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Tais características, potencializadas por uma completa integração ao mercado, faziam dos teuto-brasiguaios um grupo mais autônomo e menos dependente das vicissitudes da economia local do que os pequenos agricultores de outras origens. Elas ensejaram, por suas próprias modalidades organizativas, mecanismos mais eficientes de venda e alocação dos seus produtos diretamente junto aos silos das cooperativas ou estabelecendo seus próprios silos, como no caso de alguns produtores de Katueté que também são filiados a Associação de Produtores de Soja e Oleagenosos do Paraguai91, garantindo, com isso, preços e condições mais vantajosos de comercialização. Os teuto- brasileiros nem quando dispunham de uma proporção maior de terras férteis demonstravam qualquer inclinação ao incremento da produção de subsistência. Isso resultava da distinta estratégia produtiva desse grupo em se valer de diversificadas fontes de renda, aproveitando-se da produção especializada de algumas commodities e dos vários canais de comercialização, além do fato de possuírem uma rica base de subsistência, que os diferia em essência da realidade vivida pelos demais grupos de colonos (Nagel, 1991).

4.9 O estabelecimento do agronegócio, a competição e as disputas pela terra

O processo de ocupação e coloniação da região da fronteira oriental fomentado pelo governo paraguaio atraiu não apenas o interesse das colonizadoras brasileiras, mas também favoreceu o ingresso expressivo de grandes empresas agropecuárias de capital multinacional. Essas empresas, que inicialmente atuavam no setor madeireiro durante o período pioneiro, logo passaram a diversificar seus ramos de atuação, engajando-se na produção de carne, soja e outras culturas comerciais. Seu impacto mais importante se fez sentir pela diminiução gradativa dos postos de trabalho no campo, à medida que áreas de florestas foram sendo abertas, e também pelo acentuado desequilíbrio na

90 Relato Sra. Catarina Wolf Salomon, 68 anos – Katueté, set. 2006

91 Ilvo Spielmann, sua irmã Gerti Spielmann e seu cunhado são sócios de várias propriedades e juntos possuem com mais oito sócios seu próprio silo em Katueté. Eles participam também da referida Associação, que segundo Ilvo já conta com mais de 400 associados de diversas localidades de Canindeyú e Alto Paraná. Essa mesma família participa também de um clube social denominado “União”, cujos sócios são em sua maioria teutodescendentes, mas também congregam brasileiros de outras origens e paraguaios. Para a maioria da população local esse clube é considerado o clube da elite de Katueté, congregando os maiores comerciantes, os grandes produtores rurais e autoridades públicas locais.

disputa pelas áreas mais férteis, contribuindo, destarte, para o acirramento do problema da concentração fundiária.

O uso de modernos métodos de produção e a prática de formas extensivas de lavouras contribuíam para a drástica redução da necessidade de força de trabalho nessas grandes unidades. Um estudo do Comité de Iglesias (1982) sobre a questão fundiária na região entre os anos 1970 e 1980 revelava que o uso de mão-de-obra em áreas já desbravadas por essas grandes companhias equivalia, em média, a um trabalhador para cada 470 hectares. Dadas as dimensões das áreas que elas açambarcavam, o número de trabalhadores empregados era proporcionalmente inexpressivo diante do estoque laboral disponível.

Miranda(1982) lista em sua pesquisa algumas das empresas mais importantes que passaram a atuar na região ao longo das últimas décadas e as dimensões das áreas por elas ocupadas, destacando-se entre as mais importantes a Inter Alia, FINAP S.R.L., com 228.000ha; San Pedro Agro-industrial, com 18.000ha; Agropeco, com 65.000ha; AGRIEX (subsidiária da Gulf and Western), com 54.000ha; CARAPA S. R. L., com 75.000ha, e a Americana S.A., com 100.000ha.

Algumas dessas companhias possuíam também capitais brasileiros, explorando grandes extensões não apenas com culturas mecanizadas e de extrativismo vegetal, mas também com a pecuária de corte. Grandes corporações multinacionais ligadas à agroindústria, tais como a Gulf y Wester, a Brooke Bond Lebibm e a Transatlántico Fiduciario Alemán, também têm comprado grandes extensões de terras na região oriental para produção de soja.

