por companhias privadas de colonização. É nesse período pioneiro que uma espécie de simbiose entre comerciantes e colonos ocorre, passando os primeiros a exercer a condição de elo entre os colonos e o mundo exterior. Tal relação propiciou aos comerciantes locais, cuja origem era também camponesa, significativos lucros, obtidos com essa intermediação.

A intermediação consistia no fornecimento de produtos manufaturados aos colonos a preços elevados, e na compra da sua produção agrícola a preços baixos, revendendo posteriormente essa produção nos mercados regionais (Roche, 1969).

Muito desse capital comercial foi direcionado para investimentos imobiliários e outras atividades comerciais urbanas, em alguns casos específicos, transmutando-se em capital industrial e financeiro.

Muitos comerciantes, melhor sucedidos que seus antigos companheiros colonos, migraram também para as novas fronteiras que se abriram no oeste catarinense e no sudoeste do Paraná, influindo na decisão desses colonos na adoção de determinadas culturas agrícolas mais lucrativas e disponibilizando meios específicos para sua implementação, como créditos consignados, condições para o escoamento e comercialização.

Em linhas gerais, a emergência da agricultura capitalista se deu pelas mãos do capital comercial e deste com os investidores agroindustriais urbanos.

Repousando sobre a produção agrícola dos pequenos produtores (colonos), a acumulação comercial se fez perpassando as atividades dos comerciantes nas encruzilhadas das colônias sulinas (vendeiros), os negócios dos atacadistas citadinos e os interesses dos empresários ligados à importação e exportação de produtos manufaturados. Essa acumulação primária propiciou também a diversificação dos investimentos, direcionados para as áreas de transportes, bancos, companhias de seguros etc.

Em certa medida, a diferenciação socioeconômica que se estabeleceu nas colônias sulinas desde seus primórdios pode ser sintetizada no que diz Rückert:

São os capitalistas comerciantes a fração de classe que passa a controlar a economia nas chamadas zonas coloniais. São eles, principalmente, que podem diversificar a aplicação de seus capitais, instalando pequenas indústrias rurais, a um nível artesanal no seu início e a um nível de manufatura depois.

Assim é possível compreender a diversidade de

empreendimentos da chamada indústria rural ou natural, tais como serrarias, fábricas de madeiras aplainadas, usinas hidrelétricas, alambiques de cachaça, moinhos de trigo, milho e cereais diversos, moinhos ou atafonas de farinha de mandioca, ervateiras, etc.

Os moinhos de trigo, largamente difundidos nas zonas coloniais, inicialmente construídos por alguns camponeses que manejam técnicas moageiras, são um dos pontos de partida da acumulação de capitais nas colônias. Os proprietários de moinhos, tornando-se comerciantes, sujeitando o trabalho dos colonos que vivem isolados, podem acumular e instalar unidades moageiras de trigo em cidades como Passo Fundo, por exemplo, mesmo ao lado de grandes capitais multinacionais(Rückert, 2003, p. 43-44).

Tal diferenciação, em sua gênese, foi condicionada em grau variável pelo nível de acumulação, tanto do comércio como da pequena indústria local, que, por sua vez,

contribuiu para a emergência dos capitalistas na agricultura, sob a forma do capitalista arrendatário e do camponês enriquecido.

O avanço da triticultura no planalto rio-grandense, estimulado em grande medida pela política creditícia do segundo governo Vargas, impulsionou o processo de transformações estruturais que vinham ocorrendo no campo, conformando na extinção dos grandes latifúndios, não através de uma reforma agrária, mas pela apropriação das terras de campo pelos capitalistas arrendatários, que gradativamente metamorfosearam- se em proprietários fundiários (Pebayle, 1974).

Como decorrência da expansão da cultura da soja, o surgimento das cooperativas de produtores veio consolidar de modo irreversível o processo de modernização na agricultura, estabelecendo com isso novos parâmetros à produção e comercialização das safras.

