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6 POR QUE ENSINAR ASTRONOMIA

6.3 A interdisciplinaridade no ensino da Astronomia

Conforme Nussbaum (1990), o ensino de Astronomia possui um grande potencial educativo. Concretiza-se este fato tanto mais quando se considera que a Astronomia é capaz de interagir facilmente com praticamente todas as disciplinas, fazendo dela “uma matéria

claramente interdisciplinar” (BARROS, 1997). Para Tignanelli (1998), o alto grau de interdisciplinaridade da Astronomia é uma qualidade singular que “poderia ser aproveitada beneficamente em sala de aula como um instrumento de conexão entre as diferentes ciências que nela confluem”.

Sendo a mais antiga das Ciências, ela foi utilizada pelos povos mais primitivos, embora que de uma maneira mística, pendendo mais para o lado da Astrologia do que propriamente Astronomia. De qualquer forma, o estudo do céu sempre se fez presente no decorrer de toda a história da humanidade, acompanhando o surgimento das outras Ciências e testemunhando todos os fatos históricos mais relevantes. Foram os egípcios, babilônicos e chineses os primeiros povos a realizarem observações sistemáticas dos corpos celestes (MOURÃO, 1998).

A Astronomia está presente nas chamadas Ciências Naturais, nas Ciências Sociais, nas Artes, na Música e na Literatura (FRAKNOI, 1995). Na estrutura curricular das escolas de Ensino Fundamental e Médio a Astronomia pode estar presente na Língua Portuguesa, na Química, Física, Biologia, Matemática, Poesia, Psicologia, Meio Ambiente, Arqueologia, Geologia, Mídia, Sociologia.

Baseado em alguns dos conteúdos centrais para o desenvolvimento de conceitos, procedimentos e atitudes, conforme delineados pelos PCN (BRASIL, 1998), uma reprodução simples do Sistema Solar, estações do ano, ou fases da Lua são atividades que ajudam os alunos a relacionarem os movimentos de planetas e satélites e seus reflexos visíveis com a Biologia e a Geografia. Abordando as posições de constelações e estrelas, o diâmetro terrestre e lunar, o efeito da paralaxe ou calculando o tamanho do Sistema Solar e do próprio Universo, a Matemática pode estudar ângulos e escalas. Além destes, os cálculos simples, como regras de três, ou Geometria, podem ser analisados junto com o movimento planetário aparente e real no céu.

O tamanho do Universo e os conceitos sobre o espaço e o tempo podem ser destacados enquanto os alunos realizam a leitura e a análise de um texto de ficção científica ou uma notícia numa aula de Língua Portuguesa. Vale mencionar o amplo conteúdo de Astronomia encontrado em diversas obras literárias e poéticas.

Os descobrimentos de novas terras através das grandes navegações conforme abordadas nas aulas de História só foram possíveis ao passo que as estrelas eram utilizadas pelos navegadores para guiá-los e contar o tempo nas embarcações. A História ainda interage com a Astronomia por estarem intimamente ligadas com o avanço de povos do passado, como os egípcios, babilônicos, povos da América Central, romanos, gregos (onde se destaca a mitologia grega altamente contribuinte para a classificação das constelações que até hoje conhecemos), povos árabes e chineses, o impacto sobre as declarações de Galileu Galilei, a revolução copernicana, descobertas atuais no ramo astronômico, avanço tecnológico através da conquista espacial, ou ainda as conseqüências da corrida espacial durante a guerra fria. De todos os modos, porém, pode-se destacar como os conhecimentos astronômicos foram influenciados pela cultura de cada época.

As composições químicas das atmosferas de outros planetas com seus fenômenos intrigantes (como a chuva de ácido sulfúrico que ocorre em Vênus ou as calotas polares de gás carbônico congelado de Marte), ou sobre a origem em interiores estelares dos elementos químicos da tabela periódica, encontrados nos planetas e nos seres vivos, são exemplos de assuntos que podem ser abordados durante o ensino de Química.

Com a Física, a Astronomia interage de modo automático, uma vez que a última é um ramo da primeira. Gravidade, inércia, e forças, com citações de foguetes em órbita, astronautas flutuando no espaço ou o cálculo do peso do aluno se estivesse na Lua ou em qualquer outro planeta, são exemplos clássicos sempre usados no ensino de Física que demonstram a interdisciplinaridade com a Astronomia.

Em Artes, a Astronomia desenvolve a imaginação e criatividade em estudantes ao propor atividades que retratem no papel suas imagens mentais sobre outros locais do Universo, levando-se em consideração os aspectos físicos envolvidos, porém, nunca extrapolando o óbvio nem o natural.

O estudo na Biologia de seres vivos microscópicos, bactérias anaeróbicas, adaptação de seres em ambientes inóspitos, e supostos microfósseis no interior de meteoritos, pode ser abordado pelos alunos ao serem levados a entender como poderiam sobreviver determinados seres vivos simples em ambientes aparentemente tão hostis como as superfícies planetárias, levando-os a pesquisar sobre as atuais teorias sérias a respeito de vidas simples extraterrestres. Vale lembrar que a idéia de um ambiente hostil é relativa aos seres humanos, pois para um ser que tenha se adaptado àquelas condições pode não lhe parecer tão inóspito. Aprofundando-se ainda mais no estudo da Astrobiologia, seria possível abordar a questão da exploração do espaço com idéias que fundamentam a hipótese de vida extraterrestre e habitabilidade da vida terrestre fora do nosso planeta, os critérios para cálculos probabilísticos da existência de outras civilizações em nossa Galáxia e de extinções em massa (MATSUURA, 1998).

Em longas viagens espaciais como a futura missão a Marte, há a preocupação das relações interpessoais entre os astronautas, onde soluções procuradas pela Psicologia tentam amenizar possíveis desencontros de personalidade, estresse e alterações de humor, típicas de situações como estas.

Estes são apenas alguns dos inúmeros exemplos de como a Astronomia pode se tornar altamente interdisciplinar, aprimorando a fixação de conceitos de outras disciplinas, porém sempre com o cuidado de tornar o aprofundamento de cada conteúdo condizente com o nível escolar da criança.

Para Tignanelli (1998) “na escola de ensino fundamental, é muito importante salientar a integração das diferentes Ciências, e esse objetivo vê-se favorecido através da utilização da astronomia como elemento de conexão entre elas”. Assim, é vital que o professor conheça com mais profundidade a Astronomia e, conseqüentemente a História da Ciência para que tenha competência em propor atividades integradas, interdisciplinares como as levantadas acima, aos docentes responsáveis pelas demais disciplinas presentes no currículo para que as relações acima sejam asseguradas. Isso pode ocorrer quando o projeto pedagógico da escola é construído coletivamente, envolvendo todos os atores que irão desenvolvê-lo.