Outra grande companhia, a Florida Peach Corporation, que, segundo Nickson (2005), também investiu pesadamente na aquisição de grandes áreas na RFO (Região da Fronteira Oriental), justificava graficamente a seus acionistas os atrativos oferecidos por essa região aos investimentos estrangeiros nos seguintes termos:

La fertilidade natural del suelo es tan grande que no tendremos que gastar grandes sumas de dinero en fertilizantes, tal como hacemos en Estados Unidos. La produtividad de la tierra es mayor que la de otros países productores de soya. Nuestra soya fertilizada en forma natural tendrá un contenido de aceite superior al de la soya producida en otras partes haciéndola de esta forma mas cotizada. El costo del cultivo en el Paraguay es 90% mas barato que la mano de obra agrícola en EEUU (Apud. Nickson, 2005, p. 237)

A produção de soja, que atualmente domina a economia da região oriental, se expressa pelo impressionante aumento da área plantada, que só na década de 1970 cresceu mais de 600%, levando o Paraguai a se tornar o quarto produtor mundial dessa leguminosa (Kohlhepp, 1984).

A ação dessas companhias proporcionou expressivo incremento às exportações de commodities paraguaias. Entretanto, a triangulação das atividades de contrabando envolvendo tais produtos acabava drenando parte substancial do ingresso dessas divisas para o Brasil, dadas a permeabilidade e a falta de controle da fronteira entre os dois países (Connolly, Devereux e Cortes, 1995).

A extensão do contrabando de produtos agrícolas e de madeira da região oriental para o Brasil e, no sentido inverso, de produtos industrializados, como máquinas e defensivos agrícolas, é indicativa da frágil integração dessa região com o restante da economia paraguaia.

O comércio de contrabando era tão corriqueiro na região a ponto de algumas localidades terem surgido em decorrência do intenso fluxo desse comércio, conforme o relato de um antigo morador da localidade de Puente Kyhjá, o Sr. Francisco Sarubbi, compilado pela historiadora paraguaia Fernanda Ferliú:

La construcción del puente era imprescindible para el paso de los camiones rolleros o toreros y principalmente, para el contrabando de café, comercio floreciente y rentable que durante muchos años fue práctica común en el lugar. Cuentan que el café brasileño era ingresado por Corpus Christi y Alborada y transportado en camiones hasta Puerto Adela, antes de la habilitación de la Ruta 10.

A la altura del puente kyjhá, las bolsas con la leyenda de Industria Brasileira eran cambiadas por otras con la de Industria Paraguaya, para luego trasbordar el producto a otros camiones y enviarlo a las cafetaleras que se encargaban de su exportación a Europa. De ese modo, automáticamente se producia la nacionalización del café. Esta tarea se realizaba a orillas del río donde se construyó el puente aludido.( Apud. Ferliú, 2003, p. 69 – 70)

O volume do comércio por contrabando tem atingido tais proporções que, desde 1977, tem levado o Banco Mundial a realizar cálculos independentes sobre o comércio registrado entre Brasil e Paraguai, a fim de obter um quadro mais realístico dessas transações bilaterais (Banco Mundial. Memorándum Económico sobre el Paraguay, 14 de Junio de 1977).

Prova disso é que as importações brasileiras registradas provenientes do Paraguai eram cinco vezes maiores do que os valores registrados pelas exportações paraguaias destinadas ao Brasil ao longo da segunda metade da década de 1960 e da primeira metade da década de 1970, quando o volume do comércio entre os dois países passou a ter maior expressão e dinamismo, tal como nos mostra o quadro a seguir, proposto por Nickson (2005).

Tabela 7 - Volume aproximado do contrabando de mercadorias paraguaias para o Brasil

(en U$S millões) Exportações paraguaias para o Brasil (a) Importaões brasileiras do Paraguai (b) Contrabando 1967 0.2 1.0 0.8 1968 0.2 0.4 0.2 1969 0.1 0.4 0.3 1970 1.1 1.4 0.3 1971 0.8 2.6 1.8 1973 2.9 23.1 20.2 1974 6.1 35.8 29.7 1975 5.7 29.4 23.7 1967 – 75 17.8 100.3 82.5

Fonte: (a) Estatísticas do Comércio Exterior Paraguaio b) Estatísticas do Comércio Exterior Brasileiro

Em certa medida, o poder econômico e a influência política desses grupos compeliram os pequenos e médios proprietários farmerizados a concorrer de modo desvantajoso pela disputa de novas áreas para o plantio. Logo se fez sentir acentuada inversão nos preços das terras, inviabilizando, desse modo, seu acesso aos agricultores mais fracos e restringindo sobremaneira a ampliação das oportunidades a um conjunto cada vez mais limitado de produtores.