Para a pequena agricultura familiar, o surgimento das cooperativas acabou interferindo não apenas no modo de produzir, mas também no arranjo das estruturas familiares, pois a intensificação do uso de máquinas e insumos alterou tanto o tempo dedicado à lavoura quanto a divisão sexual do trabalho. Todavia, seus efeitos mais contundentes se deram pela dissolução dos antigos laços de solidariedade existentes entre os camponeses, principalmente naquilo que se convencionou chamar de sistema de mutirão e de troca de serviços não-remunerados e também pelo gradativo abandono das práticas mistas de produção agrícola. Além do mais, a modernização organizada através das estruturas cooperativas acabou impondo níveis de seletividade entre os agricultores, diferenciando os mais aptos e adaptados às exigências do mercado daqueles menos suscetíveis às mudanças.

Nas regiões de fronteira, distantes dos grandes centros urbanos, a criação das cooperativas foi o meio mais efetivo de integrar-se ao mercado, possibilitando a superação de inúmeros problemas logísticos, tais como o de armazenamento, a comercialização e o escoamento da produção, além do acesso às novas tecnologias e à assistência técnica. Por outro lado, a atração exercida pela perspectiva de maiores lucros acabou esgotando a disponibilidade de novas áreas para o cultivo, elevando rapidamente os preços das terras.

Tal situação acabou acirrando os níveis de concentração fundiária nessas localidades, restringindo as oportunidades para os agricultores menores e pouco capitalizados ampliarem sua área de produção.

O estudo comparativo de Jensen (1991) focaliza duas comunidades representativas de áreas de produção de soja, uma localizada na antiga área de colonização alemã no Rio Grande do Sul, município de Cruzeiro do Sul, e a outra localizada no sudoeste do Paraná, colonizada por alemães e seus descendentes no início dos anos 1950, o município de Marechal Cândido Rondon. São um exemplo bastante interessante, do ponto de vista antropológico e dos microestudos, de como a introdução da cultura da soja e seu pacote modernizador afetaram de modo dessemelhante duas comunidades de origem camponesa com o mesmo perfil sociocultural.

Essas comunidades, por sua própria formação, tinham maior eqüidade em termos de distribuição de terras, comparadas com a média no Brasil meridional, e praticamente não estavam circundadas por grandes latifundiários quando a cultura da soja começou a ser introduzida nas duas regiões.

Quando a produção de soja começou a se expandir, no final da década de 1960, o sistema de produção mista ainda era predominante em Marechal Cândido Rondon; entretanto, a difundida prática da suinocultura nessa região e a emergência dos processos de mecanização na lavoura acabaram se tornando muito favoráveis à expansão da produção de grãos e soja. Já a crescente dependência do mercado levou alguns camponeses dessa localidade a organizar uma cooperativa com o fito de equacionar esse problema, pouco antes de os preços da soja terem subido drasticamente, o que tornou esse arranjo cooperativo, num curto espaço de tempo, um empreendimento altamente lucrativo.

Ávida em promover essa lucrativa cultura, a cooperativa de Marechal Cândido Rondon passou a oferecer condições muito favoráveis ao engajamento dos camponeses na produção de soja, através de vários dispositivos, tais como o incentivo à mecanização, o uso de sementes melhoradas, o uso de fertilizantes e de pesticidas, além do acesso à assistência técnica e aos programas nacionais de crédito rural.

De certo modo, a atitude dessa cooperativa desafiava o princípio da produção mista, que até então vinha sendo mantida. Como até no início dos anos 1970 muitos camponeses ainda dispunham de terras não utilizadas, a soja não constituía uma séria ameaça às outras culturas; no entanto, com os preços continuamente favoráveis dessa leguminosa no mercado internacional, a maioria dos produtores não puderam resistir à sedução da oportunidade de lucros rápidos, tornando dessa feita o binômio trigo e soja predominante na região (Jensen, 1991, p. 115).

