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brasileiros que se estabeleceram na região da fronteira oriental, como é o caso dos teuto- brasileiros em questão.

Exemplos dessa lacuna podem ser constatados através da elaboração cartográfica feita por Sprandel (2006), envolvendo diversos relatórios, dissertações, teses e artigos produzidos e publicados desde os anos 1990 até o presente, os quais abordam a temática da presença brasileira no Paraguai. Nesses trabalhos, os teuto-brasileiros, como as demais culturas hifenizadas (italianos, poloneses e russos), que em menor número também se estabeleceram na região, ou são tratados indistintamente sob o mesmo manto da expressão “brasiguaios”, ou são vistos a partir de uma construção midiática na qual a presença dos agricultores brasileiros naquele país, “vitimados pelas injustiças e vicissitudes da sociedade paraguaia”, é percebida como unidade de análise, seja como “questão brasiguaia” ou como “problema brasiguaio”, perdendo-se com isso o sentido de permanência e consolidação das comunidades que ali se formaram.

5.1 O surgimento da colônia

A história da colônia de Katueté começou em 1971, quando um próspero empresário de terras de São Paulo, chamado Jaime Watt Longo, contestava uma decisão da corte paraguaia em Assunção sobre uma vasta área remanescente de um antigo ervatal pertencente à LIPSA (La Industrial Paraguaya S/A), que havia sido expropriada pelo IBR. Jaime Longo, em sua contestação, alegava ter recebido as ditas terras como parte da herança de sua esposa, Olga Lunardelli, filha do famoso cafeicultor brasileiro Geremíias Lunardelli, o qual as havia comprado da LIPSA no início dos anos 1950. Já o IBR, por sua vez, alegava que o processo de expropriação também ocorrera na mesma época da aquisição das ditas terras por Jaime Longo. Para ver resolvida essa contenda, o empresário brasileiro se valeu dos serviços e da influência de seus advogados paraguaios, que gozavam de grande prestígio junto às cortes do país. Ao perceber que o caso corria a seu favor, ele se reportou a seu advogado paraguaio Alejandro Encina Marín, que falava fluentemente guarani, perguntando-lhe como se dizia nessa língua

tiene que salir e o homem lhe respondeu que a expressão idiomática mais próxima na

prontamente pôs-se a organizar uma nova colônia naquela região, à qual denominou Katueté. 98

O relato do Sr. José Branco, antigo funcionário da companhia de colonização pertencente a Jaime Longo, que havia mudado para o Paraguai no final de 1971, vindo de São Pedro do Ivaí, no Paraná, para auxiliar nos trabalhos de medição dos lotes, corrobora essas informações. Segundo ele,

O advogado do Sr. Longo era o Dr. Encina Marín e foi ele que disse pro Jaime Longo que Katueté seria assim um negócio certo, um negócio positivo.

A gleba foi adquirida da Industrial Paraguaya há muitos anos pelo Geremias Lunardelli.

Essa área aqui é uma área de muitos alqueire. O Jaime Longo depois ficô, ficô como uma herança dele, uma parte da gleba. Outras parte eles tinha vendido antes, como Puente Kyhá. Aqui pega essa gleba aqui sai na linha internacional. Sai na frontera.. La Paloma tava fora, Puente Kyhá tava na área deles aqui. 99

Como Jaime Longo conhecia de longa data a experiência colonizadora no norte do Paraná, realizada pela companhia inglesa CTNP (Companhia de Terras Norte do Paraná, subsidiária da London-based Paraná Plantation Ltd), durante a primeira metade do século XX , ele buscou aplicar o modelo científico de colonização concebido por Lord Lovat100, diretor da referida companhia, em seu novo investimento. Para tanto, ele dividiu a colônia em lotes familiares de tamanho médio dispostos de modo retangular, cuidando para que cada lote tivesse acesso a recursos hídricos e a estradas (Hay, 1982),

98 Uma outra versão dessa história foi copilada pela escritora paraguaia Fernanda Feliú através do depoimento de um médico boliviano que se estabeleceu em Katueté no início dos anos 1970, segundo o qual “en cierta ocasión – corría el año 1969 – Jaime Longo pidió al Dr. Encina Marin que lo acompañara para elegir un lugar alto y plano, apropriado para erigir el outro centro urbano, dentro de la gleba 8. En determinado momento, al encontrar una alta planície, Watt Longo estalló en alborozo y paró la comitiva diciendo con insistencia que ese era el sitio ideal; su acompañante le respondió: “Katueté- Voí..., Don Jaime”. Sorprendido por la dulce y a la vez firme expresión guarani, Watt Longo preguntó su significado, a lo que Encina respondió: Katueté significa “ Sin falta... Seguro”! Jaime Longo respondió lleno de entusiasmo: “Gostei, vai-se chamar Katueté.( Me gustó, se va a llamar Katueté).