Tal como tem ocorrido em outras zonas de colonização pioneira no Brasil e em outros países da América Latina, a fronteira oriental paraguaia tem sido palco de inúmeros relatos sobre disputas e competição pela terra e por vezes expulsão. No caso dos colonos teuto-brasiguaios, tanto em Canindeyú quanto em Alto Paraná, os problemas de conflitos pela posse e propriedade da terra raramente ocorreram abertamente ou assumiram contornos violentos. De certo modo, as situações de violência envolvendo os colonos em Canindeyú foram muito ocasionais e particularizadas, segundo relatos que obtivemos.

Na maioria dos casos, elas se deram de forma velada, envolvendo principalmente os agentes do IBR e especuladores tentando liberar determinadas glebas de ocupantes sem nenhuma titulariedade, cujas terras haviam sido adquiridas por outros colonos. O emprego de capangas das grandes fazendas ocorria quando da necessidade de retomar a posse de determinada área, e os métodos coercitivos, freqüentemente empregados, envolviam desde a destruição da lavoura dos ocupantes até a queima de suas casas. Assassinatos eram infreqüentes na região, segundo esses mesmos relatos, porém agressões físicas por vezes ocorriam.

Grandes empresas e fazendeiros mais influentes valiam-se do seu poder econômico e do seu prestígio junto às autoridades paraguaias para empregar tropas do exército na retomada e no controle de suas terras, o que proporcionava um aparente clima de pacificação na região.

Segundo relato do fazendeiro absenteísta Sr. Arnoldo Oliveira Junior92, cujas terras estão localizadas na região noroeste do departamento de Canindeyú, a maioria de seus vizinhos (grandes pecuarístas) nunca foram incomodados pelas autoridades paraguaias, pois gozavam de bom relacionamento com pessoas influentes dentro do Partido Colorado.

Exemplo dessa influência é que os invasores e ocupantes antes existentes naquela região haviam sido removidos no início dos anos 1980 pelas tropas militares, sem a devida autorização prévia da justiça. Para esse informante, a tranqüilidade por ele desfrutada na manutenção de seus interesses no país devia-se ao fato de ele possuir documentação e identidade paraguaia, além de receber consultoria de bons advogados estabelecidos na capital, o que facilitava a diligência de suas demandas e solução de eventuais problemas.

Prova desse relato é que, quando as disputas de terras envolviam os interesses das grandes companhias privadas ou dos grandes latifundiários, o governo paraguaio freqüentemente dava mostras de sua parcialidade em favor dos mais fortes, fazendo vistas grossas à presença de milícias privadas nas zonas de conflito. Nessas circunstâncias, os direitos de ocupação por parte dos pequenos colonos, previstos em lei, eram simplesmente ignorados, independentemente da legitimidade dessas ações.

Por vezes, tanto a polícia quanto o exército se envolviam diretamente nesses epsódios, atuando em favor das grandes companhias e expulsando os colonos das áreas

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contestadas sem nenhuma autorização judicial. Muitos oficiais militares, políticos ligados ao Partido Colorado e funcionários públicos (incluindo juízes) tinham interesses diretos ou indiretos na aquisição ou retenção de terras, não apenas porque isso lhes facultava importante fonte de renda, mas porque lhes assegurava a manutenção do status ou a fonte de poder (Nickson, 1981), (Comité, 1982), (Kleinpenning, 1987).

Tal situação contribuiu também para um crescente mecanismo de segregação entre os diferentes grupos sociais, sobretudo entre os teuto-brasileiros e os demais colonos, que passaram a ver com suspeitas as atividades dos campesinos sem terra brasileiros e seus consortes paraguaios. Temiam que o envolvimento em conflitos de terras pudesse atrair a atenção das autoridades corruptas do país, que freqüentemente encontravam meios lícitos ou ilícitos para extorquir os colonos.

Uma das estratégias que alguns colonos brasileiros e teuto-brasileiros adotaram para se esquivar desses problemas tem sido a de manter-se em consonância com os ditames do partido oficial no poder, e o meio encontrado tem sido a filiação ao Partido Colorado.

