• Nenhum resultado encontrado

4 ERROS COMUNS SOBRE ASTRONOMIA EM LIVROS DIDÁTICOS

5.2 Conteúdos programáticos de Astronomia na formação de professores

A fim de que os alunos dos anos iniciais trabalhem com conteúdos de Astronomia adequados para as suas idades, é imprescindível que o professor esteja preparado para tal tarefa. Para Tignanelli (1998), “os temas de astronomia que deveriam estar presentes na escola de ensino fundamental são aqueles relacionados com os fenômenos cotidianos

observáveis e alguns outros que dão conta do tipo de universo que habitamos e das leis que os regem”. Assim, este autor apresenta uma proposta com os seguintes principais conteúdos: céu e planeta, luz e estrela, nascer e pôr, dia e noite, órbita, planeta e satélite, dia e noite lunar, fases lunares, manchas solares. Nestes conteúdos estariam implícitos alguns conceitos como movimento relativo, medida do tempo e dimensões, sendo fenômenos cuja maioria são passíveis de serem observados sem necessidade de um instrumento especial, como um telescópio, por exemplo.

Bretones (1999) sugere uma disciplina introdutória de Astronomia voltada principalmente aos alunos do primeiro semestre de cursos de Ciências, Física e Geografia, mas aberta a interessados de outros cursos, uma vez que muitos cursos “servem à formação de professores” e que “a observação dos programas oficiais das escolas de ensino fundamental e médio mostram uma situação desfavorável do conteúdo de Astronomia”. Assim, a ementa proposta para esta disciplina teria o seguinte conteúdo programático: História da Astronomia, Astronomia de Posição, Instrumentos, Sistema Sol-Terra-Lua, Sistema Solar, Estrelas, Galáxias, Cosmologia, e Ensino de Astronomia. Dentre outros aspectos importantes a salientar, destaca-se a conceituação da Astronomia e sua diferença com a Astrologia, bem como a freqüente observação do céu utilizando recursos disponíveis e a coleta de notícias sobre fenômenos astronômicos atuais.

Sintetizando os conteúdos de Astronomia no Ensino Fundamental, Costa e Gomez (1989) lembram que os mesmos poderiam se limitar a uma simples percepção dos objetos visíveis mais notáveis: estrelas e suas mudanças de posição, incluindo o uso de mapas celestes e planisférios para o estudo mais sistemático de constelações e reconhecimento de planetas; sistema Sol-Terra-Lua e seus movimentos ocasionando fenômenos como o dia, a noite, estações do ano, fases, eclipses; por último, sugere-se noções básicas sobre a constituição do Universo em grande escala, apenas como fator de motivação para as crianças.

Apelando para uma conscientização das instituições de ensino superior que formam professores de Ciências para a inserção da Astronomia entre as disciplinas a serem administradas, Lattari e Trevisan (1995) apresentaram uma proposta onde a disciplina de Física Geral e Experimental III do curso de Ciências com habilitação em Matemática do Instituto de Ensino Superior de Assis teve sua ementa alterada para conteúdos exclusivamente de Astronomia: História da Astronomia, Sistema Solar, Estrelas, Constelações, Galáxias, Introdução à Cosmologia, Planeta Terra, este último com caráter interdisciplinar com Geologia, Biologia, Ecologia e Química. Os resultados apontaram para o suprimento das necessidades curriculares dos futuros professores, que aceitaram a proposta como válida.

Ostermann e Moreira (1999) sugerem que os conteúdos da disciplina de Física já no Ensino Médio, deveriam incluir, além dos conceitos físicos relevantes para o ensino de Ciências nos anos iniciais, alguns tópicos de Astronomia, tais como: estações do ano, planetas, fases da Lua. A investigação dos autores revelou que as estações do ano estavam sendo trabalhadas de maneira errônea já há vários anos pelas professoras nas três primeiras séries da escola em questão de sua pesquisa, uma ‘instituição pública de ensino de 1º e 2º graus’ de Porto Alegre. Esse conteúdo não lhes fora ensinado, e mesmo atualmente o assunto não é abordado no curso de formação de professores para os anos iniciais.

Analisando outros conteúdos de Astronomia com o objetivo de esclarecer algumas concepções alternativas, Tignanelli (1998) cita como exemplo o planeta Vênus, com seu brilho fora do comum que o faz ser identificado habitualmente como uma estrela, a popularmente “estrela da manhã” ou “estrela d’alva”. Caso se solicite para uma criança desenhar um planeta, ela o fará sem raios ou pontas que mostrem o seu brilho, ao contrário do que realmente se enxerga no céu, aparentando ser uma estrela de brilho incomum. O próprio Sol é desenhado como um disco no qual seus raios saem do seu contorno, embora ele mesmo seja uma estrela, aliás, a única cujo disco pode ser apreciado. Através da observação, a criança

pode, no entanto, distinguir um planeta de uma estrela no céu, uma vez que por serem astros relativamente próximos da Terra, geralmente não cintilam no céu, ao contrário das estrelas, que por estarem tão afastadas, apresentam-se como fontes pontuais de luz, cujos raios são desviados pelos gases atmosféricos da Terra, provocando seu cintilamento.

