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Com o desfecho da guerra civil e a defecção de quase 80% do corpo de oficiais, que de algum modo estavam vinculados aos rebeldes, os militares colorados passaram a assumir todas as posições de comando remanescentes nas forças armadas, e os postos

14 Sobre os fatos que antecederam e deram curso à guerra civil de 1947, além dos já citados trabalhos de Lewis(1980) e Nickson(1993), especificamente o Historical dictionary of Paraguay, merece menção pela qualidade dos relatos o já clássico livro de Harry Gaylor Warren Paraguay: an informal history. Norman: University of Oklahoma Press, 1949. Também, por serem obras datadas ou mesmo pela parcialidade com que abordam o tema,os livros de Edgar Ynsfran. La Irrupción moscovita em la marina paraguaya. Assunción, n.e., 1947, e Efrain Cardozo. Breve história del Paraguay. Buenos Aires: Editorial Universitária, 1965.

das novas forças leais passaram a ser ocupadas exclusivamente por elementos recrutados entre as fileiras coloradas. Além de controlar as armas, o partido também monopolizaria todas as funções e cargos administrativos do governo, numa completa fusão entre aparato partidário e burocracia estatal.

O que se seguiu à desmoralização completa das oposições foi um amplo e cruel processo persecutório visando eliminar quaisquer vestígios dos antigos oponentes, desencadeando o chamado “Terror Colorado”. O ambiente opressivo que envolveu a sociedade e que se abateu sobre supostos oponentes se tornou tão intenso nos meses subseqüentes que milhares de paraguaios correram para a Argentina em busca de asilo político (Lewis, 1980).

Por outro lado, a estruturação do poder colorado não se configurou num bloco monolítico, tampouco homogêneo, mas em subdivisões internas pautadas por setores radicais, como os guionistas e a tendência tida como democrática.

Paradoxalmente, o clima de suspeição e medo havia penetrado também o próprio partido, e, em vez de trazer a unidade entre os vitoriosos, aprofundou ainda mais a fenda que existia entre Natalício González e Frederico Chaves, naquele momento os principais líderes. Com a morte do dirigente partidário doutor Mallorquín, ocorrida durante a guerra, o precário equilíbrio interno sucumbiu, deflagrando-se uma encarniçada luta sucessória entre os grupos antagônicos pelo comando do partido. Tal disputa era decisiva, pois significava não apenas o controle da organização partidária, mas principalmente do próprio governo.

Foi assim que se sucedeu a disputa pela indicação colorada ao pleito presidencial, tendo Chaves aparente vantagem por contar com o suporte majoritário do comitê executivo do partido e da junta de governo. Por outro lado, González tinha a seu favor o resoluto apoio do seu Guión Rojo, cujas táticas violentas horrorizavam a facção democrática. Ele também contava com o importante apoio do presidente Morínigo, que o preferia como seu sucessor.

Envolto num clima tenso, o caminho à presidência se consumaria a favor de González, porém sua permanência seria efêmera, sucedida por novas tentativas golpistas e pelo também breve governo de Molas López, um inveterado conspirador, mestre na traição e no jogo de intrigas, que, tal como González, fizera carreira entre as fileiras da esquerda colorada, mas que, diferentemente de seu antecessor, corporificara de modo magistral o espírito deletério de sua época.

De certo modo, os anos que se seguiram ao final da guerra civil, de agosto de 1947 até 1954, se configuraram como uma seqüência de intrincados complôs e incontáveis ações golpistas, alguns até bem-sucedidos. Esse breve período de completa desorganização do Estado paraguaio foi marcado não pela alternância de distintos grupos, mas por uma precisa delimitação aparentemente hegemônica que ambos, guionistas e democráticos, estabeleceram quando lograram saltear as instituições e os aparelhos de Estado, não em nome de um projeto coordenado de governo, mas pelo mero domínio e exercício do poder.

Foi também um período que sepultou de vez o breve espasmo democrático que a conjuntura do pós-guerra acalentou e que pareceu acender à ilusória esperança de que o povo paraguaio protagonizaria seu próprio destino.