No seu inverso, a ausência de uma cooperativa em Cruzeiro do Sul deixou os pequenos agricultores sem nenhuma agência ou órgão que promovesse a produção especializada, orientada para o mercado. A inexistência de uma cooperativa, organizada nos moldes da de Marechal Cândido Rondon, foi, para alguns autores, como Peixoto (1979) e mesmo Jensen (1991), uma das razões pelas quais a agricultura mista continuou sendo praticada no município de Cruzeiro do Sul. Outros motivos, segundo esses autores, foram a baixa demanda por terras agricultáveis, dadas as limitações financeiras dos camponeses para adquirir terras adicionais, e também o fato de as poucas terras disponíveis apresentarem baixos níveis de fertilidade, em razão de décadas de uso intensivo e inapropriado. Como sabemos, sem terra suficiente, a produção mecanizada da soja raramente se torna lucrativa, daí o apego dos agricultores dessa região às tradicionais culturas mistas.

Outra substancial diferença entre essas comunidades se deve à sua localização. Marechal, por estar no interland do sudoeste do Paraná, contava com somente uma importante indústria de processamento de alimentos, baseada nas matérias-primas locais, e seu distanciamento dos grandes centros urbanos encarecia os custos com transporte, tornando praticamente impossível atrair novas indústrias para a região. Por esse motivo, as autoridades locais enfatizaram o papel das indústrias de processamento alimentar, as quais requeriam forte integração ao mercado da produção agrícola. Em contraste, no município de Cruzeiro, as autoridades locais haviam sido bem-sucedidas na atração de diferentes indústrias, as quais eram favorecidas pela abundante oferta de mão-de-obra barata e também pelas excelentes facilidades de transporte, dada a sua proximidade com importantes centros urbanos, como Porto Alegre.

Essa disponibilidade de mão-de-obra se deu pela impossibilidade das pequenas unidades camponesas em reter seu excedente populacional, convertendo o assalariamento dos filhos mais velhos nas indústrias locais numa estratégia de incremento da renda familiar. Entretanto, esse recurso transitório acabou inviabilizando, por sua vez, a própria capacidade de reprodução social da condição camponesa nessas pequenas unidades, que não conseguiam se manter dentro de uma estrutura produtiva de mercado. Além do mais, a baixa rentabilidade da produção mista e o problema da sucessão acabaram inviabilizando também a permanência dos demais filhos, que cada vez menos se viam atraídos pelas perspectivas de futuro nas propriedades de seus pais.

Como conseqüência, a tendência em Cruzeiro, segundo Jensen (1991), tem sido no sentido de um processo de desintegração da pequena produção em relação à

economia de mercado, decorrência do seu baixo índice de mecanização, do aumento da produção para subsistência e da crescente escassez da mão-de-obra no campo; por fim, pela intensificação dos deslocamentos populacionais de modo mais permanente, tanto em direção às periferias dos centros maiores quanto rumo às novas fronteiras, tal como observado nos estudos de Seyferth no vale do Itajaí-mirim57.

A mecanização da agricultura, ocorrida em ambas as localidades, se deu em condições e intensidade diferentes; entretanto, as mudanças nos processos de trabalho e nos arranjos familiares implicaram, de modo similar, uma total ruptura com as formas tradicionais de sociabilidade e de organização interna dessas comunidades. Porém suas conseqüências em termos da divisão sexual do trabalho foram praticamente inversas, pois onde a mecanização foi mais abrangente, como no caso de Cândido Rondon, o papel da mulher nos negócios da propriedade se tornou mais invisível, sendo ela desarticulada da esfera política, num processo de “domesticação” do trabalho feminino. Enquanto em Cruzeiro a luta da mulher camponesa pela sobrevivência do núcleo e da empresa familiar foi cada vez mais evidente, suas demandas alçaram maior expressão política, através das organizações camponesas.