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Relato Sr. José Branco, 70 anos - Katueté, 05 maio 2007

100 Lord Lovat desembarcou no Brasil em 1923 a convite do presidente da República Arthur Bernardes, juntamente com Lord Edwin S. Montagu, secretário financeiro do tesouro Inglês, Charles Addis, diretor do Banco da Inglaterra e presidente do Hong-Kong and Shangai Banking, e Hartley Withers, então diretor do The Economist, que juntos faziam parte da Missão Montagu, cujo objetivo era estudar a possibilidade e potencialidade de investimento no Brasil. Na época Lord Lovat era o presidente da Sudan Cotton Plantations Sindicaty e tinha larga experiência em projetos de colonização naquela região da África. De certo modo o sucesso do empreendimento inglês em terras norte-paranaenses decorreu de sua exitosa biografia e do apurado senso de oportunidade. Para uma síntese da atuação da Companhia Norte de Terras do Paraná, ver: Nicholls, William. A Fronteira agrícola na História recente do Brasil. O Estado do Paraná, 1920-1965. Revista Brasileira de Economia, v. 24, n. 4, 1970., também Margolis, Máxime L. The moving frontier: Social and economic change in a southern brazilian Community. Gainesville: University of Florida Press, 1973. p. 19-23.

tal como prescrito no modelo texano aplicado pela CNTP no norte do Paraná, que objetivava aquilo que Lord Lovat considerava como uma colônia auto-sustentada.

Esse modelo também era provido de um plano de cidade racionalmente esquematizado, no qual o centro de cada colônia seria circundado por pequenas parcelas de terras com três hectares em média, na forma de chácaras, destinadas a produção de alimentos para a população urbana. Comparando-se o mapa original de Katueté, concebido por Jaime Longo, numa área de pouco mais de 18.000 hectares, com fotografias aéreas recentemente tiradas, podemos constatar a aplicação dessa mesma lógica.

Foto 3. Vista aérea de Katueté, 1999.

As propriedades rurais foram em sua maioria divididas em parcelas retangulares, que oscilavam entre 10 e 25 alqueires paulistas (1 alqueire equivalendo a 2,4 hectares). Cada parcela fazia frente com uma pequena estrada que seguia pelo espigão daquelas terras baixas, enquanto os fundos das propriedades ficavam no declive dos terrenos, que geralmente dispunham ao menos de um fluxo intermitente de água. O quadro descrito pelo Sr. José Branco é elucidativo da ordenação adotada tanto em Katueté como na colônia Alvorada, loteada pela mesma companhia:

Todos os lotes dava frente pra estrada e o fundo pegando água. Inclusive saiu uns lotes assim, meio cumprido, como se diz, meio estreito e mais cumprido. No Alvorada saiu um loteamento bem melhor porque lá era tudo os perímetro, várias água assim... que... pôde localizá, as estradinha né dos espigão, as estrada mestra, depois as estradinha pra depois o loteamento das colônia.

De frente mais o menos tudo tinha em média 150 metro, 200 metro. Foro tudo retangular assim... de fundo em torno de 1.500 metro,

alguns saía paralelo. Alguns conforme pegava nas estrada, pegava na água embaixo.101

Esse sistema de divisão dos lotes é particularmente notável se comparado ao procedimento adotado pelo IBR na divisão dos seus assentamentos, nos quais adotou-se um desenho de linhas retas dentro de uma mesma área. Nelas, cada lote obedecia um único padrão, com contornos de 90graus cada, como se a superfície dos terrenos fosse sempre plana e indiferenciada, o que na prática acarretava inúmeros problemas estruturais, que acabavam inviabilizando tais assentamentos.