A longa noite que encobriu o país sob domínio colorado foi, em síntese, pautada por um certo equilíbrio pendular entre guionistas e democráticos. No entanto, esse equilíbrio sempre fora muito precário, o que impediu que qualquer das partes lograsse empreender um governo minimamente estável, com uma política administrativa consistente. Mesmo quando os democráticos chegaram ao poder com Federico Chaves, estes estiveram mais ocupados em se sustentar no governo do que no empenho da administração pública ou de alguma elaboração estratégica para formulação de diretrizes de governo, exceção feita às tentativas de plano econômico formuladas por Epifanio Méndez Fleitas, quando este esteve à frente do Banco Central, em 1953.

Tal plano econômico envolvia uma grande intervenção do Estado nos negócios econômicos, com base num acordo bilateral com a Argentina de Perón, denominado Unión Paraguaya-Argentina, o qual proveria suporte técnico e alocação financeira de recursos para esse projeto 15. Internamente, porém, seu plano sofreria enorme resistência por parte de elementos conservadores do interior do Partido Colorado e também dentro das forças armadas, que viam em Méndez Fleitas um pró-comunista que infringia a

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Segundo Menezes, “Na desesperada tentativa de mudar o crescente problema econômico, Chaves deu a presidência do Banco Central para Méndez Fleitas, que em agosto de 1953 assinou um pacto com a administração de Juan Perón para criar uma união econômica entre Paraguai e Argentina. Entre outras coisas, aquela proposta de união concordava com uma zona de comércio livre, investimentos industriais recíprocos, a unificação das marinhas mercantes e o uso dos recursos minerais de um ou de outro país por ambas as nações. Levando-se em consideração que a economia argentina era mais forte, aquela união simplesmente queria dizer que boa parte da economia paraguaia estaria sob controle e influência dos argentinos. In Menezes, Alfredo Motta. A herança de Stroessner: Brasil – Paraguai 1955 – 1980. Campinas: Papirus, 1987, 47 – 48. Essas questões foram originalmente abordadas no livro de George Pandle: Paraguay: a riverside nation. London: Oxford University Press, 1967. Tal perspectiva de análise permite compreender a reação que alguns setores militares tiveram naquele momento ante tal política, e mesmo anos mais tarde da obsessão de Stroessner em desvincular a economia paraguaia da histórica dependência em relação à Argentina.

soberania nacional ao permitir uma crescente influência peronista no Paraguai (Nickson, 1993).

Em termos políticos, o governo Chaves, apesar de sua reputação democrática, não reconduziu o país a um processo de abertura; ao contrário, re-introduziu o estado de sítio. Tal fato se deu devido à suspeita de que seus maiores adversários, Natalício González e Molas López, ambos exilados na Argentina, ainda conspirassem por sua derrubada, e considerando também que o Guión Rojo ainda contava com muitos partidários dentro do Paraguai.

No entanto, essa ameaça logo refluiu, pois em março de 1954 Felipe Molas López, seu mais pernicioso inimigo, veio a falecer subitamente, vitimado por um fulminante ataque cardíaco, e seu outro rival, Natalício González, havia se retirado para o distante México. Uma vez guionistas e molaslopistas fora de cena, e liberais e febreristas completamente debelados, pouca ameaça restaria à sua administração, a não ser aquela existente no âmbito do próprio governo, o que se refletia na sua aparente firmeza em mudar constantemente de posição seus subordinados, extirpando com isso qualquer potencial foco conjurador.

Foi desse modo que Chaves, aproveitando-se da pressão dos latifundiários contra a política econômica de Méndez Fleitas, o demitiu do seu gabinete, juntamente com alguns de seus colaboradores mais próximos, como Enciso Velloso e Romero Pereira, além do major Mario Ortega, então chefe da polícia, que já havia substituído Méndez Fleitas nesse posto. Stroessner, que também fazia parte do círculo social de Méndez Fleitas, não fora removido por Chaves naquele momento, pois aparentemente ele ainda não representava maior ameaça, posto não dispor de grande influência junto ao partido (Menezes, 1987). Essa decisão se converteria mais tarde no seu maior equívoco.

