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3. OBRAS MUSICAIS JOANINAS

3.1. A MÚSICA INSTRUMENTAL ORQUESTRAL E CAMERÍSTICA

Apesar de não se encontrar uma grande quantidade de obras instrumentais no período estudado, em relação às outras modalidades, as mesmas são de grande valia para o conjunto de obras joaninas luso-brasileiras.

As primeiras obras instrumentais compostas nesse período foram de Sigismund Neukomm e, para os estudos de suas obras, será utilizado seu próprio catálogo22 temático de

obras, citado por Meyer (2000).

No ano de 1816, dentre os meses de abril e setembro, Neukomm compôs diversas peças para grande banda militar a bordo da fragata, no decorrer de sua viagem de ida ao Brasil. Pode-se observar essa informação nas próprias palavras do compositor, perante a citação de Luciane Beduschi: “Durante a travessia eu compus várias peças a três e a quatro partes (...) e algumas peças para a banda militar a bordo da fragata” (Beduschi 2005: 205).

Não existem registros específicos na Biblioteca Nacional da França para as peças citadas acima, por se tratar de período de transição do compositor. Segundo Beduschi, “Muitas entradas misturam referências biográficas a citações de obras que não recebem um número de catalogação. O período brasileiro que se inicia e se termina no catálogo por duas citações biográficas é um exemplo” (Beduschi 2005: 205).

Na opinião de Adriano Meyer (2000), em 27 de setembro de 1816, o mesmo compositor escreveu uma Marcha religiosa e cavalheiresca, uma obra de introdução à missa do dia da

festa da Ordem de Cristo. Essa mesma obra também foi instrumentada para piano a 2 e 4 mãos. No mês de novembro do mesmo ano foi a vez das obras sinfônicas, com temas de Dom Pedro. No dia 6, Neukomm compôs uma Fantasia para grande orquestra sobre uma pequena valsa do Príncipe Real Dom Pedro, por ordem do mesmo. No dia 16, também por ordem do príncipe, foram escritas mais seis valsas, instrumentadas para orquestra com participação de trios (Meyer 2000).

Como já citado, no dia 18 de março de 1817 o referido músico compôs a obra

L’Allegresse publique, uma marcha para grande orquestra militar, para servir à aclamação de

Dom João VI. Esta mesma obra encontra-se também instrumentada para piano a 4 mãos. Ainda no mesmo período, foram compostas mais duas obras militares, como o hino marcial para orquestra militar, denominado de Valorosos Lusitanos, datado em 25 de abril, bem como, em 22 de junho, a Marcha fúnebre para orquestra em homenagem à morte do conde da Barca (Meyer 2000).

Suas primeiras obras de câmara compostas em solo brasileiro vieram também nessa época. O Andante para órgão ou cravo foi escrito em 10 de junho, mas segundo Meyer (2000) essa obra não se encontra no catálogo temático. No dia 3 de julho foi a vez do Noturno para oboé, trompa e pianoforte, tendo também uma versão para violino, violoncelo e pianoforte.

Meyer (2000) também descreve que, em 19 de setembro de 1817, Neukomm escreveu no Brasil sua primeira abertura para grande orquestra, a Abertura em Dó Maior. As últimas obras compostas nesse ano foram 6 Variações sobre o tema de Wozeluch, para pianoforte e violoncelo, por ordem da princesa real.

Em 1817, encontra-se uma obra composta por Marcos Portugal; trata-se do Hino para a

feliz aclamação de S.M.F. O Senhor D. João a VI, composto para orquestra, em 5 de abril,

Figura 11 - Manuscrito do Hino para a feliz aclamação de S.M.F. O Senhor D. João VI de Marcos Portugal.

Fonte: Acervo da escola de Música – UFRJ23.

Cleofe Mattos descreve que, em 1817, José Maurício compôs Doze Divertimentos para instrumentos de sopro, obra “destinada ao conjunto instrumental que acompanhou D. Leopoldina em sua viagem para o Brasil” (Mattos 1970: 345). Segundo Porto Alegre (1978), o manuscrito desta obra desapareceu da residência do compositor no dia de sua morte.

O ano de 1818 não foi tão expressivo como o anterior, em relação às obras instrumentais. Em 29 de janeiro Neukomm compôs a Marcha para grande orquestra militar para a festa de S.A.R. a Princesa Real. Essa obra conta também com uma versão para piano a 4 mãos. Em 18 de junho, compôs 12 Variações para pianoforte, e nesse mesmo mês, no dia 24, também foi composta as 12 Variações sobre o tema sul margine (Meyer 2000).

Para o repertório de obras instrumentais de Neukomm, o ano de 1819 foi muito importante, tendo o compositor escrito a maior parte de suas peças do género. Segundo Meyer (2000), o compositor inicia no mês de fevereiro escrevendo 13 Marchas24 para grande

23 Número de registro: 244/2003. Localização: MS(E) P-XI-2. Partitura 2 – anexo. 24 Na Biblioteca Nacional da França constam 10 registros dessas obras.

orquestra militar, dedicadas ao rei da Rússia. Dessas peças, a primeira é de caráter religioso, a última é uma marcha fúnebre e as outras são marchas tradicionais da época.