Tignanelli (1998) continua com sua leitura de conteúdos de Astronomia ao citar a importância do ensino das fases lunares, já que pode apresentar a vantagem de reforçar a idéia da universalidade dos fenômenos físicos. As fases lunares não passam do resultado do dia e noite lunares, que podem ser estendidos para uma escala planetária, generalizando o conceito de rotação aos demais astros, até mesmo ao Sol (que possui um movimento de rotação médio de uns trinta dias terrestres), ou ainda à própria galáxia (com movimento de velocidade decrescente em torno de um centro comum com duração de aproximadamente 200 bilhões de anos, conforme Mourão, 1998). O termo satélite no conteúdo de Astronomia também pode ser generalizado ao iniciar com o estudo dos satélites artificiais, equipamentos que o homem colocou em órbita da Terra e alguns facilmente vistos cruzando o céu logo após o anoitecer ou pouco antes do amanhecer.

O conceito de satélites pode ser estendido para a Lua, satélite natural da Terra, para outros planetas que possuem mais de uma Lua, como é o caso de Marte (com duas), ou Júpiter (com dezenas delas). Avançando no conceito de satélites, apresentam-se as estrelas duplas, em que giram em torno de um centro comum, ou ainda agrupamentos de estrelas, os chamados aglomerados estelares, alguns com milhões delas e visíveis a olho nu. É importante salientar que a galáxia como um todo também se comporta como um agrupamento de cerca de 100 bilhões de estrelas “satélites”, ou que a própria galáxia em que vivemos possui outras duas galáxias que giram em torno da nossa: as chamadas Nuvens de Magalhães, também visíveis a olho nu.

Excetuando-se os PCN, parece ocorrer uma escassez de referencial sobre o conjunto de conteúdos de Astronomia que poderiam compor um programa sistemático de ensino de Ciências nas séries iniciais do Ensino Fundamental, ou mesmo na formação desses professores, ocasionando o aparecimento de uma diversidade de sugestões de diversos autores, como exemplificado nas citações acima. Além dessas, organizando o evento anual denominado OBA (Olimpíada Brasileira de Astronomia), a Comissão de Ensino da SAB (Sociedade Astronômica Brasileira) propõe os seguintes conteúdos abaixo a serem estudados pelos alunos dos anos iniciais do Ensino Fundamental, embora não se tenha a intenção de ser este evento o determinante sobre o que o professor deva saber a respeito de Astronomia:

De 1ª à 2ª série: Terra: origem, estrutura interna, forma, alterações na superfície, atmosfera, rotação, pólos, equador, pontos cardeais, bússola, dia e noite. Lua: fases da Lua, mês e eclipses. Sol: translação da Terra, ano, estações do ano. Objetos do Sistema Solar. De 3ª à 4ª série: Terra: origem, estrutura interna, forma, alterações na superfície, marés, atmosfera, rotação, pólos, equador, pontos cardeais, bússola, dia e noite, horas e fusos horários. Lua: fases da Lua, mês e eclipses. Sol: translação da Terra, eclíptica, ano, estações do ano. Objetos do Sistema Solar, galáxias, estrelas, ano-luz, origem do Universo, óptica geométrica, câmara escura, reflexão, refração, satélites artificiais e história da Astronomia (SAB, 2004).

Portanto, diante das propostas e sugestões contidas neste levantamento bibliográfico sobre os conteúdos de Astronomia para os anos iniciais do Ensino Fundamental, entende-se a afirmação de Barrabin (1995) que “alguns temas relacionados com a astronomia aparecem com intermitência na ciência escolar”, pois:

Apesar de alguns tópicos astronômicos já fazerem parte do currículo escolar, a grande maioria dos professores não foi capacitada para ministrar este conteúdo durante o seu curso de graduação, com exceção do professor de Física do ensino médio. Isto porque cabe ao professor de 1ª a 4ª séries, ou ao professor de geografia

ou ciências, em sua maioria formados em Biologia, lecionar estes temas (DOTTORI, 2003).

Por exemplo, após averiguar em quais disciplinas alguns temas simples de Astronomia talvez se encaixassem na formação do docente, Ostermann e Moreira (1999) verificaram que nem mesmo as estações do ano faziam parte do currículo da escola-caso de sua pesquisa. Assim, concluem com a afirmação: “é impressionante que tal assunto não seja abordado em um curso de formação de professores para as séries iniciais”. Por outro lado, cabe finalizar esse capítulo com a declaração de Costa e Gomez (1989): “muito mais grave que um currículo inadequado é um professorado falho em sua preparação”.