As estratégias que permitiram a relativa longevidade e sustentação do governo de Federico Chaves propiciaram em certa medida as condições de sua própria derrocada, pois ao criar uma constante rotatividade entre seus quadros acabou mergulhando a própria administração pública num estado de anomia. Mas foi sem dúvida a política de reformulação e re-aparelhamento da polícia nacional, convertida numa unidade de força equivalente ao exército, elaborada pelo então chefe Roberto L. Petit, que reacendeu a suspeita entre os militares.

O plano reformista de L. Petit visava dentre outras coisas prevenir e neutralizar possíveis intervenções de comandos militares, constituindo essa unidade, denominada

“Battalion 40”, um contrapeso ao poder das forças armadas e um efetivo instrumento de dissuasão política.

E foi justamente a percepção por parte de alguns comandos militares do que estava em curso que desencadeou a arquitetura do novo golpe, colocando novamente em cena Stroessner, Méndez Fleitas e Romero Pereira (Cardozo, 1965), (Lewis, 1980).

O golpe foi manobrado inesperadamente em maio de 1954, devido a um confuso episódio envolvendo o comando do importante quartel general de Campo Grande, o qual incluía também a primeira divisão de Cavalaria. Essa quartelada, liderada por Stroessner, desencadeou o cerco à capital, opondo a maioria das guarnições militares ao governo Chaves, que então tinha como sua única defesa o fortemente armado Battalion 40.

O conflito se estendeu por alguns dias, tendo como saldo vinte e quatro mortos, entre os quais o próprio chefe da polícia, L. Petit, e uma centena de feridos. Era o fim dos democráticos no poder e a consumação da vertiginosa ascensão política de Stroessner (Cardozo, 1965), (Lewis, 1980), (Menezes, 1987).

A análise do prevalecente período colorado que se iniciou a partir da guerra civil de 1947 é sem dúvida elucidativa do comportamento bizantino que caracterizou a luta fratricida pelo poder no Paraguai de então, e que se tornou típica da formação cultural autoritária dessa nação. De modo geral, e não apenas nesses governos, pouco ou quase nada de efetivo se fez pelo país, ou por sua população. O caudilhismo colorado diferiu dos demais congêneres pela brutalidade do seu arrivismo, mas não por sua inépcia no trato da administração pública.

A sucessão de complôs e tentativas golpistas, tal qual a efemeridade de alguns governos, fez da política a irrelevância sob olhar suspeito da população. Diante daquilo que se tornou rotineiro, os artífices do governo constituído após o golpe reassumiriam as antigas pastas, porém agora o homem forte da situação não era o formulador estratégico do golpe, Méndez Fleitas, mas aquele que detinha a lealdade das forças armadas em torno de si.

Em 14 de junho daquele ano, numa convenção do Partido Colorado, acordou-se a indicação oficial de Stroessner à presidência da República, como costumeiramente, às vésperas das eleições. Vencedor sem nenhuma oposição, em 11 de julho prestou juramento e foi empossado em 15 de agosto do mesmo ano, dia do aniversário da fundação de Assunção.

A carreira vertiginosa de Stroessner como militar e sua ascensão à presidência da República em 1954 foi pautada por uma enorme sede de poder e oportunismo, mas também por um incrível senso de disciplina. Participara ativamente de conspirações contra cinco de seus antecessores (Morínigo, Rolon, Molas López e Chaves), além de uma fracassada ação golpista contra González.

Mas foi sem dúvida seu acurado aprendizado sob sucessivos governos colorados, envolvendo tramóias, complôs, políticas equivocadas e completo desgoverno, que lhe ensinaram que, sem a devida unidade e disciplina impostas ao partido, dificilmente governaria por longo tempo. De certo modo, seu sucesso se daria pelo fato de que muitos caudilhos colorados, absorvidos que estavam em suas querelas pessoais e rixas facciosas, e devido ao viciado costume de instituir e destituir presidentes oriundos de suas próprias fileiras, não terem percebido que seu governo não se configurava como um breve interlúdio.

Tratava-se de um projeto de longo prazo, baseado num intrincado entrelaçamento entre organização partidária e poder militar, sob firme e rigorosa tutela. O destino dos colorados poderia ser resumido na seguinte observação de Paul Lewis: “Having created chaos and division within their ranks and within the nation, they were vulnerable to a leader who could enforce unity and discipline, as Stroessner was to teach them in the coming years” (Lewis, 1980, p. 60).