Segundo relato de alguns moradores mais antigos de Katueté, esse arranjo propiciou a muitos deles não apenas a obtenção dos documentos de permanência definitivos, mas também a regularização de pendências legais em relação aos títulos de propriedade emitidos pelas companhias colonizadoras. Atualmente, os colonos brasileiros e seus descendentes vêm-se libertando do longo ostracismo que marcou sua participação na vida política paraguaia ao longo das últimas décadas, assumindo paulatinamente uma postura mais ativa e afirmativa. Em algumas localidades da região oriental, particularmente no departamento de Alto Paraná, vereadores e mesmo prefeitos(alcaides) brasileiros ou teuto-brasileiros vêm assumindo tais cargos na administração pública. Em Katueté e La Paloma, por outro lado, mesmo sendo a elite econômica, a atuação política desses colonos continua ainda muito restrita, limitando-se a posições de menor relevância dentro do aparato partidário.

Como conseqüência das disputas e do clima de generalizada desconfiança entre os diferentes grupos, consolidou-se nas áreas urbanas a delimitação de espaços de atuação e de convivência. Em localidades como Katueté, La Paloma e Corpus Christi, esse problema adquiriu contornos mais explícitos, com alguns ramos de atividades sendo de domínio quase exclusivo de determinado grupo étnico ou social. A atuação das elites paraguaias, militares ou civis, contribuiu para a disseminação desse clima de

desconfiança recíproca, o que tem dificultado uma maior integração dos diversos grupos num projeto comum de sociedade.

Excetuando-se os grandes proprietários e empresários do agronegócio, que em geral são absenteístas, e que gozam de uma situação privilegiada junto ao governo, o relacionamento dos colonos brasileiros com as autoridades e pessoal paraguaio é comumente evitado ou tratado com muita prudência.

Outra questão que permeou alguns relatos obtidos entre colonos teuto- brasiguaios de Katueté diz respeito à prática de algumas companhias colonizadoras em forçar os colonos a pagamentos adicionais pelas terras adquiridas, alegando defasagem nos preços ou a necessidade de regularização de determinados documentos. Muitos desses colonos afirmavam em seus relatos que em localidades como Puente Kyhjá e La Paloma alguns colonos chegaram a pagar duas e até três vezes o valor pela mesma gleba, para garantir a obtenção do título definitivo das referidas terras. Segundo o depoimento do pastor Friedhelm Westermann esses problemas muitas vezes ocorriam devido à desorganização e efetivo controle das empresas loteadoras com relação a seus vendedores e um certo desleixo por parte dos compradores em relação à garantia dos títulos, como podemos observar nesta fala:

O administrador de Guairá tinha um delegado aqui em Katueté e ele tinha três , quatro a cinco vendedores hã... Enton dava pra um vendedor essa área, otro vendedor essa área facurtou um poco de dinhero e desapareceu…Enton ele non veio mais enton o administrador de Guairá deu esse pedaço para outro vender enton ele foi e vendeu um pedaço e daqui três meses vieram os primeiros compradores… e como né? O segundo perdeu, tem alguns que perderam o dinhero a entrada de uma, duas, três colônias.. E o que fazia para reverter isso? Não era vendedor autorizado e tudo essas coisas assim, vendero!!93

Já o testemunho de outro antigo morador, o Sr. Mário Fontanetti, enfoca outra situação, que comumente envolvia a revenda de alguns lotes. Segundo ele,

O pobrema ocorria porque algun colono revendia seu lote sem ter pagado tudo com a companhia colonizadora. Então quando o novo compradô pedia o título a companhia queria u pagamento atrasado, ajustado…

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Ah... era um picareta que tinha ali, um tar de Francisco Palomo, vixe! Bicho era um espanhorzinho, mais era feróis ele. Ele vendeu muita tera aí, depois saiu um rolo aqui duma tera aqui pro lado da linha São Pedro ali, saiu um rolo dumas colônia aí, quele vendeu pros cara e depois ele vendeu de novo pra otros. Aí deu aquela confusão aí u fazendero o chefe dele tirô ele dali, punhô otro. 94

Tais relatos, obtidos em Katueté, corroboram as informações sobre práticas semelhantes ocorridas em outras partes da fronteira oriental apontadas pela Conferência Episcopal Paraguaya, publicadas em 1983, e pelos dados do Equipo Nacional de Pastoral Social de 1983 e 1984.

