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4 ERROS COMUNS SOBRE ASTRONOMIA EM LIVROS DIDÁTICOS

5.1 Sugestões dos PCN para o ensino de Astronomia

Segundo Trevisan (1997), a reforma do Currículo Básico da Escola Pública da maioria dos estados brasileiros tem introduzido Astronomia desde a pré-escola até a oitava série do ensino fundamental, e também no Ensino Médio, sobretudo em conjunto com a disciplina de Física.

Mas, quais são as abordagens para o ensino de Astronomia previstos nos PCN? Uma primeira análise dos PCN para o Ensino Médio leva a crer que a Astronomia merece um tratamento mais aprofundado do que costumeiramente ocorre nas instituições de ensino, inserindo mais conteúdos deste tema nas mais variadas disciplinas. Ainda, a Astronomia é de fato uma disciplina inteiramente interdisciplinar, pois conforme os referidos PCN, os assuntos relacionados com Astronomia são tratados em outras disciplinas tais como Biologia, Física e Química, no contexto interdisciplinar que preside o ensino de cada disciplina e do seu conjunto. Ao relacionar a hipótese da formação da Terra com outros campos do conhecimento como Geologia, Física e Astronomia, o aluno pode entender que existe um universo muito abrangente de explicações sobre a Terra primitiva (BRASIL, 1999).

Os PCN do Ensino Médio reforçam a idéia de que a visão sistêmica de ensino deve incluir, entre outras, a importância de que o estudante saiba “compreender que o Universo é composto por elementos que agem interativamente e que é essa interação que configura o Universo, a natureza como algo dinâmico e o corpo como um todo, que confere à célula a condição de sistema vivo” (BRASIL, 1999). Portanto, o ensino de Astronomia para o Ensino Médio deve ser tratado de tal maneira que contemple temas transversais, privilegiando assim a interdisciplinaridade inerente à Astronomia, pois, por se tratar de um assunto que desperta a curiosidade dos estudantes, esta Ciência poderá ser utilizada como um fator de motivação do estudante para a construção de conhecimentos de outras disciplinas relacionadas.

Por sua vez, os PCN do Ensino Fundamental do terceiro ciclo (5a. e 6a. séries) e quarto ciclo (7a. e 8a. séries) encorajam o aproveitamento, da parte do professor em seu planejamento, da grande variedade de conteúdos teóricos das disciplinas científicas, dentre elas, a Astronomia, com todo o seu acúmulo de conhecimentos tecnológicos. Porém, ao contrário da tecnologia, que é produzida com uma finalidade prática, o conhecimento das Ciências Naturais (que inclui Astronomia), visam a “compreensão sobre o Universo, o espaço, o tempo, a matéria, o ser humano, a vida, seus processos e transformações” (BRASIL, 1998). Os PCN de Ciências Naturais dividem assim a disciplina em quatro grandes eixos de estudo, ou blocos temáticos, para ensino no terceiro e quarto ciclos de estudos: “Terra e Universo”, “Vida e Ambiente”, “Ser Humano e Saúde” e “Tecnologia e Sociedade”.

O enfoque para o terceiro ciclo é o sistema Sol-Terra-Lua, tais como reproduções do Sistema Solar em modelos tridimensionais, dia e noite, estações do ano, fases da Lua, movimento das marés, eclipses. No ciclo seguinte, os assuntos são ampliados e aprofundados, tais como comparações entre planetas, trabalhando-se com escalas de distância e grandeza em unidades usuais como o metro.

Visando um aprendizado prático do conteúdo em Astronomia, os PCN ainda salientam a necessidade de “atividades práticas, e visitas preparadas a observatórios, planetários, associações de astrônomos amadores, museus de Astronomia e de Astronáutica” (BRASIL, 1999). Mas, Delizoicov et al (2002) alerta que esses espaços não devem ser encarados só como oportunidades de atividades educativas complementares ou de lazer, mas devem fazer parte do processo de ensino/aprendizagem de forma planejada, sistemática e articulada.

De um modo geral, resume-se que o professor de Ciências do Ensino Fundamental esteja preparado para fornecer subsídios aos alunos a fim de que eles sejam capazes de principalmente: identificar algumas constelações, mediante observação direta, compreender a atuação da atração gravitacional, o funcionamento do dia e da noite, bem como das estações do ano, as distinções entre as teorias geocêntrica e heliocêntrica, estabelecendo relações espaciais e temporais na dinâmica e composição da Terra, e finalmente valorizar o conhecimento historicamente acumulado em Astronomia.

De acordo com os PCN, o eixo temático “Terra e Universo” está presente somente a partir do terceiro ciclo por motivos circunstanciais, mas entende-se que “este eixo poderia estar presente nos dois primeiros” (BRASIL, 1998). Desta forma, a compreensão do posicionamento do aluno diante de seu lugar físico perante o Universo, está também previsto nos PCN dos anos iniciais do Ensino Fundamental. Prevendo a formação de um cidadão crítico inserido numa sociedade que valoriza cada vez mais o conhecimento cientifico e tecnológico, os PCN dos dois primeiros ciclos (1a. a 4a. séries) do Ensino Fundamental apresentam o papel das Ciências Naturais como sendo o de “colaborar para a compreensão do mundo e suas transformações, situando o homem como individuo participativo e parte integrante do Universo” (BRASIL, 1997).