Unidade e disciplina se converteriam nos elementos principais para a longevidade e sucesso do stronato enquanto regime, porém redimencionando as bases do patrimonialismo paraguaio, fundamento de toda a máquina política através da qual se acomodavam os diversos interesses e se recrutavam novos apoios. É nesse sentido que o projeto modernizador de Stroessner se voltaria para um novo parceiro que de algum modo assegurasse o “necessário crescimento econômico”, vital às pretensões e à manutenção do seu governo. Em última análise, a vitória de Stroessner e a consolidação do seu regime é que permitiram os grandes fluxos migratórios de brasileiros para a região da fronteira oriental, o que certamente não ocorreria sob um governo de Federico Chaves, tampouco sob o poder de um Méndez Fleitas.

Capítulo II

O Paraguai sob o stronato

O regime instaurado com a ascensão de Stroessner seria marcado não apenas pelo fim das lutas intestinas no interior do Partido Colorado envolvendo suas facções e subfacções, mas também pelo início de uma relativa estabilidade e previsibilidade do jogo político. Tal fato não ocorreu como mera conseqüência da ascensão do ditador, mas se deu a partir de um intrincado movimento calculado de ações que permitiram a Stroessner não somente demover potenciais adversários de tentativas golpistas, mas de preventivamente neutralizar qualquer motivação dessa natureza entre seus pares e mesmo entre seus opositores no exílio.

Esse movimento no plano político baseou-se na premente necessidade de equilibrar a tensão entre partido e forças armadas, que desde 1936 inviabilizara a longevidade dos governos predecessores16. Destarte, Stroessner empenhou-se obstinadamente na reestruturação do Partido Colorado sob bases organizativas que fossem fortemente hierarquizadas e disciplinadas, abrangendo todas as localidades do país, através de diretórios regionais e representações locais. Esse aparato proporcionara um eficiente mecanismo de legitimação e suporte ao regime, calcado num extraordinário esquema de distribuição de prebendas e disseminação do patronato17, envolvendo desde lideranças locais até altas instâncias partidárias, bem como amplos setores do oficialato militar.

A estruturação desse esquema tornou o partido um contrapeso ao poder dos militares, que curiosamente tinham na figura de Strossner sua liderança máxima. Como homem de caserna e reputada competência, pôs em marcha, logo nos primeiros anos do seu mandato, um audacioso processo de depuração interna e renovação dos quadros militares, valendo-se de sua influente e elevada estima entre o oficialato júnior. Desse

16 Segundo Lewis, “In Paraguay the army has been the means for every change of regime since 1936. In the eighteen years between the February Revolution and Stroessner’s rise to power it put nine presidents into the palace and removed seven of them (Estigarribia died in office). Only Stroessner was able to break that pattern”. Op cit Lewis, 1980, p. 125.

17 Essa disseminação teve como premissa o reconhecimento do fato de o patronato possuir um profundo substrato cultural e político na história paraguaia, cujas variáveis se pautaram em torno do clientelismo político autoritário cuja legitimação se deu sempre sob bases populistas. Tal questão é particularmente analisada por Daniel Campos R. D. no contexto dos anos de 1935 a 1954 durante os governos Franco e Estigasrríbia. Ver Lucha por la tierra y políticas publicas: um intento de periodización socio-histórica, 1811 – 1954. Revista Paraguaya de Sociología. Asunción, Año 24, n. 70, setiembre-diciembre, 1987.

modo, Stroessner foi estabelecendo um círculo íntimo de oficiais lotados em posições- chave na hierarquia e no comando militar, que demonstravam irrefutável fidelidade e obediência ao ditador. Tal postura garantiria a essa elite lucrativas compensações, tornando quaisquer ambições dissidentes bem pouco atrativas.

Essa perspicaz atitude por parte de Stroessner decorria da sua percepção de que, em não sendo homem de partido nem tendo grande apelo popular, sua estratégia de manutenção no poder teria que estar necessariamente focada na organização das estruturas de poder, uma vez que a administração pública não poderia prescindir nem dos quadros burocráticos nem dos técnicos vinculados ao partido, posto que tais quadros eram basicamente inexistentes ou limitados no âmbito militar.