Já o sistema de troca de serviços na forma de trabalho, entre os pequenos agricultores, foi sendo gradualmente monetarizado, à medida que a mecanização avançava nessas comunidades. Esse sistema de troca não era apenas comum à agricultura de subsistência, mas envolvia também a agricultura de commodity. Tal prática visava suprir as deficiências sazonais de mão-de-obra em cada propriedade individual durante os períodos de preparação do solo e colheita, e também evitar o pagamento dos serviços em dinheiro, dados os parcos recursos da maioria desses agricultores. Com a introdução de tratores e outras máquinas modernas, esse sistema de troca de serviços e ajuda mútua foi sendo minado, pois aqueles que conseguiam adquirir

57 Há que se fazer uma ressalva às generalizações sobre os padrões de deslocamento populacional, pois o fenômeno do êxodo rural para os centros urbanos não se traduz, necessariamente, por formas de proletarização permanente, como observa Seyferth em seu estudo: “A busca pelo mercado de trabalho urbano produziu dois tipos de assalariados: os que se transferiram, de fato, para a cidade e os que permaneceram no meio rural, deslocando-se, diariamente, para o local de trabalho. Ambas as situações de assalariamento estão relacionadas às estratégias familiares camponesas de reprodução social, com reflexos sobre a questão da terra. A intensificação da atividade industrial após 1920 ofereceu condições para a prática da agricultura em tempo parcial, em parcelas menores de terra, persistindo a localização no lote colonial (subdividido ou não). Criou-se, portanto, um segmento de colonos-operários, cujas atividades agrícolas complementam a renda do trabalho assalariado. Ao mesmo tempo, a outra estratégia reprodutiva do campesinato vinculada à herança indivisa – o lote (ou colônia) passado apenas para um dos filhos – conduziu à proletarização plena de uma parcela significativa da segunda e terceira gerações”. Seyferth, Giralda. Imigração, colonização e estrutura agrária. In Woortmann (org.) Significados da terra. Brasília: Editora UnB, 2004, p. 134.

ou financiar tais equipamentos passavam a fixar valores em dinheiro por serviços prestados, auferindo vantagens adicionais em relação a seus vizinhos.

Essa deficiência técnica por parte dos agricultores mais fracos se converteu num obstáculo adicional para a adoção das culturas de commodity entre os pequenos agricultores, dado o elevado custo dos serviços prestados com máquinas.

Com o advento do uso intensificado do trator, o trabalho manual passou a ser refutado mesmo entre os camponeses mais pobres, que se recusavam a trocar serviços na forma tradicional, elevando com isso os níveis de ociosidade durante certas épocas do ano.

Em Marechal Cândido Rondon e Palotina, por exemplo, nas propriedades onde a mecanização foi mais intensa, os homens passaram a trabalhar não mais que seis meses no ano, despendendo a maior parte do seu tempo vago na cidade, o que contribuiu para a deterioração dos relacionamentos conjugais no campo.

A introdução das máquinas não só tomou o lugar do antigo sistema de troca de serviços, como também transformou de modo deletério a atitude dos agricultores em relação ao trabalho manual, contribuindo para o enfraquecimento dos laços de solidariedade que antes existiam.

Segundo Jensen (1991), a introdução da mecanização e do binômio trigo e soja em Cândido Rondon tem gerado um excesso de mão-de-obra nas propriedades, a ponto de os pais trabalharem cada vez menos, deixando aos filhos a disposição de assumir o trabalho mecanizado e preparando-os gradualmente para a sucessão. Já nas propriedades pouco mecanizadas de Cruzeiro do Sul, baseadas na produção mista de culturas, ao contrário, tem-se observado crescente escassez de mão-de-obra, uma vez que os filhos vêem com pouco entusiasmo o continuar na agricultura, devido à pouca terra disponível e ao baixo nível técnico da produção. Nesse caso, a sucessão na propriedade se torna a maior preocupação dos camponeses.