O referido autor menciona que, ainda no mesmo ano, em março foi composta uma valsa para pianoforte. No dia 10 do mesmo mês, para grande orquestra, foi composta a Abertura em

Ré Maior, em homenagem a Cherubini. Em 12 de abril, Neukomm compõe uma de suas obras

mais famosas, L’amoureux25, uma fantasia para pianoforte e flauta.

Maio também foi um mês de grandes obras; no dia 3 foi composto o capricho para pianoforte, com o título de O Amor Brasileiro26, que como já citado, provavelmente foi a

primeira obra composta com um tema brasileiro. Segundo Meyer (2000), data do dia 8 do mesmo mês, outra obra para grande orquestra, com dedicação ao Duque Luxemburgo, a

Abertura em Dó Maior27.

A partir desse instante, todas as obras compostas até o fim de 1819 foram para grupos de câmara. Segundo o autor acima, a Sonata a 4 mãos para S.A.R. a Infanta Dona Isabela Maria foi composta em 9 de junho. Em 10 de julho, foi a vez da grande sonata para pianoforte, nomeada de Le rétour à la vie. No mês de setembro, Neukomm escreveu três peças, segundo Meyer (1989): no dia 10, a Sonata para pianoforte e violino28 para S.A.R. a

Princesa Maria Tereza; no dia 13 vieram as 6 variações29 para pianoforte sobre uma

contradança inglesa, e no dia 27 o Capricho para pianoforte, para S.A.R. a Infanta Dona Isabela Maria. Para encerrar o ano de 1819, Sigismund Neukomm ainda escreveu a Elegia para pianoforte sobre a morte de Sophie Gail, em 20 de novembro (Meyer 2000).

O ano de 1820 foi importante para o repertório de música de câmara. Segundo Meyer (2000), neste ano, em 23 de março foi composto por Neukomm um Duo para flauta e

pianoforte. O músico compôs também o Andante grazioso para pianoforte com quatro

variações, em 12 de junho, para a Infanta Dona Isabela Maria, e a obra L’amitié et l’amour30,

em 1 de julho. Ainda no ano de 1820, em 21 de dezembro, foi composta por Sigismund Neukomm a Sinfonia em Mi bemol31 para grande orquestra.

As últimas obras compostas por Neukomm no Brasil foram duas aberturas para grande orquestra; A Abertura em mi bemol maior, composta em 16 de fevereiro de 1821, e a

25 Obra para homenagear seus amigos Sr. E Sra. Von Langsdorff. 26Obra dedicada para Dona Maria Joanna de Almeida.

27 Consta no arquivo da Biblioteca Nacional da França, mas não há registro no Catálogo Temático. 28Acompanhamento não obrigatório de violino.

29Sob pedido de S.A.R. a Princesa Real. 30 Esta obra trata-se de dois esboços para piano.

31 Provavelmente esta seja a primeira composição no Brasil, com a estrutura formal de uma sinfonia (Meyer 2000).

Abertura O Herói, encomendada por Dom Pedro, em 19 de março de 1821. Para pianoforte, o músico ainda compôs Les adieux de Neukomm à ses amis à Rio de Janeiro, também sob encomenda de D. Pedro, em 07 de abril de 1821 (Meyer 2000).

Foi no ano de 1821 que José Maurício escreveu uma importante obra teórica, o

Compendio de Música e Methodo de Pianoforte. Segundo Cleofe Person, o compositor

ofereceu a obra aos seus filhos que, apesar de jovens, também eram músicos. Segundo o autor, o conteúdo didático da primeira parte da obra contempla notações de teoria musical, com exercícios de entoações e solfejos e, na sequência, ainda na primeira parte, contém 12 lições, quantidade que se repete na segunda parte. Essa divisão das duas partes justifica o título da obra como Compêndio e Método.

Na tabela abaixo, pode-se observar as obras sacras citadas e seus respectivos compositores:

Tabela 1 – Obras sacras citadas e seus respectivos compositores

José Maurício Marcos Portugal Sigismund Neukomm 1808

à 1815

1816 • Marcha religiosa e cavalheiresca • Fantasia (Orquestra)

• 6 valsas

1817 • Doze Divertimentos Hino para a feliz aclamação de S.M.F. O Senhor D. João a VI • L’Allegresse publique • Valorosos Lusitanos • Marcha fúnebre • Andante • Noturno • Abertura em Dó Maior • 6 Variações 1818 • Marcha • 12 Variações

• 12 Variações sobre o tema sul margine.

1819 • 13 Marchas

• Valsa para pianoforte • Abertura em Ré Maior • L’amoureux • O Amor Brasileiro • Abertura em Dó Maior • Sonata a 4 mãos • Le rétour à la vie

• Sonata para pianoforte e violino • 6 variações

• Capricho • Elegia

1820 • Duo para flauta e pianoforte. • Andante grazioso

• L’amitié et l’amour • Sinfonia em Mi bemol

Música e Método de Pianoforte

• O Herói

• Les adieux de Neukomm à ses amis à Rio de Janeiro

Como pode se observar, Neukomm foi o compositor responsável pela maior parte das obras instrumentais. Além do mais, o repertório instrumental do Brasil joanino se enriqueceu com uma variedade de formações, desde sinfônicas até pequenos grupos instrumentais ou solos, por parte de Neukomm.