Porém a viabilidade dessa estratégica moldagem dependia de um elevado custo econômico, fator esse limitante no combalido Estado paraguaio, cujas finanças vinham se deteriorando desde a última década.

A política econômica concebida por Méndez Fleitas e parcialmente implementada pelo governo Cháves em 1953 colocara a economia paraguaia numa condição de subalternidade e elevada dependência do fluxo comercial argentino18, tornando-a muito suscetível ao precário equilíbrio político-econômico daquele país. Tal problema se tornou um tremendo imbróglio diplomático para Stroessner quando Perón, apeado do poder pelos militares argentinos, tentara rearticular suas forças a partir do seu exílio no Paraguai.

Apesar de Stroessner pessoalmente simpatizar e mesmo se identificar com Perón, o asilo político concedido ao líder argentino se configurava também num grande problema político interno. Segundo Menezes (1987), a amizade dos dois ditadores já datava de anos anteriores, quando Perón, em visita oficial a Assunção, devolvera os troféus capturados na Guerra da Tríplice Aliança. No entanto, a permanência de Perón no Paraguai estava condicionada à proteção especial provida por Méndez Fleitas e seus acólitos, ardorosos simpatizantes do peronismo e que naquele momento eram os únicos

18 Essa questão do envolvimento paraguaio com o governo argentino à época de Perón era crucial ao projeto epifanista de poder, o que de certa forma colaborou para a derrocada da administração Federico Cháves. Nos termos de Nickson : “A Peronist faction led by Epifanio Mendez Fleitas subsequently developed inside the Partido Colorado and plans for an economic union between the two countries, the Unión Paraguaya-Argentina were signed in August 1953. However, the United States government viewed these ties as evidence of communist influence within the government of President Federico Chaves, and this contributed to the tacit U.S. support for the military coup against Chaves led by General Alfredo Stroessner in 1954”. Nickson, Andrew. Historical Dictionary of Pasraguay. 2nd ed., rev., enl., and updated. London, The Scarecrow Press. 1993. Sobre esses episódios, que redundaram no afastamento de Méndez Fleitas e seu grupo da administração Chaves, ver também Moraes, Ceres. Paraguai: a consolidação da ditadura de Stroesser – 1954-1963. Porto Alegre, EDIPUCRS, 2000, p. 45-44.

adversários em condições de obstaculizar o projeto stronista de poder. Méndez Fleitas contava com importante suporte no interior do partido e entre algumas fileiras das forças armadas, além do incondicional apoio dos aparatos de segurança policiais e do temível Batallion 40.

Destarte, se Stroessner expulsasse Perón do país, ele provocaria a ira dos epifanistas; por outro lado, se não o fizesse, o governo em Buenos Aires poderia ameaçar toda a sua frágil administração (Lewis, 1980).

Na realidade, Stroessner teria que enfrentar ambos os problemas, pois tradicionalmente o território argentino fora, desde a guindagem dos colorados ao poder em 1947, abrigo preferencial dos exilados liberais e febreristas e também dos comunistas, que por vezes investiam contra o território paraguaio sob beneplácito de alguns grupos militares argentinos, os chamados “gorilas”, grupo esse que não se subordinava à autoridade institucional do presidente Frondizi, que desde o golpe desfechado contra Perón nunca exerceu verdadeiro controle sobre a hierarquia militar em seu país. Daí a dubiedade da refutação das autoridades argentinas em relação ao apoio logístico concedido à oposição paraguaia no exilo, sobretudo após a queda de Perón, cuja posição sempre fora mais simpática e ideologicamente próxima dos colorados do que dos liberais e febreristas .

O apoio dos “gorilas” argentinos aos movimentos guerrilheiros paraguaios não era movido por paixões democráticas nem por presumirem que Stroessner mantivesse estreitos laços identitários com Perón ou com os simpatizantes peronistas dentro do seu governo, mas, sim, porque o Paraguai, desde sua ascensão, direcionava-se cada mais