Em síntese, é possível afirmar que a desproporção entre a reprodução estendida tecnicamente e a reprodução não-ampliada economicamente é o que tem gerado esses “novos camponeses” enquanto um grupo social em transição. Para Jensen (1991), os camponeses mecanizados ou tecnificados (como denominados por Silva, 1981), tanto em Marechal quanto em Cruzeiro, resguardadas suas diferenças, são exemplos evidentes de um processo de “farmerização”da pequena agricultura, que, em termos de condições de produção, demandas políticas e essência ideológica, se tornaram absolutamente distintos do campesinato tradicional.

Esse processo de mudança social tem redundado colateralmente numa gradativa polarização entre fazendeiros e camponeses enriquecidos de um lado e, de outro, os trabalhadores rurais assalariados e sem terra, cujo número tem crescido ano após ano, desde a década de 1970. No caso específico do sudoeste do Paraná, tal situação foi mais agravada, devido às desapropriações ocorridas com a construção da grande represa de Itaipu (Mazzarolo, 1980); (Germani, 1982); (Zaar, 1999, 2000);(Ribeiro, 2002)

Os lotes diminutos, somadas as dificuldades financeiras e os baixos índices de tecnicidade, têm sido um dos maiores responsáveis pela inviabilidade, em termos da própria reprodução social, da maioria dos pequenos agricultores. De certo modo, a conseqüente fragmentação dessas unidades tem uma relação causal direta com os movimentos de reemigração e a necessidade permanente de encontrar novas terras para as gerações vindouras (Santos, 1993).

Esses deslocamentos contínuos para as novas fronteiras agrícolas que se abriram, dentro e fora do país, também se configuraram como elemento catalisador das ambições pessoais de muitos rurícolas, ávidos por melhores oportunidades. Isso significou, para aqueles colonos mais fortes, e para os granjeiros produtores de soja e as companhias colonizadoras, uma oportunidade de acesso a extensões maiores e melhores de terras.

Entretanto, para a grande maioria, a questão primordial continua sendo a reforma agrária e a redistribuição da terra, e não a colonização, como meio de resolução dos graves problemas fundiários do país e em particular da região Sul, como nos dão mostras alguns estudos sobre a colonização de sulistas na Amazônia no início dos anos 1970 (Moran, 1981); (Santos,1993). Essas experiências de colonização, vigorosamente incentivadas pelos governos militares, por intermédio de companhias de colonização indicadas pelo INCRA, visavam transferir colonos sulistas das áreas mais problemáticas de seus respectivos estados para programas de colonização no Centro-Oeste e no Norte do país.

Tais programas tenderam a estabelecer uma espécie de moldagem social, absolutamente estereotipada, a partir de classificações tipológicas regionais, objetivando com isso estabelecer um tipo de colono modelo58, supostamente mais instruído, mais familiarizado com as modernas técnicas de produção agrícola, que se valesse

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No oriente paraguaio semelhante tipologia foi adotada quando da constituição de algumas colônias privadas, como no caso de Katueté, que possuía uma orientação claramente seletiva, estando em sintonia com o manifesto desejo do governo stronista em se valer da experiência e do trabalho dos colonos eurodescendentes do Sul do Brasil para difundir novas culturas, como a da soja, e aplicar modernas técnicas agrícolas no país.

amplamente dos insumos industrializados e que estivesse plenamente integrado às cooperativas de produção(Moran, 1981).

Tendo como referência os descendentes de imigrantes europeus e japoneses, esses programas tentaram integrar os colonos com aqueles oriundos de outras regiões do Brasil, especialmente do Norte e do Nordeste. Porém, dada a precariedade que envolveu esses assentamentos, como falta de infra-estrutura, ausência de assistência técnica e de apoio logístico por parte das companhias de colonização e do próprio governo, e também devido ao profundo desconhecimento ecossistêmico das novas fronteiras, o malogro dessa moldagem social logo se mostrou evidente, produzindo mais exclusão social (Santos, 1993).

Entretanto, a maioria dos pequenos agricultores sabe que suas demandas continuam sendo o único meio de intervenção política e que também sua posição social