A disposição do núcleo urbano de Katueté foi concebida, principalmente, em razão do traçado da rodovia, que do ponto de vista topográfico é bastante uniforme, estendendo-se sobre ela todo o centro da cidade. Essa localização é estratégica em relação à área rural da colônia, cuja produção é destinada aos grandes silos construídos ao longo da rodovia nas adjacências da cidade.

A maioria dos estabelecimentos comerciais e de serviços situa-se às margens da rodovia, em duas ruas paralelas à estrada ou em suas travessas, não distando mais que 100 a 150 metros do eixo principal, e nos dias úteis costumam ter um movimento intenso de pessoas e veículos. Até bem pouco tempo, apenas a rodovia era pavimentada, o que tornava o fluxo urbano um confuso e anacrônico movimento de pessoas, veículos, carroças de tração animal e bicicletas. Nos dias secos a cidade era envolta por uma asfixiante nuvem de poeira avermelhada, que imprimia uma coloração única às construções existentes; durante a estação chuvosa ficava mergulhada num imenso lamaçal escorregadio, o que obrigava a maioria dos comerciantes a espalhar pelo chão de seus estabelecimentos uma espessa camada de serragem para minimizar a sujeira da lama trazida pelos calçados dos fregueses.

Essas impressões estão ainda muito presentes na memória coletiva e nas conversas mais freqüentes nas rodas dos bares e em encontros casuais, que sempre acabam recaindo na questão do tempo. Isso é bastante compreensível, não apenas por se tratar de uma comunidade economicamente dependente da agricultura, mas pelo fato de que até bem pouco tempo atrás a rodovia que liga a região com a fronteira do Brasil e com o restante do país não era pavimentada o que durante as estações chuvosas deixava a população praticamente isolada.

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A Ruta X (dez), como hoje é conhecida a rodovia que liga Canindeyú aos departamentos centrais e à capital, era interditada quando ocorria uma precipitação mais intensa, e apenas em situações mais graves, como no caso de um problema de saúde, que só poderia ser tratado em cidades do Brasil, como Guaira ou Umuarama, é que a passagem era permitida. Segundo os relatos do Sr. Cláudio Hobold e do Sr. Mario Fontanetti, várias barreiras eram montadas ao longo da estrada e somente nos casos acima mencionados era permitido trafegar.

Antes era tudo chão.. chovia num passava ninguém, Chegava passá quinze dias que não passava um carro. Dez dia, quinze dia que não passava ninguém né..

- E o abastecimento da colônia como ficava? Quem tinha tinha o que tinha nois comia ..102

Tinha uma bertinha no kilômetro 5, depois tinha uma bertinha no 12 de Julio, depois tinha mais uma bertinha na Figueira, aberta era moradia...

Paloma tudo dois, três ranchinho, quatro, Ponte Kirá, também posei em Ponte Kirá mais do que uma veis, porcaso de chuva, chuvia eles trancava a estrada. Tinha um pau lá..Tinha um guarda. Só passava por doença..

Cavalo passava, cavalo sim, passava até por trais, carinho de pneu, mais caminhão, caro não passava non, só se tivesse com doente aí eles deixava...103

Como muitos colonos recorriam à assistência médica no Paraná, pois em Katueté só havia um único médico, que não tinha meios para atender casos mais complexos ou de maior gravidade, os problemas acabavam se agravando nessas épocas de chuva, quando a estrada tinha que ser fechada para se evitar sua completa destruição:

Pobrema de saúde nois tratava tudo em Palotina. Quando chovia a gente ficava por lá...

Pra i tinha portão né. .. tando doente passava.

Trancava a estrada, fechava, que não tinha quem arrumava a estrada.. Aí não tinha motoniveradora. Aí chovia trancava, não passava ninguém...

Nada não passava carro nem...Se tinha pobrema pra lá ficava pra lá se tinha pra cá fica pra cá.. não tem nada.. Foi tempo assim. Éhh isolamento..

- Mais daí dava um pobreminha o cê se tinha em dois passava igual, não tinha pobrema.. 104

102 Relato Sr. Cláudio Hobold, 64 anos - Katueté, 07 maio 2007 103 Relato Sr.Mário Fontanetti, 80 anos – Katueté, 02/06/2007 104

Apesar do cuidado e do capricho que os colonos teuto-brasileiros de Katueté costumam ter com os jardins na frente de suas moradias e mesmo com a fachada de seus estabelecimentos, é difícil perceber algum charme nessa localidade, cuja terra avermelhada imprime sempre um aspecto de sujeira à cidade, tal qual ocorria no norte- paranaense no início dos anos 1950 e 1960. Atualmente, com a implementação de algumas melhorias urbanas, com a pavimentação de algumas ruas e calçadas, com a instalação de iluminação pública e com o crescimento dos ipês e de outras árvores, a cidade vai deixando para trás sua aparência de western e vai assumindo contornos de uma verdadeira urbe.