Fazendo uma alusão à importância do ensino de Ciências, inclusive da Astronomia, os mesmos PCN explicam que os traços gerais das Ciências incluem a compreensão da natureza: como se entende o universo, o espaço, o tempo, a matéria, o ser humano e a vida, descobrindo e explicando novos fenômenos naturais, tendo em vista as transformações na compreensão destes diferentes fenômenos. Segundo os PCN (BRASIL, 1997), “esse processo tem início na Astronomia, por meio dos trabalhos de Copérnico, Kepler e Galileu”, quando deslocaram a Terra do centro do Universo, sendo a mecânica do universo melhor entendida depois com o tratamento matemático de Newton.

Esta parece ser uma visão um tanto sistêmica dos PCN que tende a levar o aluno a uma ‘revolução copernicana’ sem reconhecer antes a importância histórica de uma visão geocêntrica, tais como as grandes navegações, ou que os pilotos de aeronaves ainda aprendem e podem precisar dos conhecimentos de coordenadas astronômicas num referencial de Terra estática e centralizada, conforme já comentado em capítulos anteriores. Desta forma, a carga teórica já impõe aos alunos uma visão heliocêntrica, sem antes lhes sugerir uma construção de noções das coordenadas astronômicas e geográficas, partindo da Terra e estendendo para a esfera celeste.

Alguns dos objetivos apresentados pelos PCN têm relativa relação com o ensino da Astronomia, pois “compreender a natureza como um todo dinâmico, sendo o ser humano parte integrante e agente de transformações do mundo em que vive” e “saber utilizar conceitos científicos básicos, associados a energia, matéria, transformação, espaço, tempo, sistema, equilíbrio e vida” (BRASIL, 1997), são capacidades que envolvem o entendimento de fenômenos astronômicos relacionados com as metas a serem alcançadas. Por exemplo, para “compreender a natureza como um todo dinâmico”, o ensino da Astronomia contribui com fenômenos tais como os ciclos do dia e da noite, das estações do ano, das marés, das

fases da Lua, do ciclo solar e assim por diante. Quanto aos conceitos científicos de “espaço, tempo, sistema”, a Astronomia se mostra diretamente relacionada.

Que a Astronomia deve fazer parte do conteúdo dos anos iniciais do Ensino Fundamental, é garantido pelos PCN quando menciona que “a grande variedade de conteúdos teóricos das disciplinas científicas, como a Astronomia, a Biologia, a Física, as Geociências e a Química, assim como dos conhecimentos tecnológicos, deve ser considerada pelo professor em seu planejamento”. Apesar disso, conforme já salientado, dos quatro blocos temáticos, “o bloco Terra e Universo só será destacado a partir do terceiro ciclo” e não é abordado nos PCN para os dois primeiros ciclos (BRASIL, 1997).

Estes PCN sugerem que o professor organize seu conteúdo em temas diferentes, articulando conteúdos de blocos diferentes. Os temas podem ser convertidos a partir de “uma notícia de jornal, um filme, um programa de TV, um acontecimento na comunidade” (BRASIL, 1997). Notícias sobre naves espaciais, novas descobertas sobre o Universo, ou fenômenos astronômicos regionais ou mundiais (eclipses, aproximação de planetas ou chuvas de meteoros), geralmente causam grande curiosidade nas crianças, o que se transforma quase que espontaneamente em um tema a ser trabalhado em sala de aula pelo professor.

Ao abordar o assunto do meio ambiente, os PCN explicam que o fluxo de energia só pode ser compreendido ao reunir determinadas noções. Dentre elas, encontram-se as noções de “fontes e transformações de energia” e “radiação solar diferenciada conforme a latitude geográfica da região”, o que implica num estudo sobre a nossa estrela, o Sol, bem como a inclinação e posição do planeta Terra, num aprofundamento condizente aos anos iniciais do Ensino Fundamental.

Para reforçar a importância do conteúdo de Astronomia, vale ressaltar que os PCN, ao se referirem à saúde, sugerem “estabelecer relações entre os ritmos fisiológicos e os geofísicos, como o dia e a noite e as estações do ano. Os ritmos fisiológicos estão ajustados

aos geofísicos, embora sejam independentes”. Por exemplo, “o trabalho com funções rítmicas nos vegetais: a frutificação de algumas plantas e as estações do ano, a abertura e o fechamento de flores ao longo do dia” (BRASIL, 1997).

Mencionando a necessidade das observações da parte dos alunos, os PCN mostram que há duas maneiras de se fazer uma observação. A primeira é o contato direto com os objetos de estudo, e a segunda, é “mediante recursos técnicos ou seus produtos. São os casos de observações feitas por meio de microscópio, telescópio, fotos, filmes ou gravuras” (BRASIL, 1997). Porém, tomando-se como exemplo o uso do telescópio, Tignanelli (1998), salienta que “apesar de ser o instrumento principal da astronomia, não é freqüente encontrar um telescópio nas escolas de ensino fundamental” por ser um instrumento de uso principalmente noturno, horário em que as crianças normalmente não vão à escola, exceto quando há atividades especiais. Mas, durante o dia poderiam ser realizadas observações telescópicas de manchas solares e da Lua minguante ou crescente, tomando-se as devidas precauções ópticas de proteção contra o brilho excessivo durante o dia.

Portanto, apesar do conteúdo de Astronomia ser tratado com mais profundidade no bloco temático “Terra e Universo”, conforme os PCN sugerem, a partir do terceiro ciclo (a partir da 5a. série), eles deixam claro que o professor dos anos iniciais do Ensino Fundamental deve incluir, dentre outras disciplinas, a Astronomia em seu planejamento.