De certo modo, a questão das disputas e da competição pela terra no Paraguai continuará sendo um fenômeno ressurgente, e essa assertiva se justifica pela própria natureza diversa e complexa que envolveu e continua moldando o caráter, sob certos aspectos peculiar, dessa fronteira binacional, pelas razões que seguem: várias categorias de usuários têm tido acesso às terras agricultáveis na região da fronteira oriental, e esses usuários possuem níveis muito distintos de poder ecônomico, influência política, conhecimento e educação e, por conseguinte, são movidos por concepções muito diferentes de uso e exploração das terras agrícolas. A alta dos preços das terras tem-se dado não apenas em razão da crescente demanda, mas principalmente pelo fato de as terras ainda disponíveis serem cada vez mais escassas e as áreas desbravadas terem um valor muito mais elevado do que as áreas ainda sob cobertura vegetal, cujo acesso tem- se restringido nos últimos anos, devido à pressão das entidades e grupos conservacionistas. Tal problema vem-se acentuando à medida que os grandes grupos agroindustriais vêm adquirindo extensões cada vez maiores para seus projetos econômicos95 e que, por suposto, desfrutam de grande poder de influência e capacidade de persuasão junto às autoridades paraguaias.

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Relato Sr. Mário Fontanetti, 80 anos – Katueté 02/06/2007.

95 A trivialidade desse fenômeno tem levado alguns setores importantes da imprensa brasileira a tratar de modo absolutamento natural a expansão desses investimentos no Paraguai, dando a entender a fronteira oriental paraguaia como um prolongamento da economia do país. Numa matéria publicada pelo jornal

Gazeta Mercantil, de 29/11/2005, intitulada “Cooperativa Lar cresce no Paraguai”, esse jornal relata que

“o crescimento da produção agrícola paraguaia, principalmente nas regiões de fronteira com o Brasil em razão da presença de colonos brasileiros que foram explorar as terras nos últimos 25 anos - , está fazendo com que empresas brasileiras invistam no país vizinho como extensão natural de suas atividades. A cooperativa Agroindustrial Lar, de Medianeira, no extremo oeste paranaense, cidade situada a menos de 60 quilômetros da fronteira, viu seus negócios baseados no Paraguai evoluírem de US$ 16,7 milhões em 2002 para US$ 28,4 milhões em 2005, e tem uma previsão deles aumentarem para US$ 33 milhões em 2006, algo próximo a 10% do seu faturamento, que deve atingir R$ 950 milhões ano”. Segundo a mesma matéria, o projeto de expansão na fronteira com o Brasil estava em vias de receber o primeiro

O envolvimento do governo com o processo de colonização em relação aos grandes interesses não se dá apenas no sentido de facilitar o acesso à terra, mas também proporcionar a esses grupos, se necessário, poder de dissuasão contra os competidores mais fracos.

Em linhas gerais, a abertura da periferia oriental tem envolvido inúmeros competidores pela terra, e desde o início desse processo as populações indígenas originárias dessa região têm sido as mais vitimadas dentre todos os atores sociais envolvidos, opondo-se em condições assimétricas e desfavoráveis, em defesa de seus territórios e dos recursos originariamente existentes, às investidas de todos os demais grupos.

O gradual desaparecimento das antigas áreas de florestas e o contato direto com elementos da sociedade exterior têm ameaçado e comprometido, de maneira quase irreversível, o tradicional modo de vida dessas populações indígenas, cuja economia esteve ao longo de séculos baseada na caça, na pesca, na coleta e em pequenas lavouras de coivara (Kleinpenning, 1987).

A sobrevivência dos Aché-Guayakí, Mbya Guaraní, Chiripá e Paî-Tavyterã, os quatro grupos de antigos habitantes do oriente paraguaio, vem sofrendo nas últimas décadas séria ameaça de desaparecimento. Os Aché, em particular, que se caracterizam por seu nomadismo, e que conseqüentemente dependem da caça e de áreas de maior abrangência, têm sido as vítimas mais diretas das agressões impostas ao meio ambiente e que coincidentemente pouca ou nenhuma proteção têm recebido do governo paraguaio.

A maioria desses índios vem sendo forçada a abondonar seu modo de vida e as áreas que originariamente ocupavam. Segundo o censo do Instituto Paraguayo del Indígena (1982b), dos 1.000 Aché que ainda permaneciam na região em anos anteriores,