Katueté tem dois distritos (compañias, que são uma forma de subdivisão administrativa bastante freqüente no interior do Paraguai) subordinados ao município e que distam seis quilômetros do centro em sentidos opostos: La Bolsa e Fazenda Paloma. Em 1974, a empresa colonizadora iniciou a venda dos primeiros lotes, a um preço de 2.800 guaranis o hectare, em torno de US$ 21,50,num total de 175 unidades rurais, com dimensões que variavam em média entre 30 e 50 hectares, que cobriam 60% das terras. Os lotes restantes permaneceram nas mãos da empresa colonizadora e foram posteriormente vendidos, alguns com dimensões maiores que duzentos hectares. Essas extensões maiores acabaram se convertendo em miniprojetos de colonização à medida que os preços das terras iam subindo, e tal processo ocorreu muito rapidamente, em razão da intensa procura por esses terrenos muito férteis e propícios à mecanização. A rapidez como os lotes foram vendidos é testemunhada pela fala do Sr. Cláudio Hubold, que, nascido em Tubarão – SC, migrou para o Paraguai em 1973, vindo de Palotina – PR, onde possuía uma serraria. Sua vinda foi motivada por um infortúnio pessoal, quando sua serraria foi perdida num incêndio. Em Katueté ele montou um pequeno restaurante mesclado com pensão, onde servia refeições e dava abrigo a uma crescente clientela de colonos e negociantes interessados em estabelecer negócios na região.

Eu botei um restaurante... Ali onde tá o clube era meu, tinha um restaurante, um hotelzinho né. Naquele tempo só tinha cinco, seis moradores aí... Aí daí começô a colonizadora, o pessoal entrando né, comprá terra e daí fui servindo comida, carne de animal, porque de

gado não tinha. Matava uns porco do mato, cateto, viado e servia o povo.

No começo foi muito rápido. Começô vim os colonos constuir. Um atrás do outro e então já tinha em dois três meses, já tinha cem pessoas assim... era construção, o colono vinha e agradava, comprava lote ehhh, comprava terra e já construía em cima. Foi rapidinho, foi muito rápido.105

O Sr. Hobold também trabalhou como corretor para a empresa de colonização, juntamente com o Sr. José Branco, o que o incentivou mais tarde a também adquirir um pequeno sítio nos arredores de Katueté, onde trabalhou até alguns anos atrás. Sobre sua atuação como corretor, ele enfatizava a grande demanda por essas terras e a procura por parte dos colonos, vindos, sobretudo, da região sudoeste do Paraná, atraídos pelos preços e pelas condições de financiamento proporcionadas pela colonizadora, e também pela facilidade em contrair empréstimos junto ao Banco de Fomento Paraguaio para o destocamento, o plantio e às vezes para o custeio das lavouras:

E daí comecei a trabalhá com a colonizadora de corretor, então vendemo o Alvorada. Aqui também foi vendido, ajudei vendê e depois vendemo o Alvorada, eu e o José Branco. Num ano vendemo 6 mil hectare colonizado. Aí tinha lote de 10, de 25 hectare, de 50 hectare, de 500 hectare. Eu vendi uma linha lá, linha São Camilo pro povo de Palotina, tudo em só uma linha lá, mil e quinhentos hectare pro pessoal do São Camilo.

O povo de Palotina veio pra cá com tudo.. viero com maquinário pra destocá. Aí o banco financiô, o banco financiô todo mundo .. Queria desenvolvê né.

Tendo título pegava dinhero barato... Na época 1000.000 de Guarani. Nois tirava do banco, paguei uns 1.200.000, 200 de juro, mas três, quatro anos... não dá nem pra fazê a conta um milão de guarani, na época 1.200.000 que nóis tiremo do banco. Dava pra destocá uns 10 alqueire e ainda sobrava muito dinhero.106

As condições facilitadas pela companhia favoreceram a vinda de muitos colonos para Katueté, como nos reportamos em capítulo anterior. Muitos traziam recursos próprios, com a venda de suas propriedades no Paraná, que em razão da diferença de preços propiciavam a aquisição de lotes bem maiores no Paraguai. Muitas das pessoas com as quais conversei referiam-se às dimensões dos lotes adquiridos na região em

105 Relato Sr. Cláudio Hobold – 64 anos - Katueté, 07 maio 2007 106

alqueire, medida comum no Sudeste e no Centro-oeste do Brasil, equivalente a 24.000 metros quadrados, apesar de os títulos de propriedade constarem em hectare.

Tal aspecto é elucidativo de que, para a grande maioria dos colonos, a migração para a região significou a ampliação dos seus imóveis. Essa condição de aporte inicial trazida pelos colonos, somada a experiência que possuíam com culturas comerciais, fez com que a companhia colonizadora voltasse sua atenção para esses agricultores, encaminhando seus vendedores para as localidades situadas no oeste do Paraná, como nos dá conta este relato do Sr. José Branco:

Não tinha propaganda, propaganda era só o carro do corretor, que tinha uma kombi né. E daquela kombi tava grudado Katueté, colônia Katueté – Paraguai e tal..E ele ia pra Rondon, ia pra Toledo buscá gente né, buscá pessoal que queria vê as terra.

A procura do pessoal daqui era poco, tinha argum que queria área maior. Eu vendi área grande assim.. pro nacional... Os colono assim comprava mais sitio, uma, duas, três colônia, arguns também comprava lote urbano pra montá algun comércio, era assim, vinha mais de Maripá, Entrerios, de Toledo...107

As condições favoráveis para aquisição de terras oferecidas pela companhia também são enfocadas em outros relatos que obtivemos, como este do pastor Friedhelm Westermann, prestado em 2007:

A companhia em geral vendia os lotes em 3 vezes, um entrada, depois um ano depois e a segunda parcela na primeira safra e a terceira no ano seguinte. Quando algum colono não podia eles renegociavam. Os títulos saíam logo com a quitação, às vezes eram prorrogados quando os colonos necessitavam de um maior parcelamento.108

Problemas com titularidade às vezes ocorriam , mas não por culpa da colonizadora, segundo Westermann, pois alguns colonos revendiam seus lotes ou sítios sem terem efetuado a quitação dos débitos com a companhia. Então, quando o novo comprador requeria o título da propriedade, a companhia exigia o pagamento reajustado dos débitos pendentes:

107 Relato Sr. José Branco, 70 anos - Katueté, 05 maio 2007 108

Nesse sentido muitos brasileiros era muito relaxado. Muitos son relaxados, faz a compra, dá entrada e depois aparece dali a dez anos e paga o resto e não mais no nome dele..

Sim nesse lá em Cascavel apreceu lá um nordestino depois de 20 anos e Cascavel tinha feito plaza de todo o lote dele, aí ele recuperô, porque tinha pagado tudo à companhia, isso é um exemplo..

Um pedaço de caixa de Monroe, caixa de cigarro, naquele tempo Monroe falsificado chamava. Enton tinha essa caixa de vinte , enton abriram lá e atrás tinha feito contrato de um homem que veio de o Rio Grande e comprô vinte e cinco hectares de tera, isso era documento. E depois ninguém reconhecia ... Taí lá o meu contrato!... São muito ingeno...109

Por volta de 1977, o preço do hectare em Katueté havia se elevado para 7.200 guaranis (US$ 55,00). Nessa mesma época, as terras da colônia vizinha, Alvorada, que também pertenciam ao empresário Jaime Longo, começaram a ser vendidas. Como em outras localidades congêneres da região oriental, a grande demanda por madeiras-de-lei contribuiu para o incremento dos negócios com terras, envolvendo indiscriminadamente tanto as pequenas como as grandes propriedades, e que foram para muitos pioneiros a melhor oportunidade de ganhos rápidos.

Na região de Puente Kyhjá, Katueté e Troncal Cuatro( hoje Nueva Esperanza), várias serrarias se estabeleceram, algumas de maior porte, como no caso da fazenda Espanha, e que exploravam grandes extensões das quais retiravam somente as madeiras- de-lei.

Os relatos dos senhores Oswaldo Spielmann e José Branco são reveladores das